Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
Uma barragem para salvar o Velho Chico
21/04/2017
Uma barragem para salvar o Velho Chico

Já tratamos do tema: a barragem de foz para o rio São Francisco.  Voltamos a abordá-lo diante da evidência apavorante de que o oceano avança sobre o rio. Como não se sabe até aonde a água salgada avançará, existe o temor de que a salinidade chegue até o Platô de Neópolis, depois, ao Projeto Betume, da CODEVASF, onde se produz arroz, e alcance a praia do velho Chico em Telha, ao sistema de captação da água transportada pela adutora Propriá–Aracaju. Sem ela a capital teria, comprometidos, 70% do seu suprimento. Isso afetaria o sistema Petrobras, e a Grande Aracaju, incluindo Distritos Industriais.

Especialistas no assunto consideram que o projeto é necessário, admitem que é uma complexa obra de engenharia, que exigirá tempo para estudos envolvendo  os problemas técnicos, e terá de percorrer um longo caminho para a liberação ambiental. As considerações de ordem econômica terão de levar em conta o somatório das catastróficas consequências para Sergipe e Alagoas, resultantes da degradação completa do trecho baixo do rio, antes do seu encontro com o mar.

A barragem seria, imaginam os técnicos, um vistoso paredão de concreto em forma de semicírculo, unindo os lados sergipano e alagoano.  Evitaria o avanço do mar, seguraria uma maior quantidade de água no trecho da foz até a hidrelétrica de Xingó. O nível do rio subiria algo não superior a dois metros, o que criaria um volume seguro e permanente de água para abastecer cidades e viabilizar alguns projetos de irrigação.
A barragem, além do seu papel precípuo de segurar em um lado o mar, no outro o rio, poderia servir como ponte para o tráfego de veículos ou trens, numa pista superior, sobre a passagem da vazão controlada do rio.

Esse volume de água, se canalizado, levado por gravidade até um ponto em que acionasse turbinas, antes de misturar-se com o mar, poderia gerar energia elétrica, embora com capacidade muito limitada, como aqui, em comentário semelhante que fizemos, lembrou o engenheiro elétrico e diretor da SULGIPE, Ivan Leite. Outros especialistas vêm melhor possibilidade se ao longo da barragem fossem instaladas torres de aerogeradores, beneficiando-se com a constância dos ventos naquele local. Tudo isso abriria espaços para uma Parceria Público Privada, incluindo-se, também, o pedágio do tráfego de veículos sobre a barragem, que seria uma nova ponte interligando Sergipe-Alagoas, assim valorizando ainda mais a rodovia litorânea em construção, ligando Pirambu a Brejo Grande.

O que é preciso, urgentemente, e custa a crer que ainda não tenha sido feito pela CHESF, CODEVASF, ou outro órgão qualquer, é determinar o ponto ao longo do leito do rio, acima do nível do mar, onde a invasão das águas salinas começaria a perder força. Sabendo-se que o desnível do rio no seu ultimo trecho entre Canindé-Piranhas até a foz é de aproximadamente escassos 20 metros, isso, ao longo de mais de 200 quilômetros, haveria espaço para o avanço sempre maior do mar. A vazão continuará sendo diminuída, enquanto no enorme lago de Sobradinho não houver água num nível suficiente para garantir o funcionamento pleno das hidrelétricas.

A barragem de foz poderá ser vista como um devaneio fora da realidade do país, mas, a continuar a crise hídrica que atravessamos, a obra se tornará a única alternativa para impedir que o rio, ainda doce, se transforme numa imensa maré salgada. No povoado Curralinho um menino sertanejo que nunca viu o oceano, e não sabia o que era um sirí, pescou alguns deles na beira do rio, e depois, ligou para o pai que fora procurar trabalho na Barra dos Coqueiros e perguntou-lhe o que eram aqueles bichos azulados que pareciam uns pasteis muito duros, com garras e pernas. O pai, que é um sertanejo muito inteligente, imaginou o futuro: mangues surgindo ao longo das margens por dezenas de quilômetros a dentro de um rio que virou maré.

Como diria o ex-deputado e ex-prefeito de Simão Dias Zé Valadares: “uma tragédia”.

A PETROBRÁS NA VISÃO DOS QUE PERDERAM EMPREGOS

Os trabalhadores da PETROBRAS eram extremamente orgulhosos da sua empresa. Defendiam a petroleira, condenavam tudo o que parecesse uma investida contra o monopólio da extração do óleo e gás, defendiam a tese de que a empresa deveria ser a única a explorar o pré-sal , enfim, entendiam que crescendo a empresa, ampliando sua atuação, eles seriam beneficiários dos lucros sempre maiores. Os sindicatos dos trabalhadores intransigentes na defesa do monopólio, ergueram barricadas nas imediações dos locais onde se realizavam os leilões para a concessão de campos marítimos.

