(Espiriteira de latinha e etanol)
Nessa fase de recuperação ¨financeira e ética¨ da PETROBRAS, uma das primeiras medidas para evitar a falência da empresa foi conferir aos dirigentes liberdade para elaborarem a política de preços da devastada petroleira.
Essa autonomia para a tomada de decisões numa área fundamental, que mexe forte e diariamente com um portentoso elo do fluxo de caixa, é indispensável para uma empresa do porte da PETROBRAS, com ações em bolsas de várias partes do mundo e uma imensidão de acionistas que colocam os seus dividendos acima de quaisquer outras considerações que não sejam eficiência empresarial e capacidade para gerar lucros.
Então, em decorrência das circunstancias, os novos dirigentes da PETROBRAS decidiram fazer esses reajustes quase diários nos preços dos combustíveis. Isso de acordo com o dólar e o preço médio do barril de petróleo. Ganharam do governo central carta branca para assim agirem. Os preços sobem ou descem, mas a marcha ascensional tem sido dominante.
Basta que se veja quanto custavam antes a gasolina e o óleo diesel e a quanto andam agora depois de iniciada a era dos ¨geddeis¨, denominação assim, genérica, para os novos controladores do poder que, aliás, antes já desfrutavam, mas sob forma de partilha, incômoda, sem dúvidas, para quem alimenta ambições ilimitadas. Um sentimento muito parecido com aquele que leva ao confronto nas favelas as facções sempre envolvidas nas sangrentas disputas pelo controle das ¨bocas de fumo¨. Cada um tem a ¨boca de fumo¨ que merece. A República tornou-se a conquista mais vistosa.
Asseguram os dirigentes da PETROBRÁS que elevar preços do diesel da gasolina e do gás é indispensável para estancar as perdas sofridas quando a política de preços da empresa escapava dos seus dirigentes, e era atribuição exclusiva da área econômica da Presidência da República. Como se constata isso foi desastroso para a PETROBRAS.
Mas haveria outras formas menos traumáticas para a população do que essa escolha por uma estratégia tão equivocada como perversa de fortalecer o caixa à custa do aumento dos preços do óleo diesel e da gasolina que já estão entre os mais elevados do mundo. E o que é ainda mais cruel: a disparada dos preços do botijão de gás, que termina o ano com uma majoração beirando os 70%. Se o efeito dessa coisa absurda não se faz sentir no descontrole da inflação é tão somente porque a retração nas vendas vai freando os preços de todos os outros produtos, principalmente os agrícolas, nisso, também influindo a abundancia das safras favorecidas pelo tempo quase perfeito.
Com o botijão aproximando-se dos 80 reais, começaram a surgir acidentes provocados pelo uso do álcool para cozinhar, substituindo o gás de cozinha inacessível.
Muita gente estranhou: Usar álcool para cozinhar? Isso é absurdo, sai mais caro do que o gás. É noticia falsa que inventam querendo botar no governo a culpa pelos acidentes. O preço do gás de cozinha está levando queimados aos hospitais. São todos pobres, às vezes miseráveis mesmo, gente do mais fundo do poço por onde sempre desce o povo.
Os que duvidam dessas notícias saberiam mesmo quem é essa categoria denominada povo? O povo existe? Trata-se de gente de carne e osso, ou alguma dessas coisas abstratas que intelectuais sem ter o que fazer inventam?
O diabo é que o povo existe mesmo. Ganha salário mínimo, anda em transporte precário, fedorento, ou vai ao trabalho, quando o tem, suando e pedalando a bicicleta rangedeira, e luta para comprar o botijão de gás.
Houve um educador e sociólogo que muito teorizou sobre o povo desta terra. Chamava-se Darcy Ribeiro, e tinha uma diferença: não só teorizava sobre o povo, também sentia o povo.
E o grande Darcy Ribeiro empenhou-se como educador e homem público numa luta virtuosa: queria espalhar pelo Brasil os CIEPS. Seriam os templos da educação eficaz e renovada que abrigariam estudantes em tempo integral, a eles proporcionando além do ensino, também espaço para o esporte, a arte, a criatividade, as pesquisas, o exercício do pensar e do agir, e sendo bem alimentados.
