Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O assalto à República (entre Temer e Beira Mar)
01/07/2017
O assalto à República (entre Temer e Beira Mar)

Que república é esta, a nossa, brasileira?

Trata-se de uma República feita em frangalhos para que sobre ela ocorra  o assalto final, que acontece agora. Trágica e dolorosa situação essa que vivemos, e padecemos. Afinal, temos na chefia do governo da República um cidadão ou um gangster?

Forçoso é reconhecer que Michel Miguel Elias Temer Lulia está muito distante da figura de um "Homem de Estado", e muito mais próximo do que seria o gangster, modelo nacional, brasileiro, um Fernandinho Beira Mar, por exemplo.

Comparando-se o que agora  faz e  diz o cambaleante presidente e arrogante demolidor de valores morais, com aquela  cena patrocinada por  Beira Mar no Congresso Nacional, quando ali foi convocado a depor, (algo absurdo)  chega-se, tristemente, à constatação de que ambos têm o mesmo desprezo às leis e às instituições.

Em Beira Mar essa repugnância e afrontoso desafio ao modelo republicando do moderno Estado Democrático de Direito, a ninguém espantaria, pois afinal trata-se de um bandido notório, e o objetivo declarado das facções criminosas que ele, dentro de uma prisão lidera, é cometerem crimes com maior ousadia e amplitude, e corroerem, pela violência ou corrupção, as estruturas do Estado, e assim, trafegarem livres pela impunidade.

O que faz Beira Mar de dentro de uma Penitenciária de segurança máxima, desafiando os aparatos da segurança, assemelha-se, desgraçadamente, ao procedimento de Temer, com a diferença de que ele está, ao contrário do bandido preso, protegido pelos aparatos da segurança inerente ao elevado cargo que ocupa.

No Planalto entrou uma  quadrilha. Metade dos seus integrantes está, ou estava na cadeia.

Um "notório bandido" como Temer agora classifica o seu ex-parceiro, Joesley Batista entra num dos palácios da República, escondido nas trevas de uma noite fatídica para a dignidade de uma Nação, e trava com o Presidente um diálogo de mafiosos. Ali, consumava-se a desmoralização da Presidência, a mais vistosa das instituições republicanas.

O réu, Temer, nomeia dois ministros que iriam julgá-lo no Superior Tribunal  Eleitoral, onde ocorreu a farsa, que desmoralizaria por completo a instituição essencial para a lisura do nosso processo democrático, não fosse a virtuosa atuação de três dos seus integrantes, que foram votos vencidos.

Tentando desconstruir a contundência  da acusação do Procurador Geral da República, o senhor Temer não se defende, sai ao ataque,  inverte cinicamente os papeis. Torna-se acusador, e protege  a Confraria do Peculato ameaçada pela  Lava Jato.

Uma instituição republicana é afrontada   por um  presidente  que mente com cinismo e  desfaçatez, tal e qual um desses malandros que transitam pelo submundo da  marginalidade.

A Polícia Federal, uma das mais competentes e atuantes  ferramentas de ação do  Estado brasileiro, é publicamente desmoralizada pelo forjado parecer técnico de um farsante estipendiado pela Confraria do Peculato.

O que Beira Mar  tentou mas não conseguiu fazer, porque não tem a seu dispor o aparato estatal, e ainda não jantou com um Ministro do Supremo na véspera do dia em que seria julgado, consegue agora o senhor Temer, líder da facção que tomou  de assalto a República.

ATO INSITUCIONAL Nº 1 DA CONFRARIA DO PECULATO

No manhã do dia 13 de dezembro de 1968, o general presidente Costa e Silva hesitava, ameaçado de deposição pela "linha dura" militar, se não adotasse duras providências para conter o que era classificado como ameaça subversiva nas ruas. Ao passar a vista pelo rascunho datilografado que lhe foi apresentado, o general surpreendeu-se com a amplitude totalitária  do monstrengo  que teria de assinar, e indagou ao "jurista" que o redigira: "Medeiros, o meu vice, o doutor Pedro Aleixo, me diz que nós não temos legitimidade para fechar o Congresso, cassar ministros do Supremo, suspender o habeas corpus, fazer confisco sumário de bens".

O redator habitual de éditos  liberticidas, tranquilo, respondeu: "Presidente, as revoluções legitimam-se a si mesmas, e o senhor representa a revolução de 64".

Então, o Ato Institucional logo no preambulo explicava: ¨Tendo em vista que as revoluções vitoriosas legitimam- se a si  mesmas", e seguiam-se os parágrafos, cada um mais aterrorizante do Ato  que inaugurou  o pior regime discricionário da nossa história.

