A Rede Globo vai lançar uma série sobre a atividade petroleira no mar. A vida nas portentosas ilhas de aço, fixadas no fundo, quando raso, ou flutuando sobre quilômetros de mar profundo, para extraírem sob quilômetros de terra o petróleo, até nas regiões quase abissais dos oceanos.
Até que a PETROBRAS dominasse a técnica das águas profundas as petroleiras pelo mundo a fora não iam além dos mil metros de lâmina de água. No golfo de Maracaibo na Venezuela, no Golfo do México, nas águas geladas do Mar do Norte, entre as ilhas britânicas e a península escandinava, era extraído o grosso do óleo produzido no mar. Mas as grandes profundidades permaneciam como desafio que exigia a superação das dificuldades, não só através de novas tecnologias, e, mais ainda, através de modelos de operação que mantivessem os custos compatíveis com os preços do barril, o que exigia mais engenho e arte.
A PETROBRAS tinha muito know-how acumulado em muitos anos de atividades no mar. Fizera a primeira descoberta em Sergipe, no ano que já vai longe de 1968. As ¨ilhas de aço¨ montadas sobre pilares estavam a pouca distância da praia aracajuana de Atalaia. A profundidade não passava dos vinte metros, mas, quase tudo nas plataformas era feito por estrangeiros ou sob a supervisão deles.
Agora, a PETROBRAS a Exxon e outras empresas vão começar a fixar ¨ilhas de aço¨, outra vez nas costas sergipanas, mas, desta vez, a distâncias entre 80 e 100 quilômetros, em águas profundas, e onde as reservas são incomparavelmente maiores do que aquelas encontradas nas águas rasas há meio século, e ainda produzindo.
A série da Globo desenvolve a sua trama numa ¨ilha de aço¨ fixada nas lonjuras do pré-sal, aquelas reservas exponenciais, só exploradas depois que a PETROBRAS aplicou a sua técnica exclusiva e precursora.
Há no elenco da série televisiva, a presença do ator Cauã Reymond, e de uma atriz fazendo o papel de engenheira, comandando um grupo de homens, num ambiente de trabalho antes só ocupado por eles. As mulheres começaram também a conquistar esses espaços.
Há uma engenheira sergipana, Selma Araújo, que é uma das pioneiras, no pioneiro campo marítimo sergipano, talvez a primeira a subir na cestinha um tanto precária, que elevava as pessoas dos barcos até a superfície da plataforma, onde se chegava também em helicópteros operando nos exíguos helipontos, a uma altura de mais de 30 metros sobre o mar, e varridos, no inverno, pelos ventos mais intensos de sudeste, que desafiam a perícia dos pilotos.
Selma, que agora vai exercer a direção da Região de Produção da Bahia, faz parte da história épica da PETROBRAS, tanto no mar, nos campos sergipanos precursores, como no campo de Urucu, no meio da selva amazônica, os dois, marcos dos grandes desafios vencidos pela petroleira brasileira.
Ela é filha do advogado Jaime Araújo e da professora Maura, e esposa do delegado da polícia civil Jocélio Fróes.
Jaime foi deputado estadual, sabia, parece, que teria a vida curta, e procurava viver intensamente. Foi cassado pela intolerância do regime autoritário. Tinha uma história de participação nas lutas geralmente assumidas pela esquerda, mas era filiado a um partido conservador, o Partido Republicano, o PR do ¨Tio Júlio¨, como ele o chamava, referindo-se ao senador Júlio Leite, um político no melhor estilo clássico. Jaime participou da luta pelo petróleo na década dos cinquenta, era ainda estudante.
Em 1963, quando o petróleo jorrou no campo de Carmópolis, pela segunda vez no Brasil, Jaime foi comemorar lambuzando-se no óleo, e ele, o professor Paulo Novais, o economista Paulo Barbosa, o professor Jaime Santiago, os economistas Juarez Alves Costa, Jacó Charcot Pereira Rios e tantos outros, entre eles o governador Seixas Dória, trocaram melados abraços nacionalistas, naquela cena que representava uma vitória sobre as ladainhas derrotistas, saídas de uma gente que usa de todos os pretextos para disfarçar o que de fato sente: a doentia e corrosiva descrença no Brasil.