(Fuzil para todos, seria o fim do Estado?)
O eleitor votando convictamente naquele capitão que remava de acordo com a maré montante do desapontamento coletivo, sabia que ele se chamava Bolsonaro, mas, nem suspeitava do que seriam as Bolsonarices, aquele bolo desconjuntado das coisas que o capitão tem na cabeça, e, mais ainda, da ausência de coisas nos neurônios que lá devem existir.
Essa mistura de precariedades, é a origem das Bolsonarices, ou as esquisitices que agora se espalham movendo, ou melhor tumultuando, um governo que teria de exercitar a prática virtuosa da política, e isso exigiria o abandono completo de qualquer vestígio de extremismo, tornando possível a colagem de um discurso de Estadista na roupagem nova do presidente de todos os brasileiros. Mas o capitão preferiu tornar-se o faxineiro em tempo integral da sua imagem de “mito”, cultivada por um segmento novo da população brasileira, que desliza do entusiasmo para o fanatismo, e se sente hegemônico, capaz de varrer da sua frente todos os figadais inimigos da esquerda ou do centro, vistos como oportunistas e corruptos.
Um dia Lula chegou a dizer: “É nóis contra eles”. Então os “eles” agora estão radicalmente contra os “nóis”.
E o capitão não entendeu ter recebido das urnas, a legitimidade de um poder para governar o Brasil, que não pode ser confundido com um feudo ideológico, muito menos, um gueto isolado, de grupos específicos que aplaudem quando uma Bolsonarice desconstrói, sem apontar como reconstruir.
As Bolsonarices, são coisas assim, como pretender que a gravidade dos nossos problemas de segurança se resolvam, botando nas mãos de “homens de bem” fuzis automáticos T-4, imitando Maduro, que distribuiu com venezuelanos da sua confiança mais de cem mil fuzis Kalashnikov, que os russos lhe venderam, e então, surgiram as milícias que o sustentam.
Bolsonarice gravíssima do capitão, entre tantas, tem sido a precarização do seu próprio governo, pelo desapreço deseducado a alguns integrantes, que faz questão de publicamente destratar, enquanto parece deliciar-se com as reiteradas demonstrações de incompetência e absurdos de alguns deles, bastando, aqui, citar as palhaçadas ridículas do tal Weintraub, um deseducado grosseiro que está demolindo as bases da Educação brasileira.
Vez por outra, porém, ele consegue trocar as Bolsonarices por atitudes corretas, e isso acontece, acredita-se, quando ouve um núcleo especifico, onde a sensatez persiste. Mas esse núcleo está sendo atingido, para que se satisfaçam as exigências amalucadas do astrólogo, ou seja lá o que for, Olavo de Carvalho, um indivíduo sobre o qual recaem fundadas suspeitas de ser mentalmente insano. E o vírus de estupidez que ele dissemina atinge o espaço familiar do próprio presidente.
O núcleo de sensatez, instalado ainda no Planalto está perdendo espaço, e isso, é gravíssimo para o país, tanto mais agora, quando revela-se a incapacidade do governo para formar um necessário governo de coalizão, sem o qual tudo se torna difícil. Coalizão não significa troca de vantagens ilícitas, assaltos às empresas estatais, devastação de recursos públicos. Coalizão é exatamente a fórmula de compartilhamento de poder que torna bem sucedidos os governos de todos os países desenvolvidos e democráticos, a Alemanha, por exemplo. É verdade que as nossas elites são bem diferentes das elites da velha Germânia, mas, com todas as virtudes dessas ultimas, elas capitularam desgraçadamente à sedução criminosa do nazismo. Nesse particular, aqui, nesse cadinho de raças, ao calor tropical, temos a virtude de não entronizar personagens por muito tempo. Se Hitler fosse brasileiro, logo cedo os seu bigodinho estaria parecendo ridículo, ao nosso felizmente atilado senso crítico.
