Quando aquela mineradora SAMARCO, desastrada subsidiária da desastrosa VALE, causou em Minas e no Espírito Santo, por absoluta irresponsabilidade a maior tragédia ambiental brasileira, a presidente Dilma saiu de Brasília, desceu em Vitória, tomou um helicóptero e foi sobrevoar a área atingida. A tragédia estava na sua primeira semana, e já se revelava em toda sua potencialidade devastadora.
O largo rio Doce, desde os contrafortes da Serra do Espinhaço, até a foz, se transformara numa calda gosmenta de lama marrom -avermelhada formada por materiais tóxicos. A jusante das barragens de acumulo de rejeitos em Mariana, Minas Gerais, povoados estavam completamente destruídos, pastos e plantações aterrados pela lama pegajosa sob a qual se buscavam ainda cadáveres, o rio estava morto, dos manguezais havia sumido toda forma de vida, e neles se espalhavam as carcaças enlameadas de aves, peixes e crustáceos, mortos aos milhares, aos milhões.
Ninguém sabia ao certo o que acontecera, apenas, se informava que uma barragem rompera depois de chuvas até normais, para aquele período do ano. Todavia, ficava evidente o desmazelo da SAMARCO, que deixara de cumprir exigências de segurança e ambientais, um procedimento que não é incomum nas áreas de mineração da VALE. Calculava-se, preliminarmente, que milhões de toneladas de lama venenosa, o rejeito da mineração do ferro e outros minérios, contaminaram quase toda a bacia do rio Doce, chegando às praias do Espírito Santo, e avançando em direção aos paraísos ecológicos do norte fluminense e do extremo sul baiano, podendo alcançar o santuário ambiental do arquipélago dos Abrolhos. Era uma tragédia de proporções ciclópicas, mas a presidente limitou-se a olhar lá de cima. Lamentou muito, e retornou a Brasília, ao bunker burocrático, onde o seu governo era outro desastre nacional.
O governo federal nada fez, embora fosse acionista da VALE, e tivesse meios jurídicos para agir, inclusive intervir na empresa. O Ministério Público, mais de três anos transcorridos, ainda luta para obter na Justiça a completa reparação do dano, enquanto a SAMARCO, ludibria e tergiversa.
Mas esse não é o pior dano que a VALE causou e causa ao Brasil. Sergipe tornou-se também uma das suas vitimas. Aqui, a mineradora gozou de todas as isenções, nada mais fez, não se conhece uma só obra social ou ambiental da VALE, além de retirar o minério, e, claro, trazer benefícios econômicos resultantes diretos da sua atividade especifica, que, todavia, poderiam ser muito maiores. A VALE nos lega um passivo ambiental que merece ser calculado, para uma tentativa de ressarcimento. A Mina de Potássio Taquari-Vassouras agora operada por uma outra multinacional, que em pouco tempo revelou-se mais próxima de Sergipe do que a VALE, desde quando privatizada. A mineradora explora o que resta da mina, e avança para concretizar o Projeto Carnalita.
A VALE tornou-se operadora do Terminal Marítimo Inácio Barbosa, na Barra dos Coqueiros, que precisa ser ampliado e dragado para receber navios de maior porte. A VALE não demonstra interesse em investir.
A VALE adquiriu, ou ganhou, a ferrovia Leste Brasileiro ,que corta Sergipe de norte a sul, se estende até Salvador e ao Rio Grande do Norte, a ela deu o nome pomposo de Ferrovia Atlântica, prometeu modernizá-la. Os vagões ainda corriam pelos trilhos, agora, estão todos parados, e as linhas de ferro e as estações, completamente abandonadas. A VALE não dá satisfações a ninguém, nem mesmo, ao que parece, ao governo federal.
Nosso incomensurável patrimônio mineral foi entregue à VALE de mão beijada, e hoje, sobre ele, o Estado brasileiro está longe de exercer a sua soberania.
No dia em que um governante brasileiro quiser livrar-se da dependência ao mercado financeiro internacional, quiser ter uma moeda menos vulnerável ao dólar, bastaria ter a coragem patriótica para desprivatizar a VALE, e, com isso, voltando a ter o controle estratégico de todo o potencial das reservas minerais do nosso subsolo. Assim, assumiria o controle da mineração, traçaria os objetivos para o aproveitamento industrial aqui, dos minérios, e faria um chamamento aos investidores, fossem americanos, chineses, russos, indianos, franceses, ingleses, alemães, para que, investindo no Brasil, aproveitassem a vantagem dos nossos minérios abundantes e construissem aqui, navios, locomotivas, máquinas, até canhões.
Mas, como fazer isso, se padecemos de um complexo desgraçado, que nos leva a fazer mesuras a Trump, enquanto ele vocifera: ¨América First¨. E nós, os últimos na fila dos emergentes sacrificados, entregamos, com o desmonte da EMBRAER, a tecnologia que tanto penamos para construir. E nos céus agora vão voar os aviões da Boeing, da qual a EMBRAER se torna uma humilhada sócia, com 20% do capital, e o seu nome, e a tecnologia brasileira, simplesmente desaparecem. Por que a França nunca aceitou vender a Air Bus? Simples: porque a França tem orgulho de ser a França, e nós nos acostumamos a viver de cócoras, e descrentes no Brasil, ou seja, de nós mesmos.
Quem garante que amanhã a Boeing não fechará a EMBRAER, e transferirá tudo para a sua sede em Seattle? Os americanos se orgulham muito da Boeing. Mas ainda há juízes no Brasil. Eles estão concedendo liminares que impedem a junção da EMBRAER à Boeing. As liminares vão sendo derrubadas, mas, nesse interregno, é possível que as nossas elites adquiram um mínimo de consciência de brasilidade, e deixem de pensar monitoradas pela FEBRABAN, e apostando fichas no cassino financeiro com sede na Bolsa de Valores.