Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
Os trintas e três uruguaios e as nossas humilhações
07/01/2017
Os trintas e três uruguaios e as nossas humilhações

Treinta y Tres é a cidade uruguaia cujo nome resulta da evocação a uma suposta batalha contra o Exército brasileiro. Numa das praças públicas daquela cidade há, ou havia, uma placa colada a um monumento comemorativo, onde, em espanhol, estava escrito mais ou menos isso: Aqui, trinta e três bravos uruguaios derrotaram o exército brasileiro.

Naquele local nunca o exército brasileiro combateu, muito menos foi derrotado. Houve insucessos militares na antiga Província Cisplatina, mas, nada semelhante a um revés assim tão arrasador.

A peleja contra os trinta e três bravos uruguaios foi travada por campeadores gaúchos que costumavam invadir a “banda oriental” para saquear e por à prova a sua têmpera guerreira. Os 33 uruguaios os derrotaram, mas, ficou perpetuado na Praça um inexistente episódio que, se verdadeiro, seria uma humilhação permanente para o exército de um país imenso vencido por apenas 33 combatentes estrangeiros. Dessa humilhação a história verdadeira nos salva.

Infelizmente, esse país, “gigante pela própria natureza”, como canta o nosso hino ufanista, tem sido ao longo do tempo humilhado, reduzido à condição degradante de terra devastada pela incompetência, pela degradação moral de uma elite peculatária, em virtude da ausência de responsabilidade pública, da irresponsabilidade social e, sobretudo, pelo conformismo desfibrado da sociedade diante das mazelas acumuladas ao longo do tempo.

Agora, o avanço das facções criminosas se faz cada vez mais ousado, na medida em que se revela a ineficácia do aparelho de segurança.

No Rio e São Paulo surgiam nos anos cinquenta jornais sensacionalistas especializados em noticias policiais. Dizia-se que, se espremidos, esses jornais escorreriam sangue. O DIA era, entre os sensacionalistas, o que alcançava maior tiragem.  Jornal popular, preferido pela população de baixa escolaridade, para manter sua rotina de sangue era preciso encontrar, a cada edição, uma manchete espetaculosa, e isso desafiava a criatividade do editor da primeira página que tinha de escolher o crime mais cruel, o episódio mais bizarro, para usá-lo como chamariz infalível de leitores.

O DIA estampou a manchete “DEDO DO PAPA ESTÁ PODRE” numa página interior, a curta notícia sobre uma unha encravada num dos dedos do pé do Sumo Pontífice.

Hoje, se dispensam os jornalistas hábeis na feitura de manchetes impactantes. Há um recorrente show de sangue, cada vez mais bizarro, mais revelador de uma doença social epidêmica, que, infelizmente, incorporou-se ao nosso cotidiano. A noticia, apenas valorizada por um jornalismo de terceira categoria, ocupa, hoje, os espaços nobres da televisão, as principais páginas dos jornais mais conservadores e sisudos.

Vez por outra, um episódio que ultrapassa os limites absurdos da anormalidade, desperta o sentimento de que é necessário reagir, é urgente encontrar uma fórmula eficiente, capaz de evitar que a estrutura do Estado seja desmontada pelo crime. Algo assim como a mortandade na Penitenciária de Manaus, gera um passageiro clima de indignação, as autoridades se exibem, falantes, prometendo ações imediatas. Depois, tudo fica esquecido, até a próxima tragédia, ou “acidente”, o termo usado pelo presidente Temer para definir a carnificina manauara. Parece contudo que dessa vez se montará um projeto de segurança pública, que se transformará em meta permanente do Estado.

No exterior a imagem do Brasil se deteriora, afundando na humilhante situação de um país onde a criminalidade está fora de controle até dentro das Penitenciárias.

As facções criminosas estão humilhando e desmoralizando as instituições, amedrontando a população, ampliando o desastre econômico, porque nenhum empreendedor responsável e realista virá investir num país onde não se consegue, sequer, evitar que celulares e armas entrem nas cadeias. Um governador, como esse idiotizado do Amazonas, diz, a propósito da rebelião e do massacre: “Ali não havia santos”.

Onde estão mesmo os “santos” deste país? Parece que eles, como esse governador amazonense, formam, na realidade, uma perigosa facção colocada, pelo voto livre nos nichos insensíveis do Poder inerme e onde o povo os identifica, iguaizinhos aqueles que trucidam, degolam, matam e morrem, em presídios como o Anísio Jobim, do Amazonas, onde o governador, que aparenta ser idiota, terceiriza um bagunçado sistema penitenciário, pagando por cada preso quase três vezes  mais do que a média nos demais presídios brasileiros.

