O presidente eleito Jair Bolsonaro, esteve bem próximo de fazer de um respeitado professor brasileiro, o próximo ministro da educação. Mozart Ramos, ex-Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, ex-Secretário da Educação daquele estado, teria um diálogo mais fácil com todos os setores acadêmicos, com o mundo que forma a educação pública brasileira. O nome do quase indicado foi bem recebido, por se tratar de alguém com vasta experiência, e demonstrar sensatez e equilíbrio ao longo de todos os períodos em que exerceu cargos públicos. Demonstrou muita eficiência, capacidade de gerenciamento e visão modernizadora como executivo do Instituto Ayrton Senna, que tem sido importante ferramenta de apoio para a eficiência e modernização do sistema educacional brasileiro.
O que assusta é o desfecho do episódio, com a interferência de forma grosseira da liderança do grupo que se intitula ¨bancada evangélica¨, embora não chegue a representar a totalidade das igrejas Luteranas, mormente aquelas mais antigas, que se apuram na formação não só teológica dos seus pastores, mas, deles exigem um lastro intelectual consistente, um procedimento não comprometido com ações patrimonialistas, que lançam dúvidas sobre a missão elevada que deveriam desempenhar. Essas correntes Luteranas pioneiras, não se caracterizam pela ostensiva presença político-eleitoral, com o objetivo claro de formar suporte político para ter influencia sempre maior sobre os poderes da República.
O evangelho e a catequese, terminam por misturar-se com o profano de um cotidiano voltado prioritariamente à conquista de votos, e recursos financeiros.
Assim, a ênfase que dão a aspectos dos costumes, tem um viés de dominação das mentes, por um processo que tanto é eficaz para o afastamento das drogas, como pelo despertar da capacidade empreendedora de cada fiel, da mesma forma, a criação de um elo, um sentimento da presença de Deus em suas vidas, o que mais fortemente entre as camadas menos escolarizadas da população, faz com que desperte um sentimento de proteção e confiança, e uma obediência às orientações dos pastores, inclusive, traçando a escolha dos merecedores do voto da comunidade.
Deve-se reconhecer, todavia, que a participação dessas confissões religiosas do ponto de vista social, resulta benéfica. Enquanto a sua posição no Congresso Nacional, particularmente na Câmara dos Deputados, algumas vezes chega a ser peçonhenta, tal a carga de preconceitos e desconexão com a realidade, que chegam a demonstrar.
A invasão que fez a chamada bancada evangélica sobre a prerrogativa de independência que o presidente eleito tanto acentuou, marcou uma preponderância nada republicana, que teria de ser evitada, e, em última análise, é desgastante para um candidato que se elegeu dando a garantia de que não faria barganhas de natureza partidária.
Em alguns aspectos a característica da bancada é nitidamente obscurantista, quando nega a evidencia científica, e insiste em levar à Escola Pública o pensamento Criacionista, aquele que toma como verdade bíblica inquestionável a existência de Adão e Eva , da Serpente, da Maçã, e da retirada da costela de Adão para que dela Deus criasse a mulher, ou seja, a própria metáfora da inferioridade a que submetem o sexo feminino.
No século passado, ainda na década dos quarenta, um cientista que era Padre, Pierre Teilhard de Chardin, publicou ‘O Fenômeno Humano’, livro cujas constatações sobre a pré-vida, a vida, o pensamento, a sobrevida, e o fenômeno cristão, aproximariam o pensamento católico à essência da teoria da evolução das espécies, formuladas por Charles Darwin.
O colombiano Ricardo Velez Rodrigues, indicado para o Ministério da Educação tem muitos títulos, uma vasta bagagem de conhecimentos, e reduzida presença acadêmica, até porque lhe repugna conviver com aqueles dos quais diverge ideologicamente.
Em 'A Inveção do Saber', livro seminal, o grande intelectual brasileiro Gerardo de Melo Mourão, ironiza a presunção dos que identificam o saber que possuem com a própria expressão única da Verdade. E esse é o caso típico de Don Velez Rodrigues, que anuncia para a Educação brasileira um tempo tumultuado de patrulhamento ideológico, sugerindo uma espécie de policiamento dos discentes e docentes, ou seja, o dedo-durismo nas Universidades e escolas. Tanto falamos mal da ditadura cubana, e agora terminamos por importar o seu pior exemplo, aqueles outdoors imensos, talvez agora não mais existentes, mas que estavam por todos os cantos do país, exibindo a frase aterradora: ¨Sea los ojos e los oídos de la Revolucion¨. Em suma, denuncie, o seu colega, o seu vizinho, o seu pai, o irmão, a própria mãe, caso eles não sejam ¨fieis à Revolução¨.
Don Velez Rodrigues, que deve detestar seu grande e imortal patrício, Gabriel Garcia Márquez, parece, ele mesmo, a expressão antiga, decadente, soturna e triste da própria vida que Gabo, tão bem caracterizou em O Outono do Patriarca.
Depois da conquista do Ministério da Educação, os padrinhos de Don Velez, um filósofo, Olavo de Carvalho, e um Pastor, Silas Malafaia, vão querer levar à escola, um Tratado de Intolerância e um Evangelho da Mesquinhez.