No século passado Sergipe passou, quase simultaneamente, por eventos comparáveis a duas revoluções econômicas. A primeira aconteceu em 1963, quando, depois de alguns anos de infrutíferas prospecções e poços perfurados sem sucesso, finalmente, em Carmópolis, jorrou petróleo, e jorrou forte, com uma alta coluna de óleo negro subindo a mais de trinta metros de altura, indo além do topo da torre do aparato de perfuração.
Pela segunda vez surgia um campo de petróleo no Brasil fora da Bahia, que concentrava, até então, a primazia de ser primeiro e único estado produtor. E o campo de Sergipe, logo revelaram, era promissor.
Houve uma enorme euforia, o sentimento de que aquela maldição que faria do Brasil um espaço enorme e único no mundo, onde inexistiam jazidas de óleo. Países que nos rodeiam na latino-américa tinham reservas de petróleo e gás já em exploração.
A Venezuela, com as maiores reservas do mundo, a Bolívia começando a produzir, a Argentina, a Colômbia, o Peru, da mesma forma, e nós, vítimas daquela maldição que os nacionalistas, sempre denunciando a ingerência norte-americana, atribuíam a uma conspiração do cartel das 3 Irmãs, as gigantescas corporações petroleiras globais.
Um geólogo americano, que aqui ficou tão famoso e tão citado de forma deprimente, o mister Link, contratado pelo governo brasileiro, elaborara, na década dos anos cinquenta um relatório sobre a possibilidade da existência de jazidas economicamente viáveis de petróleo e gás no Brasil. Foi extremamente pessimista, quase fatalista, ao afirmar enfaticamente que eram quase nulas as perspectivas de campos em terra, mas, fez a ressalva de que na plataforma marítima, existiriam fundamentadas esperanças.
O campo de Carmópolis revelava o erro do mister Link, e isso era mais um motivo para o clima de festa patriótica. Da Faculdade de Economia saíram alguns alunos acompanhando o professor Paulo Novais, e foram todos ¨tomar banho de petróleo¨ em Carmópolis. O governador Seixas Dória, compulsoriamente fez o mesmo, porque, ao chegar ao local os petroleiros o homenagearam, e à sua comitiva, com um banho de óleo negro.
A madorrenta economia de Sergipe, onde ainda circulavam carros de bois transportando cana nos engenhos vetustos que ainda não haviam ¨apagado o fogo¨, e passavam boiadas que vinham do sul baiano, de Minas Gerais, e aqui encontravam o seu ¨pasto de invernada¨, antes de seguirem caminho até Alagoas e Pernambuco a industrialização se resumia às fábricas têxteis, quase obsoletas, e fabriquetas de óleos do algodão e de coco.
Em Aracaju acabara de ser inaugurado o único hotel considerado de boa qualidade, o Pálace, obra do governo do estado, uma das que marcaram a administração inovadora de Luiz Garcia. Não existia turismo, e o hotel novo começava a ter seus leitos ocupados pelos técnicos brasileiros e estrangeiros da Petrobras, que aqui participavam dos trabalhos de prospecção e perfuração de poços.
Nesse panorama quase desolador, a chegada do petróleo indicava uma nova era, e ela realmente aconteceu. Quatro anos depois, com a transferência da região de Produção Nordeste da Petrobrás, de Maceió para Aracaju, uma jogada de competência política do governador Lourival Baptista, para aqui começaram a vir centenas de técnicos, trabalhadores aos milhares, e iniciou-se o processo de rápido crescimento urbano e expansão da construção civil. Sergipe já assinalava duas etapas: antes e depois do petróleo.
Em 1968 viria a segunda revolução econômica, e essa com um impacto ainda maior do que a primeira. No litoral, em frente a Aracaju, uma plataforma marítima começava a jorrar petróleo e gás, pela primeira vez no Brasil. Assim, confirmava-se a previsão do mister Link, em relação às potencialidades na plataforma marítima. Em breve, dezenas de poços estariam produzindo no litoral sergipano. À noite, da praia da Atalaia, a atração era ver a chama intensa saindo das plataformas que queimavam o gás. Logo seriam instalados os oleodutos os gasodutos, o terminal de atracação dos petroleiros, o complexo de armazenamento junto à praia, a planta de gasolina natural, a FAFEN, fábrica de fertilizantes nitrogenados, e as dezenas de indústrias de fertilizantes, o terminal marítimo, o porto off-shore. Aracaju ganhou um novo impulso de crescimento.
Agora, estamos às portas da terceira revolução econômica e será em proporções bem maiores, o marco definitivo para a industrialização e desenvolvimento econômico de Sergipe. Nessa quarta, 24, esteve em Aracaju um grupo de executivos da Exxon, a empresa americana que adquiriu a maior parcela de um dos campos, no quase pré-sal sergipano. Ali, estão reservas avaliadas entre as mais extensas do mundo. Ficam a uns oitenta quilômetros do litoral, quase em frente a Aracaju.
Os executivos da Exxon reuniram-se na Secretaria do Desenvolvimento com um grupo de técnicos comandados pelo Secretário José Augusto Carvalho. Aos CEOs da petroleira foram feitas exposições sobre a realidade sergipana, o know-how que temos como área tradicional de produção petrolífera, a capacidade de Aracaju e da Barra dos Coqueiros para servirem como base de operações, além da qualidade de vida de uma cidade de porte médio que tem plenas condições para que aqui se instale o escritório central da Exxon no nordeste.
O governador Belivaldo orientou sua equipe para que trace uma estratégia visando oferecer aos executivos todos os requisitos que eles necessitarão para definir a escolha da sede.