Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
Da insensatez à estupidez
22/07/2017
Da insensatez à estupidez

Insensatos, temos sido muitas vezes. Nossa insensatez vem de longe. Não se queira dizer que essa disfunção de comportamento coletivo foi herança ruim dos colonizadores portugueses. Até quando, apenas insensatos, auferimos lucros e perdas. Mas a contabilidade nos favorece. A nossa insensatez deu resultados, da mesma forma a insensatez lusa fez da "terrinha" o país que, nem mesmo completava-se o ciclo europeu do Renascimento, já iniciava o processo da globalização, entendendo que "navegar é preciso", e então, saíram a desafiar os perigos insondáveis do vasto e misterioso "mar oceano".

Onde estaria então a sensatez?

No Velho do Restelo de quem nos fala Luiz de Camões, que advertia os marinheiros sobre os riscos, ou naqueles navegadores atrevidos que deixavam as praias de Lisboa, desciam o Tejo, e saiam, audazes, a dar a "volta do mar" na ânsia de encontrar novos mundos?

Os dois estariam insensatamente corretos. A depender do ponto de vista de cada um deles. No Velho do Restelo, simbolizando o conservadorismo, havia aquela aparente prudência que disfarça a inaptidão para a audácia. Do ponto de vista dos que preferem a imobilidade não haveria nisso insensatez, apenas, a preocupação com a vida.

Para os navegadores, naquela atitude desafiadora de desprezo à própria vida, era o sopro do futuro que lhes enfunava as velas. E nesse rumo estariam insensatamente corretos. Seria fácil elencar, ao longo da nossa História os eventos nos quais a insensatez predominou, e também, o que bom ou ruim resultou daqueles momentos de descolamento da mediocridade do comum, do corriqueiro.

Há um livro da década dos oitenta e bastante atual de uma historiadora americana, Bárbara Tuchman, intitulado: A Marcha da Insensatez, que põe em relevo alguns descaminhos fatais que geraram tragédias, e ela os considera resultado da tendência humana de afrontar a lógica.

Existe, certamente, um ponto limite entre a aparente atitude insensata, todavia, entendida circunstancialmente como necessária ou indispensável, e uma outra, que vai além do insensato, e se transforma em pura estupidez.

Talvez, tenhamos ultrapassado agora o ponto limite, e rolamos pela ladeira do absurdo.

Acabamos de ressuscitar o antigo “rouba mas faz”, com novo nome de "rouba e mata a fome",  ou o  atualíssimo "rouba mas faz reforma". Em ambos os casos cometemos a estupidez de tolerar a política desvirtuada, o predomínio dos bolsos de facções criminosas  sobre aquilo que é insubstituível: a decência na vida pública, o respeito às instituições.

Temer, o cínico, afirma com ares de pregador convicto: "O povo entenderá a necessidade que tivemos de aumentar os impostos, acima de tudo porque este governo não mente".

Na exata semana em que literalmente "torrou" dois bilhões de reais, no feirão de compra e venda de deputados, Temer, em seguida, diz que é preciso manter a meta de equilíbrio fiscal, e faz o que todos os governos irresponsavelmente gastadores fizeram: assalta o bolso do contribuinte com mais impostos, promove um festival de nomeações, para satisfazer à fome insaciável dos deputados que lhe prometem apoio.

Temer, um náufrago, tenta escapar de uma forma vergonhosa e irresponsável, usando o salva-vidas dos cofres públicos. Com a absoluta ausência de credibilidade do cambaleante presidente, perdem-se as esperanças de uma reabilitação da economia, neste, ou no próximo ano.

O Brasil, todavia, com suas gigantescas potencialidades que têm sido ignoradas, com um povo capaz e empreendedor, poderá ainda, por esforço único da sua gente, superar a crise apesar da devastação enorme que sofremos, da estupidez imensa desse governo, cujo perfil mais se assemelha ao de uma quadrilha, que aliás operava antes, e atropelou os parceiros, para agora agir sem concorrentes.

Mas Temer já conseguiu o impensável. Regredimos aos tempos desordenados de Sarney. Nos postos de gasolina formaram-se as longas filas, coisa que os mais jovens nem sabem do que se trata.

A NOSSA MADAME DE POMPADOUR

Madame Pompadour entre as amantes do Rei Luiz XV, foi aquela a quem ele elevou ao mais alto grau na nobiliarquia com que adornava as suas melhores parceiras de cama. A Pompadour era apenas uma simples burguesa, isso, na aristocrática sociedade francesa do século XVIII, e tornou-se Marquesa. A segunda, também burguesa, que se fez portadora de vistoso título nobiliárquico, foi a  madame du Barry, feita Condessa.