Dar comida, sobretudo, é o mais importante. A merenda escolar tenta cumprir essa tarefa. Mas para cozinhar precisa-se do gás. Em muitas escolas públicas o gás costuma faltar. Não é fato novo, é antigo. Os professores e pais de alunos que tinham algum recurso ajudavam, e o botijão era comprado. Agora com o botijão a 80, fica difícil. O aluno deixa de alimentar-se na escola e em casa tantas vezes não tem comida. Ai entra então o álcool substituindo o gás e de forma muito mais acessível.
É o jeitinho brasileiro que fez surgir a ¨espiriteira¨. Trata-se do seguinte: Numa latinha rasa, coloca-se um pouco de álcool, só o etanol, o outro não serve, não queima. Em torno da latinha se faz uma trempe rústica com pedras e sobre elas uma outra lata na qual se coloca a comida disponível apenas para esquentar ou cozinhar mesmo. Um ovo, um miojo, coisas assim baratas, coisas à altura de quem ganha salário, quando ganha. Um litro de álcool faz dezenas de refeições quebra-galho.
Fizeram do pobre um colaborador forçado na tarefa de recapitalização da PETROBRAS assaltada, aliás, por eles mesmos.
Coisa na qual nem pensaram quando festejaram a entrega do pré-sal a preço de banana, e dando dinheiro do BNDES e isenções fiscais às petroleiras estrangeiras para que importem tudo, desde papel higiênico a navios e plataformas, que virão da Coreia, da China, e aqui continuarão fechados estaleiros, indústrias de capital – capital, aquelas assim denominadas pelos economistas, que fazem máquinas que fabricam outras máquinas, e são fatores indispensáveis para reverter o processo violento de desindustrialização, que nos fecha as portas para o futuro.
Agora, depois da calamidade já feita, com centenas de pessoas queimadas em decorrência do manejo apressado e perigoso das ¨espiriteiras¨, os donos da República resolvem dar um recado a Parente, o ¨gauleiter¨ da PETROBRAS: ¨segure o preço do gás, antes que a ¨espiriteira¨ do povo acabe por nos incendiar também¨.
Um Sem Gás já sugere: vamos trocar o nome da ¨espiriteira¨. Agora, é ¨fondue de Temer¨.
Publicidade:
A ELEIÇÃO DO ANO QUE VIRÁ
Sobre política especula-se o tempo todo. E muito mais ainda quando se aproximam as eleições. Para quem tanto se habituou a especular ao longo do tempo, o clima de imprevisibilidade e consequentemente de dúvidas que cerca a próxima eleição só tem paralelo com a incerteza que havia durante o governo autoritário.
Apesar da ¨desobstrução do terreno¨ pelas listas de cassações de reais ou possíveis adversários, apesar das restrições pesadas que tolhiam a liberdade de expressão e de livre organização, apesar do espaço restrito facultado à escolha pelo voto direto, apesar disso tudo, quando se falava em eleições logo surgiam divergência nos quartéis. Eram as vozes dos que tinham ojeriza ao voto livre, que se faziam ouvir em tom de ameaça de prisão dos candidatos ou mesmo a simples supressão do pleito, embora já assinalado no calendário eleitoral.
Ameaças aos eleitores já não existem, é coisa do passado. Mas há outras nuvens no ar representadas pelo questionamento sobre candidatos que estão sendo investigados, ou já respondendo a processos. Rolam processos, aguardam-se decisões sobre inelegibilidades, sobre prisão após decisão em segunda instância.
Quem poderá mesmo ser candidato a governador, a senador, a deputado federal, a deputado estadual?
As respostas a essas questões somente irão surgir em pílulas homeopáticas, até quase as vésperas das convenções partidárias.
No terreno do governo, persistirá até o carnaval a duvida sobre a desincompatibilização de Jackson para tornar-se candidato ao Senado Federal. Há dois anos ele negou até de forma veemente essa possibilidade, e fez um convite aos outros políticos com idades aproximadas à sua, e com muito tempo na atividade partidária, para que pensassem numa ¨aposentadoria¨ ou deserção da vida pública.
