Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
DA PETROX ÓLEO A NATVILLE LEITE - II
28/06/2023
DA PETROX ÓLEO A NATVILLE LEITE - II

DA PETROX ÓLEO A NATVILLE LEITE

                                       
Entre a Petrox e a Natville, uma semelhança em um fato e a diferença para enfrentá-lo.
 

Neste mês de julho circunstancias diferentes envolveram duas empresas sergipanas, que têm destaque  nos setores de atividades diferentes onde operam. A PETROX na distribuição e venda de combustíveis,  e a Natville abrindo caminhos para  a “ era do leite”, agora em curso. 

No decorrer de uma operação policial contra  adulterações  nos combustíveis, houve o flagrante de alguns deles  praticando a alquimia das fraudes,   com maior intensidade os de uma rede, que, segundo ficou constatado, eram reincidentes na faina delituosa.  Os postos, que alteravam principalmente a gasolina, foram interditados, e seus proprietários irão responder na Justiça pelos crimes cometidos.

Na  Natville, em Nossa Senhora da Glória, uma equipe da ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária- constatou irregularidades na elaboração de alguns produtos;  determinou que fossem recolhidos os estoques e adotou providencias correlatas. A repercussão foi péssima para o maior e mais moderno laticínio  sergipano, justamente no momento em que o grupo liderado pela empresária Jania, realiza vultosos investimentos em Sergipe, Alagoas e Bahia, ampliando consideravelmente a sua capacidade produtiva.

Pelas redes sociais o assunto ganhou destaque, e muita gente anunciando que começava a jogar fora os lácteos da Natville  guardados na geladeira.

O que causa estranheza em tudo isso é a diferença entre os procedimentos dos dois grupos . Cada um ao seu modo, um atento, outro aparentemente desleixado, em face do impacto de uma ação que ocorreu estritamente em consonância com a lei, e demonstra a responsabilidade da ANVISA em  proteger o bolso e a saúde do consumidor. No que diz respeito à PETROX, o dano não é tão grande quanto o que já ocorre com a Natville,  porque trata-se, exatamente , de uma questão de saúde pública, e a empresa poderá enfrentar a retração no consumo dos seus produtos.

O nome da PETROX  nem consta diretamente nas operações realizadas pela ANVISA com a participação da Polícia Federal. O dono de um dos postos lacrados, alegou que a fraude poderia ter ocorrido no sistema de logística da distribuidora, e o  seu posto, dessa forma, já recebera o combustível adulterado. Pelas normas adotadas isso seria tecnicamente impossível, mas, ficou no ar a acusação.

No caso da Natville,  as falhas e  procedimentos impróprios são apontados no processamento do leite e seus derivados, exatamente nas dependências da empresa.

Uma quebra da confiança dos consumidores em relação ao grande laticínio é algo que poderá ter graves consequências.

Todavia, enquanto a PETROX elaborou uma convincente nota informativa, usando  intensivamente os horários nobres das televisões, também emissoras de rádio e redes sociais, com a leitura  sendo feita por um locutor que valoriza o texto, a Natville limitou-se a um frágil comunicado enviado às emissoras de TV, sob a forma de direito de resposta, que nada clarifica a evidência de erros, ou talvez desleixos de ordem operacional, que geraram a apreensão de uma parte da variada cesta de derivados do leite que produz.

Se um combustível está adulterado isso gera pontuais contratempos, mas, se algo ocorre em um alimento, o que está sob ameaça é a saúde da população.

 A líder do grupo Natville é uma empresária  que  começou do quase nada,  e com muita garra montou um complexo agroindustrial pioneiro na região semiárida.  Logo ,  se foi  ampliando o número de produtores , cresceu a cadeia do leite com a chegada   do grupo Betânia, mais recentemente do  Nutralac, surgindo com muita força, e  foram sendo instalados  dezenas de pequenos ou micro laticínios, possibilitando, efetivamente, a “ era do leite” no sertão sergipano. A visionaria Jânia, sempre agiu com responsabilidade social e ética empresarial. Mas, o crescimento vertiginoso das suas empresas  talvez tenha desviado o foco de suas atenções para aspectos que são essenciais.

