1) ARACAJU NO SEGUNDO TURNO, OS ELEITORES E A "CAIXA PRETA"
2) EM CANINDÉ TERRA ONDE OCORRE ATÉ O QUE PRESTA
ARACAJU NO SEGUNDO TURNO, OS ELEITORES E A “CAIXA PRETA”
Emilia e Luiz Roberto, na reta final.
Aquela vontade de buscar e abrir a alegada “ Caixa Preta” que existiria na Prefeitura de Aracaju tornou-se a marca registrada no discurso de Emília Correia.
Essa obsessão pelo metafórico objeto, revela uma personalidade detetivesca, ou meramente populista, antecipando a imagem de um possível mandato, que viria a ser uma sucessão de tumultos. Não cabe a gestores públicos nos cargos transitórios de Presidente da República, Governadores ou Prefeitos, assumirem as funções de Policiais, Promotores, Magistrados ou integrantes de Controladorias externas. O bom senso, ou as normas que regem as atividades especificas de cada tipo de gestão, deixam claros os caminhos a seguir, quando existirem desvios ou crimes cometidos contra os cofres públicos, e quais são os agentes detentores das prerrogativas legais para a investigação, inquéritos e processos .
O resto é populismo barato, mirando o eleitor menos esclarecido, que se deixa contaminar pelo alarde e exibicionismo. Há os que vencem eleições, e, empossados, querem continuar sob a luz dos holofotes , trocando a responsabilidade de governar pela ânsia de aparecer.
Em Sergipe, nos distantes anos cinquenta, ocorreu um desses episódios de populismo e vingança política, que se tornou emblemático, até mesmo porque, o autor de uma anunciada façanha moralizante, logo reconheceu o próprio erro. E preferiu trocar o vedetismo pela sobriedade, dedicando-se a executar projetos essenciais, dando continuidade até a obras iniciadas pelo seu antecessor, um adversário que imaginou ,de início, poder desmoralizá-lo.
Ao assumir o governo em 1954 o engenheiro Leandro Maciel derrotava o pecuarista Arnaldo Garcez, isso em meio a um acirramento de paixões partidárias, que descambavam frequentemente para a violência.
O rádio era a grande novidade da época , com o poder de espalhar mensagens aos quatro cantos do acanhado território sergipano. A Rádio Liberdade, recentemente inaugurada, e que influíra muito na eleição d,,e Leandro, foi convocada, juntamente com a oficial Rádio Difusora, para transmitirem, ao vivo, as chamadas Mesas Redondas. O governador assumia o papel de Inquisidor. Diante dele , do outro lado da mesa , sentavam os servidores públicos escolhidos para prestarem conta do que acontecera no governo de Arnaldo. Era uma busca espetaculosa da “Caixa Preta”, o assunto único e gerador de polemicas, que agitou e tomou conta de todas as conversas , na madorrenta sociedade sergipana, desacostumada com as sensações fortes e coletivas.
Muitos servidores diante do cenho carrancudo de Leandro Maciel e dos seus assessores “ sedentos de sangue”, chegavam a chorar, um deles cometeu suicídio.
Chegou a vez do Diretor do Tesouro Estadual, algo equivalente à Secretaria da Fazenda, que estava no cargo desde quando Maynard Gomes tornou-se interventor, em 1930. Chamava-se Sálvio Oliveira. Vinha a ser primo carnal do capitão- dentista do Exército Brasileiro, Jose Teófilo de Santana, Juca, um herói de guerra nos campos da Itália, avô paterno do agora candidato a Prefeito de Aracaju, Luiz Roberto.
Sálvio, então Venerável da Loja Maçônica Cotinguiba, tinha como maior ,ou único patrimônio, a sua inteireza moral.
Chegou, sobraçando um pacote de documentos, sentou-se à frente do governador , e começou a responder, calmo, manso, a todas as perguntas. Os locutores famosos Silva Lima e Santos Mendonça, baixaram o tom de voz sensacionalista que adotavam nas transmissões. Se fez silêncio a um sinal do governador Leandro Maciel, que interrompeu o depoente, e tomou a palavra: “ Senhor Sálvio Oliveira, o senhor não precisa continuar. O senhor já disse tudo o que eu queria saber, e aqui e agora, publicamente, eu lhe faço o convite para permanecer no cargo. O senhor honra qualquer cargo que venha a ocupar, e eu preciso de gente honrada “.