O termo deserção, no caso, nem é apropriado, mas agora para explicar a sua não desistência da vida pública, Jackson diria, simplesmente, que não seria um desertor nesse momento em que o país tanto precisa de políticos que não estejam sob ameaça de sentenças judiciais, cumprindo a exigência da ficha limpa como é o caso dele. Assim, sem receios de contestações da candidatura, JB se apresentaria sem contestações.
Ele corre contra o tempo para tomar uma decisão que também definiria a candidatura ao governo do vice Belivaldo Chagas, que iria substituir JB, e já ungido como candidato à reeleição. Pelo partido, o PMDB sergipano, Belivaldo já surgiu como candidato, da mesma forma de um outro o PSD, liderado pelo deputado federal Fábio Mittidieri.
Quase todos os analistas da política, não os ¨cientistas políticos¨, que se apegam às subjetividades e se afastam das circunstancias, concentram-se nas avaliações prévias bem antes de quando começam a pipocar os números das pesquisas. Dessa forma, quase sempre embasam melhor as decisões a respeito de candidaturas majoritárias, porque levam em conta os detalhes de um mapa eleitoral bem minucioso, que situa aliados já existentes ou conquistáveis em cada município, em cada povoado, e traça o perfil dos sentimentos pró ou contra, dominantes em cada comunidade, e as possibilidades de refazê-los, desfazê-los ou construí-los, a depender de ações pontuais e especificas, que, antes de tudo o que vem acontecendo a partir da Lava Jato, seria uma avaliação bem precificada de quanto se deveria gastar.
Nesse aspecto, a eleição de 2018, irá diferir muito de todas as anteriores, principalmente as últimas, com candidatos fortemente ¨irrigados¨ por quantias provenientes de todas as partes, inclusive de certos setores que foram causa de um dos maiores casos de corrupção registrados em todo o mundo, e que continua, e se tornará muito mais forte, caso se consume o que resta listado na agenda das apressadas privatizações. Claro, parcelas dessa dinheirama outra vez fácil, irão caber a cada estado, dependendo da sua importância que se mede pelo tamanho do contingente eleitoral, ou do ¨prestigio¨ junto às cúpulas partidárias que tiver cada candidato.
Os analistas da atual conjuntura eleitoral, identificam como mais provável a candidatura ao governo do estado do senador Eduardo Amorim pela oposição. Ele tem afirmado que será o candidato a substituir JB ou Belivaldo, e até já anunciou que desta vez seu irmão Edvan Amorim não estará por perto a jogar as cartas do jogo. O senador Valadares, agora licenciado do Senado após 23 anos ininterruptos de mandatos, apresta-se como pronto e apto à disputa de mais uma reeleição. Exibe pesquisas que o favorecem, tanto para o Senado como para o Governo.
O deputado federal André Moura, hoje o sergipano poderoso em Brasília, parece não animar-se muito para uma disputa majoritária. Sabe que está forte para a reeleição, e avalia que onde há prefeitos que o apoiam ou outros líderes, eles lhe garantem votos necessários para uma eleição proporcional. Para a disputa a majoritária teria primeiro de consultar pesquisas e verificar se diminuíram as cifras de rejeição em Aracaju, onde estão quase um terço dos votos.
Mas ele será influente na composição da chapa, por isso o senador Valadares já anda um tanto ressabiado com as manobras, tanto de Amorim como de André, para levar o ex-deputado e ex-prefeito de Canindé Heleno Silva a disputar o Senado pela oposição. Heleno parece querer a vaga, independente de grupo.
Valadares teme que sendo candidato ao Senado teria contra ele os votos do seu próprio grupo, em parte carreados para Heleno, em parte para Jackson. Daí já estaria, não de agora, mas desde uns três meses, ensaiando uma possível aliança com o PT, e partidos da oposição. Ele e o ex-deputado Rogério Carvalho estariam conversando muito em Brasília, e nas conversas surgira inclusive à possibilidade de o deputado federal Valadares Filho ser candidato ao governo.