A madame de Pompadour, aquela que disse ter sido Deus injusto com a mulher, por ter feito as rugas na face, ao invés de colocá-las nas solas dos pés, era, entre todas, a mais influente e poderosa. Os ventos da Revolução já se faziam sentidos, e temidos nos salões da realeza.

E havia um sopro que mais incomodava. Era aquela ideia que se transformaria, breve, em insígnia da revolta e da Nação: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Tomava corpo à insatisfação com os impostos. Logo, os franceses iriam imitar seus vizinhos do outro lado da Mancha, os ingleses, que antes fizeram uma revolução para afirmar: ¨O princípio da Monarquia reside em que os impostos sejam tolerados por aqueles que os devem suportar¨.

Diante daquele clima que prenunciava o pior, a madame de Pompadour deliciava-se com os privilégios, com os gostos refinados da Corte, entre eles os mais recentes. Na mobiliaria, criavam-se os sofás, as cadeiras estofadas, as mesas do toucador, utilizando-se madeiras exóticas, como o ébano, o sândalo, o acaju, o pau rosa.

Na culinária, empregando o açúcar da cana, o chocolate, o café, a batata, vindos das Américas. Na moda, os cabelos polvilhados, a pintura em exagero, as saias largas, o decote generoso, e para os homens a casaca, a peruca com rabicho, as meias longas presas por ligas. Tudo era afetação, desperdício, hedonismo. O tabaco, até então coisa de marinheiros, invadira a corte sob a forma de rapé perfumado, retirado de recipientes de marfim com pedras incrustadas.

A insatisfação do povo, a fome, a miséria, pouco importavam aos cortesãos despreocupados.

E a Marquesa de Pompadour teria soltado, então, a frase também a ela atribuída, e emblemática daquele tempo: "Après  moi le  déluge", "Depois de mim o dilúvio".

Pois não é, então, que por aqui a nossa "Marquesa de Pompadour", em meio a tantos jantares e almoços, à devassidão praticada com deputados asseclas, em meio à vasta comilança em que tem transformado o seu "reinado", solta, na Argentina, a frase cínica  que resume o seu tempo de desfaçatez e mentiras: "O povo entenderá porque aumentamos os impostos. Este governo trata com zelo os recursos públicos".

O Brasil ainda está muito longe daquilo o que fizeram os ingleses no século XVII, e os franceses no século XVIII. Lá, cabeças reais rolaram.

O RIO, O TEMPO, O COLAPSO

Corre o rio São Francisco desde tempos imemoriais. Surgiu, numa dessas épocas geológicas em que a terra passou por grandes transformações na sua superfície, no clima, e continuou a correr através dos milênios. Na paisagem que percorre ocorreram mudanças, no próprio curso do rio houve transformações.

Mas as suas águas eram caudalosas quando por aqui chegaram os primeiros habitantes humanos das nossas terras vindos, ao que cientificamente se admite, de uma jornada que durou dezenas de séculos do fundo da África, atravessando a Europa, chegando à América, cruzando o estreito de Behring, e descendo até os confins meridionais da Patagônia.

Há testemunhos, ossos, inscrições dos indígenas que, por volta de uns cinco mil anos, estavam nas alturas do que é hoje o território onde havia a grande cachoeira, o cânion profundo, antes que o rio aquietasse suas águas espraiadas no trajeto final até o mar. O estudioso, agora tão esquecido, professor Fernando Lins, dedicou-se a pesquisas fundamentais para localização e estudo desses materiais preciosos para o conhecimento da nossa pré-história.

Agora, o que nos atormenta, inquieta e até revolta, é o que deixaram fazer com o rio, para que no tempo humano de uns 50 anos, ele se degradasse por completo. O que o tempo geológico não fez, o tempo humano "realizou" a curto prazo.

Até o final deste mês, a cota que já é irrisória estabelecida para a vazão do rio, cairá, para 500 m³, ficando apenas um pouco acima do mínimo necessário para mover a única turbina ainda em operação da hidrelétrica de Xingó. Agora, 6 estão paralisadas.

O mar ampliará o salgamento que ocorre em quase todo o baixo São Francisco. Não está descartada a ameaça de interrupção no abastecimento de Aracaju nas grandes marés, quando a invasão se torna mais acentuada. O incrível é a total despreocupação da CHESF com tudo o que ocorre, além da sua atribuição principal que é produzir energia.

