Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
A curta era Temer e escândalos imensos
24/12/2016
A curta era Temer e escândalos imensos

É muito pouco tempo para tantos escandalosos episódios. A era Temer mal começava e os feitos ou malfeitos da sua turma já alimentavam as manchetes.

E desde então quase não se tem falado de outra coisa que não sejam as peripécias do novo grupo que passou a frequentar o Planalto. As revelações da Odebrecht desmistificaram aquela enganosa ideia de que se retirara do poder um grupelho visceralmente corrupto, para substituí-lo por pessoas comprometidas com a ética na vida pública.

Que decepcionante engano!

O que se poderia esperar mesmo de um governo composto por “gedéis”, todos eles, notórios guardadores das  senhas que abrem à uma conhecida elite o acesso livre aos vulneráveis cofres da espoliada Nação?

Esses bucaneiros que Temer carregou com ele ao topo do poder, rapidamente levaram o governo ao descrédito. A rejeição ao presidente aproxima-se perigosamente das cifras registradas por Dilma nos derradeiros dias do seu frustrado segundo mandato. Registre-se que Dilma era rigorosamente inepta para o desafiante ofício de governar um país com as características do Brasil, mas, não teve, até agora, o seu nome citado como beneficiária direta daquela dinheirama fácil, que jorrava das empresas colocadas à sombra das instituições prostituídas.

Enganaram-se todos os que foram às ruas clamar por mudança, por comportamento ético. Se a economia não começar a dar sinais de que a crise está sendo vencida, Temer corre sério risco de tomar o mesmo caminho seguido por Dilma.

O tamanho dessa coisa estranha que foi a tentativa de levar um Papai Noel magnânimo para encher os sapatinhos das telefônicas, com a doação  de  algo que beira os cem bilhões, é escândalo grosso, pra ninguém botar defeito. Uma suspeitíssima OI, que conseguiu a proeza inédita de cavar um buraco de sessenta bilhões de reais, e sem falir, se tornaria dona definitiva do patrimônio que recebera por concessão a prazo determinado. Na privatização das Teles, os grupos adquirentes nada investiram, porque receberam o presente inicial que lhes foi dado pelo BNDES. A trajetória seguida desde então, é um enredo que muito se aproxima do que aconteceu na Petrobrás.  Sobre isso, calam os moralisteiros televisivos, porque todos estão com a mão enfiada na mesma cumbuca.

O senador Roberto Requião, com a assertividade que o caracteriza, já denunciou  nas redes sociais, (porque nas tevês não o deixam aparecer), o presente de Natal para as Teles, considerando-o a maior negociata que já se fez, desde que o índio deixou de ser dono da terra brasilis.
Nas esferas do poder já se cogita numa fórmula para abreviar o tempo de Temer, o que se faria via Justiça Eleitoral, com a cassação da chapa Dilma-Temer. Como já teríamos entrado no segundo ano após a eleição, a escolha, segundo o rito constitucional, se faria via indireta, através do Congresso.

E já surgem os nomes lembrados para a escolha, entre eles o do ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim. Esse tem transito livre entre políticos, empresários, e etecetera.

A travessia de Temer até 2018, fica a depender do resto das delações que irão surgindo e da capacidade do Ministro Meireles para ir ressuscitando a definhante economia.

Meireles atrelou o carro enguiçado da pátria amada ao reboque reluzente  do mercado financeiro. Se der certo, e a agonia for aliviada, Temer escapa.

Mas, agora, o que importa mesmo é saber se o Brasil sai dessa.

CHEGOU O VERÃO DA CHICUNGUNHA

 No sul, no sudeste, no centro-oeste chove muito no verão e as cidades, pessimamente saneadas, acumulam água, a putrefação dos pântanos, das lixeiras e os mosquitos proliferam. Agora, o Aedes Egypti, o mosquito polivalente, está transmitindo o vírus terrível da Chicungunha. Por isso, o verão que começou leva o nome de uma doença. Coisa sinistra, de mau gosto, porque bem melhor seria dizer que vivemos o verão da esperança, o verão de um novo tempo, tudo, menos o verão de uma coisa que é assustadora.

