DA REPÚBLICA DO GALEÃO A REPÚBLICA DO PARANÁ
Em agosto de 1954, oficiais da Aeronáutica instalaram na Base Aérea do Galeão, nos fundos da Baía da Guanabara, um Inquérito Policial Militar, IPM. O motivo foi o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na calçada do prédio na Rua Toneleros, em Copacabana, Rio de Janeiro. Lacerda voltava, tarde da noite, depois de fazer uma palestra em tom extremado, pregando a derrubada do presidente Getúlio. O major-aviador Rubens Tolentino Vaz acompanhava o jornalista, foi atingido por tiros e morreu. Lacerda escapou apenas ferido no pé. O pesado clima político criava o ambiente propício para um incendiário como Lacerda, com sua inteligência, força de convencimento pela oratória brilhante, tocasse fogo no combustível social que estava à sua disposição. E era isso que ele fazia, quase sempre de forma muito personalista e sem nenhum senso de equilíbrio ou moderação. O Brasil voltaria a viver página semelhante nos idos do início da década dos sessenta, o que resultou na entrada em cena dos militares, com o regime autoritário que durou 21 anos.
AQUI, A BASE AÉREA OU REPÚBLICA DO GALEÃO
Getúlio Vargas estava no último ano do seu mandato, que fora conquistado pelo voto, cinco anos após a sua deposição pelo exército, que por quinze anos lhe dera pleno aval, até para instalar o Estado Novo, a cara de um Estado fascista, a partir de 1937. Getúlio era um personagem forte, carismático, que, da mesma forma que Lula hoje, polarizava as massas. Naquele tempo, “as massas” ainda eram algo amorfo e muito fácil de ser explorado. Getúlio inaugurou a era do rádio na política brasileira. Naquele agosto de 54, ele estava encurralado no palácio do Catete, enquanto crescia a arrogância indisciplinada da República do Galeão. Os oficiais-aviadores praticamente já haviam feito desmoronar a autoridade do presidente e as suas bases de apoio, os trabalhadores, estavam se voltando contra ele próprio por causa da inflação, a “carestia”, como se chamava na época. A República do Galeão convocava para depor, prendia quem não comparecia e já havia desvendado o crime, por trás do qual estava o mando de Gregório, um negro espadaúdo que era chefe da guarda pessoal de Getúlio, que, a aquela altura, já desfizera a guarda. Gregório foi preso, torturado, o mesmo aconteceu com o pistoleiro Climério, que confessou o crime, mas não havia nenhum traço de ligação do fato com o presidente. A República do Galeão, porém, tudo podia e tudo fazia.
GETÚLIO E O ANJO NEGRO, GREGÓRIO FORTUNATO
Baixou o pano do espetáculo de desordem, desmontagem institucional, indisciplina nos quarteis, virulência nas tribunas, ódio estampado nas páginas dos jornais, quando o presidente deu um tiro no peito e deixou o legado da carta histórica aos brasileiros.
Um detalhe a ser considerado: a República do Galeão simbolizava a desconsideração total ao Estado Democrático de Direito. No episódio não se enxerga a presença de um magistrado, de um promotor, de um ministro do Supremo, de inquéritos policiais legalmente produzidos, da acusação e da defesa, enfim, era o próprio atropelamento das liberdades.
A República de Curitiba é uma confraria plenamente constitucional de togados. Nela, não chegou, ou a ela foi levado, alguém que não estivesse acompanhado por um advogado. Condenado por ela, não houve um só que antes não fizesse percorrer, pelos tribunais, os seus recursos. Dela não saiu um só condenado que não houvesse deixado as marcas dos próprios dedos ou da omissão, ou conivência com o maior assalto aos cofres públicos já ocorrido no Brasil ou, até, dizem: no mundo.
SEDE DA JUSTIÇA FEDERAL DO PARANÁ
Uma observação: Na República de Curitiba nasceu, por mais que se goste ou desgoste do juiz Sérgio Moro, o protagonismo, ou ativismo, como queiram denominar, nasceu o marco da entrada da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal naquele esgoto que a política brasileira escondia e o seu mau cheiro incomodava os brasileiros, agredia o conceito de ética, de cidadania. O esgoto acabou?
Absolutamente não! Pelo contrário, merece agora um espaço enorme dentro do palácio que simboliza a República Federativa do Brasil.
Na República de Curitiba, chega agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Que pena! Seria ele o nosso primeiro Prêmio Nobel da Paz, se não houvesse pisado nas águas turvas do esgoto.