No dia seguinte, Leandro encerrou a busca à “ Caixa Preta”, pôs fim à experiencia populista, ou caça aos escândalos, que aliás não existiam ,e fez um governo de muitas realizações, embora sem conter a violência politica por todo o estado.
Não se imagine uma comparação da politica de ontem com a política de hoje.
Os tempos mudaram, o conceito de honra anda sumido, a moralidade pública virou picolé de chocolate dos “ moralisteiros “. Na arena formada por esses trinta e tantos partidos, alguns deles comandados por incorrigíveis “ usuários” dos cofres públicos, ansiosos, disputando parcelas do gordo Fundo Partidário e sonhando com todas as demais “ verbas”. Nesse cenário, onde a compra e venda de votos a tudo contamina, nenhum dos seus personagens poderá ser considerado isento de erros, ou, até mesmo de tropelias.
Não se imagine, todavia, que soluções miraculosas possam existir, como por exemplo o fim da política encarcerada nos porões de uma ditadura, ou muito menos que a salvação estaria em personagens tão conhecidos , os “moralisteiros” de ocasião. Aqueles, por exemplo, que se dizem caçadores de “ Caixas Pretas”.
Se Emília , a vereadora de tantos mandatos, como as pesquisas indicam, for eleita Prefeita de Aracaju, e der inicio à caçada da “ Caixa Preta”, teria ao seu lado a espingarda certeira de Edvan Amorim?
Este, seria o primeiro tumulto. Mas, outros poderiam ir surgindo. Sendo acirrada opositora do Governo Federal, do Governo do Estado, Emília engavetaria suas ojerizas pessoais e manteria um civilizado diálogo com esses atores, indispensáveis para a plena execução das políticas públicas em Aracaju? Ou seria refém de um deputado federal, Rodrigo Valadares, fanático adepto do quando pior melhor, desde que lhe dê transito livre entre os extremados?
E assim, galopando pelos extremos, ele consegue eleger com grande votação uma vereadora que nem fala. Mas a deficiência não está nas cordas vocais.
Os graves problemas de Aracaju, estão a exigir bom senso, pluralidade de ideias, que se podem encontrar tanto na Direita, como na Esquerda, ou no Centro. E é preciso haver plena cooperação entre os diversos agentes do poder.
Ou seja, em nome da boa e eficaz governabilidade, é urgente livrar Aracaju da polarização ideológica. Sobretudo, não se pode perder tempo em discussões estéreis, ou remexendo tudo para achar uma “ Caixa Preta”.
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EM CANINDÉ TERRA ONDE OCORRE ATÉ O QUE PRESTA
Machadinho, um pequeno empresário nascido em um povoado pobre, que fez renascer a esperança de futuro em Canindé
Em Canindé do São Francisco, nas beiradas do grande rio, no entorno adusto e fascinante das caatingas baianas do Raso da Catarina, a historia recente registra uma saraivada de tropelias.
A derradeira delas, ocorreu agora, no decorrer da campanha eleitoral, marcada pela abusiva exibição de poder, quando um candidato, Kaká Andrade , assumiu a “ patente “ de “ coronel “, daqueles de baraço e cutelo, ou açoitadores com “ cipós cabocos “ ( uma sugestão de um dos seus apoiadores que ele ouviu com riso de satisfação).
Assim, teve à sua disposição uma parte da PM . Até poucos dias antes da eleição também os cofres da Prefeitura eram manejados por um seu indicado de “ absoluta confiança”.
A coisa chegou ao extremo. E da parte de Kaká choveram insultos e impropérios contra o seu adversário, secundado por familiares muito próximos, criando-se um ambiente de odiosidade, descendo ao terreno apodrecido das baixarias.
Canindé, já se disse, em alguns casos se torna uma máquina de moer reputações. No caso, imaginava-se que tanto Kaká Andrade como o seu entorno familiar fossem cuidadosos, preservando pelo menos algum resquício de compostura.
Nisso, discreparam do comportamento equilibrado e elegante do tio de Kaká, Ulices Andrade, do primo de Kaká , Jeferson Andrade, e do seu irmão Orlandinho Andrade, um político, ex-prefeito, que a população chorou lamentando a morte prematura. Orlandinho espalhava entendimento, harmonia, e tinha um carinho especial pelos pobres e desvalidos.