O MAR AVANÇA E O VELHO CHICO RECUA (2)

A CHESF já anuncia uma nova redução na descarga do São Francisco. Poderá agora ficar abaixo dos 700 m³/seg e, aí, a salinidade avança. O Governo Federal anuncia agora um programa de ação para revitalizar o rio, já denominado de Novo Chico, na eufórica propaganda oficial. As ações são abrangentes, alcançam todas as áreas onde será imprescindível atuar. Os propósitos são ambiciosos, indo, desde a conscientização da população ribeirinha sobre as questões ambientais, até o completo tratamento dos esgotos, a dragagem de áreas assoreadas para possibilitar outra vez a navegação, a reconstituição da mata ciliar do rio e seus afluentes, o reflorestamento de vastas áreas da bacia hidrográfica, o restabelecimento do potencial pesqueiro do Velho Chico, certamente, nesse caso, sem que voltem a ficar inundadas as várzeas do trecho baixo do rio e as águas continuem pobres de nutrientes, os cardumes não serão multiplicados, por mais que se intensifiquem os peixamentos. O projeto Novo Chico (foi muita ousadia denominá-lo assim) tem mais um elenco de providencias que, no papel, são virtuosas, todavia, na prática, resta esperar com boa vontade, que elas realmente se concretizem e produzam os efeitos colimados.

Sobre o que é mais urgente, o avanço da água salgada do mar e a redução continuada da descarga do rio, nada se anuncia ou promete.
Para sugerir ações e supervisionar o andamento até as metas fixadas, foi criado um comitê gestor da Bacia, que tem agora um formato mais amplo, nele sendo incluídos os governadores dos sete estados cortados pelo São Francisco e muito mais gente. Trata-se de um “conselhão” para ninguém botar defeito. Já se disse que quando não se quer concretizar ações, cria-se então um conselho. Tomara que os pessimistas a esse respeito estejam todos errados.

O simples fato de ter sido incluído entre os projetos prioritários do governo federal o caso do Velho Chico, é algo animador, mais ainda, porque os estados tornam-se protagonistas das ações.

Sergipe e Alagoas são os estados mais prejudicados com as alterações ocorridas no rio desde que começaram a instalar as hidrelétricas e acelerou-se o desmatamento, o castigado Velho Chico passou a ser o esgoto dos aglomerados urbanos que se expandiram em ambas as margens. A economia do baixo São Francisco onde a rizicultura predominava, quase entrou em colapso. Cidades, onde antes havia atividades industriais e comerciais florescentes, empobreceram e quase pararam no tempo. Hoje, no trecho derradeiro do rio entre Sergipe e Alagoas, só Delmiro Gouveia (AL) sinaliza alguma vitalidade econômica. Canindé (SE) e Piranhas (AL) beneficiam-se das atrações do Cânion e do lago Xingó e o empresário Manoel Foguete, quem primeiro ali dedicou-se a criar uma estrutura de turismo receptivo, onde nada existia, acredita que, se a crise econômica der uma aliviada, poderão chegar ao Polo Xingó, algo próximo aos 200 mil turistas. Essa cifra mostra que “a indústria sem chaminés” deve  ser parte importante na estratégia de desenvolvimento da bacia sanfranciscana.

Sergipe e Alagoas terão de procurar uma inclusão maior no leque de medidas anunciadas para o São Francisco. Isso será benéfico, se houver uma ação política coordenada, principalmente, no que diz respeito ao  recuo do rio e à invasão do mar.

VIM, VÍ E VOLTEI...

O Ministro da Saúde veio a Aracaju. Não se sabia exatamente o objetivo da visita tão anunciada nos sites do deputado André Moura e também dos senadores Eduardo Amorim e Valadares. Sergipe, um estado com escassa presença nas cúpulas brasilienses, até mesmo por uma certa mediocridade, que perpassa a maior parte dos nossos representantes na Câmara e Senado, torna-se vítima dos insanáveis complexos entre aqueles parlamentares cuja vaidade ultrapassa  largamente o  espaço de poder que imaginam ocupar.

Assim, a visita de um Ministro, por exemplo, dá ensejo a uma ansiosa e acirrada disputa para que surjam na mídia na condição exclusiva de anfitriões únicos e como a insistência é tanta, no decorrer da visita ficam, na verdade, a parecer palafreneiros da carruagem ministerial ou, na pior versão, “papagaios de pirata”, buscando o melhor ângulo para o foco das câmeras.

