Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O “ FORRÓ “  DA UNIGEL NESTE MÊS DE JUNHO
08/06/2023
O “ FORRÓ “  DA UNIGEL  NESTE MÊS DE JUNHO

O “ FORRÓ “  DA UNIGEL

NESTE MÊS DE JUNHO


O "forró de junho" oferecido pela Unigel foi o desemprego e a fome.

Conforme lacônica e insensivelmente anunciara,  a UNIGEL, sucessora desastrada da inditosa FAFEN fechou as suas portas, despediu  trabalhadores,  e iniciou, neste inverno da nossa desesperança um processo  de hibernação que , tudo indica, será a consumação da suajur morte anunciada.

Morre, prematuramente, uma indústria química  privatizada que viabilizaria o projeto sergipano e brasileiro de manter   competitivo o nosso parque de rertilizantes, ainda mais com a perspectiva esperançosa de uma grande expansão a partir da prematuramente festejada era do gás, com data ainda incerta e insabida para  de fato vir a acontecer.

A UNIGEL não se trata de um grupo industrial estreante no setor químico, pelo contrário, carrega uma tradição de presença numa área de atividade econômica  que, no Brasil, tem o significado emblemático de  resistência aos grupos ou um quase monopólio de detentores do privilégio da importação dos insumos estratégicos, que aqui,   até hoje, não temos conseguido produzir, nos livrando de uma dependência  perigosa e até fatal.

O inicio da  guerra na Ucrânia nos escancarou a vulnerabilidade. Nesse aspecto, é lícito reconhecer que o ex-presidente Bolsonaro, agiu corretamente ao abandonar suas motociatas e  tumultos institucionais para ir a Moscou, e assegurar com Putin o suprimento de fertilizantes, sem os quais o agronegócio entraria em colapso. Mas, enquanto isso, estavam paralisados os projetos ampliando a capacidade brasileira de suprir o mercado em permanente expansão.  Nisso, Sergipe tinha e continua tendo importância estratégica,  pelas alternativas  da produção do potássio através do Projeto Carnalita; da expansão da mina de Taquarí- Vassouras, e  ampliação da oferta de amônia e ureia,  que, agora, com o “ forró “ da UNIGEL, neste junho  trepidante, nos obriga a  enxergar outras “ quadrilhas “ que ditariam o ritmo no qual deve “ dançar” a nossa visão estratégica de desenvolvimento e soberania.

A consolidação do polo sergipano de fertilizantes e exploração dos sais minerais, gás e petróleo, é o resultado de uma luta alongada ou quase epopeia, na qual sucessivos governadores e presidentes tiveram presenças marcantes, ou mesmo decisivas. Tudo começou bem longe ainda com Luiz Garcia criando o CONDESE, e ao lado de Aloísio de Campos, trazendo a Sergipe o grupo Votorantim para instalar a  primeira fábrica de cimento, o aproveitamento econômico das imensas jazidas de calcário ,  antes, iniciada em pequena escala com a fabricação de gesso, uma iniciativa do visionário em tempo integral e geólogo  autodidata   Walter de Assis Ferreira Baptista. Depois, a sequencia de ações não foi interrompida ao longo dos governos de Celso de Carvalho ( Seixas Doria nem teve tempo) Lourival Baptista, Paulo Barreto , Jose Leite, Augusto Franco, João Alves , Valadares, Albano, e  teve sequencia ampla com Déda, Jackson, e Belivaldo.  Agora, Mitidieri  tem a surpresa do “ forró” da UNIGEL, o obrigando  a exercer  o “ Jus Esperneandi “, que tanto poderá ser grito ou gemido de socorro, como de veemente protesto.

Outros governadores ao longo do sofrido processo sofreram  decepções maiores. Paulo Barreto,  depois de ouvir do general Orlandini,  dirigente da estatal que produzia barrilha a partir de ostras de lagoas salgadas fluminenses, a garantia de  que haveria o encontro certo da Álcalis com Sergipe, pensou até em renunciar ao mandato , ao saber que o presidente Medici já autorizara o início de um projeto semelhante no Rio Grande do Norte, tocado por uma multinacional holandesa, e que nunca foi concluído.

