Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
A FLORESTA AMAZÔNICA E O CORONEL JOEL DA JUREMA
21/12/2018
A FLORESTA AMAZÔNICA E O CORONEL JOEL DA JUREMA

O próximo ministro do meio ambiente seria o executor do pensamento do presidente Bolsonaro em relação à Amazônia. Quer o presidente quebrar o que ele considera intransigência da politica de preservação ambiental em relação aquelas regiões consideradas sensíveis ao avanço da civilização, e dar maior liberdade ao agronegócio para que avance sobre a floresta, ressalvando que isso seria feito sem desobedecer à legislação pertinente. O mesmo aconteceria em relação ao cerrado.

O problema é que as transgressões ocorrem e a legislação existente se transforma em letra morta em vastas regiões do Pará, do Mato Grosso, do Acre, de Rondônia, até mesmo no Amazonas, onde grandes extensões já estão desertificadas. A flexibilização das normas hoje existentes, com certeza irá acelerar a devastação, e quem não acredita no aquecimento global (há quem o enxergue até como uma conspiração “comunista” para sabotar o desenvolvimento brasileiro) mesmo para esses renitentes céticos, a questão fica pacificada quando se transforma na necessidade de convivência harmoniosa do homem com a natureza.

Pois então tratemos dessa convivência. Em resumo ela seria a possibilidade do desenvolvimento paralelo à manutenção de uma parcela do ambiente natural. E qual seria essa parcela? Eis a questão.

Tanto para os céticos não ambientalistas como para os ativistas ecológicos, teria de ser encontrado um meio termo, o que não é tarefa fácil. Dai porque a questão precisa escapar de um conflito que toma as características malsãs da catástrofe dessa guerrilha político-ideológica, em que desgraçadamente nos metemos.

Quando o presidente eleito anunciou que iria extinguir a pasta do meio ambiente, juntaram-se várias tendências condenando a ideia, e o Ministério foi preservado. Mas de nada adiantara sobreviver o Ministério se o seu futuro ocupante demonstra hostilidade ao ativismo ambiental, que existe em todas as sociedades democráticas do mundo civilizado.

Sobre a preservação da floresta amazônica, mesmo que duvidem da constatação, pacífica, entre as instituições cientificas, de que

a hileia deve ser mantida porque é fundamental para o clima, e responsável pelo “rio aéreo” que seria o deslocamento da chuva em direção ao sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, além da sua influencia no clima mundial, o assunto nos diz respeito, tanto quando a norte-americanos ou europeus, e isso não significa que ao preservarmos a floresta estaríamos cedendo a pressões e interesses estrangeiros.

A fronteira agrícola pode expandir-se na Amazônia, bastando que sejam ocupadas, racionalmente, as terras devastadas pelos pecuaristas, que agiram de forma predatória, e tudo começou com maior intensidade quando, nos anos setenta, os tecnocratas que dominavam as decisões, entenderam de levar o progresso ao oeste, concedendo créditos fáceis e fartos, para quem quisesse ocupar terras das quais o Estado abria mão. Esse foi um dos motivos da euforia registrada na Bolsa, e que acabou melancolicamente.

Chico Mendes e tantos outros extrativistas que enfrentaram os madeireiros grileiros e violentos, se transformaram em mártires, porque demonstrarem que os pobres amazônidas, podem sobreviver como extrativistas, e preservando a floresta. Por que não aprendermos com a Suécia, a Noruega, a Finlândia, que preservam florestas, as exploram lucrativamente, não criam desertos, e têm “cidades-ilhas” de alta tecnologia, que são verdes e cercadas de verde?

Um ecologista brasileiro, o professor José Lutzenberger, falecido em 2002, e que foi muito criticado por ter sido Ministro do Meio Ambiente no governo Collor, entre tantos livros de sua autoria, um deles, o pocket-book Manual de Ecologia - Do jardim ao Poder, dá exemplos de como pode haver desenvolvimento sem que sejam devastadas as florestas, especificamente na Amazônia.

Levando em conta que um pé de mogno adulto custa em torno de mil dólares, isso naquela época, década dos 70, e que leva 50 anos para que a madeira seja extraída, então, com um plantio de 100 árvores o produtor anteciparia o retorno, vendendo, aos 5 anos, para uma instituições financeira, 10% das árvores. Receberia mil dólares e repetiriam ele, ou seus descendentes a cada 5 anos, a mesma coisa, e ganhando mais.

Isso, segundo Lutzenberger, se praticado em escala, tanto asseguraria a manutenção da floresta como a possibilidade de fabulosos lucros.

Essa capacidade real de produzir muita madeira sem destruir a floresta, faz lembrar uma das estórias fantásticas do vasto repertório de devaneios oníricos do coronel Joel da Jurema. Ele era um cidadão responsável, abastado, cumpridor rigoroso das suas obrigações, coronel da Guarda Nacional, senhor do Engenho Jurema, que deveria ter umas 500 tarefas de cana, mais um tanto de pastos, e algumas manchas de Mata Atlântica. Essas terras pertencem hoje ao advogado Antônio João Messias, hoje tão atualizado em práticas agropecuárias como na ciência jurídica, e se esmera em plantar ipês, jaqueiras, jenipapo e craibeiras, que o jornalista blogueiro Josailto Lima íntimo do vernáculo, e reverente ao baianês, prefere grafar como caraibeira.

Na Jurema, segundo o coronel, havia uma grande extensão de matas exuberantes, e que cresciam rapidamente. Ele produzia madeira sem parar nunca. Cortava e plantava. Começava a derrubar as árvores imensas, chegava até o final da floresta, isso, no decorrer de um ano. Reiniciava do mesmo lugar, quando as árvores nesse curto espaço de tempo já haviam atingido um porte gigante. Isso, em consequência da excelência das suas terras, adubadas com fertilizantes vindos da Alemanha, enviados em submarinos e zepelins, pelo seu amigo do peito Adolf Hitler, de cujas mãos ele recebera a maior honraria do Reich alemão, a Medalha da Cruz de Ferro de primeira classe.

Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha em agosto de 42, Joel da Jurema desapareceu por alguns meses temendo ser preso.

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