Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
BOLSONARO EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
29/10/2022
BOLSONARO EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Deputada federal bolsonarista disparando tiros nas ruas, dará mais votos a Bolsonaro?

Depois de tantos desatinos, tantos absurdos, tantas falas que mereceriam constar numa antologia brasileira do beisterol, o presidente Jair Messias Bolsonaro, desceu do jet-sky, da motocicleta, do cavalo, em cima dos quais imaginava ganhar um segundo mandato, e , dos seus principais associados, Ciro Nogueira, seu Chefe da Casa Civil, Waldemar Costa Neto, presidente do PL, o seu partido, e de Artur Lira, presidente da Câmara, ouviu, deles, um prognóstico preocupante: sua impopularidade é grande, seu governo é pessimamente avaliado, sua imagem é associada aquele vídeo onde você zomba das centenas de mortes causadas pela covid, diz que não é coveiro e receita cloroquina. Assim, você vai ser massacrado nas urnas. Não há fake-news que lhe salve, por mais violentas, por mais desarrazoadas que sejam. Sua rejeição é muito superior à do Lula e, se esse fosso não for reduzido, Inês é morta.

Só então Bolsonaro descobriu que era preciso sair em busca do tempo perdido. Evidentemente ele nunca leu Marcel Proust, aliás, dele sequer ouviu falar, muito menos ter qualquer informação sobre algum dos sete volumes que compõem a obra magistral do escritor francês, aos quais deu o nome genérico de À la recherche du temps perdu. Não tem, portanto, nenhuma afinidade com o personagem Charles Swann, um esnobe dos salões parisienses que se depara após uma sentida perda com o vazio da sua vida, a superficialidade das suas ações, a vulgaridade do seu mundo.

Começa a revisitar o passado, faz uma espécie de busca do tempo perdido, e constata que o fluir do tempo é inexorável, para quem a ele não prestou a devida atenção.

Essas similitudes encontradas, demonstram a boa vontade deste escrevinhador em imaginar o presidente Bolsonaro como capaz de fazer alguma reflexão mais densa, além da miudeza do seu dia a dia.

Bolsonaro é um homem de parcas leituras, entre livros ou cultura, ele faz a opção clara pelas armas. Sem chegar a sacá-las, felizmente, como era o caso de outro extremista, o general Milan Astray, um espanhol que deu gritos na Universidade de Salamanca, enquanto falava o filósofo Miguel Unamuno: “Abaixo a cultura, viva a morte”. Bolsonaro, tem faro político, tem carisma para liderar e convencer uma grande parcela da sociedade brasileira, e usa essa capacidade para por em marcha o projeto egocêntrico da sua própria vida: a conquista de um poder de mando acima das restrições que enxerga, por exemplo, na divisão harmônica entre os poderes.

Dando ouvidos aos seus espertos aliados, dedicou-se então à busca afanosa da reconquista da popularidade perdida. E isso custou ao Brasil um rombo superior a quatrocentos bilhões de reais, segundo a abalizada análise de economistas conceituados, que hoje aderem à Frente Democrática, uma ampla base de apoio ao candidato Lula. São economistas insuspeitos, e que prezam o conceito que adquiriram nos meios acadêmicos e empresariais.

Essa busca desesperada pelo tempo perdido à custa do tesouro nacional, resultou em medidas pontuais, e que levam algum alívio às pessoas, numa época em que o leite e a carne, antes artigos de primeira necessidade, há muito já se afastaram do exíguo prato do mais pobre. É incontestável que esses recursos injetados na economia dão resultados à curto prazo, mas, comprometem pesadamente o equilíbrio das contas, e caso não haja correções estruturais, irão rapidamente revelar a ineficácia dos paliativos eleitoreiros.

Não foi inútil a sua retomada do tempo perdido. Uma eleição que parecia dois meses antes, com mais de setenta por cento de chances de ser resolvida no primeiro turno, acabou com uma derrota de Bolsonaro, mas que lhe deu um ânimo maior para enfrentar a segunda rodada. E nesse curto espaço de tempo fez todos os acenos possíveis e impossíveis aos brasileiros, esvaziando os cofres na mais agigantada compra de votos já registrada nesses 133 anos de República.