Isso se observou nitidamente durante a vilegiatura do ministro pelos hospitais de Aracaju, bastando observar a movimentação dos dois senadores, Eduardo e Valadares. Já o deputado André Moura, mais familiarizado ao foco dos holofotes, parece entender que o seu palco seria bem maior em Brasília.

Valadares, em especial, amargando sucessivas derrotas e amargurado com os revezes, procura compensar a decrepitude sergipana com a exibição da força que teria em Brasília, tanto assim, que acompanhava um Ministro. Como canta Juca Chaves: “A mediocridade é um fato consumado”. Já o senador Amorim torna-se mais comedido, refugiando-se na sua timidez e indo até aonde permite o fôlego da sua frágil desenvoltura, embora essa limitação, às vezes seja vista como simplicidade e isso lhe rende simpatias. Já o senador Valadares tem, ultimamente, se descurado dos ensinamentos do Cardeal Mazarin aos poderosos, para que, diante do povo, aparentem humildade e, aos mais poderosos, demonstrem submissão.

Mas então nesse clima aconteceu a visita do Ministro da Saúde. O governador Jackson Barreto desfilou o rosário das suas necessidades, falou sobre recursos no Ministério, que devem ser repassados a Sergipe. Tanto o deputado André Moura, como o senador Amorim, disseram a JB que procuravam ajudar Sergipe, apesar das divergências.

O senador Valadares guardou, no decorrer dos diálogos, uma providencial distância. Não quis cumprimentar Jackson, seu ex-aliado e padrinho político na eleição de 1986.

Após a sua rapinagem pelas Gálias, disse o vitorioso general romano Júlio Cezar: “Veni, Vidi, Vici”, ou seja: “Vim, Ví, Vencí”. O Ministro poderia ter dito numa paródia quebrada: “Vim, Ví e Voltei”.

O CIDADÃO WAGNER RIBEIRO

Dos poetas, costuma-se dizer, que são eles quase sempre uma gente em constante estado de crises existenciais. Talvez, o histórico de vida daqueles mais célebres tenha produzido essa caricatura que até descambou para o desdouro das avaliações irônicas, tais como: “Ah, fulano, ele é um poeta”. Os que perpetram essa insensata aleivosia, certamente não conhecem a alma dos poetas, desse gênero de humanos privilegiados, que têm o sonho como motriz do adejar constante pelo etéreo fluido, que só eles alcançam.

E o entendem. Wagner Ribeiro, o Helenista, sonhou e sempre sem pesadelos, esteve acordado para a realidade da vida, conseguindo estabelecer o diálogo virtuoso: sonho-realidade. Para isso os gregos apontariam o caminho da fusão racional do apolíneo-dionisíaco. Por ai se chega ao Olimpo das utopias.  Percorrendo essas sendas do humanismo, Wagner foi poeta, professor, jurista, cidadão, na acepção larga do termo. Apegou-se ao amor completo de Ivana, a esposa, de Wagner e Fernandinho, os filhos, ampliando esse sentimento aos irmãos e irmãs, como ele, fiéis aos exemplos de outro poeta-cidadão, José da Silva Ribeiro. Wagner conferiu espaço largo aos amigos, preferentemente, se fossem como ele: renitente descobridor do que guardam os livros.

Que pena, os poetas as vezes nos fazem derramar lágrimas. Assim, um outro poeta-cidadão, que agora se fez evangelizador diácono, José Lima, nessa dupla condição,  homenageou e abençoou o helenista. O presidente da Academia Sergipana de Letras Anderson Nascimento fez o necrológio de praxe.

O Ministro do TST, Augusto Cezar Leite de Carvalho jurista e intelectual que se revela poeta, fez um poema de despedida à altura do homenageado.

Um trecho: “Ontem o ví, em leito de Procusto a lhe tolher pés sempre andarilhos e a mente, e a sua visão de mundo e percebi um olhar, meu bom amigo, de quem enxerga o outro tão fecundo... Acho que há Deus e Ele o quer consigo.”

O EXEMPLO DE UMA DESPEDIDA

No clima de quase velório que se instalou na prefeitura de Aracaju, às vésperas da passagem de comando para Edvaldo Nogueira, nem foi notado que eram dias natalinos, de congraçamento e comemorações, aqueles que estavam sendo tão tristemente atravessados. Secretários esqueceram de despedir-se dos servidores, o prefeito João Alves sequer compareceu à cerimonia de transmissão de cargo para entregar a faixa de prefeito ao eleito, o que foi feito, elegantemente, pelo Vice José Carlos Machado.

