Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
FÁBULA DO PAPAGAIO ONDE APARECE UM PAPA-CAPIM
06/11/2019
FÁBULA DO PAPAGAIO ONDE APARECE UM  PAPA-CAPIM

(O papagaio e o papa-capim sequestrados)

O título dessas linhas sugeriria algo assemelhado aos textos de La Fontaine. O escritor francês que viveu no século XVII, inspirou-se num outro com uma ligeira distancia de mil anos: Esopo, que, escravizado, viveu na Grécia e tratou das misérias, das virtudes humanas, construindo estórias onde os personagens eram bichos que tinham voz, inteligência, e agindo como se fossem gente, metiam-se em constantes disputas, mas, ao final da fabulação sempre restava uma mensagem positiva de prevalência do bem sobre o mal.
Nenhuma pretensão aqui de reeditar o estilo dos dois magistrais fabulistas, apenas são lembrados em consequência dos personagens não inteligentes que entram em cena. Ressalvando o cuidado de não misturá-los, quando muito se aproximam, em momentos onde a carência de discernimento os igualam. 


Mas, sem emitir ou insinuar  acusações, voltemos a Esopo e La Fontaine,  abrindo um parêntese, porém, para registrar  que nos bichos, se houver maldades, elas são inconscientes. Ninguém iria imputar um crime a um ser que não tem o privilégio de afirmar: “Cogito ergo sum,” o penso logo existo, famoso, do filósofo Descartes.  Aos bichos não humanos, como é o caso do papagaio, do papa-capim, lhes faltam a   consciência da vida, da morte, talvez até da liberdade, daí porque, numa gaiola, um papa-capim, desde que alimentado e satisfeito, emite sua cantoria  dia e noite, se houver uma luz acesa.  O mesmo acontece com o papagaio, que "papagueia" todo tempo, e só entristece quando está doente ou com fome.
Aqui, onde figuram pássaros e também pessoas, não se elabora uma fábula, até porque esse estilo literário é movido pelo desejo de enaltecer ou sugerir virtudes, e no caso, apenas aflora a  insensibilidade, que também se incluiu entre os maléficos ingredientes do arsenal vasto da insensatez humana.
Dona Mariinha é uma senhora de 75 anos. Casada com seu Firmino, há mais de cinquenta anos. Vivia o casal numa pequena propriedade nos arredores do povoado Curituba, Canindé do São Francisco, a Monte Pedral, com seus filhos.
Produzem leite, plantam palma, e um deles, o professor Mauricinho, cria galinhas, é também preservacionista tenta fazer reproduzir em cativeiros as perdizes, quase extintas, cuida de pássaros feridos, e os recupera para soltá-los depois.  Faz coisa de três anos homens armados e encapuzados, assaltaram a fazenda, roubaram e cometeram violências contra o indefeso casal de idosos. A Polícia que tem agido com muita eficiência, localizou , prendeu o bando, os que reagiram foram mortos.
Mas Dona Mariinha, cardíaca, desassossegada, não quis mais viver nas lonjuras desertas do Monte Pedral. O casal adquiriu uma casa no povoado Curituba, onde Dona Mariinha tem mais tranquilidade, e pode ser assistida com  presteza  nas crises que enfrenta.
Nessa segunda-feira, dia 4, Dona Mariinha preparava a comida do marido e dos filhos, que voltariam do trabalho no Monte Pedral. Batem à porta, ela atende. Entram homens armados com fuzis. Embora fardados ela imaginou  tratar-se de um novo assalto e que os homens, eram bandidos disfarçados. Ninguém, supôs ela, invadiria uma casa assim dessa forma, onde somente se encontra uma idosa, se for mesmo uma autoridade, um representante do Estado, portando um mandado judicial. Os homens armados informaram  que estavam em busca de um papagaio que, segundo denuncias, ela tinha em casa. Dona Mariinha começou a passar mal, mas foi mostrar onde estava o “lourinho”, sua companhia, sua distração única, há mais de dez anos, que ficava o dia todo a falar  seu nome: “Mariinhaaa, louro tá fome".
Os homens sem nenhum sentimento de respeito ao ser humano, pareciam autômatos obedecendo apenas às ordens superiores recebidas e, superiormente, saíram a levar o louro, que apenas gritava, gritos de papagaio apavorado, evidentemente.
A idosa, depois socorrida pelos vizinhos, pelos filhos, foi levada ao hospital.
O louro poderá ter o destino de tantas outras aves que morreram depois de sequestradas à força pela força do Estado, em delírios de arrogância punitiva.
Um outro papagaio entra nessa fábula triste, que apenas deixa, para a meditação de quem puder tê-la, a evidencia triste de um desatino cometido em nome da lei, que, se existe, é absurda, inapropriada, desumana. 
O outro papagaio, chama-se ou chamava-se, porque a essa altura ninguém dirá seu nome: é ou era o Joaquim Barbosa. Papagaio brigador, as vezes até agressivo, destemperado, ao mesmo tempo consciente dos seus “ direitos ,“ ele, nos tempos do “Mensalão" ganhou o apelido: Joaquim Barbosa, o destemido e destemperado Ministro do Supremo Federal, primeiro negro na nossa historia, a entrar naquele recinto tão restritamente selecionado, embora nem sempre por qualidades medidas pela raríssima trena do mérito.
Lá se foi Joaquim Barbosa, dessa vez a papaguear impropérios.
Tristíssimos ficaram  seus donos: Luciano e Nega, que vivem num recentemente inaugurado conjunto de quilombolas. 
Joaquim Barbosa nas redondezas era a grande atração.
E chegamos ao papa-capim, o cantor mavioso, miudinho de voz quase potente, uma coisinha de nada que orgulhava a casa do jovem Michael Ferreira Santos, o Peba. O apelido quase lhe aumenta os dissabores. Quando os homens fortemente armados cercaram a frente da casa, um vizinho gritou: “ Chega Peba, vão levar o Papa-Capim. Agora, além do papa-capim queriam também levar o peba.
Michael Ferreira dos Santos, 18 anos, é um dos milhões de desempregados neste país, onde 104 milhões de pessoas vivem com menos de meio salário mínimo por mês, e nem isso ele tem. Já haviam lhe oferecido cem reais pelo papa-capim. Ele recusou, disse que não vendia a avezinha por preço nenhum, porque fazia parte do seu bem querer, tanto com tem aos seus pais, Rita e Givaldo, como aos seus irmãos. Ou seja, o papa-capim fazia parte da família, gente pobre, decente, honrada, e ligada pelos bons fluidos do afeto.


