(Bolsonaro e Olavo de Carvalho)
Olavo de Carvalho, aquele, o debochado astrólogo-doutrinador, definiu recentemente os generais brasileiros como “cagões", e não cessa de falar amolecadamente sobre os quatro-estrelas ministros, integrantes do núcleo pensante do Planalto. O vice, Hamilton Mourão, é outro alvo preferencial do cidadão que vive nos Estados Unidos, e está absolutamente convencido de que tem total ascendência sobre o presidente Bolsonaro e os seus três filhos, tão loquazes. Ele não faz uma avaliação equivocada do tamanho da sua influência, de fato, ela é enorme. Tanto assim que impôs a nomeação do Ministro das Relações Exteriores, também, do colombiano Velez Rodriguez, indicado para a complexa pasta da Educação. Trata-se de uma espécie rara de debiloide intelectual, que instalou em três meses um ambiente caótico no Ministério, e acaba de ser substituído por outro, que dá preocupantes sinais de continuar fazendo da Educação um laboratório para as experiências bizarras de Olavo de Carvalho, tendo os estudantes e professores brasileiros como cobaias para as ousadias psicóticas do bruxo extremista.
O presidente Bolsonaro cometeu, no mínimo uma deselegância, quando nos Estados Unidos afagou o ego do “filósofo”, que considerou quase como um guia e um exemplo, mesmo sabendo dos insultos que ele fizera a dois dos seus ministros militares, e também ao seu vice, o general Mourão.
Já em Israel, consumando o que antecipara o “Rasputin tropical” Bolsonaro prometeu o “escritório comercial" em Jerusalém, não descartando a possibilidade da transferência da Embaixada, e chamou o Premiê Netanyahu de “irmão”, algo insólito no sofisticado cenário da diplomacia.
Por iniciativa da ágil e eficiente ministra da Agricultura Teresa Cristina e da Confederação Nacional da Agricultura, todos alarmados com a repercussão negativa entre os árabes da fala presidencial, e das retaliações que viriam causar um prejuízo ao agronegócio, em torno de dez bilhões de dólares, só este ano, organizou-se um jantar com os embaixadores árabes em Brasília. O presidente compareceu, levou a tiracolo o, macambúzio ministro Ernesto Araújo, e falou de forma simpática, conseguindo melhorar o clima. Poderia ter citado, oportunamente, algumas passagens do Alcorão que melhor se adaptassem às circunstancias. Mas, isso seria pedir demais, e até poderia irritar o “irmão" Nethanyahu.
Esse contraponto entre as falas de Bolsonaro a israelenses e árabes, teria de ser cuidadosamente avaliado, para que aquilo que se tem no coração, não se tornasse tão claro. Em diplomacia, exercitam-se, entre tantas outras, a arte da dissimulação, do comedimento precavido. Sobre esta última recomendação, o Itamaraty, atento à cultura e às suas melhores tradições, incluía na bibliografia sugerida aos alunos do Curso Rio Branco, o livro A Arte da Prudência, escrito no século XVII pelo espanhol Balthazar Gracian.
Há um outro livro, cem anos mais novo, de autoria de Joseph Antoine Toussaint Dinouart, conhecido como Abade Dinouart , intitulado L ‘Art de se Taire , - A Arte de ficar calado, que o Itamaraty deveria torna-lo leitura obrigatória para os futuros diplomatas. Alguém, de forma discreta, poderia providenciar uma tradução de uma das edições francesas, fazer uma edição em português e entregar o livro ao Presidente Bolsonaro.
Trata-se, na realidade, de um verdadeiro e suscinto Tratado sobre o comedimento na palavra, as habilidades na fala, e sobre aquele momento exato para recorrer ao silêncio providencial. Entendendo que “o homem se perde pela palavra", Dinouart afirma que a arte de calar-se é como se fosse uma disciplina interior, a que cada um deve submeter-se, e vai além, considerando que o silêncio muitas vezes se faz necessário em função da conveniência de Estado, ou é a própria Razão de Estado.
Resumindo, e sem a necessidade de traduzir o francês, apenas recorrendo à sabedoria popular : “em boca fechada não entra mosca".
E acrescentamos: em dígitos sem movimento também.
UM ELEFANTE CHAMADO COHIDRO
Nunca, um recorrente provérbio popular tornou-se tão atual como aquele: “vão-se os anéis, ficam os dedos", ou seja, perde-se o supérfluo para que se mantenha o essencial. Todos os governantes brasileiros a começar pelo presidente, passando pelos governadores e prefeitos, se encontram agora na iminência de perderem os dedos, caso insistam em conservar anéis. Isso não significa a pura obediência ao modismo do "Estado Mínimo", cujo tamanho desejado conflita com a própria ideia, porque se deseja um Estado miúdo para exercer tarefas imensas. O que se pretende seria simplesmente um Estado Enxuto, para que, no tamanho que for indispensável ao desempenho suas tarefas primordiais, possa executá-las com a eficiência exigida.