Valadares elaborou o projeto do Polo Mineral Petroquimico de Sergipe, um trabalho consistente e técnico que demonstrava a viabilidade do complexo a ser instalado junto ao porto,  na Barra dos Coqueiros. Uma grande área foi desapropriada e terraplenada, pronta para receber os investimentos já contratados.  Collor elegeu-se, traiu a Valadares e a Albano que o apoiaram em troca de um compromisso com o nosso Polo, e assinou a abertura completa do mercado aos derivados da petroquímica e fertilizantes, e fechou a PETROMISA. Valeu a ligação maior de interesses que o ex-presidente agora condenado a ir passar oito anos numa Penitenciária ( o que nunca acontecerá) compartilhava com o grupo Monteiro Carvalho, do seu ex-sogro, que o financiara na campanha, e detinha o monopólio da importação, exatamente daqueles produtos que Sergipe imaginava produzir. Assim , naufragou mais uma das nossas esperanças.

  Com a dimensão atual  do agronegócio, seria até um crime de lesa- pátria colocar em segundo plano a questão da urgência em produzir,  aqui no Brasil, pelo menos a metade dos insumos indispensáveis. Hoje, não chegamos a 10 % por cento, e temos ameaçado o suprimento de amônia e ureia.

Pairando sobre o “ forró da Unigel “, existe a difusa e ainda enevoada suspeita de que há indícios de picaretagem num provável pedido de recuperação judicial; e da capitulação , que seria rendosa aos interesses dos importadores, entre os quais se incluem poderosos conglomerados financeiros.

É preciso bater às Portas do Planalto, principalmente a de Lula e a dos Ministros Alckmin, e Haddad, uma tarefa que não cabe apenas ao governador Mitidieri, mas, exige a participação plena de toda a nossa bancada federal.

O “ forró” decisivo é agora o da UNIGEL, onde não existe a alegria, só o desespero do emprego perdido, um cenário de choro e ranger de dentes.

O forró de junho precisa continuar........

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LULA,  AQUELE SONHO, OU A

ILUSÃO DO CARRO POPULAR

JK cumprindo a promessa de avançar 50 anos em 5 desfila no primeiro fusca fábricado no Brasil.

Quando transplantou para o Brasil  montadoras de veículos que ainda não davam os primeiros sinais de exaustão, Juscelino Kubitschek,   ao lado do arrojo de construir estradas e ampliar o acanhado parque siderúrgico brasileiro, concretizava aquele passo que Getúlio planejara dar no seu fatídico segundo mandato, conquistado pelo voto em eleição democrática. Governador de Minas Gerais, JK estivera ao lado de Getúlio naquele agosto de 1954, quando,   acuado no Catete, tomara um avião da Força Aérea contra ele já rebelada, para ir até Belo Horizonte inaugurar a segunda   grande siderúrgica do país. A primeira, a de Volta Redonda, estatal, ele deixara quase pronta ao ser deposto  em 1945, após 15 anos no poder.

Uma semana depois, emocionado, JK  ouvia a Carta Testamento de Vargas, transmitida ao país após a notícia do suicídio na manhã de 24 de agosto. Entendeu que lhe caberia a missão de por em prática aquele ideário de desenvolvimento e independência econômica do Brasil que o texto dramático de um  grito derradeiro sintetizava. Todavia, arguto  conhecedor dos  labirintos do poder, que em Minas, especificamente, tanto se ramificavam no entranhamento de interesses do  anacronismo brasileiro, JK não tinha ilusões a respeito dos desafios que teria de enfrentar.

Modernizar o Brasil é ainda a etapa não concluída da nossa história.