O caso do soro utilizado para a produção do leite em pó numa unidade industrial defasada e com péssimo aspecto exterior, no povoado Capim Grosso em Canindé é algo que pode sugerir precariedade nos padrões de higiene, ou falhas operacionais. Da mesma forma,  um mau cheiro que durante algum tempo exalava  da unidade fabril na sede do município de Nossa Senhora da Gloria, chegou a causar protestos de baixa intensidade, porque a empresa é um dos principais fatores que fazem de Glória um município sem desempregados.

A Natville poderá,  certamente,  corrigir eventuais  erros que não revelam qualquer indicio de fraudes . São erros, e seriam apenas erros, não fossem cometidos numa empresa que produz alimentos.

Mas, para a preservação e expansão da bacia leiteira  sergipana, para a manutenção da imagem correta que sempre teve a indústria, é fundamental que os seus dirigentes demonstrem,  com clareza aos seus clientes, à toda a sociedade, não só a sergipana,  que o ocorrido foi algo pontual, e que a exigência de qualidade é um princípio básico e inseparável da empresa. A Natville deve ser um cartão de visitas no cenário da industrialização sergipana, surgida na área mais pobre da nossa economia, e gerando ali o quase milagre do desenvolvimento.

Diante de fatos como os registrados, o silêncio não constrói, pelo contrário, é a pior das estratégias. E tergiversar , no caso, seria uma  atitude devastadora.

Fica, a ser seguido, o exemplo da Petrox.


LEIA MAIS
 

UMA CHEGADA BARULHENTA

E UM CONSTRUTIVO DEBATE
 


No terceiro andar do Palácio do Planalto Márcio Macêdo tem sido muito importante para Sergipe.
 

Em torno do aeroporto de Aracaju e no trajeto até o centro da cidade , nessa  quinta- feira junina e festiva, as pessoas se espantaram com o barulho de sirenes e o estrondo de motores das motos potentes da Polícia Militar, o roncar de tantos veículos. Era a comitiva de ministros do presidente Lula se deslocando em Aracaju. Fica a observação de que o senso comum desaprova esses aparatos imensos e ostensivos de segurança , como se estivéssemos numa guerra.  A autoridade deve a cada dia tornar-se tão simples, como simples é o povo brasileiro.

Na última, e queira Deus derradeira ditadura que vivemos, da qual os mais jovens não têm a exata imagem, infelizmente,  as autoridades federais que aqui chegavam, eram cercadas por todos os salamaleques, com cerimonias militares e exibição de força. Um regime que se sustenta sobre baionetas, é sempre desconfiado, e medroso em relação ao povo.

Não é absolutamente o nosso caso, daí,  ser perfeitamente dispensável o aparato rígido e tão ostensivo  da segurança.

Vieram os ministros, entre eles o sergipano Márcio Macedo que coordena as plenárias,  e vem tendo sucesso na iniciativa partida da sua pasta.  Aracaju sediou  a 18º das reunião  feitas por todo o Brasil. O  objetivo é promover a participação ampla  dos governos, dos prefeitos, dos movimentos sociais, e de pessoas sem vínculos com instituições, todos apresentando propostas  para o planejamento do governo  .  Ocasião também, para debater livre e democraticamente os problemas nacionais e para eles buscar soluções.

 Esse tipo de ação participativa é uma característica do presidente Lula, desde o seu primeiro mandato.

As reuniões fazem aflorar questões tantas vezes negligenciadas pela distância entre governo e povo.

O governador Fábio Mitidieri elencou 13 solicitações, e entidades diversas apresentaram outras.

