Cândido Mariano Rondon, o Marechal Rondon, é um entre os brasileiros que podem compor com honra o Panteão dos vultos mais importantes da nacionalidade. Esse panteão por sinal não existe, e não deverá existir nunca, porque seria difícil fazer através de decreto a sua composição, isso, sem despertar controvérsias e acalorados debates, e até irados protestos, ou, o que seria pior, a omissão do silêncio encobrindo uma indiferença sepulcral diante da nossa História, e dos que a fizeram.
No início do século passado veio ao Brasil o ex-presidente americano Theodore Roosevelt. Além de político ele era um homem de ciência e fascinado por explorações. A maior delas foi a que começou em 1908, e ficou conhecida como Expedição Científica Roosevelt-Rondon.
O então coronel Cândido Mariano foi recomendado a Roosevelt pelo Ministro do Exterior brasileiro Lauro Muller. Roosevelt chegou subindo o rio Paraguai, desde Assunção, numa canhoneira que o presidente do país colocara ao seu dispor. Em Cáceres ficou a esperar Rondon, que viajava de navio de Manaus ao Rio, para dali seguir por terra ao encontro do americano. Começariam então a fazer a longa e complicada marcha para o norte até Manaus, cruzando pantanais, rios, selvas e montanhas, regiões por onde Rondon tanto passara antes, executando o formidável trabalho de catalogação científica do nosso território, e onde ficaram as marcas da sempre amistosa aproximação com os índios. O lema de Rondon: ¨Morrer se preciso for, matar nunca¨.
Rondon foi o nosso grande ¨bandeirante¨ civilizador, movido pelo saber científico, uma relação fraterna com o índio, e total dedicação ao Brasil.
Dele, em carta de agradecimento ao governo brasileiro diria o ex-presidente Theodore Roosevelt: ¨A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte o canal do Panamá; ao Sul as conquistas geográficas de Rondon¨.
Demorou para que os povos autóctones do Novo Mundo, os índios, fossem reconhecidos como bichos humanos, de carne e osso, portadores também de uma alma. E vieram os jesuítas para burilar essa alma, e salvá-la pela fé, dos padecimentos do inferno. Coitados dos índios, ingênuos, inocentes, adorando seus deuses anímicos, sol, lua, planta, bicho, a natureza mãe e sagrada, sem saberem que um outro castigo os aguardava após a morte, além daqueles sofridos em vida do conquistador branco, que chegava para exterminá-los, ou os transformar em escravos.
O Padre Vieira, num daqueles seus portentosos sermões, proclamou a identidade humana encontrável nos povos das selvas do Novo Mundo. Os sermões de Vieira viriam a enriquecer a literatura lusófona, mas, ao que tudo faz crer, aqueles textos longamente lidos nos púlpitos, não retiravam a sonolência da realeza, dos seus cortesãos, homens grados, e acólitos, que mal os escutavam, menos ainda os entendiam.
Mas tudo indica que sobre a natureza humana do índio não parece haver mais nenhuma dúvida, tanto assim que a recém indicada ministra da Família, Direitos Humanos e Índios, a advogada e pastora Damares Alves, já disse, bem enfática: ¨índio também é gente¨.