Os “mitos”, aqui, têm de passar por reciclagens permanentes, e onde ideias se esclerosam, e não produzem resultados práticos, o “mito” vai descendo ligeiro do corroído pedestal.
Lula chegou num período do seu governo a ultrapassar os 70% de aprovação popular, e Dilma, a inepta, o alcançou por curtíssimo período.
O brasileiro é aquele povo descontraído e folgazão, que vaia até o minuto de silêncio, como observou sarcasticamente Nelson Rodrigues, o tradutor das nossas turbulências íntimas e coletivas.
O Brasil, que já foi por um lapso de tempo à sexta economia mundial, foi caindo, caindo, e estamos agora no nono, e a continuar esse esquálido PIB que já sinaliza recessão, desabaremos, com a esperança de que o fundo do poço não esteja tão longe.
A trajetória da queda mais se agravará na medida em que a tripulação da “nau dos sensatos”, a denominação que o jornalista Ancelmo Gois deu ao núcleo militar no Planalto, venha a ser desfeita sob golpes desleais e grosseiros, como aquele que o capitão aplicou no general e seu amigo, Santos Cruz, levando ao extremo as Bolsonarices orientadas pelo destrutivismo absurdo do fanático e insaciável demolidor Olavo de Carvalho.
OS MANGUES OS ESGOTOS E PORQUE ARACAJU FEDE
(O mangue é vida e não cria fedentina)
Faz tempo, ainda no primeiro ano de mandato do ex-prefeito João Alves, houve, naquele lago do Parque Augusto Franco, (Sementeira) uma assustadora mortandade de peixes. Centenas de quilos de pescado boiando, fediam horrorosamente. Não era a primeira nem seria a última que aquela cena de sinistro ambiental aconteceria.
O jornalista Cezar Gama que é também biólogo, psicólogo, e mais uma série de coisas, ocupava como Secretário Adjunto a pasta municipal do meio ambiente. Ele elaborou um relato técnico, minuciosamente detalhista, apontando as causas da desdita afetando tantos bichinhos das águas turvas. Assegurou que a causa principal eram despejos, a merda pura de esgotos das próprias instalações do Parque, e, o que era mais grave ainda: as descargas podres de esgotos provenientes de prédios no entorno.
Houve dificuldades, mais de ordem política do que técnica para a solução do problema. E de tempos em tempos as mortandades se sucedem, com maior ou menor intensidade.
O tempo passou, e este ano, numa das vezes em que os peixes apareceram mortos, o advogado dirigente da EMURB, Luiz Roberto Santana, recebeu a informação de que o rio de merda continuava despejando no pequeno, todavia piscoso lago, e havia ainda a precária oxigenação das águas.
Luiz Roberto adotou uma providência talvez drástica, todavia eficaz: mandou tamponar com uma sólida rolha de concreto a boca da tubulação por onde escorria a sujeira.
Depois disso, claro, foram surgindo às reclamações de síndicos dos prédios, com seus “sistemas de esgotamento sanitário” abruptamente interrompidos.
A insatisfação chegou aos ouvidos do prefeito Edvaldo Nogueira, mas ele apoiou a medida, e até entendeu que poderia ser estendida a outras áreas, onde ocorre o mesmo absurdo.
Ao longo do canal e da reserva ecológica do Tramanday, há despejos clandestinos, que ocorrem também no Poxim, e ao longo de todo aquele braço pelo lado direito, paralelo à Coroa do Meio, chegando até a enseada da Atalaia, onde, em frente à Igreja do bairro a fedentina às vezes se torna calamitosa.
A solução dada ao problema específico do lago da Sementeira, pode ter sido um pouco destoante dos padrões convencionais, mas, deu resultados práticos, e não causou danos aos causadores do problema , apenas, a urgência na necessária adequação dos seus esgotos às normas minimamente civilizadas.