Por fora correm sempre candidatos que raramente apontam bem nas pesquisas como é o caso do Dr. Emerson, médico vereador de Aracaju, que, por isso, enxerga chances de chegar ao governo.
Já o ex-deputado Mendonça Prado, teria chegado um tanto tarde à disputa pelo governo, mas é experiente, tem um discurso afinado quando fala sem emoção. Terá na sua chapa o ex-deputado João Fontes, candidato ao Senado, este, o mais falante dos sergipanos, sejam políticos ou não, e que sempre aparece em pesquisas. O problema é que dado o gênio imprevisível e inquieto de João Fontes não se pode garantir quanto tempo durará a aliança dele com Mendonça.
Há a considerar ainda, e com todo o peso das consequências resultantes, que uma considerável parte dos candidatos a cargos proporcionais, principalmente, tem processos rolando na Justiça.
Quanto ao senador Eduardo Amorim, sabe-se que ele tem uma investigação que corre em segredo de Justiça no Supremo, mas não se sabe exatamente em que pé está.
A UNIT DO MORRO DO BOMFIM ATÉ OS STATES
(Jouberto Uchoa e seu filho Junior - Unit nos Estados Unidos)
Primeiro surgiu o Colégio Tiradentes. Era numa casa pequena e um tanto deteriorada na Rua de Laranjeiras. Era a sede possível para que se iniciasse o sonho de um cidadão que fora operário de fábrica de tecidos, depois bedel de colégios, e não parava de estudar e trabalhar muito. Uchoa e sua esposa Amélia começavam a trajetória que já chega há um meio século. O Colégio incipiente deixou a sede onde se instalava, transferiu-se para uma casa, junto aos areais do morro do Bomfim, no prolongamento da Rua de Lagarto.
O morro era local mal afamado, que fora desmontado no governo Leandro Maciel e suas areias brancas ficaram espalhadas ao redor. De modo que, chegar ao Colégio Tiradentes não era um trajeto facilitado ao caminhante. Isso até parece metáfora do que foi a trajetória de Jouberto Uchoa desde aquele ¨colegiozinho¨ até a Universidade Tiradentes, a UNIT, que chega este mês aos Estados Unidos, instalando-se em Boston, um sofisticado núcleo da cultura e das tradições americanas.
Será uma das poucas universidades brasileiras a instalar núcleos fora do país, e a UNIT é sergipana. É feito que deve sem dúvidas ser comemorado. No ato de instalação em parceria com a Massachusetts University no próximo dia 14 o governador Jackson Barreto e o Secretário da Educação Jorge Carvalho estarão presentes, entre outros sergipanos.
TEMPOS DE TRUMP E DE OUTROS DESATINOS
(Bolsonaro e Trump, os dois desatinados)
Ouve-se com frequência alguém dizer que vivemos tempos apocalípticos, que está sendo banalizada a violência, e que o mundo tornou-se um enorme Coliseu, onde homens matam-se entre si ou enfrentam outras feras, leões, tigres, lobos. A ferocidade humana surgiu desde as cavernas, ou mesmo antes dela, ainda nas árvores, quando o sapiens apenas se prenunciava e ainda não lhe havia caído o rabo simiesco.
A ¨struggle for life¨ foi essencial à evolução das espécies, demonstrou Darwin, mas foi afastada pela civilização. Hitler defendia a guerra, como momento essencial à vida dos povos, que teriam de sobreviver pela força das armas.
Mas, um compatriota dele o filósofo alemão falava antes, e tão sabiamente sobre os melhores caminhos para que se alcançasse a paz. Immanuel Kant escreveu A Paz Perpétua.
Quando terminou a Segunda Guerra, mais ainda depois que desabou o Muro de Berlim, imaginou-se, talvez utopicamente que o sonho do filósofo alemão poderia enfim ser concretizado. Tudo parece agora demonstrar que estamos mais do que nunca envolvidos numa carnificina globalizada. Mas não é bem assim.
A Europa, onde até o começo da Segunda Guerra (02/09/1939) nunca se chegou a viver mais de 30 anos sem o deflagrar de uma guerra, isso desde o século XVI, nela, há 72 anos, não há uma guerra entre países. A Europa forma uma comunidade de nações que é um exemplo de uma evolução permanente em direção à paz universal.
