O deputado federal Jair Bolsonaro viveu 27 anos no limbo onde ficam os parlamentares do baixo clero. Era conhecido apenas pelo extremismo de direita que exercia, traduzindo sempre uma personalidade agressiva. Foi então que o astrólogo que se fez filósofo, Olavo de Carvalho, o aconselhou a traçar um roteiro para capitalizar a enorme insatisfação dos brasileiros, chegando ao extremo com os desastres do governo Dilma, e as digitais do PT e dos partidos da base governista nos cofres arrombados da PETROBRAS, dos fundos de pensão, e em inúmeras outras áreas.
A indignação nas ruas era o cenário perfeito para um discurso acentuando a necessidade de um basta, e da caracterização de um líder, que seria capaz de por fim ao que já se desenhava como um caos institucional em rápida gestação. Olavo de Carvalho convenceu ao capitão-deputado, que ele poderia chegar à presidência, desde que se atrelasse ao staff de Donald Trump, e soubesse canalizar a insatisfação do militares que se sentiam alijados, inclusive das decisões estratégicas nacionais, e viam, com preocupação, os desvarios bolivarianos espalhados no continente pela Venezuela.
A identificação com os militares, com o foco da reação conservadora brasileira, com os interesses do mercado e dos Estados Unidos, deu ao capitão a base sólida para articular um discurso que parecia improvável, mas, dia a dia conquistava milhares de adeptos.
Chegando à presidência, Bolsonaro entendeu que poderia liderar uma ¨revolução¨ da extrema direita, e não acenou para um pacto de união nacional, preferindo exercitar seus gritos de guerra, desta vez, com o eco e a repercussão de quem está no topo do poder.
A sua visão de mundo transitou além do seu próprio guru, e foi alinhar-se com ideias mais ainda desconexas, alimentadas pelo filho que agora é, de fato, o Chanceler da República, o responsável pelo inicio de uma politica externa que corresponde à sua fascinação por aquela parte da sociedade americana que não entende a vida sem um rifle na mão.
O filho do capitão vê o mundo através das lentes das suas preferencias pessoais, assim, distancia-se da realidade configurada no quadro geopolítico atual . Esse mundo miúdo que o filho do capitão tem na sua deslustrada cabeça, e o colocou no vácuo da cabeça paterna, corresponde a um cenário dominado pelos Estados Unidos como líder absoluto e inconteste, sob a liderança de Donald Trump. Ele não vislumbra a transitoriedade de governos num país democrático. Vê o bolsonarismo como realidade definitiva, e no atrelamento ao trumpismo a sua sobrevivência.
O rústico e pífio desenhista do atual modelo de política externa reverencia uma sociedade internacional elitista, preferencialmente branca, onde o Brasil ficaria inserido, e conformado com a condição de parceiro subalterno.
Seria o paraíso prometido para os poucos herdeiros do mundo, onde não caberiam periféricos pobres e inoportunos, muito menos argumentos liberais, ou veleidades socialistas, uma espécie de trumpbolsonarismo, para durar séculos afora.
O Brasil, já disseram, teria de ser cristão, exclusivamente, jamais laico, a esquerda, já disseram, deveria ser banida, juntamente com o centro, visto como um refúgio de oportunistas políticos acovardados. Uma forte militância de bolsonaristas convictos exibiria armas nas legiões de milicianos, legalizados justiceiros, sempre prontos a remover obstáculos por métodos grosseiramente heterodoxos, inclusive, tendo por perto um
Jeep e três soldados, prontos para cerrar as portas do Supremo Tribunal, colocar fogo em tudo, e, se possível, fazendo um ¨churrasquinho de ministros¨.
Bolsonaro, seguindo esse rumo assim, claramente desconexo, viu-se realizado ao chegar ao salão oval da Casa Branca e trocar afagos com o seu ídolo.
Não se faz política internacional com ideias particularistas, elas devem adaptar-se ao mundo, do qual hoje não se pode excluir a China, a Rússia, como parceiros importantes. Não se pode desprezar a força moral da Comunidade Europeia, o bom relacionamento com os vizinhos que nos cercam, sejam eles bolivarianos ou não, desde que não nos influenciem, nem ameacem. Os Estados Unidos, serão sempre um excelente parceiro, desde que não nos atrelemos aos interesses geopolíticos exclusivamente da passageira ¨Era Trump¨. É essencial, ainda, a convivência com os BRICS, e dar maior abrangência ao Mercosul.
A nossa tradição pacifista, e de não alinhamento, teria de ser mantida como uma meta de Estado, não susceptível aos humores de governantes empenhados em fazer ¨revoluções¨, sejam de direita ou de esquerda.
O que de fato ganhamos com as anunciadas concessões que fez Bolsonaro aos Estados Unidos?
Vamos permitir que eles operem a base de lançamento de foguetes em Alcântara, Maranhão.
