Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
DO BARÃO DE DRUMOND A  SOFREGUIDÃO DAS BETS
15/08/2024
DO BARÃO DE DRUMOND  A  SOFREGUIDÃO DAS BETS

NESTE BLOG

1) A NOSSA CAMBALEANTE EDUCAÇÃO O MP E O TC

2) DO BARÃO DE DRUMOND A  SOFREGUIDÃO DAS BETS

 

 

A NOSSA CAMBALEANTE EDUCAÇÃO O MP E O TC

Para melhorar os indices do fundamental, necessita também da presença do TC e do MP.

Sairam as cifras sobre a Educação brasileira no decorrer do ano passado.Há números esperançosos e outros decepcionantes. Sergipe não está entre os piores nos dois casos, mas, fica abaixo da média nacional, no ranking de cem  dos dois níveis,  o Fundamental e também  o Médio. No Fundamental,  aparecem  com entusiasmante  sucesso o Ceará com 68 pontos, Alagoas com 31, e Pernambuco com apenas um, completando os  cem, e deixando fora os demais.

No nível médio,  aparecem com destaque as Escolas federais, técnicas ou militares, estas,  em segundo e quarto lugares. A Escola de  Preparação de Cadetes da Aeronáutica em Barbacena, Minas Gerais, e a Escola Naval, em Angra dos Reis , Rio de Janeiro. Em todos os cenários surgem nos primeiros lugares, o Ceará, Goias, Paraná e  Espírito Santo. Entre os estados mais ricos, o Rio de Janeiro é vergonhoso ,enquanto Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ficam abaixo da média nacional.

Nos dois casos Sergipe aparece abaixo da média nacional, mas não fica nos últimos lugares, e revela um modesto avanço que  vem registrando em anos seguidos no nível médio.

O decepcionante mesmo é a nossa situação no Fundamental, este, que  depende das Prefeituras assumindo as suas  responsabilidades.

Pelo interior há casos que chegam a provocar indignação. Este panorama adverso pode sugerir a necessidade de alguma reflexão sobre o papel a ser desempenhado pelo Ministério Publico e Tribunal de Contas.

Onde há protagonismo maior e indispensável das Prefeituras os índices sobem, e atestam uma boa gestão. Há municípios com reduzida receita e que mostram exemplos no trato com o Ensino.

Antes, e aqui não estamos saudosistas a desmerecer do presente, o Ministério Publico, certamente  diante de circunstancias bem diversas, envolvia-se diretamente com a Educação nos municípios do interior. Havia a  Campanha Nacional da Educação Gratuita, a CENEG, que instalava Escolas e nelas era comum Promotores e Juizes darem a sua participação integrando o corpo docente. Nisso, destacou-se e poderia o seu nome traduzir a ação coletiva, um ícone do Parquet, que foi Iroito Dória Leó. O professor Nicodemos Falcão que viria a eleger-se varias vezes deputado estadual foi um dos maiores propulsores desse sistema de Escolas. Hoje o panorama é outro, existem professores disponíveis e até uma reserva deles e de pedagogos necessitando que se façam mais concursos . Mas, sem intervenções, sem apoquentarem os Prefeitos e apenas exercendo na integra as suas prerrogativas constitucionais os Promotores em comarcas interioranas, um tanto sem rumo, poderiam exercer um indispensável protagonismo, no que se refere à fiscalização e ao acompanhamento.

Ao Tribunal de Contas poderia  caber um desempenho ainda maior, e os dois assumirem a responsabilidade junto aos Prefeitos de construírem índices melhores que possam figurar na avaliação do IDEB, sem nos causarem vergonha.

A Conselheira Suzana Azevedo, agora na Presidencia do TC, tem um histórico de ações ligadas à Educação e Cultura, e poderia agendar para o ano que vem, um projeto comum, visando um avanço na Educação, no que se refere ao nível Fundamental .

Da mesma forma, o atual Procurador Chefe do MP, Manoel Cabral Machado Neto , que tem o DNA primoroso de uma família de  grandes Educadores, poderia injetar, nos seus comandados  espalhados pelas comarcas do interior a seiva valiosa do entusiasmo pelas transformações, pelas mudanças, o que somente se conseguirá através da Educação.

Quando o MP se ausenta, pode ocorrer algo como agora sucede em Canindé do São Francisco, e neste caso não se trata de algo relacionado à Educação.