Se contarmos todos os conflitos ocorridos no mundo desde o 1945 até agora, ficaríamos ainda longe de alcançar as cifras letais só da Primeira Guerra Mundial. (1914-1918).
Há terrorismo, atentados, conflitos localizados, alto índice de mortes por assassinatos em países como o Brasil, Estados Unidos e outros, mas nada comparável às grandes guerras do século passado. Temos uma paz relativa, e faltam-nos tão somente para preservá-la e ampliá-la, que tenhamos à frente das grandes potências, estadistas, sensatos, equilibrados, cultores do entendimento e da paz.
Nos Estados Unidos a maior potencia mundial, os últimos presidentes, mesmo os Bush, que fizeram duas guerras no Iraque, desnecessárias, absurdas, todos agiram dentro de uma concepção geopolítica que evitou conflitos maiores. Seria talvez o imperativo decorrente do medo da catástrofe nuclear.
Ai chega um Donald Trump. Ele para eleger-se mentiu muito, mas não negou os seus propósitos, as suas loucuras, que, todavia receberam apoio de um grupo ensandecido de extrema direita, que inclui inclusive algumas confissões religiosas como os evangélicos fundamentalistas, junto à indústria bélica, aos ¨falcões¨ que hoje nem vestem fardas, e dão a base para que o desatinado cometa as suas loucuras. Esse reconhecimento de Jerusalém como capital israelense, feito provocativa e inutilmente por Trump, é um desatino político que desencadeará o ódio e o ferro e fogo da guerra.
Gente como Trump, e um mais troglodita aqui, como Bolsonaro, são os perigosos arautos da violência, dos quais temos de nos livrar. Nós por aqui, os americanos por lá, antes que seja tarde demais.
A REFORMA ITAÚ-BRADESCO
(Temer e sua equipe da reforma)
A reforma da previdência é necessária, mas não pode ser feita com essa pressa comandada pela ¨Organização Criminosa¨, sob aplausos equivocados ou coniventes dos que se iludem ou têm plena consciência de que toda essa ansiedade, toda essa desbragada maratona de corrupção, compra de votos, aquisição de simpatia e opiniões favoráveis multiplicadas pela mídia, tudo isso, resultado de muita coisa, menos de preocupação legítima com o que revelam os cálculos atuariais sobre a urgência da reforma.
Se a reforma for feita com a participação da sociedade, fazendo cair o peso exatamente sobre os que podem suportá-lo, haverá tempo no decorrer de um novo governo legitimamente eleito e merecedor de crédito, para fazê-la, além de outras mais essenciais ainda como a tributária e a política.
A pressa e a desvergonha como se conduz agora a reforma, transformando a República em balcão de negócios é o que se poderia chamar de reforma Itaú-Bradesco, porque interessa e muito ao mercado financeiro, às corporações internacionais e nacionais que anseiam para por em funcionamento seus fundos de previdência privados, e com eles faturar bilhões.
Assinale-se como gesto positivo a resistência de deputados, entre eles, quatro ou cinco sergipanos, que se recusam a entrar na onda Itaú-Bradesco.
A TERMOELÉTRICA E O DEBATE DESPERTADO POR SAMARONE
Antônio Samarone, o médico, é também fotógrafo e pensador. Por isso tem o privilégio duplo de retratar fixando na imagem, e teorizar percorrendo fatos e circunstancias humanas, focalizando-as com o pensamento sempre crítico, o que mais o valoriza como intelectual. Assim, exerce a arte de fazer closes do real e do subjetivo.
Inspirado em Slavoj Zizek, o filósofo esloveno que busca atualizar o marxismo, sem perda da sua essência, mas adaptando-o ao mundo da física quântica, das nanotecnologias, das redes sociais e da ascensão da intolerância, do mundo novo, enfim, Samarone passou a frequentar as redes sociais, e tudo o que escreve merece ser debatido, pensado, aceito, rejeitado ou reformulado, mas a ele o que não se pode fazer é desmerecer-lhe, não lhe conferindo a importância que tem, sobretudo num momento de tantas omissões, de tantos fingimentos, e de tantas angústias e perguntas dissipadas no ar da indiferença, ou das covardias coletivas.
