A noticia foi péssima. Sergipe figura em segundo lugar no país em volume de desemprego. A cifra decepcionante anda pela casa dos dezessete por cento, algo alarmante, capaz de fazer acender todas as luzes vermelhas de alerta, diante do que vem a ser, com certeza, o pior item no rol das mazelas a compor a tragédia das disfunções sociais.
Os ultraliberais, agora tão em moda, prescrevem a receita do emprego, inclusive, à custa dos direitos trabalhistas, como o único remédio capaz de curar todos os males sociais. Não é exatamente assim. O emprego é, sem dúvidas, o mais eficiente dos remédios, todavia, a receita deverá incluir, além dele, outras fórmulas que se completam.
No Brasil tivemos alguns períodos mais longos e alternados de quase pleno emprego, isso, nos governos de Lula, de Juscelino, e em períodos dos mandatos autoritários de três dos cinco últimos generais, entre 1964 e 1985. Mas, em nenhum momento desses interregnos de euforia, seria possível afirmar que o Brasil teria vencido o drama da desigualdade social, que nos persegue desde quando ainda colônia portuguesa.
A cifra do desemprego em Sergipe seria desalentadora, caso não se faça uma análise minuciosa das circunstancias adversas, que nos levaram ao castigo dos braços cruzados de dezenas de milhares de sergipanos, e, sobretudo, se não houver sensibilidade para os sinais promissores que já se enxergam com alguma nitidez, desenhando uma reversão das expectativas pessimistas.
Temos causas político-administrativas e climáticas a considerar, para entender melhor o impacto da crise sobre a nossa ainda frágil economia.
No semiárido a seca chega aos sete anos, neste, a estiagem alcançou todo o estado, quase não tivemos safra de milho, hoje, a maior fonte de geração de emprego no campo, depois da agroindústria canavieira, que, junto com a citricultura, também foram fortemente afetada. De um modo geral a atividade econômica no campo foi reduzida.
A crise internacional alcançou, no Brasil, uma escala devastadora, pela inépcia de Dilma, e tornou-se mais aguda ainda, como decorrência das canalhices praticadas contra o Brasil por uma organização criminosa, onde se incluíram Temer, Eduardo Cunha, Geddel, e outros do mesmo naipe. Sergipe foi mais duramente atingido quando iniciou-se o desmonte da PETROBRAS, e vieram as retaliações mesquinhas, movidas pelo novo poder instalado em Brasília.
A construção civil, maior geradora de emprego, quase estagnou, e as obras públicas foram pesadamente reduzidas.
Hoje, todavia, quem conversa com o engenheiro elétrico e professor José Augusto Carvalho, Secretário do Desenvolvimento Ciência e Tecnologia, e dele recolhe uma visão sobretudo realista e técnica, sai, absolutamente convencido que, a depender da estratégia ainda a ser complementada, Sergipe começará a viver uma outra fase, comparável às duas revoluções econômicas que atravessamos, com a descoberta do petróleo em Carmópolis, tornando Sergipe em 1963, o segundo produtor no Brasil, e a primeira localização de óleo e gás no mar, ocorrida em frente à praia da Atalaia, em 1968.
Essa terceira revolução a qual aqui temos nos referido, já começa a ser delineada, e chegará ao clímax, quando, por volta de 2022 estivermos produzindo, por dia, dezessete mil metros cúbicos de gás, e cerca de 500 mil barris diários de petróleo.
Os campos produtores marítimos de Sergipe, não cansa de repetir o mais entusiasmado técnico petroleiro, Aguinaldo Vilela, estão entre os maiores do mundo. Agora aposentado, Vilela não perdoa duas coisas: A roubalheira que ocorreu na sua empresa, a PETROBRAS, e a entrega a preço vil dos campos do pré-sal à petroleiras multinacionais. Vilela, por conta do seu oficio desbravador, percorreu a ¨amazônia verde¨ e a ¨amazônia azul¨, terra, e mar, e não conhece nada que se compare ao que começa a ocorrer no mar sergipano.