Na Região de Produção Sergipe-Alagoas, os desempregados pela estatal, hoje em crise aguda de falta de recursos e também de credibilidade, já se aproximam dos três mil. O presidente da empresa Pedro Parente, assegura que a PETROBRAS apenas está sendo enxugada, que havia gastos em excesso, também, uma gestão descompromissada com a ética, com o futuro da empresa. Além das manipulações de ordem política que desafiavam a lógica do mercado.

Entre os trabalhadores que restam, e os que estão de mãos abanando, há agora diferentes versões sobre a crise da empresa, e, principalmente, sobre a estratégia adotada para a recuperação. Uns, mostram-se revoltados com o que consideram proposital empenho em desnacionalizar a estatal e permitir que grupos estrangeiros se apossem tanto das jazidas, como de partes, ou do conjunto completo da empresa, que já esteve entre as cinco maiores petroleiras do mundo.

Para os que assim pensam a PETROBRAS deveria assegurar a posse de todos os grandes campos marítimos, e ampliar, com exclusividade, sua presença em águas profundas, e nunca desfazer-se de ativos, sejam eles nas áreas de distribuição, petroquímica ou fertilizantes. Não sabem, exatamente, como isso poderá ser feito, entendendo que o papel desempenhado pelo presidente Pedro Parente é o de um liquidante, que tem pressa em completar a tarefa, e lembram que ele já dirigiu a Petrobras no governo FHC, quando ensaiou trocar o nome dela para PETROMAX, porque seria mais  palatável aos gringos.

Já entre aqueles postos no olho da rua, o sentimento parece ser outro. Consideram que a PETROBRAS não conseguirá recuperar-se tão cedo, precisam trabalhar, e até se mostram decepcionados com a decisão do Juiz Federal que proibiu a venda para uma empresa estrangeira de um campo na área marítima em Sergipe. Entendem que se houvesse presença maior de empresas nacionais ou estrangeiras, dividindo com a Petrobras a exploração dos campos do pré-sal, haveria maiores chances de voltarem a trabalhar.

AMOROSA  RECOMEÇA SEUS TRINADOS

Os que, há coisa de uns trinta anos frequentavam as movimentadas noites de fim de semana no Vaqueiro, depois Tropeiro, um restaurante na Atalaia no local onde instalou-se agora o Mac Donald, lembram-se, muito bem, e com uma certa nostalgia daquela voz marcante, daquela presença cênica que tanto se destacava. Era Amorosa, uma quase menina cantora, iniciando a carreira artística que a levou a percorrer o Brasil, a apresentar-se na Áustria, na Alemanha.

Depois Amorosa, mística, resolveu afastar-se dos palcos, fez experiências, escreveu livros. Agora a boa noticia: volta a soltar os seus trinados, que refletem a alma, o sentir nordestino.

Retorna com empresário de peso, que a fez exclusiva. Ele é Paulo Tear, que tem na sua agenda, entre outros, Paula Fernandes, e Leonardo.  Em Campina Grande Amorosa recebeu o Troféu Gonzagão, dedicando-o a Marinêz, a cantora paraibana que tanto a influenciou ao iniciar-se nos palcos.

AS CHUVAS E A ESPERANÇA

Choveu. Exato como previra o nosso homem do tempo, Overland Amaral, as águas desabaram mais fortes no litoral, e espalharam-se pelo agreste, pelo sertão, mais intensas em alguns pontos, quase nulas em outros, como em Porto da Folha, Gararú, em partes de Monte Alegre, Gloria, Poço Redondo. Mas a chegada dessa chuva, em abril, denota, segundo ainda Overland, que o inverno existirá, haverá chuvas, todavia, um pouco abaixo da média. Excelente notícia para uma região saindo agora de seis anos continuados de solares invernos. Já se vêm tratores preparando a terra na faina  resistente dos que produzem, apesar das adversidades.

Teremos, este ano, garantem os esperançosos, uma grande safra de milho, com a agricultura familiar e o agronegócio recuperando, para Sergipe, a posição de segundo produtor do nordeste, perdida ano passado, quando a seca não deixou vingar as espigas. Deverá haver recuperação dos laranjais, melhoria dos canaviais.

A indústria terá matéria prima para produzir o suco que é o nosso principal produto de exportação, e as usinas melhorarão as previsões sobre o que irão produzir de açúcar e álcool.  As chuvas criarão empregos imediatos, reduzirão as agruras do sertanejo, que depende de caminhões-pipa dos governos estadual e federal, alguns poucos dos municípios. Sem eles, nem água de beber haveria.