Parece, desgraçadamente, que nos deixamos contaminar pela aporofobia, esta palavra agora tão em moda, depois que descobrimos que a ojeriza ou desprezo ao pobre contamina grande parte da nossa sociedade.
O calvário das pessoas, todas elas pobres, que tinham em casa seus bichinhos de estimação, estes, também vítimas, começou no sertão sergipano quando iniciaram ali as operações destinadas a cuidar da saúde pública, da preservação do meio ambiente, e coisas correlatas.
Tudo seria ótimo, desde que preservado o bom senso.
Essas operações resultam quase sempre em graves prejuízos materiais, com o encerramento compulsório de algumas atividades produtivas, que geram renda e emprego, onde o dinheiro anda sumido como pé de cobra, como  por lá costuma-se dizer.
Quanto ao papa-capim, não será por causa de uma gaiola numa residência, que ele correrá risco de extinção.
É sabido, é notório, é público, é evidente, que a extinção das aves, dos insetos, dos sapos, dos bichos em geral, é o resultado do uso indiscriminado dos agrotóxicos, da poluição dos rios, da queimada de áreas rurais, do desmatamento sem controle. Não se quer aquela coisa utópica e inalcançável, que seria uma drástica proibição dos defensivos, isso  resultaria em fome, mas, há providencias, há medidas que podem ser adotadas, há limites que devem ser estabelecidos. Se assim fizerem, poderão, ou  poderiam, viver em paz: o papagaio e Dona Mariinha, o papa-capim e Michael, o Peba,  o “Joaquim Barbosa" e o casal Luciano – Nega. 
E aos prefeitos de algumas cidades restou a questão irresolvível: onde colocar o lixo urbano depois de notificados por autoridades acompanhadas de um séquito bem armado, que, de agora em diante o lixão estava fechado. E, após isso, posaram todos juntos, se deixaram fotografar, vistosos e vitoriosos, em frente às Prefeituras.
O lixão agora será a própria cidade, suas ruas, suas praças, seus quintais, suas calçadas.

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(Ressuscitaram o ex-prefeito e ele voltou)

Claro que o Juiz que autorizou a volta do defenestrado ex-prefeito de Canindé Ednaldo da Farmácia, não sabe do que realmente ali aconteceu. O Magistrado apenas substituto, não teve tempo de respirar os ares de desalento que a população de Canindé vem  respirando nesses últimos quase três anos, desde que o senhor Ednaldo, iniciou o seu mandato, após a morte do sempre pranteado Orlandinho Andrade. O Juiz apegou-se, pertinentemente, a um erro que efetivamente aconteceu no curso do impeachment, que foi bem até o seu ultimo capítulo, quando se fez a votação secreta, ao invés de aberta, como determina  a legislação . Mas a votação com o resultado inequívoco dos dez a zero, foi, por si só, uma demonstração de transparência e lisura, uma borracha ou uma tecla de deletar, é mais atual, apagando todas as possíveis suspeitas, ou duvidas, que pudessem subsistir. Mas ai, vale a hermenêutica ou exegese da cada julgador, deixando ou não prevalecer o aspecto formal. 