E aqui surge a pergunta crucial: Sem pisar no esgoto, é possível governar o Brasil?
Caberá proximamente aos eleitores dar a devida resposta. E ela não acontecerá se o voto se perder na atração pelos extremismos, simbolizados hoje em duas vertentes opostas: o que exibe um fuzil como arma para endireitar tudo (o poder das armas), ou o que agita bandeiras, derrubando cercas, fechando estradas, incendiando pneus (o poder popular).
Outra observação: Lula, antes de dirigir-se a Curitiba, rezando missa por Dona Mariza e tendo, ao lado, o cardeal Humes, sem algemas, por decisão expressa do Juiz Moro, que nem a isso precisaria se referir, porque o uso está vedado pelo Supremo Tribunal Federal; naquela foto, deveriam estar, por solidariedade, ou como colegas de prisão, por terem sido parceiros de todas as cenas anteriormente acontecidas, Michel Temer, Jucá, Padilha, Moreira Franco, Aécio Neves, José Serra, Rocha Loures, coronel Lima, advogado Yunes e, por aí vai... A lista é longa.
Mas Lula, no seu discurso antes de seguir para Curitiba, perdeu a grande oportunidade de dirigir ao país um apelo pela pacificação, pela tolerância, pela concórdia. Parece que não pensou no país, afundou no egoísmo, desapareceu na dimensão do gueto. Pena, ele, que foi duas vezes presidente da República do Brasil, não parece ter pensado no Brasil, nos pobres, aos milhões, que ele retirou da miséria. De arrogância e radicalismos guerreiros é do que, hoje, menos precisamos.
LULA CARREGADO POR APOIADORES DEPOIS DO DISCURSO NO SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO ABC
Foto: Miguel Schincariol - AFP
ANDRÉ TENTA ALIVIAR O CLIMA E SE FAZ HUMILDE
O todo poderoso interventor de Temer na província de Sergipe Del Rey, o deputado André Moura, numa longa entrevista ao Jornal da Cidade, inaugurou o estilo “Andrezinho paz e amor”. Acossado pelas pesadas tuitadas do senador Valadares, ele, sobre os ataques, referiu-se com leveza, fez alusões muito cuidadosas. Com um enorme flanco de vulnerabilidades abertas, André Moura, na expectativa de decisões judiciais, pisa com muito cuidado sobre o terreno movediço onde tem de estar trabalhando sua sobrevivência política, no momento exato em que consolida, pelo interior, uma base forte de apoios. Admitiu, até, que poderá ser somente candidato à reeleição. Se isso ocorrer, resta aguardar se sobrariam espaços para aquietar, no grupo, o senador Valadares, candidato à reeleição. Pelo grupo, aliás, quase não mais fala o senador Eduardo Amorim. Ele acomodou-se no seu canto subalterno e parece conformado. Há quem diga que onde mais se torce para que André seja abatido pela justiça é. Exatamente, dentro do seu próprio grupo.
André acaba de fazer um considerável estrago no grupo governista, de lá retirando muita gente que tem voto.
HOSPITAL DO CÂNCER, ILUSÃO A SER DESFEITA
Nem sempre o que se chama “clamor popular” pode ser atendido da maneira como as ruas sugerem, ou pedem, na onda de sentimentos que se transformam, aparentemente, numa reivindicação coletiva e urgente. O anunciado Hospital do Câncer de Sergipe surgiu num momento desses, em que o impacto de uma dor coletivamente sentida, diante do sofrido calvário que percorreu o governador Marcelo Déda, logo potencializou o sentimento de que era indispensável a criação de uma moderna unidade de tratamento específico para o mal, que, apesar dos notáveis avanços da ciência e da medicina em particular, continua sendo uma foice afiada a decepar vidas.
Quando surge o “clamor popular”, alguns políticos entendem que se faz a hora de levantar a mesma bandeira. Na verdade, o “clamor popular” que agora se torna permanente, resulta da indignação do povo contra a classe política. A amplitude das demandas populares é quase infinita, desde que existam as redes sociais e a mídia tradicional para colocá-las em foco, com a liberdade que a democracia faculta, para que sejam, por todos os meios, vocalizadas. Atendê-las, seria a tarefa maior do poder público.
Aí, então, acontece o que, no popular, se diz: “a porca torce o rabo”. Há um item desprezado, que se chama orçamento. Basta analisá-lo para saber se existe disponibilidade monetária para transformar aspirações em realidade. E, então, se faz o que se convencionou chamar seleção por ordem de prioridades. Acontece que essas prioridades são traçadas de acordo com algo subjetivo, definido assim, difusamente, na expressão, “sensibilidade social”.