Samarone nos seus textos denominados Em Defesa das Causas Perdidas, mais uma inspiração em Zizek, publicou artigo que reproduzo abaixo, permitindo-me, antes, sobre ele fazer um rápido comentário.
A térmica em Sergipe vai consumir o gás natural. Não se compara às térmicas que consomem óleo diesel ou carvão. Polui algo em torno de 20% do que as outras termoelétricas. É questionável aquela cifra sobre a quantidade de poluentes superior a tudo o que despeja no ar a frota de veículos sergipana.
Antes da aprovação do projeto houve todo aquele ritual, tanto do IBAMA como da ADEMA para o cumprimento de exigências, a obediência a protocolos ambientais. A empresa, em contrapartida aos danos calculados, destinará recursos para projetos ambientais, sociais e culturais. Na quinta-feira dia 7, Jackson, Belivaldo e João Gama assinaram com o executivo da CELSE Eduardo Maranhão, um protocolo de intenções para que seja feita a reforma e readequação do Teatro Tobias Barreto, da Biblioteca Epifânio Dória e do Arquivo Público.
Na área ambiental está sendo analisado um projeto de despoluição e preservação do Rio Poxim. Será a primeira etapa de um programa maior para a preservação dos rios sergipanos.
Sergipe começará nos próximos quatro anos a produzir uma quantidade de gás suficiente para atender a demanda da termoelétrica, e ainda haverá sobra para que se forme em torno das centrais uma cadeia produtiva, com indústrias e serviços. Para dar ainda maior proteção ambiental ao município da Barra e principalmente ao aquífero de grande proporções que lá existe, será criado o Parque das Dunas, numa área onde existem manguezais, dunas e espécies de árvores da restinga.
As tratativas para a instalação das termoelétricas começaram com Marcelo Déda, prosseguiram com Jackson e o projeto já vai avançando. São quase mil trabalhadores no canteiro de obras, da que será a primeira das três que formam o complexo. A usina na Barra deve começar a operar em 2019. O investimento total é superior a quatro bilhões de reais. Não se encontram pelo país afora com facilidade investimentos desse porte.
Mas se rejeitássemos a termoelétrica, já estavam alagoanos, baianos e pernambucanos interessados em levá-la e recebê-la com todas as homenagens que se fazem a projetos que geram emprego, renda, e pagam impostos. A poluição, se é que existirá mesmo, apenas seria transferida, e ficaria aqui bem perto instalada. E nós chupando dedo, e o governo justamente acusado pela incompetência de perder um projeto da ordem de quatro bilhões de reais.
QUEM PENSOU NO FUTURO?
(Texto de Antônio Samarone)
O governo do Piauí instalou o maior empreendimento de energia fotovoltaica da América latina”, energia limpa e sustentável. Em Sergipe, o Governo autorizou a GE Power Services instalar a maior termoelétrica da América Latina, a usina vai produzir 1,5 mil megawatts e será capaz de atender a 15% da energia consumida no Nordeste. São posições opostas de gerar energia, desenvolvimento e emprego: uma sustentável, outra poluidora; uma visando o futuro, outra afundada no passado. Sergipe seguiu o caminho do passado, resolveu implantar o modelo Cubatão de desenvolvimento.
As termoelétricas a gás, o caso de Sergipe, lançam no meio ambiente o CO² (gás carbônico) – efeito estufa; SO² (dióxido de enxofre), gotículas de ácido sulfúrico (chuva ácida); o NOx (óxidos de nitrogênio), responsáveis pelo smog; encontra-se entre as atividades mais poluidoras do mundo. A termoelétrica de Sergipe, sozinha, produzirá dez vezes mais CO² que toda a frota de veículos do estado. Sabe-se que essa é apenas a primeira usina, o projeto prevê mais duas.
Além do agravamento do efeito estufa, as termoelétricas são responsáveis pelo aquecimento da água, onde o despejo for lançado, com consequências para a vida marinha; e pela temida chuva ácida, pondo em risco a agricultura e as matas restantes. A chuva ácida atinge vários km de distância das termoelétricas.
