(Um delegado salvando as nossas matas)
Sergipe, o menor estado da Federação, com exíguos 21 mil Km² significa, apenas, um oitavo da superfície do maior dos municípios brasileiros, Altamira,no Pará, onde agora o fogo vai consumando a obra nefasta de torrar a Amazônia. Primeiro vai a floresta, em seguida, na terra calcinada, começa a surgir o deserto. E os efeitos desse deserto se farão sentir em todo o Brasil de forma desastrosa.
A Amazônia, apesar da sua ostentosa exuberância é um bioma delicado, que merece muito estudo, muita análise cientifica, muita consciência ambiental. É preciso que a competência brasileira se faça sentir sobre ele, antes que os grandes do mundo, por omissão nossa, ou, principalmente, por um radicalismo também nosso, venham a entender que a Amazônia teria de ficar submetida a uma pauta de ações traçadas fora do Brasil, e impostas como exigência, até através de possíveis boicotes econômicos. Não temos vocação, nem consistência social para tal tipo de sacrifício.
Nada conseguiremos com radicalização ideológica, enxergando a cena internacional como um campo de batalha entre esquerda e direita. Precisamos é utilizar plenamente as habilidades da nossa diplomacia, que o obtuso chanceler de agora ignora. Usar o conhecimento científico que temos, para apontar um modelo que mantenha preservada a floresta, recupere o que foi devastado, e encontre espaço para as atividades econômicas, compatibilizadas com as singularidades de cada bioma.
Tudo isso é possível, desde quando exista racionalidade. Mais diálogo menos guerra.Quantos Sergipes caberiam só dentro da Amazônia brasileira? Aproximadamente uns 300. Aqui, com um só avião tanque estaríamos bem servidos para combater incêndios florestais. Na Amazônia seriam necessários uns 50 deles, e anfíbios, para, saídos de bases diversas, descerem nos rios mais próximos das queimadas, e se abastecerem com água para apagar o fogo. Para cuidar das questões estratégicas da defesa, aí necessitaríamos de um vultoso investimento para fazer a Marinha de Guerra operar nos rios, quarteis do Exército com dezenas de batalhões de combate na selva, paraquedistas, helicópteros, Drones, e a Aeronáutica, com uma diversidade de aeronaves para variados empregos. Isso, pelo menos, para termos uma força dissuasória, na dimensão de um grande país, que não deve ser mero apêndice dos interesses americanos, ou de quem quer que seja.
Mas, deixando a Amazônia, retornemos ao nosso Sergipe miudinho. E Sergipe também tem florestas, mas, certamente, não estão naquela proporção desejada, que aliás existe em países europeus, também com reduzido território. A França, por exemplo, tem mais áreas florestais do que a Bahia, e são quase do mesmo tamanho. Luxemburgo, um quase nada, todavia super industrializado, tem bosques compatíveis com a sua diminuta superfície. Nisso, a Europa que adere cada vez mais à causa Verde, segue construindo bons exemplos.
No pequeno Sergipe, todavia, há exageros pseudo ecológicos , que extrapolam o uso equilibrado do nosso espaço. É o caso de todas as nossas áreas costeiras, indevida e absurdamente ajudicadas às tartarugas. O deputado Zezinho Sobral, numa palestra que fez na Loja Maçônica Cotinguiba, mostrou, com números precisos, que as praias sergipanas, com raras exceções, são territórios proibidos, reservados exclusivamente às tartarugas. Nelas, estão terminantemente vedados investimentos turísticos, construções de qualquer espécie, e até luzes clareando a noite. Lembrou Zezinho que se permanecer esse latifúndio das tartarugas, Sergipe ficará sendo o único estado nordestino fora dos principais roteiros turísticos.
Pode ser que alguns extremados defensores dos quelônios tão simpáticos, entendam que o latifúndio é imprescindível para as tartarugas, mas, caberia a pergunta: E o que vai sobrar para a sergipana gente, bichos bípedes que pensam, que querem sobreviver, e precisam de emprego?
Assim, seria racional que se reservasse um espaço, um santuário mesmo, para as tartarugas. Dez quilômetros de praias não seria uma extensão razoável? Vamos ver então se o homo sapiens, desde que efetivamente o seja, com a sua justiça, com as instituições que criou para viver e civilizar-se, será também capaz de resolver essa pendenga, com um mínimo que seja de bom senso.
Para o verde, ou seja, para plantar cada vez mais árvores, existe espaço, e muito, para ser ocupado. Ailton Rocha, técnico de alto nível, cuida agora com zelo e competência do meio ambiente em Sergipe, e ele observa que, juntando as reservas estaduais que são as maiores, às federais, particulares, e aos mangues, temos aproximadamente 66 mil hectares, o que não deixa de ser uma soma expressiva, levando em conta que cem hectares correspondem a um km², demonstrando que mais de 20% do território sergipano estariam a salvo do desmatamento. Ou, com a metade reservada às tartarugas?
Mas são poucos os agentes do IBAMA, da ADEMA, da Polícia Ambiental para assegurar a inviolabilidade das efetivas áreas florestais, e evitar incêndios, como os que acontecem com mais intensidade no Parque Nacional da Serra de Itabaiana.
No sul sergipano havia as maiores florestas, hoje, elas se limitam às áreas de reserva, e sofrem desmatamentos quase sempre levados a efeito por bandidos.
Neste mês de agosto que se finda, o delegado Antônio Francisco, deu um exemplo de como se pode realizar uma operação bem planejada para obter resultados completos. Ele juntou a Polícia Civil com o IBAMA, e fizeram primeiro um trabalho de inteligência. Localizaram os madeireiros clandestinos, a rede que formavam desde o corte na mata, ao transporte até as serrarias. Em operações quase simultâneas, prenderam os criminosos, as cargas que transportavam, e lacraram serrarias. Com isso, interromperam o desmate clandestino, e deram um exemplo de presença que por algum tempo evitará que outros venham a repetir as mesmas ações. Citamos este caso como um exemplo, apenas numa microrregião, para que se tenha a ideia do que representa manter intocada a enorme área de proteção das florestas espalhadas numa área em torno de quatro milhões de quilômetros quadrados, sem contar, evidentemente, o resto da Amazônia, que existe inclusive na Guiana, com a qual pelo Amapá temos longa fronteira. Poderíamos nos juntar aos esforços, à experiencia de outros países, inclusive à própria França, que tem um núcleo de ciências aplicadas à “sua Amazônia”, aquela parte que está na Guiana.
Os recursos que perdemos, originários da Alemanha, e da Noruega, certamente nos farão falta, porque comunidades que deles se beneficiavam, centros de ciências que estavam operando, poderão ser desativados. Com altivez, sem puxar saco de Donald Trump, nem xingar Macron, ou qualquer outro, poderíamos, com apoio da ONU, sugerir ao mundo a criação de um Fundo Amazônico com maior aporte de recursos. E aplicaríamos o dinheiro com base em protocolos científicos nacionais e internacionais. Isso não nos levaria a abdicar da soberania sobre a Amazônia brasileira. Pelo contrário, nos ajudaria a mantê-la íntegra, sem que o mundo duvidasse da nossa vontade de cuidar da floresta, que não é o pulmão do mundo, mas, tem influência no clima do planeta. Nem estaríamos a sofrer boicote de empresas, como as que já deixaram de comprar o couro brasileiro, cujas exportações nos garantiam mais de um bilhão de dólares.