Editado o Ato,  surgiu a resistência, houve a tortura, houve o confronto armado, houve mortes, até quando o bom senso se refez, deu-se a anistia, a democracia reconstruiu-se em 1985. Talvez hoje a crise brasileira que se arrasta insolúvel há séculos, tenha chegado ao seu ponto culminante.

Sem proclamações ao som de hinos patrióticos, sem a retórica salvacionista e sem inimigos concretos identificáveis, já estamos sob o império  podre da Confraria do Peculato, que   exterminou   a cidadania, a honra e a dignidade da Nação.

Temer não sairá, a Confraria o protege. Os seus advogados e parceiros fazem parte  de tribunais conspurcados,  estão na FIESP, na FEBRABAN,  mais numerosos ainda nesse aviltado Congresso Nacional, onde ocorre o conluio desavergonhado, sob a forma  de presidencialismo-parlamentarista.

Breve, estarão soltos Eduardo Cunha, Paloci, Sérgio Cabral, Dirceu, e haverá  anistia para todos os peculatários. O gangster das alterosas já retorna empoado, como  um nobre da Confraria, às glorias do Senado.

A Confraria poderia então editar o seu Ato Institucional nº 1, com o seguinte preâmbulo: Tendo em vista que o peculato vitorioso,  a si mesmo legitima, fica estabelecido que, de agora por diante, o Estado brasileiro agirá pesadamente contra os ladrões de galinha, e batedores de carteira. Para eles será instituída a pena de morte. Nós,  fundadores da República do Peculato, assumimos, assim, o grave compromisso de devolver aos brasileiros a tranquilidade nas ruas¨.

O ministro Gilmar Mendes seria o jurista mais indicado para redigir o Ato Institucional nº1, que legitimaria a vitoriosa revolução da Confraria do Peculato.

Michel Temer o convidaria, e ele fá-lo-ia, com certeza.

A DEMOCRACIA SOBREVIVERÁ AO NOSSO NAUFRÁGIO MORAL?

Para os que abominam a democracia e andam inquietos a esperar tanques rodando pelo asfalto brasiliense  e indo apontar seus canhões ao Planalto, Congresso, e até ao STF, deve ser decepcionante observar que os militares nem se mexem, e nem piam, enquanto a crise se avoluma.

É óbvio que ditadura hoje é  algo improvável ou mesmo impossível. Com as redes sociais assegurando a mobilização da sociedade, o transito livre das opiniões, é impossível engaiolar o povo. Mas o desmoronar das instituições, as agonias de uma crise econômica sem precedentes, a desmoralização conjunta dos poderes,  paralela ao descrédito das organizações sociais, dos partidos políticos, das representações de classes, nos leva a um vazio perigoso, onde até a figura de salvadores da pátria já aparece na narrativa das expectativas da classe média e do povão.

Quando as pessoas  passam a acreditar em homens providenciais  e neles depositam a esperança de salvação do país, chegamos a um ponto extremo, onde, a depender do grau de contaminação, tudo poderá acontecer. É sempre bom lembrar que nem todos os ditadores chegaram ao poder pela força. Hitler, o mais sinistro e emblemático de todos eles, tornou-se Chanceler do Reich alemão após um pleito em que o seu partido nazista conseguiu maioria no Parlamento, e ele foi, conforme estabelecia a Constituição, indicado pelo presidente, o idoso e senil marechal Hindenburg, para formar o ministério e chefiar o governo.

Hitler foi o resultado fatídico do sofrimento e revolta do culto povo alemão. Entre nós, cresce um sentimento semelhante ao que levou os alemães  à escolha fatal.

Apesar da constatação espantosa de que apenas 7% dos brasileiros o apoiam,  Temer  não sai, e fica, à custa de manobras mafiosas. Teremos um percurso  tumultuado até as eleições de  2018.

Eufórica, a Confraria  aponta  sucessos na economia, mas aumentou  o desemprego  em mais de 20 %, são quase 14 milhões de  desempregados. A inflação é baixa, mas  gasolina subindo toda semana  lembra o desastre dos tempos de Sarney. A luz sobe agora em julho.

O quadro social se agrava, os empresários chegam ao limite da resistência, os trabalhadores vivem o tormento do dia a dia agravado pela falta de segurança, pelo caos urbano. No Rio, onde acontece um tiroteio de duas em duas horas, é vendido um aplicativo  que indica  os locais onde  há fuzilaria.  As facções criminosas que não usam gravata, e com as quais  parte da polícia se mistura, se ainda não paralisaram por completo o Rio, é por avaliarem que isso  causaria queda de receita.

A imagem do Brasil no exterior é a de um país em desintegração, afundado na amoralidade de instituições degeneradas. Mais de 40 mil brasileiros  saíram do país este ano em busca de oportunidades no exterior.  Nos  aproximamos  do êxodo que ocorre  na  Síria, devastada pela  longa guerra.