EDVALDO E OS PROBLEMAS QUE O CERCAM NA PMA

Eleito sem fazer as costumeiras promessas de campanha, apenas anunciando medidas para restabelecer o equilíbrio financeiro do município, Edvaldo Nogueira dedicou-se precisamente a isso. Reduziu gastos com pessoal, cortou cargos comissionados, limitou despesas, e ia levando com muita tranquilidade o barco, até que surgiu a tempestade causada pela sempre complicada relação entre prefeitura e empresas que tratam do lixo.

Depois das ações da Polícia e do Ministério Publico que culminaram com o afastamento do ex-deputado Mendonça Prado da direção da EMSURB, Edvaldo cumpriu a determinação e nomeou imediatamente para responder pela empresa o Procurador Geral do Município, o desembargador aposentado Netônio Machado, aquele, a quem sempre nos referimos, como “juiz exemplar juiz”. Sem desmerecer nem fazer precipitados pré-julgamentos de Mendonça Prado, um político que exerceu diversos cargos sem que sobre ele recaíssem suspeitas ou manchas, era necessário,  diante das circunstancias, que se fosse buscar um nome afastado da politica partidária, rigorosamente , ou se assim poderemos dizer, até exageradamente ético.

Haverá tensões, mas a presença de Netônio na EMSURB, é atestado de que se quer a busca da verdade.

Edvaldo não cancelou os projetos, não deixou de circular pela cidade, de dar explicações. Nesses primeiros cem dias, acentuam-se as cobranças, mas ele tem lembrado que a divida da PMA ultrapassa os 500 milhões de reais, e que encontrou ainda um acúmulo imenso de problemas. Ele tem tido cuidado para não parecer que estaria se dedicando a fazer criticas ao antecessor, ou a apontar erros, até porque vivemos uma crise e não há setor público que transite fora dos efeitos do drama nacional.

Coisas que Edvaldo diz estarem fora do alcance da sua vista, é a sua própria sucessão, ou, de uma forma mais ampla, também essas agonias que caracterizam a politica sergipana, recomeçando logo que termina uma eleição, já se pensando na próxima. Edvaldo acentua que é um homem comprometido com o grupo ao qual pertence, e segue uma cartilha de lealdade, que aprendeu a soletrar instado pelos pais na sua infância de pão-açucarense.

Assim, ele afirma que tem tempo integral para dedicar-se exclusivamente à administração, porque entende que a melhor forma de gerar confiança é produzindo efeitos práticos. Nesse caminho, ele quer ouvir cada vez mais, reunir quem possa pensar, sugerir, na busca de meios para driblar a crise, para usar a criatividade, e ir assim, sacrificadamente, até quando   puder ultrapassar as dificuldades do  dia a dia, e  colocar em prática projetos essenciais para a cidade.

Não deixa de reconhecer pedras inesperadas pelo caminho, como essa exacerbação do corporativismo da minoria dos médicos que se negam a receber o 13º salário, integral e sem juros, através do BANESE, exatamente como fez o governo do estado para não atrasar salários.  E permanecem numa alongada greve, que embora a maioria esteja trabalhando, não deixa de afetar os serviços de saúde, e prejudicar a população.

Edvaldo lembra que encontrou salários atrasados, e os colocou em dia, restando no caso dos médicos o 13 º, buscando-se então a solução via BANESE.

SALOMÉ É UMA LAGOA

Salomé é nome bíblico. Mulher com este nome esteve presente à crucificação de Cristo. O nome origina-se mais distantemente no aramaico, chegou ao hebraico, e aproximou-se do Shalom, paz, para significar aquela que faz a pacificação.

Do que tratamos aqui é da Salomé lagoa, em Cedro de São João. Os cedrenses são caprichosos em termos políticos. Durante o Estado Novo de Getúlio, puxa-sacos em Aracaju trocaram o nome do município para Darcilena, uma junção dos nomes de Darci a primeira dama da Ditadura, com Helena, a primeira dama da Interventoria estadual. Os cedrenses nunca se conformaram com o sabujismo.  Refeita a democracia, pediram o retorno ao antigo nome.

Capricham também os cedrenses na carne do sol e nas bolachas que produzem, mas, não revelaram o mesmo zelo em relação à sua lagoa. Foram descuidados devastadores das matas no seu entorno, permitiram que lá fossem lançados esgotos, e agora, como o Velho Chico não mais sai farto do seu leito nas cheias portentosas, a Salomé, castigada mais ainda pela longa estiagem, tornou-se uma várzea seca.