E, então, a partir dos termos dessa equação jamais resolvida, surge o grande debate ideológico, que dá asas às ações políticas. Isso, se entendermos a máquina de governo movendo-se no espaço das regras da probidade administrativa. O que, como sabemos, nem sempre acontece. Admitindo-se que a máquina do estado se move exclusivamente em função do interesse público, surge, então, um variado leque de opções, para o desenho das prioridades. A “Velha República”, aquela do “café com leite” paulista-mineira, posta abaixo para que um gaúcho desse início à outra, teve num aristocrata da vertente cafeeira, Washington Luiz, o seu derradeiro representante. Dele, ficou para a história a frase tão famosa quanto simplificadora: “Governar é abrir estradas”. Getúlio Vargas, o sucessor armado, artífice de uma ditadura, ampliou a visão estreita de governo, indo em direção às massas populares de um Brasil com fome, analfabetismo, exclusão social, mas, com uma preocupação que, 30 anos depois, um economista, Delfim Neto, o Tzar, ou o Rasputin de uma outra ditadura, assim explicitou: “É preciso crescer o bolo para depois reparti-lo”. Fez a tradução fria de uma realidade que muitos não querem admitir, por equívocos ideológicos ou espertezas populistas.
O senador Edvan Amorim (perdoem-me o ato falho), o senador Eduardo Amorim é um conceituado médico, se fez político quase por imposição e transita, sem carisma popular, mas não deixa de cumprir, sem muito brilho é verdade (isso, talvez resultante da indisfarçável timidez), o seu oficio de integrante da Câmara Alta da República. Não se trata de um omisso, nem indiferente, mas não é prodigo em protagonizar ações que mereçam visibilidade. O clamor popular pelo hospital do câncer, de fato, nunca chegou a acontecer. Mas a rede de emissoras que, então, o irmão do senador, Edvan Amorim, controlava se encarregou de fazer do hospital do câncer, a obra que seria a mais importante e urgente de Sergipe.
Déda considerou positiva a ideia do hospital, em seguida, o senador Amorim conseguiu aglutinar a bancada sergipana e vieram emendas expressivas, que garantiriam o início da obra, ficando uma faixa, ainda a ser preenchida com recursos, para a conclusão do hospital e a compra de equipamentos. Jackson iniciou a obra, mas a empresa vencedora da concorrência desistiu e, na lentidão característica da burocracia que envolve tudo o que é estatal, se fez uma outra licitação. Já pronta a terraplenagem, as obras do hospital poderão ser iniciadas. Pelo projeto, será um hospital moderníssimo, com capacidade para 200 leitos e dotado de equipamentos de última geração.
Na pindaíba em que se encontram os cofres estaduais, a operação e manutenção do hospital é algo impensável. Se houvesse a possibilidade de federalizá-lo, estaria aberto um caminho.
O Hospital do Câncer teria as portas sempre abertas para todos os que dele precisarem.
Dizem os especialistas que um hospital com as características do que se pretende construir, consumiria, a cada mês, entre 35 e 40 milhões de reais. É dinheiro que Sergipe, hoje, não tem e não terá amanhã, ou mesmo nunca, caso não se ponha fim à sangreira desatada do déficit na previdência social. O governador Belivaldo Chagas abordou essa questão fundamental no seu discurso de posse na Assembleia e fez a advertência de que o caso terá de entrar na pauta sergipana das nossas preocupações prioritárias e urgentes.
Na Folha de S. Paulo, o jornalista Leão Serva, dia 3 deste, escreveu um artigo abordando o caso do hospital de Parelheiros. Que, há muito tempo, está sendo construído e nunca concluído pela Prefeitura paulistana.
Transcrevemos alguns trechos:
“Chamo a atenção para o fato de que o hospital de Parelheiros é uma obra equivocada, que desperdiça dinheiro público, criada por pressão de uma longa lista de agentes, começando pelos movimentos de moradores, lideranças políticas locais, sucessivos administradores municipais, ONGs que deveriam falar em nome de “nossa São Paulo”, empreiteiros de obras públicas e, até, da imprensa, que há anos cobra a inauguração do hospital em vez de mostrar à opinião pública a irracionalidade coletiva ali representada.
A saúde pública estaria muito mais bem cuidada se, com menos dinheiro do contribuinte, a prefeitura e o estado tivessem melhorado as unidades existentes anteriormente na região, como o pronto-socorro de Parelheiros (municipal), o Hospital do Grajaú (estadual) e diversas AMAs e UBS.