JK fez encher as ruas e estradas brasileiras com os veículos aqui fabricados, mas, nunca houve de fato um carro popular, cuja ideia inicial remonta a Henry Ford, quando iniciou as linha de produção em massa do chamado Ford de bigode, o modelo T ,  chegando ao alcance do trabalhador sindicalizado americano.

Isso na década dos vinte.

Em 1936,  Adolf Hitler, o flagelo do século vinte, ainda completava o renascimento da Alemanha derrotada na Primeira Grande Guerra ( 1914-1818), e, preocupado em  fortalecer a imagem do seu regime bárbaro, prometeu que em breve a Alemanha teria mais automóveis por habitantes do que os Estados Unidos.  Surgiu na prancheta do engenheiro e industrial  Ferdinand Porsche, o Volkswagen ( carro do povo ) que foi apresentado a Hitler como algo que revolucionaria a indústria automobilística, e breve estaria, aos milhões, trafegando pelas espetaculares autoestradas que iam surgindo. Quando o carrinho acanhado começava a sair das linhas de montagem, com a característica única de ser refrigerado a ar, e  extremamente econômico, Hitler já se reunira com os seus generais e a eles transmitira as  diretrizes para a guerra que pretendia deflagrar o mais rápido possível,  visando conquistar o lebensraum im osten ,  o espaço vital ao leste, que, segundo ele, os alemães precisavam para assegurar  a  sobrevivência, e a posterior  conquista do mundo, como “raça superior” e dominadora. Em vez do carro popular surgiram as máquinas da morte, e para multiplicá-las , toda a indústria alemã foi convertida ao esforço de guerra.

Terminada a carnificina ( 1939-1945 ), com a Alemanha derrotada repartida em dois países, a chamada República Democrática Alemã, ficou sendo a parte comunista controlada pelos russos, onde a economia estatizada emperrou. O  nível de vida entre as duas Alemanhas , era uma comparação devastadora para o lado comunista. Então, os burocratas do leste resolveram criar um carrinho que seria acessível aos pessimamente remunerados trabalhadores. Surgiu o Trabant. Comparados   aos reluzentes Mercedes, que, na Berlim dividida, podiam ser vistos rodando imponentes do outro lado do muro, os Trabants eram uma tentativa rudimentar e fracassada de fazer um carro popular. Fumacentos, expeliam uma névoa escura e pegajosa, faziam um barulho danado, e seus bancos eram de plástico rígido. Quando houve a reunificação da Alemanha, os torturados donos de Trabants, receberam do governo a oportunidade de trocar suas carroças por carros de verdade, e os Trabants foram simplesmente abandonados nas ruas como lixo inservível.

O programa lançado por Lula, que se identifica com a criação de um carro popular, não vai fazer nenhum carro novo,  não será exatamente um veículo para o povão,  como alguns imaginam. Apenas carros normais, sem luxos e equipamentos sofisticados, mantendo o projeto básico, sem descurar dos itens de segurança essenciais, todavia, passando longe de sofisticações. Através de arranjos entre governo e montadoras, os carros terão os preços reduzidos, e isso, aliado a um financiamento a juro inferior ao que o Banco Central nos impõe como sacrifício para engordar os bem-aventurados cupins, ou rentistas, será um alento, desafogando uma parte dos pátios das fábricas onde se acumulam carros difíceis de vender.

Todavia, a parte mais saudável sob o ponto de vista  econômico  e também ecológico, será a possibilidade de renovar parte da sucateada frota de caminhões, que ainda rodam, impávidos e poluidores, há mais de 30 anos.

Com a economia desafiando o pessimismo e a ortodoxia míope  do Banco Central, o grande e estratégico movimento a ser feito é, exatamente, destravar  o que nos resta ainda de indústrias , e promover, não apenas um renascimento, mas, sobretudo,   paradoxalmente, como possa parecer, montar um novo parque operador de transformações, muito além da ideia de fábrica que   ainda subsiste hoje, nessa luta renhida e repleta de derrotas que temos sofrido, tentando ser um país moderno.

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