Sei que os defensores desse modelo de desenvolvimento, que ignoram os impactos ambientais, vão dizer que houve “estudos” e que os agravos serão mínimos. Não é o que apontam os estudos científicos publicados sobre as termoelétricas. No momento, a cidade de Peruíbe, interior de São Paulo, está em pé de guerra contra a implantação de uma termoelétrica. Já aprovaram uma lei municipal proibindo. A crescente resistência a instalação de atividades destruidoras do meio ambiente, tem levado as empresas procurarem regiões onde a consciência ambiental seja reduzida.
A Governo Jackson Barreto deixará essa bomba poluente como herança. Deus nos proteja.
Publicidade:
UM STF QUASE DOMINADO
(Supremo Tribunal Federal)
É estranho, demasiadamente estranho, ouvir-se numa Suprema Corte de Justiça, Ministros que admitem a existência de um poder revisor das suas decisões últimas. Então, encontrem outro nome para a Suprema Corte.
Com o único objetivo de salvarem, os integrantes da Organização Criminosa com mandatos, os ministros condescendentes, admitem que um parlamentar mesmo cometendo crimes de qualquer natureza são imunes, inatingíveis, não podem ser processados, muito menos presos, e se presos as Assembleias como fizeram as do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Mato Grosso, podem desfazer sentenças até do Supremo, e se algum deputado for preso podem ordenar que sejam soltos, exatamente como aconteceu.
Parece que os ilustríssimos ministros vivem na França, na Alemanha, na Inglaterra, onde os Parlamentos tomam eles mesmos a iniciativa de expulsar parlamentares bandidos. Aqui, nem à comissão de ética se move para cuidar da ética, e os criminosos permanecem impunes. Há até deputados frequentando a Câmara e Assembleias usando tornozeleiras, e ninguém disso parece ter vergonha. É por coisas assim que integrantes de facções criminosas ainda sem terno e gravata, estão se filiando a partidos políticos, e vão disputar as eleições do próximo ano.
CONVITE: CANTATA DE NATAL ALESE
SAI CLÓVIS ENTRA ULICES
(Ulices Andrade, o novo presidente do TCE)
No Tribunal de Contas acaba o mandato de Clóvis Barbosa, começa um outro de Ulices Andrade. Lá não existem disputas acirradas e que se tornem públicas. Tudo é tranquilamente acertado em reuniões de onde sai o consenso, alias fácil, porque a roda se move de acordo com uma agenda de rotatividade abrangendo os sete conselheiros.
Quando chegou a vez de Clóvis Barbosa houve de inicio, algo que poderia ser interpretado como mudança de regras, Mas logo tudo se acomodou. De início com algumas impetuosidades, nada convencionais em colegiados, houve alguns problemas, quase se produzem inimizades. Prevaleceu o bom senso e os conselheiros se entenderam, e Clóvis conteve os ímpetos. Fez então uma administração que deixou modelo para quem quiser fazer economia de gastos.
Ulices Andrade, foi um parlamentar equilibrado, conduziu bem a Assembleia quando presidente, e já exerceu cargos públicos importantes, demonstrando competência, é homem tarimbado e sabe conduzir a boa politica da convivência, e tudo permanecerá no ritmo convencional dessas Casas de Contas, que alguns preferem chamar de ¨faz de contas¨, o que no caso de um tribunal como o do Rio de Janeiro, é denominação injusta, por ser leve demais para definir o que ali acontecia.
No TCE sergipano nunca aconteceram coisas mais graves do que os problemas que motivaram o afastamento de um conselheiro pelo próprio Tribunal, que assim vai cuidando das suas atribuições. Há agora o caso da ex-deputada Angélica Guimarães e hoje Conselheira, mas ainda em fase de julgamento, nada, porém ocorrido durante o tempo em que ela passou a integral o TCE. Os fatos relacionam-se ao que houve na Assembleia quando Angélica foi presidente.