Qual o investidor que se arriscaria num cenário desses?

É  hora de instituições responsáveis,  ainda não desacreditadas, fazerem uma advertência pública à Confraria do Peculato, um alerta aos políticos, uma conclamação responsável à Nação, subscrita isoladamente, por entidades que ainda conservam um bom nível de avaliação, igrejas, forças armadas, a Maçonaria, clubes de serviço, a OAB a ABI, e  outras  não desmoralizadas pelo partidarismo caolho, e corrupção avassaladora. Uma palavra incisiva dos comandantes das três forças, não seria um daqueles pronunciamentos que antecediam golpes de Estado, mas exporia uma insatisfação com um estado de coisas, que põe em risco a democracia, e inferniza a vida de todos os brasileiros que não dispõem de um auxiliar da ¨mais estrita confiança¨ para ir buscar malas recheadas com 500 mil reais.

Ações grevistas  organizadas por entidades sindicais e movimentos sociais são inoportunas. A maioria da população enxerga essas  entidades com muita desconfiança, ou repulsa, e se sente prejudicada pela forçada interrupção na vida normal de quem trabalha.

FRIGORÍFICOS E MATADOUROS

Não é boa a qualidade da carne que consumimos. Nenhum alarme, apenas, a constatação de um cenário deficiente de abate dos animais e  fiscalização da carne. Tornar eficiente um sistema disseminado por vários municípios, onde precários matadouros das prefeituras, fazem o abate, é tarefa complicada. Esse modelo favorece a corrupção, e coloca obstáculos a uma fiscalização sanitária eficiente. Não raro, o que se arrecada com as taxas cobradas pelo abate  não chega aos cofres municipais.

Diversos matadouros  se encontram agora interditados por determinação do Ministério Público, mas não são poucos os prefeitos que insistem em manter os matadouros da mesma forma obsoleta e distante das normas sanitárias.

Há ainda o abate clandestino, aquele chamado  ¨na folhinha¨ que se faz em qualquer lugar fora da fiscalização sanitária e da cobrança dos impostos.

A carne que chega aos mercados açougues e supermercados de Aracaju, poderá ser proveniente de alguns abates clandestinos ou de matadouros que descumprem normas  sanitárias, mas a maior parte da carne vem de fora do estado ou do frigorifico Nutrial, instalado em Propriá.

Inaugurou-se em Itabaiana um  frigorifico em moldes modernos,  do grupo Maim. Os dois têm capacidade  para juntos, suprirem a demanda do estado. Mas há prefeitos que resistem, e preferem os  antiquados métodos.

Por que? Sé eles devem saber a resposta.

JOSÉ AMADO OU A VIRTUDE  POSSÍVEL

Jose Amado Nascimento morreu semana passada  aos cem anos de idade. É proeza ainda rara, apesar do aumento da longevidade. Proeza maior foi a própria vida, a biografia engrandecedora que o cidadão centenário construiu,  e que começou a fazê-la desde criança quando estudava à luz frágil de um candeeiro que tinha de ser mantido afastado das paredes e do teto de palha do casebre onde nasceu em Aracaju. Da estirpe dos Amado pobres, entre os outros classe média ou ricos, o menino do candeeiro tornou-se um entre os Amado mais abastados de talento, inteligência e capacidade criadora.

Foi jurista, professor, poeta, escritor, filósofo, jornalista, teólogo, contador e analista de contas públicas, fervoroso católico e exemplo de vida cristã. Nesses dias soturnos de desconstrução moral da nacionalidade, o exemplo de Jose Amado como Conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe, e homem público  é um alento, em meio a tanta degradação ética.

A cadeira que ele ocupou na Academia Sergipana de Letras será como ele assim  desejou ocupada por outro valoroso e culto integrante do clã sergipano dos Amado, o médico Paulo Amado,  unanimidade entre os acadêmicos.

DA DEFESA CIVIL AOS BOMBEIROS

O coronel Mendes do Corpo de Bombeiros, fez à frente da Defesa Civil a proeza de responder às agonias do sertão fustigado por uma estiagem de seis anos. Integrante da Força Tarefa criada por Jackson para tratar do semiárido, o coronel Mendes ajudou muito a conjugar ações emergenciais com planejamento para o futuro.

O coronel  agora assume o comando do Corpo de Bombeiros.

JACKSON E A HORA DE ANUNCIAR A DECISÃO

Um ser essencialmente político como Jackson Barreto não se contentaria com uma aposentadoria voluntária, no momento em que mais se agrava uma crise que precisa ter soluções através da politica. Não sendo candidato  teria sem duvidas  finalmente o direito a um lazer que terminaria por entediá-lo, e gerar uma inquietude por não poder  contribuir, participar de decisões graves que no futuro próximo terão de ser adotadas, isso se sobrevivermos com a democracia incólume aos sacolejos causados por um somatório de calamidades agora cometidas.

