Fechar, ou ¨hibernar a FAFEN¨, a cínica metáfora que preferem, sempre foi uma vontade férrea, uma decisão indormida da cúpula que comanda a PETROBRAS. Não diziam ao certo se pretendiam simplesmente sucatear a fábrica de fertilizantes nitrogenados, ou se imaginavam vendê-la. Ninguém que tenha algum equipamento para vender, decidiria colocá-lo num processo de ¨hibernação¨, ou seja, parado e corroído pelo tempo, sucateado enfim. Como o bem é público, a decisão de ¨hibernar¨ a FAFEN é algo que cheira impudicamente a maracutaia. Há algo de podre nesse ¨Reino da Dinamarca¨ que nada tem de hamletiano, mas é uma tragicomédia de erros e criminosas intenções.
A decisão afeta a FAFEN sergipana e sua congênere baiana, trata-se, com perdão do termo, de uma dupla sacanagem.
Mobilizaram-se os governos de Sergipe e Bahia, os setores empresariais, os sindicatos, os políticos. Belivaldo criou uma força tarefa para elaborar estratégias e produzir um documento, comprovando a plena viabilidade da indústria que se quer destruir. O secretário do Desenvolvimento, o engenheiro José Augusto, fez um primoroso trabalho. Belivaldo com sensibilidade política convidou o ex-governador Albano Franco a fazer parte do grupo.
Tudo pronto, Albano, que tem acesso pleno a Temer, foi liderando uma representação sergipana até o presidente da República, até o presidente da Petrobras. Ficou decidido que a ¨hibernação¨ seria suspensa até o dia 31 de outubro. Nem se chegou à data aprazada e os funcionários da fábrica já recebiam um comunicado explicando que no último dia de janeiro do ano que vem a FAFEN, em Laranjeiras, fecha as portas e será entregue à faina da ferrugem. O mesmo sucederá com a FAFEN baiana. Com isso, poderão desaparecer dois polos industriais montados em torno das duas empresas, são dezenas de ¨misturadoras¨ as que fazem os compostos de fertilizantes.
Desemprego de milhares de pessoas, de pais de família, de jovens, a queda na arrecadação de municípios, principalmente, encerramento de muitas atividades. Uma tragédia anunciada e sancionada pela covarde, omissa e pegajosa atitude do presidente Temer. Essa figura desprimorosamente antiética, que por acidente ou incidente, resultante do conluio desfeito, e de quadrilhas que se atropelavam, chegou ao comando da Nação.
Já existem contatos tanto da parte de Sergipe como da Bahia com grupos investidores, que manifestam interesse em assumir o controle de cada uma das unidades fabris.
O risco que se corre é o da deterioração completa dos equipamentos nos meses que decorrerão desde o fechamento até quando se faça a venda, e os novos grupos assumam o comando. E tudo seria vendido a preço de ferro velho?
O Ministério Público Federal tanto quanto a sempre eficaz Polícia Federal poderiam investigar o quanto de ilicitude, ou, no mínimo de irresponsabilidade gerencial, o que também é crime, poderiam existir por trás dessa metafórica ¨hibernação¨.
O mais estranho ainda é a data final para o fechamento, quando já existirá um novo governo, e esses atuais dirigentes da Petrobras, não mais estarão nos cargos que agora ocupam.
TRANSPORTE EM ARACAJU ÔNIBUS, SUCATAS FEDIDAS
Faz tempo, esses proprietários das empresas de ônibus operando em Aracaju, se esmeram a cada dia em prestar piores serviços. O povo é tratado como um rebanho desprezível, que se amontoa espremido nos coletivos, onde, nesses verões tórridos a temperatura no interior ultrapassa os cinquenta graus.
Agora, eles querem um novo aumento. Do ponto de vista empresarial estão absolutamente corretos. Uma atividade econômica não pode subsistir enquanto suas receitas são consumidas pela elevação de preços, dos insumos, dos equipamentos que utilizam. O óleo diesel continua em escalada altista, apesar da greve dos caminhoneiros e das promessas feitas debaixo de pressão, com a faca no pescoço rechonchudo dos homens do Planalto.
O que se tem a discutir é o tamanho da reivindicação já apresentada. Recentemente, o prefeito Edvaldo Nogueira vetou um projeto de lei da Câmara que estabelecia a exigência de ar condicionado nos coletivos. Isso seria algo básico, indispensável mesmo, até como prova de respeito humano aos que se utilizam dos nossos sucateados ônibus.
Mas aí entram outras considerações fundamentais, que devem ser objeto de atenção pelo poder municipal no decorrer do próximo ano. É preciso, inicialmente, colocar um selo de qualidade ética nos contratos feitos com as empresas, estabelecendo-se o indispensável critério da licitação, coisa que se arrasta desde tempos imemoriais, como diria o romancista García Márquez criador das narrativas num ambiente irresolutamente fantástico.
Mas o prefeito Edvaldo tem razão, quando argumenta que há uma carga imensa de isenções concedidas à inúmeras categorias que gozam de completa gratuidade nos transportes públicos. Esse ônus, essa compulsória renuncia de receitas, recai sobre o caixa das empresas, que ficam no limite e não podem arcar com os custos de novos investimentos, como é o caso do ar condicionado, que não chega sequer a ser um conforto, mas um alento de sobrevivência possível a quem se vê espremido nas latas sacolejantes que se chamam transportes coletivos.
Esse instante de análise para a concessão de um novo reajuste seria o momento melhor para que um debate mais consistente sobre o transporte público começasse a ser realizado.
Como sempre irão aparecer as vozes de protesto, afirmando e reafirmando que não pagarão as novas tarifas, enquanto outras, ingênua ou desinformadamente, apresentarão a solução miraculosa, que seria a estatização pura e simples do transporte coletivo, sem atentarem para a realidade fática e absoluta de que poder público não fabrica dinheiro, e estatal não funciona sem custos.