Um exemplo do que deveria ter sido feito ali na cidade, como um todo, antes de decidir imobilizar milhões em novos prédios, é a melhora da produtividade. O tempo médio de internação dos pacientes nos hospitais do SUS em São Paulo é de 7 dias; na rede privada (que o senso comum diria ter interesse em manter os pacientes por mais tempo), esse número gira em torno da metade. No mundo todo há uma tendência em reduzir a permanência de pacientes nos hospitais para diminuir contaminação e doenças colaterais.
Em outras palavras, caso a média de tempo de internação nos hospitais públicos paulistanos fosse semelhante à da rede privada, imediatamente dobraríamos a disponibilidade de leitos. Se, em vez de pensar como construtores de obras, os nossos gestores raciocinassem como zeladores, investiriam em manutenção e qualidade de serviços e não em construções. A solução é melhorar o atendimento já existente. Mas, para tanto, é preciso mudar a mentalidade empreiteira dos nossos políticos, o que parece cada vez mais difícil”.
O HOSPITAL MUNICIPAL DE PARELHEIROS ERA PRA TER SIDO ENTREGUE EM 2016 E AINDA NÃO ESTÁ TOTALMENTE PRONTO
ÚNICO SERGIPANO CITADO POR LULA
Na sua fala, antes de seguir para Curitiba, que soube conduzir sem demonstrar muita tensão, o ex-presidente Lula fez um introito, citando várias pessoas que ali estavam, no que poderá ter sido o ato final das suas aspirações de retornar à Presidência. Fez uma seleção, já antecipando argutamente o que seria o quadro político que lhe corre pela cabeça. Visceralmente político, ele continuará pensando política até de dentro da cadeia. No ato dramático de pré-recluso, e certamente sob a emoção da missa celebrada pela alma de dona Letícia, Lula afagou possíveis aliados, deu espaço aos “companheiros” mais destacados e entre eles citou, fazendo elogios, o ex-deputado federal sergipano, Márcio Macedo, o tesoureiro do PT e organizador das comitivas pelo país.
LULA COM MÁRCIO MACEDO
Foto: Ricardo Stuckert
MEIRELLES, CANDIDATO ENTRE LULA E TEMER
O, até ontem, Ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, um tanto aturdido por não encontrar, no grupo do qual faz parte, espaço para acomodar-se como candidato a Presidente da República, resolveu lembrar que, nos governos de Lula, foi o presidente do Banco Central e disse, tirando uma casquinha, que naquele tempo houve baixa inflação e um processo de acelerado crescimento da economia. E aí fica a pergunta: sendo candidato, Meirelles se apresentará como Ministro da Fazenda de Temer ou presidente do Banco Central nos governos de Lula?
HENRIQUE MEIRELLES, LULA OU TEMER?
UM POLÍTICO PERDIGUEIRO
Perdigueiro é um cachorro, ou melhor, uma raça especial de caninos. São todos eles magros, esguios, de porte elegante. Podem ser brancos com manchas pretas ou marrons, raras vezes quase inteiramente brancos.
Há uma raça que se assemelha muito aos Perdigueiros, são os Dálmatas, também brancos com manchas pretas ou marrons, mas, tem porte muito maior, até mete medo, mas é absolutamente dócil e, o que é pior, é cão morredor, se vai com qualquer coisa, por um “dá lá aquela palha”, o Dálmata estica as pernas longas. É cão muito chique, teria origem na Dalmácia, antiga região, onde estão hoje é a Croácia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina, os retalhos sobrantes da finada Iugoslávia; pois bem, o Dálmata gosta de bom trato, de comidinha na boca, de banho e cuidado nas clínicas veterinárias.
Já o Perdigueiro é bicho simples, sem luxos, sem atavios. Dizia o professor Franco Freire que o Perdigueiro tem origem inglesa e, naquelas pradarias das Ilhas Britânicas, teria refinado suas qualidades de cão caçador.
Franco Freire, para quem não sabe, era um quase lorde, sergipaníssimo, que ensinava inglês, tinha hábitos rigorosos, uma finura cavalheiresca e era líder comunista. Foi candidato a Prefeito de Aracaju pelo Partido Comunista do Brasil. Homem civilizado, incluía entre seus amigos pessoas que, ideologicamente, dele eram antípodas, como o general Djenal Tavares. Ainda não éramos contaminados pelas odiosidades que hoje nos desfiguram como gente civilizada.
