Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
BOAS NOTÍCIAS EM MARÇO?
25/02/2019
BOAS NOTÍCIAS EM MARÇO?

(O navio Golar Nanook)

Nos meados de março, caso eventos em contrário não conspirem, poderemos ter boas notícias produzidas em Sergipe.

Aqui virá, após o carnaval, o cidadão paulista Henrique Prata, que é neto de um sergipano, o médico e escritor Ranulfo Prata, nascido em Lagarto ele teve a infância em Simão Dias, estudou em São Paulo e já formado foi morar em Santos. Ranulfo foi um dos maiores romancistas brasileiros, precursor da literatura social, ou operária, como preferem alguns, e nesse gênero o seu livro Navios Iluminados, antecipou-se ao modernismo que a Semana de Arte em São Paulo anunciou em 1922.

Mas esse navio da ficção criativa de Ranulfo nada tem a ver com aquele do qual aqui iremos tratar. Esse outro, chegará quase coincidindo com a visita de Henrique Prata a Sergipe, e ficará ao largo da Barra dos Coqueiros.

E desde quando a chegada de um simples navio, se transforma em noticia, e em boa notícia?

Navios aportam, e navios zarpam, e sequer se fazem notícia, seja boa ou ruim, porque essa movimentação é parte de uma rotina, coisa tão comum, anonimamente corriqueira, por isso, apenas figura nas relações burocráticas sobre a movimentação nos portos.

Mas, esse navio do qual aqui cuidamos, nem sequer irá atracar no nosso porto. Permanecerá a umas 3 milhas da costa e ficará flutuando no mesmo local ao longo de uns trinta anos.

Para que serviria então esse barco estático contrariando o destino dos navios, que é navegar sempre, percorrendo oceanos, mares e rios? Pois então, este, é um texto onde cabem várias interrogações, e também as devidas respostas.

Esse navio que vem a Sergipe e ficará parado, foi construído na Coreia do Sul para desempenhar exatamente esse papel de barco estacionário.

É o Golar Nanook, gigante dos mares com 305, 84m de comprimento e 43, 44m de largura, tecnicamente, trata-se de um FSRU, ou seja: Floating Storage and Regaseification Unit, (Unidade flutuante de estocagem e regaseificação.)

O que é isso?

É um navio mesmo, mas, como ele existem poucos no mundo. Na costa sergipana em frente onde está sendo concluída a usina termoelétrica da CELSE, já existe instalado um enorme tubo de aço maciço. Ele é enterrado e fixado solidamente, e fica muito acima da lâmina d’água, que no local é de apenas 16 metros, uma característica da plataforma sergipana, que tem pouca profundidade até mais ou menos umas 4 milhas. Na proa o Global Nanuk, leva uma espécie de gancho que o prenderá ao tubo, e o barco poderá rodar em torno dele fazendo 360º, ao sabor dos ventos e das correntes marinhas.

Para que servirá todo esse estranho aparato?

O Global é, na verdade, um enorme e sólido tanque flutuante, com capacidade para armazenar quase 200 mil metros cúbicos de gás liquefeito, transportado por outros navios que farão o transbordo do líquido em baixíssima temperatura. A operação logística é complexa, os navios-tanque virão do Qatar, e para transportarem uma maior quantidade, o gás é liquefeito. Sob forma de líquido volátil passa para o Golar Nanook, ou usina de regaseificação, que, como o nome indica, o fornecerá em forma gasosa, e ai o volume se multiplica por centenas de vezes, e nesse estado é transportado até a usina termoelétrica, servindo de combustível não poluente, que moverá as três moderníssimas turbinas, com capacidade recorde de aproveitamento, únicas no mundo até agora. Vão gerar 3 mil megawatts de eletricidade, mais do que o dobro do que hoje produz a hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco. O Golar Nanook é projetado para alimentar as usinas previstas no complexo de três, com a primeira operando a partir de janeiro de 2020. Haverá sobra de gás, e o navio poderá fornecê-lo para outras indústrias, e também para um polo de distribuição de gás natural para Sergipe e o nordeste, outro projeto decorrente da usina da CELSE, que a empresa Global, parte da joint-venture, já tem planejado.