Uma delas, a décima terceira da lista, é um pedido do governo de Sergipe para que o governo federal retome um antigo projeto de barramento do rio Vaza Barris. Esse projeto, que é factível,  não envolve somas de dinheiro comparáveis à ideia improvável do Canal de Xingó,  também reivindicado pelo governador Mitidieri, todavia, com possibilidade restrita de ser iniciado e concluído. A barragem ficaria localizada no município de Pinhão.   No segundo governo de Albano, o economista Marcos Melo, Secretário do Planejamento, costurou com o governo japonês, um convênio para que a JICA, Japan  International  Cooperation fizesse em Sergipe um estudo sobre os nossos recursos hídricos, e a possibilidade de armazenar água. Entre várias providencias elencadas, foi sugerido o barramento do rio Vaza Barris, no início do seu trecho sergipano. Uma curiosidade: o conteúdo desse projeto impresso foi buscado durante o governo de Déda. Nunca chegou a ser encontrado em nenhum dos prováveis locais onde deveria estar. O economista Marcos Melo, consultado, disse que o deixou na Secretaria de Planejamento, mas, dele não tinha cópias. É uma excelente ideia retomar o projeto. O  Vaza Barris, apesar de muito mal tratado, não é ainda um rio intermitente. Mantem um fluxo permanente  reduzido, atravessando a mais árida região baiana, e garantindo o volume de  água permanente na Barragem de Cocorobó,  em Canudos,   na qual sumiu a cidadela construída por Antônio Conselheiro, e onde nos períodos de estiagem aparecem as ruinas da Igreja Nova, por ele construída, e alvo de intenso canhoneio durante o cerco no final da guerra. Às margens do lago foram implantados lotes irrigados, e com muito sucesso se faz o cultivo da banana. Em Pinhão, o lago  sergipano, a ser mantido   com a água que desce da barragem atravessando a secura do Raso da Catarina, poderia possibilitar o surgimento de áreas irrigadas, tal como no similar em Canudos.

Setores da sociedade civil devem ter solicitado pressa para as operações da PETROBRAS em Sergipe , visando ampliar e reduzir custos do gás, sem o qual não há melhores perspectivas para o nosso Polo de Fertilizantes. Sobre a atual situação resultante do fechamento abrupto da FAFEN, seria oportuno levar ao Ministro Alckmin, que conduz o projeto de reindustrialização do Brasil, uma demonstração de que o renascimento industrial, em Sergipe, terá boas perspectivas, desde que haja a oferta do gás a preços competitivos.  Há urgência no destravamento do Projeto Carnalita para ampliar a produção de potássio, em face de um próximo esgotamento da planta de Taquarí – Vassouras,  até agora única no país.

Devem ter solicitado também a conclusão da interminável duplicação da Br-101, finalmente reiniciada, e mais a duplicação da rodovia federal até Itabaiana.

O ressurgimento do transporte ferroviário parece não ter constado ainda dos documentos aprovados para irem ao Planalto. Seria viável a recuperação da estrada de ferro que unia Aracaju a Salvador e a Propriá ? Há uns trinta anos os combustíveis eram transportados de Mataripe a Aracaju pelo único comboio ainda em atividade na ferrovia.  Em 1965, o presidente Castello Branco já selara  o destino do transporte ferroviário, acabando com os trens de passageiros, um deles o Estrela do Norte, que tinha o conforto de carros dormitórios e restaurante, fazendo o trajeto Aracaju- Salvador. Um outro, misto, ligava Aracaju a Propriá. Havia um comboio chamado de “ Trem de Sá Maria dos Cavalos” que abastecia o Mercado de Aracaju, e trazia a variada produção artesanal de  Carrapicho, hoje  Santana do São Francisco. Eram potes, panelas, filtros, moringas, alguidares, tudo de barro, no tempo em que ninguém sonhava com o tapware .

No bojo da insanidade que pôs fim ao trem de ferro no Brasil, aquela estrada foi sendo paulatinamente desativada. Privatizada no governo de FHC, a VALE, que venceu o leilão criou a Ferrovia Atlântica,  já nascendo morta, e assim permanece. No trecho que corta Aracaju se poderia pensar no aproveitamento da linha que  ainda  resta, quase intacta,  para a implantação do VLT, ( veículo leve sobre trilhos) ligando o Bugio ao Distrito Industrial.

