Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
AS URNAS O “FENÔMENO “ E UMA VOLTA DE 360 GRAUS ( 2)
01/11/2024
AS URNAS O “FENÔMENO “ E UMA VOLTA DE 360 GRAUS ( 2)

NESTE BLOG 

1) AS URNAS O “FENÔMENO “ E UMA VOLTA DE 360 GRAUS ( 2)

2) SERÁ POSSIVEL EM BREVE TER SAUDADES DE EDVALDO?

3) O BRASIL A VENEZUELA E AS PALHAÇADAS DO DITADOR

 

 

 

AS URNAS O “FENÔMENO “ E UMA VOLTA DE 360 GRAUS ( 2)

JK um profeta semeador de esperança disse em 1975: o cerrado brasileiro será o "celeiro do mundo".

 

Naquele agosto de 1976, o ex-presidente Juscelino Kubitschek  perseguido e estupidamente cassado pelo regime militar, saíra da sua fazendinha nos arredores de Brasília, onde vivia isolado,,, e chegava ao aeroporto para viajar a São Paulo. Na viagem sentaram ao lado dele o senador Franco Montoro e o deputado Ulisses Guimarães, o líder da sufocada oposição parlamentar brasileira. JK morreria  dias depois  viajando de São Paulo ao Rio num velho Opala dirigido por Geraldo, o seu motorista e amigo,  num acidente que destruiu carro e corpos.

Do último encontro, Ulisses anotou a frase de Juscelino que mais o impressionara na longa conversa sobre   os dias opressos então vividos pelos brasileiros: “Política para mim é esperança.” E Juscelino era, essencialmente, um construtor de esperanças.

Entendendo-se, no caso, a esperança como um sentimento de confiança,  crença no futuro, e credibilidade naqueles que o prometem ou, de fato, estão a concretizá-lo.

JK   foi o  maior tocador de obras que o Brasil já teve. Brasília, é a síntese de tudo.

Foi também visionário, ou quase profeta. Segundo ele o cerrado,  seria o “ celeiro do mundo “.  E os caminhos para o amplo espaço de planícies e chapadões, ele começou a fazê-los.

Naquele tempo, obras, realizações em “cimento e ferro,” ainda enchiam os olhos, geravam admiração, empatia, e também votos. Juscelino também industrializou o país, e nos fez crescer quatro anos seguidos numa taxa superior a  5%. (  o mandato presidencial era de cinco anos)

 Contra ele havia uma oposição ferrenha, extremada e golpista,  açulada por políticos como o incendiário  Carlos Lacerda.  Com sua oratória  devastadora e   culta, ele exercitava  a arenga sebosa do moralismo de fachada, e o enorme trem de obras, com Brasília no centro , passou a fomentar a suspeita de a ser   visto como um agigantado processo de corrupção.

JK teve, porém, a habilidade incomum  de  acomodar-se na alma do povo, não apenas como um fenômeno passageiro, mas, de forma tão arraigada que  se foi ampliando desde quando  foi, traiçoeiramente, cassado pelo general presidente Castelo Branco, que quando presidente, o levara ao generalato, e, como senador, o ajudou,  a tornar-se o primeiro presidente do ciclo militar, “eleito” pelo amedrontado parlamento, de onde já haviam sido expulsos pelo novo regime todos os que não rezavam pelo mesmo catecismo.

Nem de longe se quer comparar a era de Juscelino com esta, nossa, de   desconexões politicas e ,  mais ainda, no comportamento do povo.  Difícil identificar, com precisão, o que uma sociedade  dividida , inquieta, sujeita às lavagens cerebrais diárias de uma massa gigantesca de informações, na sua maioria elaborada com a finalidade de domesticar corações e mentes; difícil imaginar, repetimos, o que essa massa desconexa de sentimentos, opiniões , ideias, afeições ou ojerizas, realmente deseja e quer.

Retornemos à eleição ocorrida em Aracaju para a escolha, em segundo turno, de quem viria a substituir Edvaldo Nogueira a partir de janeiro.

 Aconteceu, no segundo turno,  o colapso do maior e supostamente mais poderoso agrupamento político já formado em Sergipe para a disputa de uma eleição.

Quem passar uma minuciosa e compreensiva vista pela história político-administrativa de Sergipe , desde meados do século passado, se tiver olhos para ver, irá constatar o trajeto sinuoso que fez a “ esperança,” avançando ou recuando ao longo dos sucessivos governos.  Isso, desde a redemocratização, com a queda de Getúlio em 1945, passando pelo “ milagre brasileiro” do período militar, pelos impactos sofridos nos governos de Collor, Temer e Bolsonaro, até os dias de hoje, com Lula-3 na Presidência, e Fábio Mitidieri no Governo. ( É do que trataremos na continuidade destes comentários).