Diz a propaganda oficial que um país não pode ser derrotado por um mosquito. Mas o tal Aedes, já derrotava o país desde o século XIX, no começo da República, quando o Rio de Janeiro era conhecido como a “cidade da morte” com a sua população dizimada pela Febre Amarela e a sua fama apavorante corria o mundo, principalmente, depois que em 1896, aportou no Rio o navio de guerra italiano Lombardia, e dos seus 340 tripulantes, só cem conseguiram escapar da febre amarela, ou malária.

Ninguem desconfiava que um mosquito fosse o causador da epidemia, até que em 1903, o presidente Rodrigues Alves, nomeou um jovem médico para ser o chefe da Diretoria-Geral da Saúde Pública. Ele chamava-se Osvaldo Cruz. Contrariando as ideias da época, de que os “males do ar”, daí o nome malária, seriam os causadores da febre,  começou-se a combater o mosquito Aedes.

Foi criado um exército de mata-mosquitos, que saíram espalhando querosene nos pântanos, nos bueiros, nas águas paradas, revirando tonéis, garrafas, vasos, cobrindo até casas, que eram focos do Aedes com grandes mosquiteiros, demoliam casas, aterravam charcos, carroças, puxadas a burros, espalhavam o fumacê.  Formou-se uma oposição raivosa contra Osvaldo Cruz, e os cariocas o odiavam.

Seis anos depois a febre amarela foi erradicada. Pela primeira vez, transcorreu um ano sem o registro de um só caso. Antes, mais de 500 pessoas morriam a cada ano vitimadas pela febre.

Em 1911, quando o Rio estava saneado e o Prefeito Pereira Passos havia criado na então capital da República, um  certo ar parisiense, a escritora francesa Catulle-Mendés, chegou à cidade, ficou fascinada com a natureza tropical e escreveu um livro:  “A Cidade Maravilhosa”. Desde então, a cidade passou a ser assim conhecida.

Mas, em 1923, ressurgiram os casos de Dengue. As pessoas lembravam-se então do que fizera o médico Osvaldo Cruz, nome que já era pronunciado com muito respeito. Mas ele já havia falecido antes, muito cedo, aos 47 anos.

Desde então, a luta contra o mosquito (que não pode derrotar um país) tem sido recorrentemente perdida.

Por conta desse fracasso temos agora o verão da chicungunha.

Em Aracaju, onde a dengue causou estragos, agora, com a Prefeitura destroçada e inerme, o combate ao Aedes Egipyti  foi quase esquecido. Nas ruas há muito não circulam os fumacês e o lixo espalhou-se pela cidade.

Não há dúvida, diante do mosquitinho Aedes Egypti há muito tempo, o Brasil já é um país derrotado.
E para piorar, ocupa agora o Ministério da Saúde o mais incompetente, insensível e derrotista Ministro que por lá já passou. Alguém sabe o nome dele?

NOMES NOVOS NA POLÍTICA?

Anunciam-se nomes novos na política sergipana. Agora, prestigiadíssimo por tantas presenças ilustres, assinaram suas adesões ao Partido Progressista, o PP, o megaempresário, engenheiro Luciano Barreto, o seu neto Wagner Junior e o advogado Pedrinho Barreto. A sigla não chega a representar alguma coisa, porque, como todas as demais desses nossos partidos, são tão numerosas e tão iguais. O PP, no plano nacional, é um dos mais envolvidos na Lava Jato. Aqui em Sergipe, contudo, não há nada que o desmereça sob a direção sensata do deputado Venâncio Fonseca.

Percorre o país um errado sentimento de que a presença de empresários na cena política, seria a melhor forma de arejá-la, exatamente, porque chegam para gerenciar e desprezariam a política. Maldizendo da política chegaram ao poder nas últimas eleições empresários, como é o caso do bem maquiado manequim de grife, João Dória.

Há, nisso tudo, também um viés elitizante, depois das traquinagens cometidas pela companheirada. Isso não é salutar para uma democracia que necessita de fórmulas arrojadas e despreconceituosas, que se apliquem a uma realidade social trágica e que precisa ser urgentemente transformada. Tudo precisa ser feito com muito mais gerenciamento e politica, do que em obediência a modelos estáticos de visões ideológicas inaplicáveis, que ousam se apropriar da verdade.

Nesse sentido, a presença da juventude e de empresários com a visão larga de um Luciano Barreto, é um dado positivo, sem deixar de lado a constatação de que, numa sociedade dividida em estratos diferentes e hierarquizados, como a nossa, as ideias centrais são quase exclusivas dos grupos que de fato a controlam. Ao político, desde que livre do ranço da direita extremadamente conservadora e elitista, ou da esquerda radical de armas na mão, cabe, a tarefa primorosa de buscar caminhos práticos, pragmáticos, para que se chegue a resultados, reais, concretos e transformadores.