Há um projeto que pouca gente conhece. Trata-se do embrião de  uma ferrovia ligando Aracaju a Paulo Afonso. Foi projetada no final dos anos 40 quando começava a construção da usina, e imaginava-se transportar equipamentos que desembarcariam no porto de Aracaju, onde ainda atracavam navios. A construção parou no início dos anos 50, em Simão Dias,  numa fazenda  de Dorinha, o então maior pecuarista de Sergipe. Em 1952, desiludido, retornou a Belo Horizonte o engenheiro Zair Moreira , que viera comandar a implantação da estrada de ferro.

A interligação dessa ferrovia desde o nosso porto off- shore com o trecho também paralisado de Salvador a Juazeiro, seria vital para o escoamento das safras da Matopiba, a ampla área compreendida nos territórios do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, onde se expande o agronegócio, e também para o escoamento da nossa própria produção.

Nas solicitações dirigidas ao presidente Lula  pelo governador Mitidieri, inclui-se a construção de  barragens. Mitidieri já vai iniciar o que hoje será a obra mais importante  para o sertão , a chamada Adutora do Leite, levando água do São Francisco,  até a bacia leiteira de Santa Rosa do Ermírio em Poço Redondo. Água sem tratamento, destinada a dessedentar os rebanhos, e a projetos de irrigação limitados.

No governo de Jackson um grupo de trabalho por ele criado, fez um estudo sobre  a possibilidade de novas barragens, e chegou -se à constatação de que uma melhor alternativa seria ampliar as barragens existentes.

Houve a ampliação de algumas barragens, e outras já no governo de  Belivaldo. Déda deu início  antes a esse processo, fazendo a ampliação e desassoreamento da barragem de Vaca Serrada em Monte Alegre. A obra  foi rapidamente executada quando era dirigente da COHIDRO o ex-deputado Mardoqueu Boldano. A Vaca Serrada secava nos verões mais alongados, agora, não seca mais, já tendo resistido a quatro anos de seca. E hoje acumula uma enorme quantidade de água, em tempo de muita chuva.

No caso da construção  ou ampliação de barragens,  seria de bom alvitre e  prudência, não deixar o projeto ao critério exclusivo  da engenharia do engenheiro Paulo Sobral,  atual presidente da CODERSE, ex- COHIDRO,  antes que ele possa explicar, convincentemente , o que houve com a obra  para tapar um buraco na barragem de Barra da Onça, em Poço Redondo.  Apesar de uma inauguração adiada e outra realizada;  por esse mesmo sequioso buraco  continua escorrendo fartamente a água da barragem, e também já “escorreram” 800 mil reais. O reservatório    nunca enche, mesmo com o  volume enorme de chuva que tem ocorrido desde o início de maio.

 

INFORME PUBLICITÁRIO

Festejos juninos reforçam identidade cultural sergipana
Homenagens aos santos Antônio, Pedro e João fazem parte do patrimônio cultural dos sergipanos

Trazida ao Brasil pelos colonizadores europeus, a celebração do ciclo junino atravessou gerações e se consolidou no calendário dos brasileiros. Em abril deste ano, as festas juninas passaram a ser oficialmente reconhecidas como manifestação da cultura nacional por meio da Lei nº 14.555, seguindo a proposta apresentada pelo atual governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, enquanto deputado federal.

Ciente da importância da preservação e valorização da tradição junina no estado, o Governo de Sergipe realizou, nesse primeiro ano da atual gestão, uma programação, com mais de 30 dias, que primou pelo incentivo à cultura dos festejos em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. Em Aracaju, a gestão estadual realiza, desde 1º de junho, até 1º de julho, o Arraiá do Povo, com programação diária de shows, no Palco Rogério, com artistas sergipanos e nacionais, sempre primando por apresentações de forró, nos mais variados estilos que atraem o público, desde o pé de serra ao de vaquejada. No local, os visitantes também podem curtir a Vila do Forró, com a cidade cenográfica, onde turistas e visitantes sergipanos aproveitam o espaço para conhecer um pouco mais da cultura sergipana e se divertem e dançam com as apresentações no Barracão da Sergipe.

