Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
DAS CHACINAS AMERICANAS ÀS FACADAS NO RIO DE JANEIRO
07/08/2019
DAS CHACINAS AMERICANAS ÀS FACADAS NO RIO DE JANEIRO

Após a tragédia em 1999 na escola secundária Columbine, no Colorado, onde dois alunos, armados, mataram doze colegas e um professor, ganhou mais densidade o debate sobre a posse irrestrita de armas nos Estados Unidos. A chacina motivou, três anos depois um filme famoso, Bowling for Columbine, traduzido no Brasil como Tiros em Columbine. O cineasta Michael Moore suscitou o debate  sobre a desastrosa  ilusão de que uma arma    daria, a  cada um, a capacidade plena de defender-se e sobreviver diante de ataques.

A National  Rifle Association, NRA,  uma das mais poderosas corporações dos Estados Unidos,  junta o interesse  da indústria das armas com a sensação  psicótica de medo e poder pessoal,  que contagia quase  metade da população estado-unidense.  Desde que adquire consciência, a criança americana contemporânea da revolução tecnológica, acostuma-se a ouvir aquela frase surgida nos tempos distantes do far-west: “A única coisa que impede um homem mau com uma arma é um homem bom com outra arma".

O filme de Michael Moore, aprofunda-se na reflexão sobre a violência, ou a origem do mal, o tema ao qual dedicou-se por toda vida a pensadora judia Anna Ahrent.

O filme mexeu no canto em que ficava quase esquecido, o assunto inconveniente da desigualdade social,  que a prosperidade americana não corrigiu. A satânica alquimia política da extrema direita, norte-americana alimenta o ódio represado numa casta de brancos que se acham descendentes diretos dos “pais fundadores", não se conformam com a proximidade social dos negros, e a “invasão” de imigrantes hispânicos, ou de qualquer outra etnia, fora dos padrões da “raça pura".

É exatamente este ingrediente cáustico que move agora  cidadãos brancos, classe média, instruídos, quase sempre, a promoverem chacinas em série, que fazem já esquecida a de Colombine. E o número de mortes aumenta, enquanto as armas que serviriam para deter “os homens maus", nas mãos deles, dos “homens bons",    servem para matar inocentes. Os homens maus não são mais aqueles rudes e empoeirados assaltantes de bancos ou de diligências, são jovens, saídos da Universidade, sintonizados com a sofisticação das redes sociais, com   inteligência e  conhecimento postos fanaticamente a serviço  da selvageria política.

A cada ano morrem mais de trinta mil pessoas nos Estados Unidos abatidas a tiro. Uma cifra espantosa para um país rico, que tem as melhores universidades do planeta, é líder em inovação tecnológica, e  criou uma sólida base de cultura humanística. A Alemanha, em 1933, também era assim. Mas, acumulava problemas, frustrações, derrotas, e o orgulho ferido  dos alemães, “os homens bons, cultos, religiosos" tornou-se o campo onde Hitler semeou o ódio. As consequências a História registra, profusamente.

O populismo nefasto de Donald Trump, as frases como as que ele dispara contra imigrantes, tendo até sugerido que os hispânicos devem ser recebidos a tiro, faz crescer a xenofobia, especialmente em grupos de jovens branquíssimos, que se acham superiores, todavia excluídos do sistema, e põem a culpa nos imigrantes, nos “não brancos".

A grande maioria da população americana é contra o uso indiscriminado de armamentos, mas o apego ao rifle da minoria sempre extremista, tem explicação numa síndrome de pânico social, que os afeta, e a covardia sempre é disfarçada com a posse de uma arma letal.

Nos Estados Unidos há muito mais armas portáteis do que gente, mesmo assim, ao contrário do que prega a NRA, os americanos estão inseguros, e vulneráveis, exatamente diante daqueles ensandecidos que compram uma arma automática em qualquer esquina.

Todo o sistema de segurança interna americano reconhece que é preciso colocar um freio na venda indiscriminada de armamentos.

Nessa nova mania de imitar o que os americanos têm de pior, que no Brasil agora muitos alimentam, o azougado Donald Trump surge como exemplo a ser seguido. E o próprio presidente Bolsonaro diz  estar “cada vez mais apaixonado por ele".

Quando, um entre os mais de 15 mil moradores que habitam nas ruas do Rio de Janeiro, devastado por tanta miséria e sob efeito de drogas pesadas, saiu,  com uma faca a ferir e matar pessoas, o presidente Bolsonaro comentando o caso, lembrou que, se as pessoas estivessem armadas, dariam logo um tiro nele, e ele mesmo também, se fosse o caso, mataria o louco perigoso. Numa ocasião como aquela, é evidente que o assassino teria de ser contido, se necessário a tiros, mas, até hoje, no país mais armado do mundo, ninguém, a não ser a polícia, conseguiu conter um atirador disparando em escolas, shoppings, até em universidades.