O empresário Ricardo Franco anuncia também a próxima filiação a um novo partido. Poderá ser nome forte para a disputa pelo Senado Federal, principalmente, se figurar na mesma chapa de Jackson Barreto, que, segundo tudo faz crer, deixará o governo com Belivaldo, que seria candidato a governador, enquanto ele disputaria o Senado. Com uma ampla coligação, a conquista das duas vagas não seria excesso de otimismo.
Um fato a ser observado: todas as principais correntes políticas de Sergipe estavam presentes na filiação de Luciano Barreto, seu neto Wagner Junior, e o advogado Pedrinho Barreto.

A FPI, FISCALIZAÇÃO PUNITIVA IMPRUDENTE?

Encerro aqui as observações que faço sobre a operação comandada pelos Ministérios Públicos, (Fiscalização Preventiva Integrada) em municípios sanfranciscanos de Sergipe, Alagoas e Bahia.

Como afirmei no segundo comentário, especificamente voltado para a analise da Nota publicada pelos MPs, sobre as considerações que anteriormente fizera a respeito das ações desenvolvidas, que me pareceram autoritárias e na sua maior parte insensatas, reafirmo, que não me move nenhum sentimento de duvida a respeito das boas intenções dos Procuradores e Promotores, apenas, como velho caminheiro das trilhas sertanejas, sem nenhuma pretensão, acreditando-se possuidor de alguma modesta experiência com as coisas das caatingas, da sua gente e dos seus bichos, senti-me obrigado, pelo impulso de sobrevivente comunicador, e resiliente cidadão, de construir observações criticas, ou propositivas, em face  do que foi  anunciado como ações em defesa da sobrevivência do nosso fraquejante Velho Chico.

Para mudar a sociedade não creio na eficácia das ações repressivas, embora, nos anos utópicos da juventude, tenha imaginado que a revolução pela via armada seria a receita precisa para corrigir desigualdades e injustiças. Atravessando a fase derradeira da idade da razão, busco, tão somente, alcançar a média virtuosa do bom senso. Nada mais.

Acredito em ações educativas, continuadas, em exemplos, no convencimento. Lembro o que foi feito em relação ao tabagismo. Tudo começou com a campanha do senador Lourival Baptista, que na época, (anos 70) foi até ridicularizado. Os viciados fumantes, caíram hoje a menos da metade. Fumar se tornou um hábito socialmente repelido.

Lembro, ainda, o que se fez em relação ao combate à poliomielite, ao esclarecimento sobre o HIV, ao uso do cinto de segurança, agora, aos faróis acesos nas rodovias, ao uso das faixas de pedestres, em cidades como Brasília, à reciclagem de latinhas e plásticos e tantas coisas mais. Tudo resultado de esclarecimento, convencimento e educação.

Evidentemente, ser chamado de “caluniador” ainda mais por uma instituição como o MP, me surpreendeu, sem, contudo, me considerar vítima de ofensa, até mesmo, por entendê-la descabida.

Talvez, numa noite sertaneja, como aquela que inspirou Catulo da Paixão Cearense, os senhores procuradores, ouvindo a maviosidade de Maria Callas, em Casta Diva, a sanfona preciosa de Valtinho, deificando a Asa Branca, Luiz Gonzaga na lamúria do Assum Preto, cego e engaiolado, talvez, repito, os senhores procuradores, sem duvidas pessoas cultas, sensíveis, descobrissem que a alma catingueira, que é também universal, como Tolstoi lembrou a respeito da aldeia, abrangendo o mundo, não lhes permitiria apoiar ações como aquela. das pessoas até armadas, que levaram o papagaio de Dona Lourdes de Correia, em Poço Redondo, desprezando o choro convulsivo da dona, os gritos desesperados do louro,  deixando  à força a morada onde vivera por 18 anos. Dizem, que o papagaio depois morreu.

Esqueçamos o papagaio, passemos, então, ao enorme prejuízo material causado pela FPI.