O que acontece ?

 Houve uma “intervenção branca” no município,  quando  o candidato derrotado na eleição anterior , deu uma trégua na campanha forte que fazia contra o atual Prefeito, inclusive tentando a sua cassação através da Justiça, e estabeleceram um pacto de colaboração, que seria movido pelo interesse publico. Com a “ intervenção “ o candidato que fora derrotado, transformava-se no prefeito de fato, e nomeou seus indicados, inclusive no lugar chave a Secretaria de Fianças. Havia atrasos  a fornecedores e funcionários. Efetuaram um pagamento a empresa que loca caminhões-pipa para transporte de água. Dois meses dos três atrasados. Só que a empresa não pagou aos pipeiros, e eles continuam parlisados, . Na extensão dos seus quase mil quilômetros quadrados, há povoados que ficam a mais de vinte quilômetros do rio, e estão há um mês sem água. É uma situação de tragedia social. O prefeito que “ reassumiu “ o cargo e demitiu o Secretario de Finanças, está impedido de pagar aos pipeiros, pois, teoricamente, as faturas já estão liquidadas. 

A quem caberia convocar o dono da empresa faltosa ou ao Prefeito para que prestem explicações sobre o ocorrência estranha , esquisita e grotesca? Certamente ao representante local do Ministério Publico. 

Este é só um exemplo de quanta falta pode fazer uma instituição  que se omite.

 

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DO BARÃO DE DRUMOND A  SOFREGUIDÃO DAS BETS

                                                                                   

Uma barão criativo, ganhou fama na república.

 

João Batista Vianna recebeu um título de nobreza do Imperador Dom Pedro II, tornou-se Barão de Drumond.  Com o Império morrendo nas o seu privilegiado status viraria cinzas, isso, se em 1892, na República acanhada do marechal Deodoro da Fonseca, ele não houvesse feito uma invenção que tornaria o seu título de Barão para sempre lembrado, transformado em bairro do Rio de Janeiro e alegoria frequente em desfiles carnavalescos.

O Barão fazia parte daquela burguesia carioca que tinha acesso à Corte. Corretor e construtor de imóveis, ele sugeria facilidades aos êmulos do Império, e teve a inovadora ideia de criar um Jardim Zoológico. Apreciador do carteado, o Barão resolveu inovar as opções lúdicas,  e aproveitou as suas espécimes zoológicas para criar um Jogo que conquistaria os cariocas, e depois todo o Brasil.

 Percorreu o alfabeto  com os nomes e figuras dos bichos de A até o V, ( o Z foi desprezado) mas, em outro jogo, este estatal, que surgiria quase cem anos depois, a Zebra apareceria, todavia apenas como   engraçada alusão  aos resultados impossíveis, e a todas as coisas improváveis.      O         jogo do Bicho, inventado pelo Barão integrou-se à  cultura brasileira, formou hábitos sociais, transformou-se   em atividade econômica relevante , que gerava riqueza e ampliava o mercado de empregos;  tudo, numa clandestinidade tolerada, e  livre do aparelho fiscal sempre insaciável. O jogo do Barão colocava em cena mamíferos, aves e insetos, indo de Avestruz e Águia, passando pela Borboleta , o Burro e a Cobra , chegando ao Urso, e finalizando na Vaca.

 

 

 

 

O que começara como uma espécie de   divertimento quase inocente de famílias, incluindo crianças e avós que faziam as suas modestíssimas “fezinhas”, e dia a dia iam alimentando  esperanças de ganhar as pequenas quantias,  trazidas quando acertava-se no Bicho pelo prestativo “ cambista”, pessoalmente, ao acertador do  número correspondente . O Jogo do Bicho primava em ter uma imagem de seriedade, dele, chegou-se a dizer que era uma das poucas coisas honestas existentes no Brasil. As pessoas sonhavam com o Tigre, escutavam o miar de um Gato,  do Galo cantando fora de hora, e o jogo estava feito. No fim da tarde perguntavam: qual o bicho que deu?

No governo do marechal Eurico  Gaspar Dutra, ( 1945-1950) a sua esposa, Dona Carmela, era uma atenta fiscal conservadora, preocupada com os costumes. Fazia uma parceria poderosa com o Cardeal Primaz do Brasil, e juntos, convenceram o enfezado Marechal a   proibir os jogos de azar.

O Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, era o templo dourado da roleta e do carteado. Em torno do pano verde e dos croupiers , acotovelava-se a fina- flor da dolce vita brasileira. Na ditadura de Vargas, seu irmão Beijo, seu ministro Osvaldo Aranha entre tantos outros eram frequentadores assíduos do Cassino da Urca. Haviam os famosos, e vindos de Hollywood.  No tempo da Politica da Boa Vizinhança de Roosvelt  o Departamento de Estado e a CIA, para aliviar  as tendencias nazi-fascistas do regime,   fizeram Walt Disney criar o Zé Carioca, e convenceram  celebridades americanas a incluir o Rio de Janeiro na sua agenda. Assim, era possível no Cassino da Urca topar com Orson Wells ou Ava Gardner, além  daquelas moças insinuantes que rodopiam em torno dos alvos endinheirados.   Como lembrou Jorginho Guinle no seu livro Cem Anos de Boa Vida  vivia-se os dias    “dos três “ cês”: cocaína, champagne e caviar.”

 Fechado o Cassino, começou o tempo da agonia do desemprego, do desespero, a quebradeira do mundo artístico, daqueles que viviam em função da noite frenética. Houve uma sucessão de suicídios e o ambiente carioca entristeceu-se no silencio da forçada apatia.

Contra o Jogo do Bicho desencadeou-se a fúria policial, até então aquietada com as “ doações “ que eram fartas. Então, os contraventores   se tornaram  criminosos.  O Jogo do Bicho continuou, refugiou-se nos morros, onde também multiplicaram-se  traficantes e  milicianos, e vive-se até hoje um crescer da violência, enquanto os “Comandos” se  transformam em empresas e se  misturam com as engrenagens públicas.

Em Aracaju, essas “ doações” do Jogo do Bicho, ou passaportes para a atividade, eram religiosamente  feitas.  Entre os anos cinquenta e meados dos sessenta, um  senhor negro, alto, elegante e de maneiras gentis, subia as escadas do prédio da Secretaria de Segurança Pública sobraçando uma pasta escura. Isso acontecia pontualmente ao entardecer. A depender de quem fosse  o Secretário de Segurança, a pasta não esvaziava sua carga no principal gabinete, com alguma discreção  era levada para salas de hierarquias inferiores. O homem era Luizinho, empresário e líder do Jogo do Bicho, e de algumas roletas que giravam em diversos locais, inclusive no andar térreo do  Shangay, um cabaré com presunções elitistas.

Sem Cassinos, os brasileiros que tinham dinheiro iam “ aplica-lo” em outros locais.   Punta del Este no Uruguai,   o destino mais comum, procurado também por  casais desquitados, e aqui impedidos de casar outra vez pelo nosso conservadorismo  institucional -clerical-rançoso  iam    casar no Uruguay, onde existia o divórcio.

Hoje, este conservadorismo renitente,  inspirado em denominações evangélicas que têm uma vistosas bancada no Congresso Nacional, parece tolerante, enquanto se espalham os bilionários jogos pelas redes sociais, onde preponderam as apostas BETs, acessíveis, facilmente, em qualquer celular, em que jogam até crianças,   pessoas nos seus locais de trabalho  devastam os  miúdos patrimônios. O Exército já constatou o tamanho do risco, e baixou normas rigorosas para os  integrantes, que se deixam levar pelas ilusões da riqueza  milagrosa.

Mas, essa ansiedade pela riqueza ao alcance da mão, apenas se tornou moderna, sofisticada, eletrônica e virtual. Ela é inerente à pessoa humana e atravessa séculos e gerações.

O escritor e historiador Afonso de Escrangnole  Taunay, no seu livro Relatos Sertanistas, faz uma compilação de textos ou apógrafos que ele recolheu em diversas fontes sobre a aventura dos Bandeirantes em busca do ouro, das pedras custosas, e  da captura de índios para torna-los escravos.

Um deles, era o famoso Bandeirante  Bartolomeu Bueno. Ele estava  afastado das Bandeiras, recolhido no seu canto, quando foi procurado e ajudado para retomar uma nova empreitada pelos sertões. Bartolomeu Bueno, diz o relato: “ Se acha banido por haver perdido  todo o seu cabedal em jogos de parar, e interessado  a melhorar de fortuna mais  pelo trabalho do que pelo jogo.” Isso aconteceu no distante ano de 1697.

 

 

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