E surgem esses desvairados cada vez em maior número, repetindo as matanças.  São estimulados na sua insanidade pelo discurso  de ódio que o próprio presidente Trump estimula.

As raízes do mal são profundas e complexas, e não será o porte coletivo de armas que irá removê-las.

As vezes os que dizem combater o mal são os seus maiores causadores.

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FERNANDO MATOS, UM PROMOTOR

Quando o bacharel Fernando Matos fez concurso para o Ministério Público, o Parquet, termo francês para a instituição que o sempre lembrado Iroito Doria Leó, tanto prezava como símbolo de uma possível excelência, a Promotoria ainda era quase um acessório do Poder Executivo.

Deve ter sido salvo equívoco, o hoje em recesso decano, e também exemplo para o MP, Darcilo de Melo Costa, que se viu impossibilitado de assumir o cargo, numa das salas do maltratado Foro, porque não havia papel disponível para que fosse datilografada a Ata, e o ato foi transferido para quando chegasse o papel.

Ser Promotor era, além de sacrifício financeiro, também um desafio para, sem gerar conflitos, manter-se livre dos contágios politiqueiros que  afetavam o exercício altivo da profissão. Isso requeria, paciência, habilidade, e também, algumas vezes, coragem pessoal para atravessar ondas de truculência do remanescente coronelismo.

Fernando Matos, discreto, comedido, cordato e altivo, possuía todos esses requisitos indispensáveis. Isso ele demonstrou também quando foi convocado para exercer o cargo de Secretário de Segurança Pública.

E demonstrou mais ainda, quando o Ministério Público sergipano, fortalecido pelas prerrogativas alcançadas com a Constituição de 1988, tomou, sob o comando do então Procurador Geral Moacyr Motta, a quase impensável iniciativa de agir contra uma máfia que se instalara em Canindé do São Francisco, e espalhava seus tentáculos pelo estado, inclusive, tentando corromper os poderes públicos. Com a aprovação do Poder Judiciário foi decretada a intervenção no município, e o Procurador Moacyr Motta levou ao governador Albano Franco uma lista de nomes, dela, Albano retirou o de Fernando Mattos, e o nomeou imediatamente para que ele cumprisse a desafiadora tarefa.

A intervenção não se dirigia contra a vice-prefeita, Rosa Maria Feitosa. Ela assumira no lugar do sogro foragido, e procurava levar bom senso à Prefeitura, mas, era preciso descontaminar o ambiente. 

Fernando Matos, já em final de carreira, empenhou-se durante seis meses em promover a limpeza ética e a reinvenção administrativa do município. Teve ao seu lado uma equipe de Promotores, onde se sobressaia o ímpeto pessoal de Luiz Mendonça, e a determinação do Juiz Diógenes Barreto, com suas sentenças rigorosas e restauradoras da Justiça. Ao terminar a missão, o caixa do município tinha saldo positivo, as dividas estavam pagas ou renegociadas, e ainda quase concluiu uma biblioteca, marco civilizatório. Hoje ela leva o nome de um Promotor, Paulo Costa.

Fernando Matos entrou com honra, saiu da intervenção honrado como sempre foi. E dele os canideenses sempre lembram com carinho e reconhecimento. Lá, ele está a merecer o nome numa Avenida.

Em Aracaju, há um casal reverenciado pelas qualidades dos  inseparáveis cônjuges,  sempre vistos em eventos, sendo solidários, ou percorrendo os logradouros da cidade. É formado pelo homem publico repleto de virtudes, João Barreto, e a professora emérita Olga Barreto.
O outro casal era o formado por Fernando Matos e Maria Jose, Dona Zete. Não os veremos mais fazendo, de mãos dadas, a caminhada de todos os dias pela 13 de Julho.

A “PRESIDENTA DILMA" E O “NOSSO PRESIDENTE”

("Presidenta")

("Nosso")

A inepta presidente Dilma, responsável maior pela situação em que nos encontramos, (para ela o presidente Bolsonaro deveria rezar  todos os dias) passou a exigir a quem referia-se ao seu posto, que a chamasse de “presidenta". O substantivo, como se sabe, tanto pode ser do gênero masculino, como  feminino.  Até então só tínhamos presidentes homens, quando houve uma mulher, a forma masculina já fora consagrada como única.

Dilma, tão ineficaz como teimosa, e apegada às minucias irrelevantes, começou a exigir a forma feminina. Todos os  aliados, acólitos, ou integrantes do  governo passaram a ser discriminados, quando ousavam utilizar o substantivo masculino. O ex-ministro do Supremo Nelson Jobim, nem esquentou muito a cadeira no Ministério da Defesa, por tratar sucessivas vezes a “presidenta" como presidente Dilma. Surgiu daí a aversão dela contra ele, e depois tornando-se recíproca. O afastamento de Jobim foi o primeiro passo que a inepta deu em direção ao seu impeachment.