Sem nenhum vezo alarmista não é absurdo supor que todo o sistema CHESF de geração será afetado, se a partir de novembro não houver a ocorrência de fortes chuvas no médio e alto São Francisco. Mas se as chuvas não chegarem não haverá colapso energético, porque os sistemas de Itaipú no Paraná, e Tucuruí no Pará, estão com os seus reservatórios cheios, e poderão atender ao nordeste através dos linhões que interligam os sistemas.

Mas ai, por conta da antiga desídia de tantos governantes, o povo, como sempre, será condenado a pagar a conta. As tarifas de luz terão acréscimo.

A FESTA DO LEITE EM SANTA ROSA DO ERMÍRIO

Santa Rosa do Ermírio, em Poço Redondo, é povoado longe, na divisa com a Bahia, no que existe de mais seco no nosso semiárido. Liga-se, por uma boa estrada asfaltada, com a Rota do Sertão. A estrada foi construída no governo Marcelo Déda, que, tendo visão de futuro, interligou áreas promissoras, como Glória a Carira, Santa Rosa à Rota do Sertão, Capim Grosso em Canindé à sede do município.

Como faz Jackson agora, com a rodovia Itabaiana BR-101 e Pirambú-Brejo Grande e já fez na estratégica ligação da BR-101 a Socorro. Nas que foram construídas por Déda, circula a produção leiteira, a maior parte da safra de milho, que este ano baterá recordes.

Nas que estão sendo concluídas por Jackson, será fortalecida a logística de dois municípios, um, com grande comércio e agricultura, outro, com indústrias, e se ampliará o turismo, principalmente pela nova costeira norte. Na ligação com Socorro, se fez mais fácil a chegada dos produtos aos mercados de Aracaju, e aliviou-se o tráfego na entrada da cidade.

Santa Rosa do Ermírio é hoje o centro de uma florescente atividade leiteira. Já deve ser a segunda maior bacia leiteira do estado. Seus produtores, em pequenas propriedades, demonstram capacidade, persistência, e enfrentam com sucesso as adversidades do meio. Durante a seca que agora termina após 6 anos, não reduziram a produção, receberam apoio do poder público, sob a forma de rações, de água, e já no próximo mês ali se inicia o programa de melhoramento genético. O governador em exercício Belivaldo Chagas foi a Santa Rosa, mas deixou para Jackson o anúncio das ações voltadas para a melhoria do rebanho leiteiro.

A COHIDRO perfurou na região alguns poços. A área não é favorável, apenas dois ou três serão aproveitados. De qualquer forma, é água que chega. Durante toda a estiagem a água foi transportada por caminhões da Defesa Civil, do Exército, e da Prefeitura. A distância, ida e volta, chega perto dos 80 quilômetros. Mas já havia a estrada asfaltada.

O FÓRUM DO CONHECIMENTO (neuroeducação)

A UNIT realiza evento que reafirma a responsabilidade daquela Universidade com a inovação e qualidade do processo educativo. Trata-se do Fórum do Conhecimento, com foco na Neuroeducação.

O Fórum começou este mês de julho e prosseguirá até novembro. Para o dia primeiro de agosto foi programado o tema: A Educação para o século XXI e os desafios para o ensino médio.

Serão palestrantes os doutores em Educação, professores Jorge Carvalho do Nascimento e Mozart Neves Ramos. Irão discorrer sobre novos paradigmas da educação superior, motivação docente, relação entre educação e direitos humanos, e desafios da profissionalização na sociedade moderna.

A conferência será no Campus Centro-Teatro Tiradentes, Rua Simão Dias, 236, às 19 horas.

QUANDO O VELHO CHICO COMEÇOU A FICAR SÊCO

Não é de agora, que o Velho Chico vem dando sinais de exaustão. Tudo começou em meados do século passado, quando foram concluídos os sistemas de geração de energia de Três Marias, em Minas, o Lago de Sobradinho e o complexo de Paulo Afonso na Bahia, depois, a Usina de Xingó, entre Sergipe e Alagoas. 

Entraram em operação perímetros irrigados, ao longo do rio, o maior deles em Petrolina, Pernambuco, demonstração, em grande escala, do que a água pode fazer pela  agricultura no semiárido, inclusive para a produção de uvas, utilizadas para a fabricação de vinhos e espumantes de alta qualidade em clima tropical. Experiência inédita em todo o mundo.  

Nas grandes áreas utilizadas pelo agronegócio no oeste baiano, usam água obtida diretamente do rio, ou de aquíferos dos quais o São Francisco também se alimenta. Na entressafra, o vento batendo sobre o solo descoberto, leva monumentais volumes de areia para o leito do rio e seus afluentes. Não há o que condenar quando se usa o rio para produzir, gerar alimentos. O que não se fez foi, exatamente, o elenco de medidas indispensáveis para controlar o desequilíbrio ambiental.