Caso não desperdiçasse tanto tempo em falar impropriedades, em fazer motociatas e tumultos voltados para a destruição das instituições, Bolsonaro poderia, no inicio da pandemia ter adotado uma atitude sensata, um procedimento à altura do cargo que ocupa, o que seria mais facilmente conseguido com a união do país, com a prevenção ditada pela ciência, e ele liderando governadores, prefeitos, junto aos demais poderes, para o fortalecimento do SUS, e a tomada de decisões, inclusive as mais impopulares. Preferiu ser um charlatão que receitava cloroquina, e se deparou com a reação dos seus generais, quando, deles se aproximou estendendo as mãos para o cumprimento, e eles em troca lhe apresentaram os cotovelos. Os três comandantes das Forças e o próprio Ministro da Defesa, foram logo depois sumariamente exonerados. Ele preferiu um general Pazuello na Saúde, e o desautorizou publicamente, por ter anunciado a compra das vacinas chinesas, quando a associação com o estado de São Paulo já tornavam disponíveis. Pazuello, resignou-se a dizer: “Um manda outro obedece”.

Dai em diante, foram mortes em torno de 4 mil ao dia, faltando covas nos cemitérios, e em Manaus a tragédia do oxigênio escasso para quem morria sufocado. Esse sofrer extremo dos enfermos terminais, foi, em hora desgraçada e gesto infame, imitado, apalhaçadamente, por ninguém mais ninguém menos do que o presidente da República, autoridade maior, que deveria respeitar e zelar pelas vidas de cada um dos 215 milhões de brasileiros.

Para os 688 mil brasileiros que até hoje, 29 de outubro de 2022, perderam as suas vidas, não há retorno, nem consolo para as famílias apenas com a secura sem disfarçar a morbidez: "lamento”.

Quando Bolsonaro assumiu, o preço dos combustíveis já estavam atrelados ao dólar, mas ele e o seu Posto Ipiranga nem admitiram a possibilidade de um Fundo de Reserva para ser usado nos momentos em que o dólar se distanciando do real, provocasse reajustes escorchantes. A gasolina, em alguns estados ultrapassou os nove reais. Este Fundo poderia ser criado com os próprios dividendos pagos pela PETROBRAS. Mas, pesaram mais fortes outros interesses não exatamente ligados aos do povo brasileiro, e Bolsonaro manobrou para que o Congresso forçasse a queda do ICMS. Houve um alívio no mercado com a naturalização da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e os preços baixaram. Nesses últimos dias sofreram pequenos aumentos. O volume enorme de receita retirada dos estados para subsidiar a gasolina, que é usada por ricos e remediados e as vezes algum pobre, vai faltar ao longo do próximo ano para a Saúde e a Educação.

Todavia, Bolsonaro tornou-se competitivo, e agora, na véspera da eleição tem, segundo as pesquisas chances de ser reeleito.

A sua busca pelo tempo perdido deu-lhe as condições de concorrer, que antes lhe faltavam.

O povo brasileiro se o eleger, terá certamente consciência dos problemas que irão se multiplicar, e da ânsia que tem Bolsonaro em tornar-se dono absoluto e exclusivo do poder. Se decidirem correr o risco, esta é uma escolha legítima e consagrada pela democracia.

Neste último dia antes da eleição, a deputada federal extremista Carla Zambeli, foi filmada pelas ruas de São Paulo correndo atrás de um homem negro e gordo, acompanhada por policiais, que disparavam tiros, ela, e eles, e agrediam o fugitivo.

Segundo a deputada, o homem que seria lulista, lhe ameaçara, e tinha na cintura um volume. Como revelam os vídeos, o volume era um boné.

Já o outro o ex-deputado federal jogou granadas e acionou o seu fuzil dezenas de vezes contra policiais Federais que cumpriam uma ordem de prisão solicitada pela própria PF, e autorizada pelo ministro Alexandre de Morais.

São cenas jamais vistas, e que revelam o clima de truculência que se espalha pelo país. Resta saber se, vencendo Bolsonaro, haverá um governo que se afaste do extremismo, e modere seu discurso agressivo, tentando reestabelecer a paz e a harmonia, das quais todos agora sentimos falta; ou se Bolsonaro continuará sendo Bolsonaro. Aí, que Deus nos ajude.


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UMA FRASE DE MARCELO DÉDA A SER RELEMBRADA


Déda sem querer talvez, deixou uma frase emblemática, que marca como um ferro em brasa de indignação, o senador "companheiro".

“Eu sei que eleição vem e vai. Mas vergonha na cara, no dia que ela vai não volta mais. Quando se perde o respeito, o cabra pode até se converter, mas nunca será sincero".

O ético, o respeitado, o homem envolvido pela sensatez que foi Marcelo Déda, agora um Espírito de Luz, estaria, com esta frase de alguns anos atrás, tendo alguma premonição sobre o hoje senador da República Rogério Carvalho?

Aquele mesmo, do Orçamento Secreto?

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