(Não temos mais gasosa Marita, agora é futuro)
Lá pelos anos quarenta, em Sergipe, refrigerante era coisa rara. A Coca-Cola por aqui não havia chegado, o que não era absolutamente uma má notícia. Em vez do xarope engarrafado, nas residências serviam o refresco, e isso também nos bares e restaurantes. Geladeiras, podiam ser classificadas como objetos de uso restrito. Uma Westinghouse ou Frigidaire, tornavam-se símbolos de status social, coisa de gente abastada. Em Aracaju, um negócio razoavelmente rendoso eram as fábricas de gelo, que forneciam blocos, geralmente de cinco a dez quilos. Serviam para refrigerar cervejas colocados junto com elas em bacias cobertas com pó de serragem para aumentar a durabilidade. Havia também as “geladeiras” de madeira, e eram pequenas, menos de metro e meio de altura. Quebravam-se os blocos do gelo, que eram colocados no compartimento inferior das “máquinas", e numas grades acima ficavam as cervejas, os refrescos, guardados em frascos de vidro, o leite, as carnes os peixes. O gelo durava uns três dias, uma bacia embaixo da “geladeira” ia recebendo a água resultante da liquefação.
Nos toscos “móveis de gelar" o refresco foi começando a perder espaço para os refrigerantes, que iam ampliando continuamente sua faixa no mercado. A nova bebida, industrializada, tinha uma característica atraente: gaseificada, borbulhante, e a preços populares. O guaraná champagne, da Antarctica, tornou-se indispensável em festinhas para crianças aniversariantes.
Em Aracaju se instalaram pequenas fábricas de “gasosas”, como o refrigerante inicialmente era conhecido. Entre elas, a mais famosa, era a “gasosa Marita".
O gosto não era totalmente ruim, e a bebida popularizou-se.
O trem da Leste Brasileiro, o Estrela do Norte, classificado como luxuoso, fazia a linha Salvador–Aracaju–Salvador, nele, havia dormitórios e restaurante, e o refrigerante servido era a gasosa Marita. A Leste era estatal, entrou em decadência, foi privatizada no governo FHC, e a compradora VALE, também privatizada naquele tempo, simplesmente desativou a ferrovia até hoje. Mais um golpe da mineradora delinquente contra o povo brasileiro.
Mas o assunto aqui é outro. Para falar da nova era do gás que entre nós se inicia, lembramos de um refrigerante gasoso. Ele entra na estória, apenas, como um tristonho paradigma do desalentado panorama de pasmaceira econômica que vivíamos.
O gás, agora, é o passaporte de Sergipe para uma nova era de expansão industrial. Leva o selo hoje indispensável da aprovação ecológica. Em relação à queima do petróleo, o que o gás libera de carbono é algo em torno de 5%.
Nos dias 4 e 5 de julho acontece em Aracaju um Seminário. Volta-se, especificamente, para as perspectivas que teremos diante da fabulosa produção de gás já confirmada.
A pressa para o evento foi determinada pelo governador Belivaldo Chagas . Ele quer fazer Sergipe sair na frente, tratando de um tema que fascina as equipes dos Ministros Paulo Guedes, da Economia, e Bento Albuquerque, das Minas e Energia.
Há sigilos cercando o assunto, mas, nas carteiras dos Secretários do Desenvolvimento José Augusto Carvalho, e do assessor para assuntos de energia, Oliveira Junior, existem casos que vêm sendo cuidadosamente tratados, e que representam vultosos investimentos, tanto em indústrias que irão consumir o gás, como grandes energéticas que aqui serão instaladas.
Nos contatos externos, tanto com o governo federal quanto com investidores, vem tendo papel relevante o deputado federal Laércio Oliveira, presidente da Federação do Comércio de Sergipe.
Recentemente, só como detalhe, o engenheiro José Augusto manteve um encontro com representantes de empresas ceramistas da região sul-sudeste. A depender do preço do gás sergipano, essas empresas poderão ser instaladas em Sergipe. Se o grande obstáculo atual é o preço desestimulante cobrado pelo combustível, agora ainda escasso, e atrelado a um esquema monopolista de produção e distribuição, aqui, em Sergipe, o gás poderá ser distribuído imediatamente a preço competitivo, antes mesmo de iniciar-se a produção na plataforma marítima. Isso, porque o grupo que instala a usina térmica, quase pronta para funcionar em janeiro de 2020, terá gás disponível vindo do Qatar, e a enorme usina de regaseificação flutuante já está há dois meses ancorada em frente à CELSE, na Barra dos Coqueiros.
Um novo modelo tributário tanto federal como estadual, dará mais suporte ainda para a redução dos preços.
A médio prazo, coisa de uns dois anos, começará a ficar disponível a imensa quantidade de gás existente. Só no setor onde opera a PETROBRAS, calcula-se que serão mais de 25 milhões de m³, a capacidade diária. Mas existem também as áreas exploradas pelo Exxon, a gigante mundial, e uma outra empresa multinacional.
Sergipe será o segundo produtor de gás do Brasil, e nem falamos sobre o óleo de excelente qualidade.
Talvez estejamos chegando tardiamente numa era dos combustíveis fósseis que vai sendo concluída. No caso do petróleo, caso não surjam tecnologias novas que reduzam asemissões de C0², lá pelo ano 2040, não existirão mais veículos movidos a gasolina ou diesel. E os que estarão rodando serão robôs, que dispensam moto ristas. Mas, no caso do gás, ele logo substituirá, com vantagem ambiental e econômica o diesel e a gasolina. E esta possibilidade é a que mais fascina investidores, já enxergando frotas de caminhões e ônibus circulando, movidos a gás. E mais ainda: gasodutos, caminhões-tanques, distribuindo por Sergipe e por todo o nordeste, o gás de cozinha e aquecimento, além de ser o insumo essencial para um variado leque de indústrias, entre elas a FAFEN, cujas agruras em relação à sua matéria prima básica estariam encerradas.
Até com excesso de otimismo, talvez, dizem que o gás sergipano, seria fornecido a preços 40% menores dos que hoje são praticados. Uma redução de 30% já seria de ótimo tamanho.
O Seminário de Aracaju servirá para mostrar ao Brasil e ao mundo, a novidade que aqui foi descoberta. É nessa novidade, que só existe em grande quantidade em Sergipe, no Rio de Janeiro, e mais nuns dois estados costeiros, que os economistas enxergam uma potente alavanca, para começar a retirar a economia brasileira do fundo do poço da estagnação, onde hoje vai tentando penosamente sobreviver, mesmo com mais de cem empresas fechando por dia em todo o país.
Em Aracaju, nos dias 4 e 5 de julho o governador de Sergipe, ladeado por ministros de Estado, investidores brasileiros e estrangeiros, estará anunciando ao Brasil e ao mundo: “Prestem atenção, esta nossa terrinha da gasosa Marita”, Sergipe, agora, abre para todos as novas fronteiras do gás. Sejam inteligentes e aproveitem a ocasião".