Esgotos, às centenas, também despejam no rio, e tudo isso se fez sob as barbas  ineptas da empresa feita exatamente para cuidar do rio: a  CODEVASF. Por sua vez, as usinas e o imenso lago de Sobradinho, quando foram construídos não obedeceram às normas ambientais, seguidas um pouco antes no rio Tennessee, nos Estados Unidos.

Em dezembro de 1995, o Secretário da Agricultura Abastecimento e Irrigação, Jorge Araújo, dirigiu ao presidente da CHESF, engenheiro João Sérgio de Maya Pedroso Moreira oficio, pedindo-lhe providencias urgentes.  Canindé do São Francisco estava sem água, e o Perímetro Califórnia paralisado. Motivo: baixara o nível do rio e a COHIDRO não conseguia fazer a captação. O rio que tinha vazão de 2.200 m³ por segundo, reduziu-a para 1.600, depois para 1.400.

Em seguida, o governador Albano Franco enviou ao Ministro de Minas e Energia, Raimundo Brito, oficio pedindo sua interferência.

O Velho Chico é hoje menos de um quarto do que era há 22 anos.

E OS CEM MILHÕES DA CODEVASF?

Os senadores Amorim e Valadares que controlavam a CODEVASF, anunciaram um aporte de cem milhões para aquela estatal.

O Reitor da UFS, professor Ângelo Antonioli instalando com inauditas dificuldades o Campus do Sertão, em Glória, tanto solicitou uma parte daqueles recursos que a CODEVASF abiscoitara.  Enquanto isso, os dois senadores anunciavam as maravilhas que surgiriam com a utilização daqueles recursos provenientes de uma emenda de bancada.

Agora, os dois senadores caíram do cavalo do poder. Amorim, porque com medo de perder votos no próximo ano votou contra um projeto que interessava ao governo, mas era impopular. Valadares fez, aliás, com muita antecedência, carta ao presidente anunciando que o seu apoio não seria incondicional.

Valadares Filho anunciou que votará a favor do julgamento do presidente. Assim, nos próximos dias a CODEVASF estará sendo ocupada por um ex-deputado piauiense, precisando de emprego. Lá se foram os cem milhões, deles, 74 milhões utilizados para a compra de deputados, o resto pulverizado entre Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, e também Piauí e Maranhão, separados pelo rio Paranaíba, do qual a CODEVASF também cuida, ou descuida.

Se, como solicitou o governador Jackson Barreto, aqueles recursos fossem somente empregados em Sergipe, para obras no semiárido, que atravessava o sexto ano de seca, (os senadores representam o nosso estado) os resultados seriam outros. Os dois fazem oposição a Jackson, mas não se imagina que possam fazer oposição a Sergipe.

Os senadores talvez possam melhor explicar o que aconteceu com o presente de cem milhões que deram à CODEVASF, e o que sucederá com os projetos que estariam direcionados a Sergipe. Se é que existiram.

OS DEPUTADOS E O FORA TEMER

De Sergipe, votarão pelo afastamento de Temer os deputados: Fábio Mittidieri, Laércio Oliveira, Valadares Filho, Joni Marcos, João Daniel e agora também Adelson Barreto. Para evitar que Temer não seja julgado e o clima de devastação moral permaneça, votarão os deputados André Moura e Fábio Reis.

UM DESEMBARGADOR NA ACADEMIA

Nesse 31, último dia do mês, tomará posse na Academia Sergipana de Letras o desembargador Edson Ulisses. Homem com uma trajetória de vida exemplar, ele foi o primeiro descendente de índios, no caso os Xocós, a tornar-se desembargador, e agora repete o ineditismo, tornando-se imortal.

Edson Ulisses tem obra literária focada principalmente no folclore e em memórias. A posse será no auditório José Rolemberg Leite, no Tribunal de Justiça.  Fará a saudação o acadêmico José Anderson Nascimento, presidente da ASL.

JOSELUCI AOS 70 ANOS

Seria surpresa das filhas, da esposa, a festa que fariam, neste domingo, para o coronel Joseluci Prudente, que, sem aparentar, chega aos 70. Joseluci é oficial de escol do Exército brasileiro. Foi comandante da nossa PM, e fez transformações que modernizaram a corporação.

Na reserva, ocupou vários cargos da administração publica, sempre se destacando pela competência, organização, disciplina que estabelece pelo exemplo pessoal, e zelo rigoroso com o dinheiro publico. Para participar da festa, da "surpresa", antecipadamente desfeita pelos amigos, virão muitos deles, que residem fora de Sergipe.

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