Do alto dos edifícios onde moram, algumas pessoas, talvez desinformadas, costumam olhar os manguezais lá em baixo com um certo desdém, por neles identificar os restos de um atraso urbano que persiste, e imaginam vê-los substituídos por praças ajardinadas e com pistas de cimento, que seriam o sinal do progresso. Mas é exatamente o contrário. Não existe cidade civilizada onde o verde não prepondera na paisagem, e os mangues são a melhor oferta que a natureza poderia proporcionar a Aracaju, e devem, com o máximo rigor, permanecer intocados.
Imagina-se que o fedor sentido em vários pontos da cidade seria proveniente dos mangues, talvez não saibam que aquela lama onde vicejam as árvores que se entrelaçam pelas raízes protuberantes, formam o ambiente mais propício para a multiplicação da vida nos estuários e nos oceanos. O mangue é limpo, é fonte de vida, se ele fede é porque as pessoas o poluíram, nele despejaram as pestilentas cargas dos esgotos.
E essa prática clandestina precisa ser interrompida em Aracaju, desde que a DESO assegure que existe nos locais a rede de esgotos, onde eles não existem, que se construam fossas sépticas, e se pare de uma vez por todas com o incivilizado, o bárbaro costume de despejar merda no ambiente. A DESO deverá também assumir a responsabilidade de manter em condições perfeitas de funcionamento o seu sistema de esgotamento sanitário.
Então, mãos à obra e rolhas de cimento na boca dos canos, os transportadores ilegais da imundície que faz Aracaju parecer com o Rio de Janeiro do século dezenove. Lá não havia mesmo esgotos, e os escravos transportavam sobre a cabeça os toneis transbordantes de excrementos, para jogá-los nas águas da enseada de Botafogo. Em torno dela havia a parte mais rica da cidade, como descreve em seus romances o nosso Machado de Assis, gênio crioulo, brasileiro, que, se vivesse na França estaria na reverenciada galeria de romancistas, tais como Balzac, Flaubert, Victor Hugo, Proust, Camus e tantos outros.
O TRIGÉSIMO QUARTO BEZERRINHO
(Este é um dos bezerrinhos nascidos em Santa Rosa do Ermírio)
Corria o ano de 2015 e a seca castigava pesadamente Sergipe. Seus efeitos não se limitavam ao semiárido, espalhavam-se do sertão ao litoral, onde cidades ficavam sem água, com todas as suas fontes de abastecimento interrompidas pela secura de meses. Ai o então governador Jackson Barreto resolveu criar uma Força Tarefa. Ela formou-se com representantes de vários órgãos estaduais: Casa Civil, Secretarias da Agricultura, Meio Ambiente, Emdagro, Instituto BANESE, Defesa Civil, COHIDRO. As reuniões eram na DESO, e o seu presidente, Carlos Melo, coordenava o grupo. Desse grupo saíram medidas emergenciais para a seca, e ideias com efeito permanente para mudar as características da economia do semiárido e melhor resistir ao inevitável ciclo das estiagens prolongadas.
Uma dessas medidas foi à melhoria do rebanho leiteiro. O leite é a parcela mais dinâmica da vida econômica sertaneja. Projetou-se a inseminação artificial dos rebanhos de pequenos produtores. Houve problemas para a implantação imediata, porque havia a urgência de transportar água, a necessidade de levar silagem para o gado. Pela primeira vez atravessou-se um longo período de estiagem, sem que a fome e a seca dizimassem rebanhos.
Retardou-se o programa de melhoramento genético, e com Belivaldo ele foi reativado, com a cobertura financeira do Instituto BANESE. Agora, o presidente da Emdagro Jeferson Feitosa está anunciando o nascimento do trigésimo quarto bezerrinho. São quase puros, e da raça girolanda, a mais adaptada para a região.
O agrônomo Jose Dias, um dos integrantes da Força Tarefa, é agora o indicado pelo governador para coordenar o programa de inseminação, que será ampliado, e a difusão da palma forrageira.
Palma e rebanhos leiteiros juntos, formam a melhor receita prática para dar vida econômica ao semiárido.