Ailton Rocha é um desses cedrenses caprichosos, que deixou a sua terra para estudar, para qualificar-se em universidades brasileiras e estrangeiras, e é hoje uma autoridade em recursos hídricos. Ailton denuncia e lamenta a sorte da lagoa onde, menino, pescou fartamente os bambás. Nas redes sociais Ailton lança: “O Grito da Salomé”.

A ele estamos, pois a propor parceria com o Instituto Vida Ativa para que se comece, ainda neste anunciado inverno, a recuperação da mata que anelava em verde toda a Salomé, protegendo-a .

SEIXAS DÓRIA, CEM ANOS

Seixas Dória embarcara num jato da VARIG indo ao Rio, ao seu lado estava o escrevinhador, com o mesmo destino.  Se tornaria assim, testemunha involuntária de um episódio que bem revelava como o “baixinho” crescia quando se imaginava  afrontado nas suas convicções de cidadão apegado ao senso de honra. Senta na terceira cadeira um  empreiteiro baiano que tinha obras em Sergipe, mas, diga-se de passagem, sem fama de  corruptor. Seixas era Secretario  das Obras Públicas.

Fora nomeado pelo governador Valadares, exatamente para que a Pasta tão vulnerável  à acusações, ficasse, pelo nome do seu titular, livre desses dissabores. O empreiteiro conhecia Dória, mas ele não o conhecia. Apresentou-se, e puxou conversa. Disse saber que o secretário tinha uma fazenda no sertão sergipano e perguntou-lhe qual o gado que ele criava. Doria respondeu com certo desdém, dizendo ser péssimo fazendeiro que herdara umas terras do pai, e lá tinha um pequeno rebanho, quase de pés-duros, sem nenhum apuro genético.

O empreiteiro sugeriu-lhe, então, que ele introduzisse alguns touros nelores para cruzar com as suas vaquinhas. Lembrou que era um criador premiado de gado Nelore,  e faria, no mês seguinte, um leilão numa das suas fazendas.  Convidou o ex-governador para comparecer ao leilão onde poderia escolher um gado de excelente qualidade.

Já estávamos no meio do trajeto até Salvador onde o empreiteiro desembarcaria, e felizmente, aliás, porque o “baixinho” empertigou-se no seu um metro e meio, retirou o cinto, ergueu-se, botou o dedo na cara do homem e disse curto e seco: ¨o senhor fique sabendo que eu  não compro de empreiteiro, nem vendo a empreiteiro. O homem engoliu seco, calou até a descida no aeroporto 2 de Julho. Saiu rápido e nem sequer despediu-se.

Este homem assim, que saiu preso do palácio na madrugada de 2 de abril de 64, recebeu, do poder injusto e ilegítimo que o puniu com a prisão e suspensão dos seus direitos políticos, o atestado maior da sua honorabilidade: depois de tanto esmiuçar, depois de tanto remexerem, nada encontraram no governo que desabonasse moralmente o governador deposto. Só constataram o extremo cuidado com a coisa pública de um governador que nas idas ao Rio hospedava-se, para não gastar dinheiro do estado, no apartamento minúsculo, num mal cuidado edifício  na rua Toneleros, em Copacabana,  que  pertencia  a um amigo, Antônio Tavares.

Desse homem, sobre quem continuaremos escrevendo, comemora-se agora o centenário. Jackson, que foi do velho MDB, e amigo de Seixas, antecipou às homenagens, dando-lhe o nome a uma das maiores escolas em Aracaju, já inaugurada.

Nessa segunda, 24, haverá às 17h,  na AL,  uma homenagem a Seixas, que foi deputado estadual. A sessão será conjunta com a Academia Sergipana de Letras.  Seixas era acadêmico. Os presidentes da Assembleia, Luciano Bispo e da Academia, José Anderson Nascimento convidando para a sessão especial e solene.

UM MÉDICO LEMBRADO

Osvaldo Souza fez parte daquela geração de médicos sergipanos, que mantinham firme o juramento de Esculápio, e cultivavam um permanente sentimento humanista que os fazia tantas vezes, clinicar sem receberem remuneração. Médicos assim como Augusto Cezar Leite, Lauro Porto, Jose Machado de Souza, Clóvis Conceição, João Firpo, Juliano Simões, e tantos outros, que formam a galeria de honra da nossa medicina.

O centenário de Osvaldo Souza foi comemorado pela Academia Sergipana de Medicina, pela família e amigos. Foi uma solenidade carinhosa à qual se dedicou o presidente da academia Paulo Amado, junto com a sua diretoria. Falou sobre o homenageado o médico Roberto Cézar do Prado.

Aracaju terá alguma rua com o nome de Osvaldo Souza?

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