Sergipe tem alguns penduricalhos, agora quase inúteis, que precisam ser descartados. Um deles é o excessivo tamanho de uma empresa sempre em estado pré-falimentar: a COHIDRO. Sem poder garantir a sua tarefa básica, que é a preservação e ampliação dos recursos hídricos, e tendo de sustentar o parasitismo de gente que confortavelmente ocupa lotes chamados empresariais em perímetros irrigados, e se recusa como no caso do Perímetro Califórnia em Canindé do São Francisco a pagar a taxa irrisória de cem reais por mês. Lá existem irrigantes esforçados, trabalhadores, que asseguram a produção, geram empregos no município que já foi rico, mas hoje numa pindaíba desanimadora, precisa gerar empregos para tantos que cruzaram os braços forçosamente. Aquele perímetro poderia sair da esfera da responsabilidade do Estado, e os seus lotes vendidos a quem quiser comprá-los, no caso dos que têm condições, ou, oferecidas propostas aceitáveis para que os pequenos assumam a posse, e também participem da governança através de uma Associação. O mesmo modelo poderia ser aplicado aos outros perímetros irrigados, em Itabaiana, Lagarto e Tobias Barreto. O grande investimento inicial já foi feito, a água quase fornecida a preço zero, a assistência técnica, embora precária, existe, e consome dinheiro. O que o Estado paga de energia todos os meses é uma exorbitância de recursos que poderiam ser direcionados, por exemplo, para a urgente recuperação do Quartel Central da Polícia em Aracaju, e sobraria para tantas coisas mais, inclusive fortalecer a própria COHIDRO.
Pelos perímetros escorrem orçamentos, gasta-se muito com a manutenção de um modelo velho, caduco, em virtude de um afago paternalista, que perdeu completamente o sentido.
O governador Belivaldo vai começar a vender os lotes do Platô de Neópolis, onde o governo não gasta quase nada, porque os próprios empresários rurais criaram uma Associação, e ainda pagam taxas ao Governo. Os próprios empresários devem exercer o direito preferencial de compra, e o governo fará algum Caixa. Ali, certamente, não haverá dificuldades para a transferência de posse e instalação de um modelo que poderá ser replicado nos demais perímetros. Para cada um, terá de haver uma estratégia, uma forma de processar a transição sem sacrificar os produtores, e respeitando-se o direito de quem lá está trabalhando.
A transferência da posse e do controle pelo estado daqueles perímetros, não seria uma medida apressada para tapar buraco fiscal, mas, uma ação que a médio prazo desobrigaria o governo de pesados e desnecessários gastos.
E assim a COHIDRO iria cuidar melhor das suas atribuições essenciais, e deixar de fingir que é responsável pela produção nos perímetros.
Os perímetros poderão subsistir, organizar-se, produzir, geridos pelos seus próprios donos.
A FAFEN VAI “DESHIBERNAR"
Tudo indica que a desastrada novela FAFEN vai chegar a bom termo. Mas caberá a PETROBRAS que cerrou desnecessariamente as portas da FAFEN daqui, e a da Bahia, inventando uma “Hibernação” em terras sergipanas e baianas onde ninguém hiberna, só veraneia, suando e lutando pela sobrevivência, e levando ao desespero milhares de trabalhadores, pequenos empresários, industriais que moviam suas fábricas de fertilizantes, confiando no contrato de fornecimento da uréia e da amônia pelas Fafens, postas a “hibernar" no gelo da insensibilidade social dos que comandavam a Petrobrás. O clima melhorou, e parece que a intensidade do sol tropical, no caso o esforço, o grito, o reclame de sergipanos e baianos que, juntos, clamaram contra o absurdo. A Petrobras mudou de tom, buscou uma forma de diminuir o prejuízo. Nos entendimentos, tomou a dianteira o deputado federal Laércio Oliveira, o governador Belivaldo apressou-se em retirar possíveis óbices para os grupos interessados em assumir o controle da FAFEN sergipana. Será reduzido o ICMS, também a taxa cobrada pela DESO. Mas permanece o impasse em relação ao absurdo preço do gás que a Petrobras manipula com a desenvoltura de quem usa e abusa do privilégio do monopólio.
Existem quatro grandes grupos concorrendo ao negócio, e os seus executivos chegam a Sergipe ainda neste mês de abril.
Eles não estariam querendo "deshibernar" as Fafens se não estivessem a enxergar um bom negócio.