Jackson não perdeu vitalidade, muito menos entusiasmo pela vida política, apesar das agonias de um mandato recordista em dificuldades a superar. Fundador do velho MDB, ele se diz integrado aos sentimentos e compromissos do Dr. Ulisses, e isso, nas entrelinhas, pode ser interpretado como  desencanto diante do PMDB de hoje. JB não estrilou ao sentir  a má vontade do atual governo em relação ao seu governo, considera que Sergipe tem sido alvo de represálias, por não ter apoiado o impeachment, talvez por antever o que fariam os novos ocupantes do poder.  Identifica essas represálias acionadas também pelos senadores Valadares e Amorim, mas, com ironia, vê a situação atual dos dois  que teriam desembarcado antes  de um naufrágio que poderá ocorrer.

Depois do erro de avaliação que cometeram, imaginando  que viveriam as delicias ofertadas pelo novo governo que ajudaram a instalar,  os dois, suspeita Jackson , se sentiram ameaçados também pela devastadora avaliação popular do governo Temer. JB identifica nessas atitudes um viés oportunista, e reconhece que Valadares safou-se bem mais espertamente do que o senador Amorim.

Deixando claro que não há identificação politica entre ele e o deputado André Moura, JB acredita que é útil para Sergipe a aproximação administrativa que se formou, e nisso enxerga um diferencial na atitude do deputado, que passa ao largo  do comportamento  dos senadores.

Jackson diz que até verbas emergenciais para socorrer Sergipe no período mais crucial da estiagem, somente saíram depois de muito esforço , e da aproximação pessoal que tem com alguns ministros, e também revelam-se os resultados da aproximação institucional e republicana com o deputado André, líder do governo.

Apesar de tudo Jackson entende que Sergipe não estagnou por efeito da crise, que há obras em andamento, metas já alcançadas, na educação por exemplo, e cita  escolas que já começaram a funcionar em tempo integral, as escolas inauguradas entre elas as técnicas. JB  enxerga a saída da crise com a retomada das atividades da Petrobras e outras  petroleiras que virão atuar em águas profundas de Sergipe, enxerga na termelétrica em construção na Barra um grande avanço, e destaca as ações de convivência com a seca , e um conjunto  de obras estruturantes, como estradas,  recuperação de perímetros irrigados, centrais de abastecimento, entre outras.

Admitindo que é tempo para definições, Jackson, sem deixar explicita sua condição de candidato ao Senado,  transmite, contudo,  uma disposição  clara para concorrer.

No mais tardar em setembro, as definições  serão  anunciadas, entre elas,  a definição de Belivaldo Chagas como candidato à sucessão. Além disso, o ingresso dos hoje peemedebistas em um novo partido. Sem duvidas, o PMDB de Jackson era mesmo o do Dr. Ulisses.

OS NOVOS VENERÁVEIS

A Loja mãe da maçonaria em Sergipe, a Cotinguiba, escolheu por consenso  a diretoria que substitui a que foi liderada pelo ex-venerável Ibrahim Salim. Tornou-se venerável  Carlos Augusto Bitencourt. Sua posse foi prestigiada com a presença do Grão Mestre estadual Lourival Mariano e de vários outros veneráveis.

Outras Lojas também escolheram  diretorias.  Da Clodomir Silva é venerável Mehujael Colaço Rodrigues, da Piauhytinga,  Sandro de Jesus Barreto, da Professor Jose Alencar, Marcos Teles Machado, da Lealdade  Cotinguibense, Hilton Rodrigues Alves, da Marcos Ferreira, Mário Cezar Morais, da Tiradentes,  Ednilson Vieira,  da Jose Mesquita Silveira,  Carlos Jose Siqueira, da Constancio Vieira,  Gilson Vicente, da Sérgio Goldhar, José Rocha Passos, da Marselhesa, Renato Maciel, e da Estrela de David, Jailton Pereira  de Souza.

ANDRÉ MOURA FORA DA DISPUTA MAJORITÁRIA

Já tendo recebido o apoio de fortes empresários, como Luciano Barreto e Albano Franco, para tornar-se candidato ao governo, o deputado André Moura sofre nova condenação que, por enquanto, o impede de concorrer. Caso persista a condenação até o próximo ano, ele repetiria o que fez  quando concorreu à reeleição, recebendo votos em separado, depois   reconhecidos pela Justiça.

Com apoio  também de muitos prefeitos e lideranças do interior,  há quem aposte que André será o deputado federal mais votado .

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