Um tanto estranho foi a mudança de visão do Promotor da Comarca, que lidou diretamente com o prefeito resposto, empenhou-se em corrigir suas mazelas, viu de bem perto o esforço corretivo que estava sendo feito pelo prefeito interino Weldo Mariano, e ele, que abrira uma sindicância por improbidade  contra Ednaldo, que se manifestara a favor do impeachment, num alentado relato de dezessete páginas,  agora,  um mês  e pouco depois, pediu a anulação do ato da Câmara, e o retorno do prefeito, por ele antes identificado como inepto e desonesto.
É claro, nem e magistrado nem o promotor dariam um aval para que continuasse o desmando no município, eles devem ter duvidado da possibilidade de uma recuperação, em face do clima político ali existente. Sabem, que o prefeito que retorna, terá os problemas mais e mais  se avolumando, e se, da parte do ressuscitado, não houver uma ressurreição completa de comportamentos, atitudes, e sobretudo de capacidade gerencial, coisa bastante improvável, o desastre que castiga a população canideense somente irá agravar-se.
Torna-se impossível uma ressureição daquilo que nunca existiu, ou seja: competência, capacidade política, qualidades inexistentes no reposto Ednaldo.
Assim, deveriam estar imaginando uma solução mais profunda e efetivamente cirúrgica: a remoção de todos os males por meio de uma oportuna intervenção no infelicitado município. Essa possibilidade já estaria no foco da Procuradoria de Justiça, que, anos atrás, comandou com plena eficácia, e resultados concretos, uma intervenção chefiada pelo Procurador de Justiça Fernando Matos. A ele, a sede de Canindé está a dever o nome numa Praça ou Avenida.

UM MODO DE PENSAR SERGIPE

(Joaquim: idéias para desenvolver Sergipe)

Existem as politicas públicas traçadas por equipes com vínculos institucionais diretos, e existem, também, os projetos, estes, ainda mais importantes, que resultam da visão privada, por vezes fazendo uma interconexão das  metas corporativas com as públicas. Sergipe atravessa uma fase em que é preciso estimular o pensamento, reforçar o debate, dar trânsito às ideias inovadoras. 
O engenheiro Joaquim Ferreira, retornando a Sergipe para coordenar a instalação de uma super usina fotovoltaica em Canindé do São Francisco, reforça sua sergipanidade buscando encontrar caminhos variados para a demarragem sergipana, que se prenuncia forte, com o inicio da exploração dos campos de óleo e gás na plataforma marítima.
Joaquim criou um Núcleo de Desenvolvimento que começou a ter uma presença destacada no cenário da economia, juntando pessoas, somando cabeças, fazendo nascer projetos.
Entre eles, um, que está entusiasmando os participantes do grupo, agora interagindo diretamente no site criado para relacionamento e debate. É a disseminação da cultura de uma espécie precoce de cajueiro, que poderá acontecer com a produção em Sergipe de mudas geneticamente transformadas, que já receberam sinal verde de abalizados técnicos no assunto .Joaquim enxerga o surgimento de grandes cultivos de caju nas áreas costeiras do estado, e, com isso ampliando a oferta de castanha e da polpa para industrialização. Algo que agora se faz muito bem em Itabaiana, no Carrilho, grande exportador de castanhas, e  em busca permanente da sua matéria prima básica.

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DO ATHENEU À ORLA DO POR DO SOL

(A orla refeita ganhou um cais flutuante)

Depois da inauguração, dia primeiro de novembro da Orla do Por do Sol Jornalista Cleomar Brandi, Belivaldo e Edvaldo Nogueira tomavam uma cerveja num dos bares bem distribuídos ao longo do calçadão. O prefeito, que no discurso de inauguração disse que recebera a Orla de presente, pois o investimento partiu todo do governo do estado, dizia-se preocupado, apenas, com a manutenção daquela área, que, antes da remodelagem, fora alvo de vandalismo. Belivaldo lembrou que tivera essa mesma inquietação ao entregar as obras concluídas do Atheneu Sergipense. O colégio ficou “um brinco", e dele é preciso cuidar bem. Lá, disse o governador, surgiu e ideia da formação de um grupo de alunos e professores que se encarregará de zelar pelas instalações do colégio. 
Um modelo semelhante poderia ser criado para a Orla, com a participação de todos os que ali têm as suas atividades, e até dos moradores da área.

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