Dando sequência à estória: Franco Freire, hoje, seria politicamente incorreto. Incorretíssimo. Um dia, este escrevinhador (e aqui o perdão pela primeira pessoa no texto) ouviu, saída da boca do professor Freire, a expressão: “Nobre arte cinegética”. Terminada a aula, no Atheneu Sergipense, aproximou-se para que ele “traduzisse” a frase, e veio a explicação simples: “é a caça, caçar é praticar uma arte, desde que o caçador comporte-se como um artista, maneje a arma, sem excessos”. Então, essa era a compreensão da época e os caçadores estilo Franco Freire, como o capitão Juca Teófilo, um herói de guerra, o comerciante Francisquinho Barreto, o desembargador Artur Deda, Zé Menino, o Dr. Lourival Bonfim, o Juiz Walmir e tantos, e tantos outros, que caçavam, praticavam a nobre “arte cinegética”. O escrevinhador, quase menino, convidado por Franco Freire, que antes pediu permissão ao pai, Paulo Costa, integrou-se à nobre “arte cinegética” e passou a caçar perdizes, principalmente, por uns trinta anos, até aposentar, por convicções ecológicas, exigência de Eliane e respeito à lei, uma Browning calibre 12 de dois canos e lamentando por não ter possuído uma Saint- Etienne, joia da fundição artesanal francesa.
ESPINGARDA FUSIL PERFEX SAINT ETIENNE
E nessa conversa, se perdeu o Perdigueiro, cujo nome deriva da sua capacidade, ou arte, de farejar exatamente as perdizes e assemelhadas. Daí o seu nome. Mas o Perdigueiro não é um cão qualquer. Ele percorre, com as narinas ao chão, o rastro deixado pela ave e estaca quando, numa macega qualquer, ela se esconde, se oculta invisível para o caçador e o Perdigueiro a localiza, petrificado, às vezes, com uma pata dianteira suspensa no ar, como num passo clássico de balé. Dessa situação de imobilidade absoluta, ele só sai quando recebe a ordem sussurrada pelo caçador. Então, avança, a ave voa e o caçador, se for bom, espera que ela depois de “encastelar”, quase sobre a sua cabeça, comece o trajeto horizontal, então atira uma, duas vezes, se puder. A ave cai ou vai embora. O Perdigueiro perde o faro no chão, mas parece farejar nos rastros deixados pelo ar e busca a “peça”, busca até encontrá-la e levá-la, com cuidado, aos pés do caçador.
Nenhum outro, como aquele cão, sabe afinar o faro, sabe descobrir onde está a caça. Ele tem a sensação exata do cheiro da perdiz, por isso é perdigueiro.
O CÃO PERDIGUEIRO E SUA PERDIZ
Pois então, na noite dessa quinta-feira, Jackson fazia o último ato do seu governo. Inaugurava o conjunto de obras urbanas, que acabou a favela do Porto Dantas, fez surgir uma orla enorme, pontilhada de equipamentos de lazer, deu dignidade aos moradores em volta, nas suas casas de alvenaria, depois de terem saído dos barracos pelos mangues. Havia uma multidão, toda ela quase formada por gente pobre. Então, uma pessoa chegou ao ouvido de JB e lhe disse: “Você é um perdigueiro”. Ele virou-se espantado e perguntou: “O que é isso?”. E ouviu a resposta: “Perdigueiro é um cão de caça farejador. Você é um ‘perdigueiro’ que fareja o cheiro do povo”.
VALADARES SE BENZE QUANDO SE FALA EM ANDRÉ OU JACKSON
Aliança num grupo onde estiver André Moura, o senador Valadares deixa bem claro que não quer mais, e de jeito nenhum. Com Jackson ele sabe que um retorno seria impossível e causaria mais perdas do que ganhos.
Dessa forma, ele teria como meta uma reconquista dos aliados de ontem, que deixou pelo caminho, a companheirada petista. Valadares tem dito a amigos que cresce quando faz críticas ao representante de Temer em Sergipe, o deputado André Moura. A terceira força que acredita já estar formada, teria, agora, segundo alguns observadores políticos, mais chances de chegar ao segundo turno do que o grupo dividido entre André Moura, com preponderância, e o resto com o senador Eduardo Amorim.
Em direção ao PT, Valadares já deu vários passos. Nas redes sociais divulgou nota de protesto contra a prisão de Lula e, nesta semana, deverá fazer, no Senado, um protesto semelhante.
