(Da casa humilde quatro doutores)
A pátria precisa de exemplos que possam justificar o amor à terra mãe, o culto aos nossos símbolos, o respeito aos nossos heróis, e que deem significado à cerimoniosa forma como devemos ouvir e cantar o nosso Hino.
Esses exemplos, deveriam partir em primeiro lugar das instituições. É essencial que enxerguemos nelas pelo menos, alguns vestígios de virtudes humanas, ou cívicas, como preferirem classificá-las.
Todavia, precisamos mesmo de muito otimismo, como se fossemos, todos, a reencarnação do Cândide de Voltaire, que resistia com esperança e renovada disposição às piores desgraças. Certamente, precisamos muito mais do que isso. Haja então estômago para conter as ânsias, e não espalhar as lufadas de vômito provocadas pelo azedume da indignação.
Não nos desesperemos, contudo, a pátria não está perdida nem desencaminhada para sempre.
Nos recantos mais recônditos, ou até mais exuberantemente expostos, se bem procurarmos, se bem prestarmos atenção, libertos do preconceito, iremos encontrar as teias que formam aquela rede de bons exemplos, espalhados pela pátria imensa. Essa singularidade da gente brasileira pode ser constatada numa casa humilde, isolada em meio às caatingas da região adusta dos Picos, em Canindé do São Francisco, onde a luz elétrica somente chegou em 2004.
Citemos nomes para caracterizar e contextualizar os fatos, passando ao largo dessa exacerbação de ânimos que torna difícil até a narrativa da história, e, pior ainda, dos fatos contemporâneos.
No governo Fernando Henrique, foram criados os ônibus escolares. Então, as crianças daquela casa nos Picos em Canindé puderam ser transportadas à escola.
No governo de Lula, foram criados os programas de apoio para que os pobres conseguissem frequentar as Universidades.
Então, os meninos daquela região dos Picos, em Canindé, puderam sentar nos bancos da Universidade, primeiro, na UFS em Aracaju, depois, num dos campi da UFS, este, instalado em Nossa Senhora da Glória, no sertão, que foi resultado da luta de toda a comunidade sertaneja, encampada pelos governadores Marcelo Déda, Jackson Barreto, reitores Josué Modesto dos Passos e Ângelo Antonioli, Secretários da Educação Belivaldo Chagas e Jorge Carvalho.
Naquela casa nos Picos em Canindé, vive uma família formada pelo casal Dogival Freire e Givalda Leal Freire.
Dogival, vindo de Aquidabã, fixou-se em 1977 em Canindé, atraído pela oferta de emprego com a construção da Usina de Xingó, nos governos José Sarney e Collor de Melo. Empregou-se como motorista. Ao fim das obras, tendo guardado algum dinheiro, comprou a terra e fez a casa onde vive.
O leite é a atividade econômica que mais se adapta ao semiárido, desde que tocada de acordo com padrões de sustentabilidade indispensáveis. Apesar da ultima longa e estranha estiagem, Dogival conseguiu resistir. Passou a ser fornecedor do laticínio de Biu, um outro sujeito empreendedor, que montou uma fabriqueta e modernizou-a com financiamento do BANESE. Hoje ,produz queijos de excelente qualidade.
Dogival quis tornar-se o “mais rico” entre todos os produtores de leite como ele. E tornou-se. E a forma como conseguiu, faz com que ele e sua mulher Givalda irradiem uma felicidade que raras pessoas possuem.
A filha, Gilmara, é doutoranda em biologia pela UFS.
A filha, Jéssica, concluí o curso de Arquitetura pela UFS.
O filho, Dogival está no quarto período de Engenharia da UFS.
O filho, João Caíque, está no segundo período de Zootecnia, no Campus do Sertão da UFS, em Nossa Senhora da Glória.
Os que estudam em Aracaju, moram num pequeno apartamento que Dogival alugou para eles. O resto das despesas é coberta com bolsas de estudos, que todos obtiveram.
Dogival e Givalda estão agora extremamente preocupados. Faz noites que não dormem, apesar da brisa fresca, quase fria, que ainda sopra no sertão nesse finalzinho de inverno.
O leite até alcança nesses dias um preço razoável 1,4 o litro, mas existe uma outra preocupação. Anuncia-se que neste setembro o governo federal cortará as bolsas para estudantes universitários. Assim, por mais acrobacias financeiras que venha a fazer, sua limitada renda não permitirá a Dogival continuar pagando o aluguel dos filhos em Aracaju.