Com o petróleo e gás em rara abundancia que teremos, para aqui já começam a ser despertadas as atenções de grandes grupos nacionais e estrangeiros, interessados em montar refinarias, industrias petroquímicas, e de fertilizantes, exatamente iguais à nossa FAFEN, que a direção da Petrobras, teima em desativar, numa atitude que não é apenas administrativa, mas é, sobretudo, criminosa.
BELIVALDO E O CAVALO SELADO NA SUA FRENTE
Entre outubro e este novembro, em meio ao clima de urgência para que se encontrem saídas, e seja evitado o fechamento da fábrica de fertilizantes nitrogenados, a FAFEN, houve duas boas noticias para Sergipe. Uma, a reativação da portentosa indústria vidraceira instalada em Estância pela Saint Gobin francesa, em parceria com o dinâmico grupo sergipano Constâncio Vieira.
A fábrica começara a funcionar, foi em seguida fechada em consequência de rompimento de cláusula contratual, com a transferência do controle para um fundo de investimentos americano. O grupo sergipano reagiu. Finalmente, chegou-se a um consenso com a venda da empresa para o grupo Vidro-Porto de Santa Catarina. A indústria começa a funcionar, e mais de 200 empregados demitidos retornam. A outra notícia, foi a ampliação da fábrica de chuveiros elétricos Corona, e o grupo também catarinense, transferindo para Sergipe outras atividades em grifes de materiais de construção, como a Hidra e a Deca.
Isso não aconteceu por acaso. Resultou de muitos contatos, análises técnicas, troca de informações entre os grupos privados e o governo.
Ainda em outubro estiveram em Aracaju alguns dos principais executivos da Exxon, que é a terceira maior petroleira do mundo. Aquela empresa começa a atuar em águas, digamos assim, sergipanas, embora fiquem a distancias entre 80 e 100 quilômetros das nossas praias, mas, aqui ficará a sua base logística, e aqui viverão parte dos seus trabalhadores. Os executivos analisam a possibilidade de instalar em Aracaju a sua sede, e isso requer um mundo de informações, que começaram a ser oferecidas após encontros com o governador, com os técnicos da SEDETEC, da Secretaria da Segurança e outros setores. A partir de agora terá de ser mantido um fluxo constante de dados, de respostas a questionamentos. A sede da Exxon em Aracaju significará maior consumo de pessoas com alto poder aquisitivo, com efeitos diversos, entre eles no setor imobiliário. Além da Exxon há outras empresas, e a necessária ¨redescoberta¨ de Sergipe pela PETROBRAS.
A CELSE, Centrais Elétricas de Sergipe, ramo de um grupo multinacional que investe mais de cinco bilhões de reais numa usina termelétrica na Barra dos Coqueiros, emprega quase dois mil trabalhadores, e trouxe um notável dinamismo para o município. A usina, a ser inaugurada em janeiro de 2020, é a primeira de um total de três, que levará o nome de Complexo Energético Governador Marcelo Déda, homenagem dos empresários ao governador que iniciou os entendimentos bem-sucedidos.
Como se observa, tudo depende do protagonismo, e da visão de futuro do governo do estado, para que o ¨cavalo ajaezado¨, passando à nossa frente, não deixe de ser montado. Belivaldo parece disposto a dar o salto sobre a sela, e cavalgar rumo ao futuro. No caminho, existem os labirintos do nosso provincianismo, e da política tantas vezes miúda.
O salto exige a formatação de um perfil técnico, a busca de cabeças arejadas, a construção de elos com o poder central, em resumo, teremos de ter uma politica de desenvolvimento sintonizada com o instante que começamos a viver, para que, das circunstancias favoráveis, façamos uma portentosa base produtiva em Sergipe, capaz de nos retirar definitivamente da pobreza, que as vezes resulta da mediocridade.