Mas a programação do Governo de Sergipe também contemplou o incentivo a outras programações, como a retomada da tradicional programação na centenária Rua São João, na capital – que agora tem apresentações todas as segundas-feiras do ano, com a Segundona do Turista  na Rua São João –; o Arrastapé do 18, no bairro 18 do Forte, na zona norte de Aracaju; programação no Complexo Cultural Gonzagão, concurso de quadrilhas Arranca Unha no Centro de Criatividade, e apoio a festejos juninos no interior, como nos municípios de Estância e Lagarto. 

Especialmente no Nordeste, muito mais que uma data comemorativa, os festejos fazem parte da identidade cultural e são muito aguardados pela população. A professora, historiadora, folclorista e escritora Aglaé Fontes explica que as homenagens aos santos Antônio, Pedro e João surgiram na Europa, tendo resquícios do Solstício de Verão, que acontecia no Velho Continente antes do cristianismo, quando se agradecia aos deuses pela fartura da época. “Comia-se, bebia-se bem e se louvava aos santos. Em vez de agradecer aos deuses, se agradecia aos santos, porque plantou e sua roça deu. Então, há uma espécie de transferência, de um véu cristão sobre uma festa que era pagã”, destaca a pesquisadora sobre os atos de fé acrescidos da parte social da celebração.


Foto: Igor Matias

A historiadora ressalta que os festejos juninos têm origem tipicamente rural. “No Nordeste, é época de fartura e, quando você tem fartura, você se alegra e a forma de agradecer é com o louvor, as novenas, trezenas, esse é o lado religioso, que vem da religião católica. Coincidentemente, é o tempo de maior fartura, o que a gente planta e tem no mês de junho, o milho, a macaxeira, o amendoim, a laranja, tudo isso compõe a nossa mesa junina, então esse é o lado social nordestino que entrou”, conta. 

Aglaé Fontes é autora dos livros ‘São João dormiu, São Pedro acordou’ e ‘São João é coisa nossa’, que retratam os festejos em Sergipe. A escritora relata que, em Sergipe, entre os elementos típicos do ciclo junino estão as novenas, as trezenas e os louvores aos santos. “E, hoje em dia, o forró que já se incorporou à nossa história cultural, e também a alimentação”, completou.


Foto: Igor Matias

Em suas obras, a professora, que também é membro da Academia Sergipana de Letras (ASL), lembra que, na capital sergipana, Aracaju, os festejos iniciaram de forma espontânea, nas frentes das casas, em uma época que a cidade ainda tinha muitos traços rurais, com sítios onde hoje são regiões urbanizadas, a exemplo da atual Avenida Hermes Fontes. “Nesses sítios, as pessoas amigas se reuniam, dançavam, festejavam, depois veio o samba de coco, que é de influência africana”.

Segundo a escritora, é nesse período, em Aracaju, que a festa começa a se popularizar, a  partir, especialmente, do início das celebrações na Rua São João, que teve origem, há mais de um século, com as novenas realizadas por duas irmãs que tinham a imagem de São João de Deus e moravam em um sítio, na região chamada ‘Matinha dos Caboclos', localizada atualmente nas proximidades da rua Manoel Preto, no bairro Santo Antônio. As novenas atraíam os moradores das redondezas, como aponta Aglaé.


Foto: Igor Matias


Foto: Igor Matias

“A partir dessas novenas foram surgindo os festejos, porque quando terminava a novena, que todo mundo rezava para São João de Deus, eles tinham comida que faziam e todo mundo dividia tudo, numa verdadeira integração de uma comunidade que festejava o santo e depois festejava a vida. Tanto que, anos depois, na associação que veio a  nascer naquela área, teve esse nome de São João de Deus. A homenagem, o louvor e também a festa com as comidas feitas não tinha autoridade pagando nada, a festa era do povo, feita pelo povo e o louvor era feito por pessoas que moravam naquela localidade. Depois, os festejos tomam um formato mais social. E então começava a criar as comissões com as pessoas da própria comunidade”, informa.