Donald Trump autorizaria, em contrapartida, a liberação de conhecimento que nos capacitariam a produzir os foguetes, para colocar em órbita satélites já produzidos nos nossos polos avançados de ciência e tecnologia?
Trump foi muito claro. Ele disse que os EUA precisam de uma base de lançamentos próxima à linha do equador, porque isso reduzirá muito o custo do seu programa espacial, e observou que, usando Alcântara, atenderá também a objetivos militares estratégicos.
Dessa forma, o Brasil se envolve numa competição de poder bélico que, absolutamente, não nos diz respeito, não faz parte dos nossos interesses. Trump, também anunciou, que nos dará a condição de parceiro extra, aliado à OTAN, a mais ampla aliança militar já formada no mundo. A Organização do Tratado do Atlântico Norte surgiu no clímax da guerra fria, quando a ameaça da União Soviética, expansionista, se fazia sentir sobre a Europa ocidental, enfraquecida pela guerra. Berlim, dividida e encravada no território hostil da parte comunista da Alemanha, era a vulnerabilidade maior.
Os países que se desmembraram da União Soviética quando ela se desintegrou em 1992, voltando a ser apenas a Rússia, mas, com um território de 16 milhões de quilômetros quadrados, buscaram, então, garantir a própria sobrevivência independente de Moscou, e foram acomodar-se na segurança da OTAN.
O Brasil, pelo que sabemos, até agora não tem inimigos, nem alimenta ambições expansionistas, e não estamos no hemisfério norte.
Os militares não querem interferir na política nem desempenhar o papel de guarda pretoriana, preocupam-se em montar um aparato de defesa, capaz de cobrir as dimensões deste país, quase um continente, e isso requer independência tecnológica, também salários compatíveis.
Hoje, um oficial superior da Marinha, por exemplo, que comande uma fragata, ganha menos do que um comandante de um rebocador a serviço da Petrobras, ou outras petroleiras, operando na costa brasileira.
A França faz parte da OTAN, mas não cede território para bases americanas, e sempre se recusou a dividir com os americanos a base espacial de Kourou, na Guina Francesa, que é ainda mais próxima do equador do que a base de Alcântara.
Bolsonaro não foi claro sobre a posição brasileira diante de uma possível invasão americana à Venezuela, quase admitiu que concordou em ceder território, talvez até tropas, para o ataque a um país que tem um ditador, mas isso é problema dos venezuelanos, não de Trump, que não é ¨polícia democrática do mundo¨, nem pode nos dizer quais os amigos que deveremos ter, ou os nossos inimigos por ele escolhidos. Se acontecer uma invasão dos americanos usando território brasileiro, eles depois irão embora, mas a Venezuela continuará sendo nossa vizinha, e ali certamente medrarão os ressentimentos, que permanecerão vivos, colados a uma grande parte da nossa fronteira norte. Sobre este assunto tão grave, o vice-presidente general Mourão deixou clara a sua discordância com opções militares. Mas ele já foi pesadamente insultado, chamado de idiota, tanto por Olavo de Carvalho, o Rasputin de Bolsonaro, como pelos filhos dele.
Pela primeira vez na historia primorosa da diplomaria brasileira, deixamos de exigir reciprocidade na relação com outros países. Suspendemos os vistos exigidos dos americanos que aqui chegam. Mas, dos brasileiros, ¨gente de segunda classe¨, os vistos continuarão sendo exigidos pelos americanos. Brasileiros que emigraram para os Estados Unidos, e ali formaram família, têm filhos americanos, continuam perseguidos, e recentemente foram, muitos deles, presos e humilhados por decisão de Trump, que cometeu a ignomínia de separar filhos nascidos nos Estados Unidos, dos seus pais brasileiros sendo deportados.
Bolsonaro pediu apoio para ingresso do Brasil na OCDE, o restrito clube dos ricos, Trump exigiu que nos afastemos primeiro da OMC, área de comércio mais acessível a países exportadores de produtos primários, como é o nosso caso.
O que de fato ganhamos em ser submissos?
Já começamos a receber os frutos: A China, nosso maior parceiro comercial, está descredenciando frigoríficos brasileiros que exportam carne de porco para aquele país.
A Arábia Saudita fez a mesma coisa em relação à carne de frango brasileira, quando Bolsonaro anunciou que transferiria a nossa Embaixada de Telaviv para Jerusalém.
São os efeitos do virtual ¨mundinho miúdo¨ nas cabeças onde não cabe o universo do mundo real.