 

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SERÁ POSSIVEL EM BREVE TER SAUDADES DE EDVALDO ?

Emilia o "Leão de Judá", e os rastafaris que ela esqueceu.

 

O  que vem a ser o “ Leão de Judá “,  o que significaria aquela maquiagem -desenho beirando o grotesco, que fez, na sua face, a Prefeita eleita de Aracaju, Emília Correia ?

Qual a ideia ,ou mensagem, que a deslumbrada  Emília, sorvendo o gosto da mega-vitória eleitoral, tentaria transmitir , com a imagem de um leão na face , e o complemento da mímica gesticulante , as unhas simulando garras, e na voz,  ou dublagem, o rosnar felino do há muito tempo destronado rei das selvas ?

Seria uma ameaça ? Uma gracinha apenas ? Uma sub-reptícia  simulação imagética de comportamentos ou propósitos ? Ou nada mais do que uma pantomima inoportuna , ou desastrada, a revelar  tendência para confundir comicidade  com a politica ?

Pode ser tudo, menos,  o que efetivamente caiba no comportamento  necessariamente comedido e sóbrio que deve ter qualquer gestor público, seja ele de  um pequenino município, ou de uma capital.

 Depois, a Emília  Show – Woman, diante do clima de estupefação  na mídia, e até entre os seus eleitores, resolveu explicar-se, tentando  descer  do picadeiro  de circo mambembe,  indo buscar as motivações religiosas da sua performance.  Teria sido até “chapliniana ,“ se nessa encenação medíocre, houvesse algum resquício de inteligência.

Emília não parece ser cuidadosa com as afirmações que faz , e as atitudes que adota. Se conhecesse melhor as origens e a evolução do conceito, ideia ou mitos que rolam em função do bíblico Leão de Judá, teria sido mais precavida. Com esta imagem na face, ela quis, talvez, reforçar o aval de uma parte da comunidade evangélica que nela votou, mas, talvez ,  não saiba que ficou entre o altar e a fumaça de maconha, algo que soaria aos seus ouvidos ultimamente tornados conservadores, como uma prática satanista, diabólica.

Os Rastafaris, formam uma comunidade de gente musical,  e inventiva, na moda, no comportamento habitual, no seu existencialismo, tal como o imaginava Sartre e Simone de Bouvoir. Os Rastafaris, não usam o álcool, nem drogas pesadas, e são vegetarianos. Usam apenas, e intensamente, a maconha. Na ilha  que produz atletas famosos e músicas que correm pelo planeta , a Jamaica, eles difundem a sua cultura pacifica, plural e fraterna. Se espalham hoje pela Europa,  Estados Unidos, ilhas no Atlantico ou Mediterraneo que eram antigas colônias portuguesas ou espanholas, e têm muita influencia aqui  mesmo, no Brasil.  Eles, com certeza, não votaram e não votariam em Emília.

Contemos a história toda:

Na Etiópia,  meados do século passado, surgiu, a partir de um golpe de estado o personagem que era carismático,  e imaginava uma África melhor integrada,  Hailé Selasié. Tornou-se o Imperador da Etiópia e Leão de Judá, assim, revivendo uma imagem bíblica, que atravessou milênios, e se fixou no imaginário de tantas tribos africanas. O Leão de Judá seria o renascer de deuses, a força  que gerava o poder.

Hailé Selasié era uma espécie de déspota esclarecido. O seu nome de origem tinha a partícula “ rasta”, que deu origem ao Rastafari. Ele veio ao Brasil em 1960,  queria conhecer Brasília, homenagear o presidente Juscelino em fim de mandato. Foi recebido com pompa e circunstancia por JK, e houve  um  concorrido banquete em sua homenagem, na recém inaugurada joia arquitetônica, o Palácio do Itamaraty.

Num determinado momento, um ajudante de ordens se aproxima do Imperador e leão de Judá, e lhe sussurra alguma coisa ao ouvido. Selassié, não se altera, mantem a mesma expressão calma e elegante, e dirige-se ao anfitrião em francês: Presidente, quero informar que acabo de ser deposto. Rebeldes liderados por um filho meu, ocuparam o Palácio e formaram uma Junta de Governo.  Não há motivos para interrompermos este agradável jantar. Retorno amanhã, antes passo no Recife para fazer uma visita ao intelectual que tanto admiro, o professor Gilberto Freire, e sigo para Adis Abeba.