Foto: Igor Matias

Quadrilhas 

Com o tempo, os festejos na Rua São João ganham força também com as quadrilhas juninas. De acordo com Aglaé, historicamente, as quadrilhas também nascem com influência da cultura europeia e da elite brasileira. “Nas fazendas, quando as filhas dos donos dos engenhos se casavam, tinha festa e dança. E o que que se dançava? Era a quadrilha, porque queriam imitar a França, a quadrilha francesa, marcada em francês. A classe popular começou a imitar a dança e foi fazendo a quadrilha do jeito dela. E o que sobrou do casamento é a presença do noivo e da noiva dentro da quadrilha, que são figuras simbólicas”, ressaltou.

Em Aracaju, é na Rua São João, em meados de 1950, que as quadrilhas começam a se  organizar, a partir da iniciativa de entusiastas como o mestre Calazans, que incentivava a enfeitar as ruas, a colocarem fogueiras nas portas e a dançar o samba de coco. 

Patrimônio cultural

Para Aglaé, é importante que esses saberes sejam passados entre as gerações já que marcam a formação identitária dos sergipanos. “É a educação patrimonial. Os lugares, os costumes, as formas como a gente vê as coisas, compõem o nosso patrimônio cultural. É igual a ter herdado uma casa ou fazenda, mas é patrimônio também as cantigas de roda, o que está na história da gente. A festa da Rua São João, por exemplo, é uma história que precisa ser sempre contada para não ser esquecida. Isso tudo compõe aquilo que a gente chama de nossa identidade cultural. Eu não quero me parecer com alguém que é de outro estado, quero me parecer com o meu estado, seja com a minha comida ou com o meu jeito de falar”, defende.

A professora reforça que saber como se constituiu o acervo cultural de um povo é fundamental para o seu pertencimento e reconhecimento. “Você vê toda uma transformação de uma determinada época, socialmente, quando se estuda o ciclo junino. Culturalmente, eu quero saber. E, a cada hora, saber mais. E quero que a outra geração não seja uma geração que nunca viu nem sabe o que é, por exemplo, um candeeiro, por não precisar mais. Isso tudo, mesmo que eu não use hoje, eu quero saber, porque faz parte da minha cultura e da minha identidade”, argumenta.

Nesse contexto de repassar saberes e preservar a identidade cultural sergipana, as apresentações do tradicional grupo de teatro de bonecos Mamulengo de Cheiroso se conectam às programações dos festejos juninos em Sergipe. “A gente está ligado à cultura popular, e os festejos juninos fazem parte deste hemisfério. A gente sempre trabalhou nos folguedos, nas danças e o ciclo junino é muito rico, nas tradições, na indumentária, nos festejos, na decoração, na música, e a gente tem a quadrilha de bonecos e canta muita coisa do São João. Enfim, o ciclo junino faz parte da gente e, além de tudo, nós somos sergipanos”, acrescenta o líder do Mamulengo do Cheiroso, o ator e bonequeiro José Augusto Barreto. 


Foto: Igor Matias

Foto: Igor Matias

País do forró

Este ano, o Governo de Sergipe preparou para os festejos juninos no estado uma programação com mais de 30 dias de festa. Na capital, a festa acontece em cinco pontos: Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia, Rua São João, Gonzagão, Centro de Criatividade e 18 do Forte. No total, serão mais de 250 atrações, sendo 140 sergipanas, 40 nacionais, 60 apresentações de quadrilhas juninas e 40 trios pés de serra.

A programação dos festejos juninos realizada pelo Governo de Sergipe tem o patrocínio do Banese, Deso, Maratá, PagBet e Eneva, e apoio da Energisa e MOB.
 

Voltar