A CODEVASF E A INDICAÇÃO DO NOVO SUPERINTENDENTE
A CODEVASF é empresa complicada, e sempre questionada em relação ao que faz, e principalmente ao que deixa de fazer na área de sua jurisdição, a bacia do São Francisco, e do Parnaíba. A superintendência, em Sergipe, não foge a essa característica desprimorosa. A empresa, aqui, começou a deixar um passivo de equívocos, desde que assumiu o controle dos perímetros irrigados do Betume, e depois do igualmente infelicitado Jacaré- Curituba. A rizicultura sergipana, que era praticada de forma rudimentar, era, todavia, um modelo tradicional, fazendo parte da forma de vida do povo ribeirinho do São Francisco. A CODEVASF não substituiu o velho pelo novo, simplesmente devastou uma economia solidamente arraigada na região. Hoje, apesar dos êxitos euforicamente badalados pelos políticos que faziam o uso político da empresa, toda a produção de arroz de Sergipe é inferior ao que era alcançado, quando quase todas as ¨lamas de arroz¨ da margem direita, pertenciam ao coronel Zeca Pereira.
Quando ainda nem se definiu se a partilha dos órgãos federais dos estados será feita entre senadores e deputados, surgiu o nome do engenheiro Valmor Barbosa como indicação da senadora Maria do Carmo, e que recebera o apoio de alguns deputados.
Essa partilha, mais cedo ou mais tarde terá de ser feita, até mesmo porque é essencial para que haja chance de sucesso na pretendida reforma da previdência. Partilhar cargos públicos não é uma prática condenável, desde que os indicados para ocupa-los sejam técnicos, ou políticos experimentados, e com folha corrida rigorosamente limpa. Órgão público é para ser ocupado de forma republicana, por gente que tenha visão administrativa, e responsabilidade pública. Se feitas dessa forma as indicações, colocando-se as devidas exigências, não haveria o chamado ¨toma lá dá cá¨, que o presidente Bolsonaro diz, com razão, que quer evitar, e não permitirá que aconteça no seu governo.
Mas é preciso reforçar os laços com o Congresso, porque a questão da previdência já está em pauta, e com tramitação antecipadamente ameaçada.
Os políticos escanteados, colocados fora do jogo que sempre existiu, ficam ressentidos, e imaginam dar troco. Eles se perguntam: ¨filósofo¨ morando nos Estados Unidos, pode ter força para indicar ministros; pastores indicam ministros , e, pelo que se observa, não demonstraram nenhum zelo ético, e por que nós, políticos, somos os únicos excluídos. Será que nos julgam, todos, indignos¨?
A pergunta sem resposta é pertinente.
Mas é estranho, mais ainda, quando surge uma indicação como a do nome do engenheiro Valmor Barbosa, e ela não é imediatamente aceita, e os parlamentares federais sergipanos não se unem, todos, para fortalecer o pleito que fica parecendo único, da senadora Maria do Carmo.
Valmor é um técnico competente, comandou durante doze anos um vigoroso programa de obras públicas, saiu festejado, e inclusive com a insinuação feita pelo governador Belivaldo de que ele não ficaria por muito tempo fora do governo. Nada o desabona, pelo contrário tudo o abona, mas a nomeação, já dizem nos meios políticos, seria improvável por falta de apoio politico, que significasse compromisso com a aprovação das reformas.
Valmor Barbosa tem condições para iniciar uma reformulação nos procedimentos defasados da CODEVASF, certamente, levaria com ele técnicos igualmente qualificados, onde não faltaria, provavelmente, a presença do engenheiro Antônio Vasconcelos, responsável direto pelas obras rodoviárias realizadas no período.
É de se lamentar essa aparente indiferença da bancada sergipana, diante da vaga não preenchida ainda na CODEVASF, uma oportunidade para injetar mudanças naquela emperrada empresa.
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LEVA E TRAZ
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ESTRANHA ASSOCIAÇÃO, ESTRANHA LIMINAR
No Tribunal de Justiça de Sergipe quase 400 servidores, todos eles concursados, todos eles experientes, essenciais ao desempenho dos serviços nos setores onde atuam, foram surpreendidos este mês com a noticia: dos seus salários serão reduzidos quarenta por cento, correspondentes às incorporações que acumularam por tempo de serviço , e permitidas em lei.
O que aconteceu foi uma decisão liminar monocrática de integrante do Conselho Nacional de Justiça, mandando sustar as incorporações, e determinando a não inclusão desse acréscimo na folha do mês. O presidente do TJ desembargador Osório de Araújo Ramos, homem comedido e sensato, mandou sustar os pagamentos, até que haja uma decisão sobre o pedido de reconsideração que levou ao CNJ, diante da liminar um tanto estapafúrdia, afetando a vida de pessoas, punindo famílias, que estavam até então confiantes na irredutibilidade dos seus salários, norma constitucional desprezada de forma tão abrupta.
A liminar atendeu a pedido de obscura associação, que se denomina, latinoriamente ¨Pró Vitae¨, fundada por um tal Weber Alejandro Garcia Campos, personagem um tanto anódino. Não se sabe, sequer, dessa associação, da qual pouco mesmo se conhece, mas, muito sugere suspeitas, se, entre os seus objetivos, estaria o de demandar em juízo, defendendo causas supostamente de cidadania.