O DISCURSO DE BELIVALDO
TRECHOS DO DISCURSO DO GOVERNADOR BELIVALDO CHAGAS, TOMANDO POSSE NA ASSEBLEIA:
DISCURSO DE POSSE DE BELIVALDO NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SERGIPE
Foto: Marco Vieira
SOBRE A ÉTICA NO GOVERNO
“Reafirmando, aqui, esse compromisso de absoluto respeito aos preceitos republicanos sedimentados na ética e deixando bem nítida a palavra decência, faço uma única promessa diante do povo sergipano: Não terei tolerância com o favorecimento, o descuido, a irresponsabilidade, ou com ilicitudes de qualquer natureza.
O maior patrimônio da minha vida é a credibilidade, a honra que preservo do meu nome”.
SOBRE A SEGURANÇA PUBLICA
“Vamos usar todos os instrumentos necessários para abater a violência dos bandidos que ousarem desafiar o aparelho policial e imaginarem que poderão nos intimidar. Eles vão sentir, de imediato, o peso da resposta”.
SOBRE JACKSON BARRETO
“Nesse tempo de uma convivência político-administrativa que se transformou em amizade e grande respeito mútuo, pude conhecer melhor a figura humana de um político e a sua absoluta fidelidade ao ofício a que se dedicou, e continuará se dedicando, o ofício nobre de usar o poder para servir ao povo, com a característica exemplar de não usá-lo em benefício próprio.
Ao lado de Jackson Barreto, enfrentamos os piores momentos da crise brasileira e os seus perversos efeitos em Sergipe”.
SOBRE O MODELO FEDERATIVO
“A crise que Sergipe e todas as unidades federativas atravessam demonstra que o nosso modelo federativo padece de erros, deformações estruturais que precisam ser corrigidas. Este é um tema que deverá fazer parte de um conjunto de ações políticas direcionadas à modernização do estado brasileiro.
Dessa pauta não poderão estar ausentes as reformas tributária, previdenciária e política. A União não sobreviverá se mantiver essa estrutura que gera o descompasso com a eficiência”.
SOBRE A PREVIDÊNCIA
“A crise financeira que Sergipe atravessa, resulta, basicamente, de um modelo de previdência que está esgotado e precisa ser revigorado. Trata-se de um desafio a ser, urgentemente, enfrentado, mas, para isso, é preciso que se estabeleça um nível de sintonia e consenso em torno das medidas indispensáveis”.
SOBRE O DESENVOLVIMENTO
“Precisamos destravar os obstáculos colocados à frente das nossas aspirações de desenvolvimento econômico e social; precisamos criar um ambiente propício ao empreendedorismo, ao fortalecimento da iniciativa privada, que é a mola mestra do desenvolvimento, e dar ao estado o papel relevante de indutor do aperfeiçoamento social”.
SOBRE O SISTEMA DA SAÚDE
“Aqui, deveremos estimular e aprofundar o debate sobre as questões que mais nos angustiam, que mais afetam o dia a dia da nossa gente.
Na saúde, por exemplo, onde registram-se avanços na estrutura física, ou seja, nos equipamentos indispensáveis para que se processem, com eficácia, os atendimentos, teremos de avaliar, com ênfase, o que deverá ser feito com a devida urgência, para que possamos alcançar a eficácia no atendimento.
Quero dizer, exatamente, na redução das filas para as cirurgias eletivas, no atendimento geral dos nossos hospitais e postos de saúde, na presteza para a redução dos sofrimentos dos pacientes do câncer.
Nessa área, há agora novos equipamentos, que, com certeza, aliviarão o trânsito pelo calvário dos pacientes oncológicos”.
SOBRE OS SALÁRIOS ATRASADOS
“Nos próximos dias iniciarei o diálogo com todas as camadas representativas da nossa estrutura social.
Com os trabalhadores, os empresários, os intelectuais, os estudantes, os servidores públicos estaduais. Especialmente a estes, terei muito o que dizer, mais ainda a ouvir, e, também, a lhes explicar com detalhes, com absoluta transparência, quais são os problemas que, hoje, impedem o estado de pagar em dia os salários, de solver, no prazo determinado as suas obrigações financeiras”.
SOBRE O GOVERNO
“Nos nossos dias, no panorama de conflitos que o país atravessa, governar torna-se, cada vez mais, a arte de seguir em frente, contornando as barreiras da imprevisibilidade.
Diante das crises, se faz ainda mais necessário pensar, agir, criar, inventar, descobrir, inovar.
No governo pretendo exatamente fazer isso”.