Foi fechado, no lado alagoano, o Castanho em Delmiro Gouveia, primoroso local de lazer à beira do rio, rodeado de caatingas imensas. É o resultado do trabalho, do esforço, dos riscos corridos pelo empresário Elizeu. Ele postou um comentário na internet, falando sobre o desespero de uma região assolada por uma seca de seis anos, que tinha, contudo, esperança no turismo. Uma liminar da 14ª. Vara Federal, carregada de bom senso, já autorizou a reabertura imediata do Castanho.

Foram fechados, também, O Show da Natureza, em Olho D’Água do Casado, a Fazenda Monte Cristo, o Lampião, em Piranhas, que funcionava há 40 anos e o Bitinha. Esses permanecem fechados, porque os donos não têm recursos para contratar advogados. O Show da Natureza é um local agradável, arborizado, construído por um Sem Terra, que viveu dois anos debaixo da lona preta de um barraco, numa ocupação mal sucedida.

Foram interditados os dois atracadouros em Piranhas, de onde partiam as lanchas para os passeios turísticos. Eram autorizados pela Marinha, mas isso não foi levado em consideração. Os atracadouros em Piranhas já estão liberados por outra liminar carregada de bom senso, originária da 14ª. Vara Federal em Maceió.

A interdição de todo o Cânion de Xingó, onde, por ano, passam mais de 150 mil turistas, causou um prejuízo irreparável. Foram cancelados pacotes já vendidos para a alta estação que já começou. Empresas de turismo que trabalham o destino Cânion de Xingó, foram em  busca de outras alternativas e a Fiscalização,  que preferimos chamar de Punitiva e Insensata, só nesse setor vital para a região, que é o turismo,  fez o inverso do que se pretenderia, havendo bom senso: desempregou mais de 500 pessoas, causou ainda, uma queda no turismo com um número de desempregados ainda não avaliado, que perdurará por todo este ano, até que se faça um trabalho continuado de recuperação da imagem que custará muito dinheiro.

As empresas M. Tur e Nozes Tur, as maiores operadoras da região, estão ainda contabilizando os prejuízos.

Nessa quarta, dia 28, começa a funcionar a Orla de Canindé. É um equipamento turístico de primeira linha, construído pelo Governo do Estado com a participação da Prefeitura.  As pessoas podem ir visitá-la, utilizarem também uma das escunas, dos catamarãs, das lanchas, de um iate, de um helicóptero, para conhecerem ou voltarem a ver o Cânion de Xingó. Não há mais interdições, apenas, menos locais abertos aos turistas, porque alguns bares e restaurantes do lado alagoano, ainda permanecem lacrados.

A noite em Piranhas continua linda e movimentada, depois de 15 dias sofrendo as consequências da FPI.

A SAÚDE E AS PIRÂMIDES

Quando Secretário da Saúde, o ex-deputado Rogério Carvalho deve ter incorporado o espírito megalômano de algum faraó e em vez de hospitais construiu pirâmides ou elefantes brancos. Fez coisas claramente superdimensionadas, como a ampliação de um hospital em Glória, um outro em Canindé, mais outros por locais diversos. Semana passada Jackson Barreto incluiu Glória, Porto da Folha e Poço Redondo nas visitas semanais que faz ao interior, para levar apoio à Associações, à Prefeituras, com recursos do FIDA, para gerar cadeias produtivas, ou dinheiro do PRODETUR para obras turísticas. Deu ordem de serviço para a Orla de Curralinho, algo que estimula o turismo das pessoas com baixo nível de renda e foi ver de perto o problemático hospital em Glória.

Os hospitais do estado estão abarrotados de pacientes, porque a prefeitura de Aracaju fechou 36 postos de saúde e dois hospitais. Prefeituras do interior, depois da eleição desativaram postos. No hospital de Glória, JB ouviu um relatório conciso e técnico da Secretaria Maria da Conceição Mendonça. Ela, que surpreende pela capacidade de enxergar com clareza os problemas da saúde, não fez críticas a ninguém, mas demonstrou que as dependências do hospital gloriense  não podem ser todas ocupadas e assim, ficam sendo gastas ao tempo. Garantiu que haverá manutenção permanente para que não se deteriorem. Mas isso exigirá recursos para garantir intacta a “pirâmide”, que um dia, poderá servir, quando o estado dispuser de recursos fartos, o que hoje parece ser uma perspectiva distante.

O “faraó” Rogério parece que responde a algumas ações na Justiça por conta dessas “pirâmides”. Mas ele resiste, e não se transformou ainda em múmia.

Voltar