Talvez precisemos mesmo contratar uma Consultoria renomada, com trânsito empresarial e institucional, para que tenhamos maiores chances de sucesso. Temos os atrativos locacionais pelos insumos disponíveis, principalmente, mas, não seremos o único e exclusivo local para os empreendimentos possíveis.
Existe a necessidade de ampliar a capacidade do nosso terminal marítimo, e temos a vantagem, única no Nordeste, de um retro- porto com espaço largo para o armazenamento de cargas, e isso consolida a nossa vocação para sermos um centro distribuidor de produtos por todo o nordeste, com foco maior no eixo Salvador-Recife.
É preciso consolidar a cadeia produtiva que se formará, inicialmente, a partir do gás excedente da CELSE, que virá do Qatar, e poderá alimentar diversas indústrias. Precisaremos dialogar intensamente com empresas brasileiras e internacionais, da mesma forma com os futuros ocupantes do poder central. A estratégia para que tudo isso aconteça, apenas está sendo esboçada, mas deverá ganhar consistência. Teremos de elaborar um modelo de desenvolvimento onde todos os setores da economia se entrelacem, e nesse sentido torna-se imperioso o surgimento de uma nova visão sobre o nosso setor primário, o campo.
Belivaldo já anunciou durante a campanha essa visão, especificando ações como a modernização da citricultura, e a transformação do semiárido em área privilegiada para a pecuária leiteira. Nesse aspecto, há duas vertentes: A ampliação da cultura da palma e outras forrageiras, e a ação já iniciada de melhoramento genético dos rebanhos, além da adequação dos pequenos laticínios, e ainda a base de recursos hídricos indispensável ao projeto. Ações nesse sentido ganharam dimensão com a chegada de perfuratrizes, e a ampliação de barragens antigas, trabalho que se revelou mais barato e eficiente. Há em tudo isso a quase insuperável carência de recursos, e encontrá-los será o maior desafio.
O governo do estado dispõe de uma excepcional ferramenta para esse salto tecnológico na agricultura, que é a Biofábrica do SERGIPTEC, o Centro Tecnológico engenheiro Rosalvo Alexandre, anexo ao campus da UFS, em São Cristóvão. Foi iniciativa de Déda, e por ele iniciado, dando sequência a um projeto nascido no governo anterior de João Alves. Jackson deu sequência às obras, inaugurou, e pôs em funcionamento o SERGIPTEC.
O engenheiro agrônomo Manoel Hora, dirigente do SERGIPTEC, com o respaldo técnico e responsabilidade profissional dos engenheiros Ronaldo Fernandes, gerente da Biofábrica de mudas, e do engenheiro Cláudio Antunes, gerente de infraestrutura, assegura que será possível, no próximo ano, produzir mais de quinhentas mil mudas de palma, geneticamente imunes aos fungos. Com essa garantia, um programa de disseminação da palma e outras forrageiras no semiárido, formaria a base sustentável da expansão do rebanho leiteiro.
Alvos preferenciais para esse projeto, poderiam ser os assentamentos do MST, que no semiárido não conseguiram até agora produzir quase nada.
É indispensável que percam a sintonia improdutiva com práticas que a moderna agricultura superou, como essa insistência boba de produzir o feijão crioulo, cujas sementes deveriam estar bem guardas num banco genético, ou utilizadas em restritos plantios de sobrevivência, em quintais, e apenas isso. Sem dispêndio de recursos preciosos e de tempo inútil.
A convivência harmoniosa e interativa entre a agricultura familiar e o agronegócio, é um objetivo pragmático a ser alcançado, com base, por exemplo, na bem-sucedida experiência no campo catarinense.
Dessa forma, atividades como a pecuária e a agroindústria terão de entrar com mais ênfase nessa pauta de inovações transformadoras do nosso empobrecido e dependente meio rural.
Em suma, o cavalo selado passa aqui, bem junto, e vai correr em direção ao futuro, e ao decidir-se por essa cavalgada, Belivaldo estará aproveitando este, que ficará sendo o grande momento da história econômica de Sergipe.