Assim, justifica-se plenamente associar a chegada do navio Golar Nanook, às melhores expectativas para o desenvolvimento de Sergipe. Uma boa notícia, sem dúvidas.

E por que considerar a vinda a Sergipe do paulista neto do sergipano Ranulfo Prata, uma notícia também recheada de importância?

Henrique Prata é o criador e mantenedor do Hospital do Câncer de Barretos, agora denominado Hospital do Amor.

No começo deste fevereiro agora chegando ao fim, o governador Belivaldo Chagas, levando uma pequena comitiva foi a Barretos com duas finalidades. Uma delas era o lançamento do livro biográfico do Dr. Ranulfo Prata, o avô paterno de Henrique, que foi escrito pelo historiador Gilfrancisco, e impresso pela Editora de Sergipe.

O pai de Henrique, Dr. Paulo Prata, também era médico. Sua mãe também médica, Dra. Scylla Duarte Prata, hoje aos 95 anos todos os dias vai ao Hospital do Amor ajudar o filho, acompanhando de perto o trabalho ali realizado, e fazendo sugestões.

Henrique foi emancipado pelo pai aos 15 anos e tornou-se fazendeiro com a ajuda do avô materno, Antenor Duarte Vilela, que era um dos maiores pecuaristas de São Paulo. Henrique não contentou-se em ser somente, ou apenas, mais um rico. Cristão, no mais essencial sentido da palavra, resolveu continuar e ampliar o modesto hospital que seu pai criara, especializado em oncologia.

Dai nasceu o colosso que é o Hospital de Barretos, e todo o complexo aparato de prevenção e tratamento do câncer que circula em torno dele, e já se espalha pelo país.

O outro objetivo de Belivaldo era trocar ideias com Henrique sobre os problemas da saúde, especialmente na área oncológica. Henrique assegurou ao governador Belivaldo que iria analisar a instalação em Sergipe de um ramo da sua iniciativa filantrópica. Ele trabalha exclusivamente com o SUS, e no seu hospital está o melhor exemplo de eficiência, solidariedade e humanismo, operando juntos. Henrique quer chegar perto das suas origens sergipanas, e aqui acender a sua chama de esperança para os que sofrem com as falhas no sistema de saúde, uma dolorosa realidade brasileira.

Isso lhe confere credibilidade para receber apoio dos empresários, dos artistas, do poder publico também, e assim, ele vai cumprindo a virtuosa tarefa à qual dedica a sua vida.

Henrique Prata analisará na sua visita de três dias a Aracaju, a possibilidade de assumir o Hospital de Cirurgia.

Se assim acontecer, será para a saúde em Sergipe a melhor noticia, desde que foi inaugurado o hospital João Alves Filho, o HUSE, há mais de 30 anos.

O Hospital de Cirurgia agora, é menos um caso de gerência, e mais um caso de polícia, que aliás assim já vem sendo tratado, desde que o Ministério Público e o Governo do Estado resolveram cuidar juntos do problema.

Ao encerrar o seu período como interventor no Cirurgia, nomeado pelo então governador Albano Franco, o economista Edgar Soares da Motta deixou o relato da sua atuação num livreto com o título: Minha Passagem pelo Hospital de Cirurgia.

Ele saneou as finanças, tomou providências moralizadoras, mas agora, tanto tempo transcorrido, uma interventora nomeada pelo governador Belivaldo, e confirmada pelo Ministério Público, a doutora Márcia Guimarães, reedita as mesmas medidas.

Ou seja, há reincidência, e tudo poderá mudar, quando definitivamente o Hospital trocar de gestão, passando a fazer parte do virtuoso sistema com sede em Barretos, que é mantido, principalmente, pela rede de solidariedade que existe em São Paulo, e começa a se estender pelo Brasil.

(As informações técnicas aqui alinhadas sobre a operação do Golar Nanook e da usina termoelétrica, resultam da ajuda prestada ao blogueiro pelo economista e jornalista Oliveira Junior, atento e eficiente assessor do governo do estado para assuntos de energia).

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