Para João Caíque surgiu um novo e absurdo empecilho. Ele usa dois transportes para chegar até o Campus. Sai de casa as quatro e meia da manhã, chega a Canindé, e lá usava um ônibus que a Secretaria da Educação destina para transportar alunos da escola Manuel Messias, instalada com nível de excelência ainda por João Alves, e, por isso, atrai estudantes das redondezas, para os quais é oferecido o transporte.
Existem vagas disponíveis no ônibus, por isso, João Caique e um outro colega que também é aluno da UFS em Glória, usavam diariamente esse transporte grátis.
Agora, segundo informam, por determinação do diretor da escola Manuel Messias o ônibus só poderá transportar alunos daquela escola. Assim, Caíque e o colega terão de pagar pelas suas passagens. Dogival, o pai de Caíque, anotou no caderno mais essa inesperada despesa com as passagens, e começa a duvidar do sonho de tornar-se “o mais rico” entre os pequenos produtores de leite, com quatro filhos formados, ou doutores, aquele objetivo, que, para os pobres, sempre foi visto como uma meta quase impossível de alcançar.
Toda evolução histórica, todo processo de aperfeiçoamento social, tem sempre como opositores alguns obtusos, inadaptados à evolução, gente assim como aquele ou aqueles, que proibiram o ônibus de transportar estudantes de cursos superiores, porque seriam destinados exclusivamente a alunos do nível médio. Talvez, por entenderem que para gente pobre e sertaneja, o nível médio já estaria de bom tamanho.
Com relação às passagens a preocupação acabou. O Secretário da Educação e ex-reitor da UFS Josué Passos, informado do que acontecia, já determinou a quem deu a absurda ordem, que ela seja imediatamente revogada.
Uma família como essa sertaneja de Dogival, sua mulher e seus filhos, faz com que se retempere o orgulho de ser brasileiro, e para famílias assim, não pode deixar de haver, paralelamente, a presença do Estado.
Para eles, os pais trabalhadores incansáveis, para eles, os meninos renitentes na busca pelo conhecimento, sem dúvidas, deve haver o reconhecimento da Pátria, nesta semana, onde se comemora o seu nascimento, com a crença de sermos livres.
E neste instante o melhor reconhecimento seria a “pátria amada” a eles demonstrar o seu amor, não lhes privando do direito ao estudo.
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CORRIGINDO RUMOS
Não é admissível que os integrantes de uma Federação venham a ser tratados de forma diferente. Os estados, o Distrito Federal, esses entes que compõem a República Federativa do Brasil, têm iguais direitos e iguais deveres. Não importa por quem estejam sendo governados, ou se o cidadão eventualmente ocupando o cargo de Chefe de Estado, tem simpatias ou não por qualquer um deles. Todos, manda a Constituição, devem receber tratamento único e equânime.
Por isso, foi uma providencia elogiável a que tomou o presidente Bolsonaro, enviando um dos mais qualificados integrantes da sua equipe ministerial para dialogar com os governadores e prefeitos nordestinos.
O governador Belivaldo saiu satisfeito da reunião em Aracaju, e acredita que, com entendimento administrativo e harmonização de objetivos, ganham os estados e se fortalece a Federação.
A USINA MAIOR QUE A XINGÓ
(Joaquim Ferreira, o executivo do grupo)
A usina fotovoltaica que será instalada em Canindé do São Francisco, terá geração quase idêntica à capacidade instalada da Usina de Xingó, que nunca chegou a funcionar plenamente por insuficiência de água para rodar todas as suas turbinas. Como naquele sertão não há insuficiência de sol, de luz, a Usina, quando concluída, terá uma capacidade muito maior do que aquilo que hoje a usina hidrelétrica consegue produzir.
Nessa terça, 3 de setembro, o engenheiro Joaquim Ferreira, CEO do grupo investidor, vai explicar na Câmara de Vereadores, único poder que continua hoje funcionando em Canindé, como serão as etapas da instalação da usina.
A EXPANSÃO DO BANESE
(Banese, um banco ousado)
O BANESE é pequeno, todavia ousado. Lança ainda este mês o seu cartão com bandeira internacional, e já espalha uma rede de postos pelo nordeste começando por Alagoas. Vai abrir o capital, colocando à venda no mercado as suas ações. Isso não significa privatização, porque o estado de Sergipe permanecerá majoritário. O BANESE, se depender dos esforços de Belivaldo, será o instrumento financeiro escolhido pelo consórcio formado pelos estados nordestinos, para a realização conjunta de compras, e outras ações. O BANESE sergipano é o único banco pertencente ao governo do estado, entre os nove que formam a região e compõem o consórcio.