Na procuradoria Geral do Município, contudo, o clima era diferente. Não havia choro nem ranger de dentes, completava-se um período de gestão e isso era encarado como etapa virtuosa da democracia. O procurador que saia, Carlos Pinna Júnior, depois de 4 anos à frente dos Procuradores, sem ser de carreira, conseguiu um excelente desempenho e sai cercado pela amizade e o respeito dos procuradores. Talvez por essa integração, a Procuradoria do Município foi bem sucedida em quase todas as demandas judiciais em que esteve envolvida. Pinna Júnior, com habilidade diplomática que é característica do seu pai, Conselheiro do TC, fez uma singela despedida e começou citando a escritora Mia Couto: “O bom caminho é haver volta. Para ida sem vinda, basta o tempo”.  E lembrou: “Faço agora o caminho da volta saindo pela mesma porta por onde entrei”.

QUANDO SECAM OS RIOS

O que parecia absolutamente improvável, está agora acontecendo. Secam os rios sergipanos, inclusive aqueles que correm nas áreas mais chuvosas do estado. O quadro que se torna real, vem há algum tempo sendo projetado, com o desenho de soluções possíveis pela Força Tarefa criada pelo governador para analisar a gestão dos recursos hídricos. A sede do município de Malhador estava á beira de um colapso no fornecimento de água. Secaram os rios Mata Verde e Cajueiro dos Veados.

Neles, há barragens para a irrigação. Surgiu um grave e aparentemente insanável conflito. Cuidou-se, então, de negociá-lo. Juntaram-se a Secretaria do Meio Ambiente, a DESO, a Casa Civil, a COHIDRO, a Defesa Civil, a ADEMA, a Secretaria da Agricultura e chegou-se, depois de amplo diálogo com a comunidade e os irrigantes, à uma boa solução. Aproveitando a consciência ecológica revelada, tanto pela população como pela Prefeitura do Município, foi lançado, em parceria com o Instituto Vida Ativa, um programa de recuperação das matas ciliares e arborização da sede e dos povoados.

UM MINISTRO TROGLODITA

O Ministro da Saúde, (como é o nome dele?) que esteve em Aracaju para visitar hospitais, caiu no desagrado completo dos repórteres que foram cobrir os itens da curta agenda por ele aqui cumprida. Alguns foram por ele até empurrados, quando se aproximavam tentando obter alguma declaração.

O ministro saiu daqui ganhando o apelido de “Troglodita Paranaense”.

FREI ENOQUE APAGA A LUZ DO PSB EM POÇO

Corre em Poço Redondo, de boca em boca, a informação, de que o ex-prefeito frei Enoque, forte liderança sertaneja, estaria trocando o PSB pelo PMDB. Já existiria até, data marcada de uma festiva filiação para quando março vier. Enoque se mantem calado, nem sequer faz comentários sobre o assunto, todavia, não confirma nem desmente a sua troca de siglas. O ex-prefeito por três vezes de Poço Redondo, segundo pessoas que com ele convivem, não teria ficado nada satisfeito quando o deputado Valadares Filho colocou  na chapa de Ivan Rosa, para figurar como Vice, o irmão da sua namorada, o empresário conhecido por Bijota.

O advogado Ivan Rosa é figadal adversário do frade e do seu grupo e a eles faz pesadas e públicas acusações. Enoque teria tentado, tanto com Valadares pai, o senador, como com Valadares Filho, o deputado federal, que eles levassem em conta que o PSB, estava enfrentando um adversário que não tinha chance de vencer, mas, Bijota lhe acrescentaria votos e, assim, venceria um terceiro candidato do PRB, o advogado Júnior Chagas, como de fato aconteceu, só que por uma vantagem de votos que não era nem de longe considerada possível. Depois da derrota fragorosa, o frei Enoque passou a indagar a sí mesmo qual seria a vantagem de permanecer num partido, de votar sempre nos seus candidatos e na hora que mais precisou de apoio, ter sido relegado a uma posição secundária.

Por conta de episódios idênticos a este, da defecção de frei Enoque, é que, tanto pai senador, como filho deputado, andam ultimamente muito nervosos e descarregando tudo nas costas daqueles que entendem, sejam os responsáveis pelos reveses que estão a amargar.

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