Por isso, Orlandinho ganhava eleição, e Kaká perde todas que disputa, porque não tem carisma, não tem respeito pelo semelhante, e usa o seu desastrado marketing para cometer infâmias, como acusar adversários políticos de serem integrantes do PCC.
Enquanto ele enveredava pelo ódio, e perdia a noção do que é compostura, o seu adversário que ele tentou humilhar, Jose Machado Barbosa, Machadinho, um pequeno empresário , que construiu com dignidade a própria vida, sem ser carrapato de cargos públicos, caminhava entre os seus irmãos, no povoado pobre onde nasceu, e deixava mensagens de esperança. Coisas assim como colocar a funcionar uma Maternidade e criar um Centro de proteção materna e infantil, marcando a data : o Dia das Mães, no próximo ano.
Tendo vivido entre meninos pobres, e que hoje continuam, já na meia idade, sem emprego, sem terem recebido uma Educação de bom nível, dependendo, quase todos, da Bolsa Família, do FUNRURAL dos avós, pais ou outros parentes, Machadinho a eles explicava como iria gerar empregos, criando um Fundo de Desenvolvimento, para financiar sem juros o surgimento ou a expansão de pequenas e micro empresas. Mostrava como seria possível atrair industrias para agregarem valor às frutas produzidas no Perímetro Irrigado Califórnia; como poderia expandir o turismo e diversificar roteiros , organizando um calendário de eventos, e dando vida e energia a uma Orla de excelente qualidade, mas , que afunda no abandono; mostrou como iria transformar um Matadouro abandonado por não poder funcionar numa área densamente povoada, e ali criar um Centro de Cultura, para o ensino da música, do teatro, das artes plásticas, para o convívio com a literatura, e criar a Orquestra de Canindé, o Corpo de Dança de Canindé. Ou seja, ter um braço para completar o processo educacional e civilizatório, com a imersão na cultura.
E em tempo de Olimpiadas, aproveitou a ocasião para anunciar a criação do Parque da Juventude, uma ampla área para a pratica de esportes, inclusive náuticos, porque resta esquecido que Canindé fica as margens de um grande rio e de um imenso lago. Garantiu fazer uma Feira de Gado no amplo terreno abandonado, onde seria construído um ilusório aeroporto, sem viabilidade porque numa das cabeceiras existe uma serrania. Enfim, mostrou a viabilidade de ser instalado um novo perímetro irrigado na região da Quixabeira, onde, às margens do rio, poucos metros acima do nível água há terras de excelente qualidade, ocupadas por assentados que quase nada produzem, por falta de água. E explicava mais que tudo aquilo seria possível ,porque o município tem hoje uma receita mensal de mais de vinte milhões de reais, e, no próximo ano, estará beirando os 24 milhões.
Essas coisas caíram no imaginário popular , como se fosse um novo tempo de esperança, libertação do infeliz município das garras de políticos incapazes de pensar e de fazer, com as cabeças enferrujando pelo descaso, e desconhecimento de uma categoria social imensa, que se chama povo.
Pois o povo reagiu aos insultos, reagiu às ameaças, reagiu às previsões sinistras levadas ao palanque pelo senador Alessandro Vieira, que aliás por lá poucos sabem quem seja, e sobretudo, à gigantesca compra de votos, incluindo a tomada de titulo e carteira de identidade das pessoas, para que não votassem, e depois, sendo Kaká Andrade eleito, receberiam de volta seus documentos junto a cinco notas de cem reais.
E o povo perguntava: “ E para depois passar 4 anos sem escola, sem Hospital, sem emprego?”
E veio o resultado que parecia improvável ou até impossível, pois Machadinho jamais seria prefeito, como raivosamente ameaçava em áudio, uma irmã de Kaká, que aliás é advogada: “ Eu não vou deixar “.
O povo deixou. Foram mil cento e sessenta votos de diferença.
O povo, os adversários, que Kaká não cansou de chamar: “Maloqueiros, vagabundos, gente desqualificada, merecendo “cipó caboco” no lombo.” Para saber onde é seu lugar.”
As vezes, em Canindé, coisas boas também acontecem.