Já o presidente Bolsonaro exige dos seus auxiliares, aliados ou acólitos, o emprego do pronome pessoal “nosso” presidente. Quem o chama “simplesmente" presidente, não é visto como parte da corriola de estrita confiança.

São coisas menores, irrelevantes. Quando a mente é pequena imagina-se que bobagens valeriam a pena.

Mas não valem, como bem lembra o poeta  Fernando Pessoa, que não cabia em si mesmo, e multiplicava heterônimos, e apontava os erros de uma alma pequena.

Infeliz de quem, na Alemanha nazista, não saudasse Hitler com o “Heil Hitler", ou, na Itália fascista, não antecipasse com a palavras Duce, ou Condottieri, o nome do sinistro bufão Mussolini.

Na Espanha falangista, era protocolar e obrigatório o tratamento: Generalíssimo Francisco Bahamonde Franco,  “Caudillo por las grácias de Díos".
Na Rússia comunista o feroz Joseph Stalin, era o Grande Condutor dos Povos; Mao Tse-Tung, a Luz da China.

E por aí vai, sempre associando autocracias às formas deprimentes de sabujice.

Mas o presidente Bolsonaro, se um dia decidir ser mesmo, por  inteiro,  o presidente constitucional de todos os brasileiros, se demonstrar acolhimento e respeito aos que dele divergem, se não tratar o nordeste com rancor, se não fizer retaliações à imprensa que o critica, se, enfim, não insultar até generais que davam consistência ao seu governo, se não agredir às instituições, se respeitar as regras da convivência democrática, se não discriminar grupos e regiões, e religiões, se substituir a linguagem de arrieiro pela de um Chefe de Estado, ai então, ele poderá ser chamado de o Nosso Presidente, sendo usado de forma espontânea o pronome possessivo, como carinhosa forma de tratamento, endossada pelos brasileiros todos, que não querem odiá-lo, apenas, que ele se comporte civilizadamente.

TRISTEZA NÃO TEM FIM.......

Um mavioso verso, de uma das maviosas músicas da dupla celestemente maviosa, Vinicius e Jobim, descrevia a tristeza que se prolongava, sufocando a alegria sempre esquiva, passageira. Mas, a tristeza sempre se encolhia diante da poesia dos dois gênios da nossa música popular, e eles acabavam sempre absorvidos pela alegria. A Nona de Beethoven, uma das três supremas criações da genialidade musical sinfônica, celebra a alegria, e no original em alemão, o coro no final repete: freude, freude, freude.

Então, Murilo Dantas, delegado da polícia sergipana aposentado, e hoje cidadão quase em tempo integral dedicando-se à musica, uma paixão que começou na juventude e nunca se acabou, resolveu criar um grupo musical: a BANDAGUIA. Ela está sempre pronta para apresentar-se onde houver tristeza, para tentar mitiga-la melódica e poeticamente operando.

Compõem a BANDAGUIA: Violões, Alfedo Martins e Márcio Santos; vozes, Alfredo Martins, Murilo Dantas, Fátima Fernandes, Evellin Silva, Taiana Rodrigues, Marília Fontes; percussão, Murilo Dantas.

DE SHAKESPEARE A VALDEVAN 90

(O poeta)

(O 90)

O bardo de Evon, como também se costuma chamar William Sheakspeare, foi um dos gênios da literatura que mais abrangentemente tratou das coisas humanas, dos conflitos, do amor, do ódio , do poder, das traições, das falsidades, dos enganos, e das tantas vezes demolidoras certezas. Na boca de um dos seus personagens, Shakespeare moldou a frase de estupefação, dúvida, e talvez revolta: “Há muito mais coisas entre os céus e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia".

Parafraseando o Bardo, diríamos: Há muito mais coisas entre os Poderes da República do que poderá imaginar a nossa simplória ingenuidade.

Assim, envolvido certamente poderoso entre esses “mistérios" o deputado Valdevan Noventa, ou 90 mesmo, assim numérico, lembrando mais um jogo, um cassino, uma aposta, dormiu presidiário sem mandato, e acordou confirmado deputado federal, e livre, lépido e solto.

A nossa Procuradora Federal Eunice Dantas, tão insistentemente devotada ao seu oficio indispensável de acusar, parece ter perdido o trabalho alentado de uma acusação baseada em provas irrefutáveis.

O atilado jornalista Diógenes Brayner, com a sutileza habitual e atilada perspicácia, analisou em detalhes, no seu Blog, o madrugador episódio.

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