Juscelino o cercou de gentilezas, colocou o governo ao seu dispor, e Selasié ao fim do jantar, informou que, no dia seguinte, antes de decolar passaria ainda no Palácio do Planalto para despedir-se de Juscelino.

Chegou como prometera, mas, com muita elegância e um certo constrangimento, pediu um empréstimo a Juscelino. Informou que tentara sacar um cheque no City Bank e foi informado que sua conta pessoal estava bloqueada. Eram cento e cinquenta mil dólares que ele necessitava para custear a viagem no jato presidencial. Juscelino imediatamente informou que o governo brasileiro providenciaria os dólares necessários. Ele entregou um cheque ao Banco do Brasil. Voltou, esmagou a rebelião, ocupou o trono, e o seu filho foi executado pelos próprios rebeldes. E saldou a dívida no Brasil imediatamente.

Cresceu na África, mais ainda,

 a mística  que Selasié encarnava, de fato,  todo o simbolismo do Leão de Judá.  E logo começariam a fazer sucesso os sons da Jamaica.

Se Emília permanecer assim, tão vulgarmente confundindo política com religião, e misturando governo com circo, em breve,  os aracajuanos começarão a ter saudades de Edvaldo Nogueira. Ou então, ela, para adquirir mais popularidade, acrescentaria à sua imagem facial do Leão de Judá, aquela folhinha  que é o símbolo preferido dos Rastafaris.

 

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O BRASIL A VENEZUELA E AS PALHAÇADAS DO DITADOR

Civilidade e equilibrio, são coisas que ditadores não conhecem e às quais não dão importância.

 

Como fica agora aquela ala do PT que foi à posse da presidente do México e lá reuniu-se no chamado Foro de São Paulo, que congrega  restos de uma esquerda enferrujada, e assinou um documento reconhecendo a legitimidade de Maduro , e dando aval ao seu simularco de eleição?

Maduro é um ditador bronco, que faz um governo tragicômico, um retrocesso ao tempo daqueles ditadores   que faziam do governo um caso particular. Lula entendeu, sensatamente, que não se pode ter relações rompidas com qualquer país com o qual tenhamos fronteiras, ou interesses de ordem comercial. Restabeleceu as relações diplomáticas que haviam sido rompidas desnecessariamente pela diplomacia do ministro Ernesto Araujo, aquele, que desejava sob aplausos de Bolsonaro, tornar o Brasil, um “ país pária no mundo”. O Ernesto era tão ruim ,tão obscurantista, que chegou a ameaçar interesses comerciais brasileiros no exterior.  Bolsonaro, por pressão dos prejudicados, o agronegócio principalmente, exonerou o  mentecapto, que se tornara diplomata e Chanceler.

O Brasil não reconheceu a eleição que o mundo todo rejeitou, com exceção daqueles países que, como se sabe, e é notório, não conferem qualquer valor ao que seja democracia.

O ditador Maduro enquanto prende seus opositores, oprime seu próprio povo, que escapa aos milhares pelas fronteiras com o Brasil e Colombia,  vive agora, também, sob o guarda-chuva das petroleiras multinacionais que voltaram a produzir na Venezuela. Assim, a sua ousadia aumenta, e a sua arrogância não tem limites. Depois de uma série de insultos ao Brasil, a Lula, que sempre com ele revelou-se até demasiadamente gentil, Maduro chegou ao absurdo de uma nota subscrita pela sua polícia política, fazendo ameaças ao próprio Lula, e ultrajando  a bandeira brasileira. Algo rasteiro, brutal, mais uma demonstração  do nível de decadência e vulgaridade a que chega o regime de Maduro.

O Itamaraty respondeu incisivo, mas, sem fugir as regras da boa diplomacia.

Não se espere, porém, que a nota sensata e elegante venha a ter qualquer efeito imediato,   significando uma meia volta nas baixarias de Maduro. Pelo contrário,  ele poderá até, para demonstrar poder e arrogância, fazer nas fronteiras alguma provocação bélica, que resulte em resposta das forças armadas brasileiras que ali já ampliaram a presença.

Maduro precisa de um conflito, de uma suposta ameaça brasileira, tentando realinhar os venezuelanos aos seus propósitos. E ele é bem armado.

Mais uma razão para que o governo comece a acelerar providencias para  ampliar o poderio das nossas tropas, naquelas fronteiras distantes.

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