Angélica Guimarães exercerá o cargo de Corregedora. Nada impede que o exerça, porque não foi condenada, mas está sub-júdice, e o julgamento continua. Até por precaução deveria ter evitado assumir o encargo, de certa forma delicado, para as circunstancias em que se encontra.
O Vice Presidente será Carlos Alberto Sobral. Em Sergipe ninguém entende de contas públicas mais do que ele, e o melhor de tudo, é gente simples, não tem vaidades.
A posse de Ulices Andrade será sexta-feira dia 15, às nove horas no Tribunal.
Publicidade:
DO NOBEL A ¨DONINHA PÍLULA¨
(Murilo Mellins, historiador)
Na sessão de segunda feira, dia 4, na Academia Sergipana de Letras após a palestra sobre os cem anos da revolução russa, acadêmicos reuniam-se em torno dos acepipes sempre oferecidos com estilo pela acadêmica Luzia Nascimento.
Conversavam em torno das amenidades de sempre. A acadêmica e professora Patrícia Verônica
de Souza dizia da impressão muito boa que lhe havia causado a palestra feita numa reunião de Escolas de Contas ocorrida em Goiânia, pelo escritor moçambicano Mia Couto. Ele é um personagem extraordinário, que desempenhou papeis diversos no decorrer da sua vida, nos instantes cruciais da historia de Moçambique.
Autor de uma obra literária vasta e importante, Mia Couto, ou Antônio Emílio Leite Couto, transita pelo romance, a poesia, e mais intensamente ainda no conto, que é, por assim dizer, o romance sintético e mais difícil talvez de construir. Os livros de Mia Couto vão além do mundo lusófono, são traduzidos em várias línguas.
No Brasil Mia tem uma vasta legião de leitores e admiradores, entre eles o conselheiro e acadêmico Carlos Pinna, um intelectual de gosto refinado. Por isso, pelas suas leituras não passam mediocridades. Pois é, Carlos Pinna ao lamentar o fato de não ter este vasto país com mais de 200 milhões de habitantes conseguido ainda um só Prêmio Nobel, dizia que se sentiria de certa forma recompensado se o ganhador do Nobel de Literatura do próximo ano fosse o moçambicano Mia Couto, até porque, ele tem tantas afinidades com o Brasil , e segue as veredas do estilo ¨Roseano¨. Resta agora conferir se o conselheiro teria também o dom da premonição.
Depois, o assunto tornou-se exclusivo de uma roda masculina. Surgiu em cena a personagem Doninha Pílula, a mais famosa proxeneta, dona de casa de tolerância em Aracaju, entre os anos quarenta e sessenta. Demorou, a aposentar-se da profissão que exercia nas suas variadas práticas. Murillo Melins a conheceu, e a classificava como uma senhora elegante, que parecia transitar por um ambiente que não era exatamente o seu. Mellins conhecia a historia de Doninha. Ela não era Pílula, na verdade uma corruptela de Pilla, nome de ilustrada família gaúcha. Era prima do político líder do Partido Liberal Raul Pilla.
Quando o regime militar fechou o Congresso, ou melhor, o colocou em ¨recesso¨, a palavra exata e tolerada pela censura para denominar o fechamento, lembrou Carlos Pinna, Raul Pilla voltou ao seu Rio Grande. Passados nove meses, ele mandou um curto bilhete ao presidente da Câmara Federal renunciando ao mandato, escrito mais ou menos assim: ¨Por este instrumento renuncio ao meu mandato de deputado federal que me foi conferido pelo generoso povo gaúcho. Já se vão nove meses desde que o Congresso foi fechado, e eu não quero esperar mais. Durante nove meses só esperei para nascer¨.
HISTÓRIA DE VÁRIOS TEMPOS EM SEGUNDA EDIÇÃO
O desembargador e professor aposentado Artur Oscar de Oliveira Déda, escreveu tratados sobre o Direito, a ciência que o fascinava. Deixando a toga, resolveu ingressar pela literatura, e logo teve reconhecido o seu talento de romancista. Memorialista também, Déda, pelo sucesso alcançado, relança agora 'Histórias de Vários Tempos - fatos e pessoas'.
Será no Museu da Gente Sergipana a partir das 18 horas do dia 14 deste, quinta feira.