Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
MILTON COELHO, OU A CEGUEIRA DAS DITADURAS
18/04/2024
MILTON COELHO, OU A CEGUEIRA DAS DITADURAS

NESTE BLOG:

 

1) MILTON COELHO, OU A CEGUEIRA DAS DITADURAS 

2) OS LIXEIROS (GARIS ) SÃO HUMANOS TRATADOS COMO SE FOSSEM LIXO

3) PODERIA EM NOSSOS DIAS TER UM PREFEITO 91 % DE ACEITAÇÃO ?

4) BELIVALDO, O CAFEZINHO E A ACADEMIA

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1) MILTON COELHO, OU A CEGUEIRA DAS DITADURAS

A ditadura cegou Milton, mas não o impediu de pensar. 

 

Toda ditadura que se instala, é, invariavelmente, o resultado de uma cegueira  temporária obscurecendo  a razão de um povo.

Como ocorre esse processo, é algo complexo sobre o qual se debruçam historiadores,    “ psicanalistas ou psiquiatras  sociais “, ocupando, todos, os divãs imensos à frente dos quais estariam as multidões desacomodadas.

Naquele fevereiro de 1976, véspera de Carnaval, Aracaju vivia um daqueles dias aparentemente  tranquilos, habituais, num clima de ditadura onde a imprensa é amordaçada, só existem as notícias oficiais, e o povo nem pia.

De repente, começaram as prisões. Eram principalmente jovens estudantes, ou sindicalistas, todos “ subversivos”, capturados nas ruas, nas suas casas, e levados ao quartel do 28º BC, transformado em cárcere político, e de onde se afastaram  os seus oficiais, para que começasse a chamada “ Operação Cajueiro”, levada a efeito por agentes “especiais” que teriam vindo de Salvador.

Não existiam direitos, o habeas corpus estava suspenso, e toda a mídia emudecida, o Congresso  reaberto,  funcionando precariamente debaixo da ameaça de cassações.

O período já era de distenção , anunciava-se a possibilidade da anistia, e a transição, lenta, gradual e segura para a normalidade, nos moldes estabelecidos pelo general – presidente Ernesto Geisel.

O que ninguém sabia é que fervilhava nos quarteis um clima de sedição. O general comandante da 6º Região Militar em Salvador,  era extremista,  adepto do extremista general Sílvio Frota,  Ministro do Exército, que avançava na trama golpista contra o presidente Geisel, acusado de ser tolerante com os  “ subversivos “, e, pior ainda, ter restabelecido relações diplomáticas  e comerciais com a China Comunista, seguindo, aliás, os passos do americano Richard Nixon, que já  fizera a mesma coisa. A China era um atraente  mercado de mais de setecentos milhões de habitantes , que ampliava o consumo, e o Brasil poderia obter excelentes resultados econômicos. Como viria a acontecer.

As prisões, naquele  “fim de mundo” sergipano,  serviriam para demonstrar que o “perigo comunista” permanecia bem vivo, e   os “ subversivos “, sorrateiramente, tramavam uma revolução armada.

Assim, militantes ou não, apenas suspeitos de ligações com o clandestino Partido Comunista Brasileiro,  que a “inteligência” do regime não sabia, ou aparentava desconhecer, mas era o velho “ partidão ,“  declaradamente contra as aventuras armadas, e apenas tentava, por via política e pacífica acelerar o processo de redemocratização.

Seguindo a linha -dura do frotismo, ou seja, do ambicioso general que alardeava o avanço da “subversão,” para tirar proveito,  e tomar de assalto o poder,   montou-se no quartel -prisão um aparato desumano de tortura. O grupo de militares e civis carrascos, estava sob o comando de um desconhecido e

Invisível coronel Oscar Silva. E começou a pancadaria. Queriam, de qualquer jeito,  extrair “ confissões “ que confirmassem a existência de um núcleo armado, pronto a desencadear a revolução vermelha.

Hoje, há um grupo de encanecidos senhores aposentados, advogados, promotores, engenheiros, políticos, agrônomos, professores, jornalistas,  empresários, todos eles deram sequência às suas  existências, tentando aliviar as

 sequelas  do mergulho forçado no inferno da degradação humana, com os seus atrozes demônios.

Entre estes, o petroleiro, trabalhador da PETROBRAS Milton Coelho .

No dia em que retiraram dos seus olhos a venda apertada que os comprimia, ele, desejoso de rever a luz, apenas disse: “estou  cego”. E ouviu do sicário impassível: “ isso  dura pouco, logo passa”.

Não passou.

Milton, todavia,  não deixou um só momento de enxergar o mundo, de sonhar com um Brasil iluminado pelo sentimento humano, pela Justiça.

E prosseguiu ativista da razão, falando, gesticulando, lendo, aprendendo sempre mais, fazendo da vida um laboratório de convivência permanente com a química virtuosa da solidariedade.

Com a esposa, fortaleceu os laços da família, criou os seus filhos, transmitindo-lhes, não a dor do sofrimento, nem o desespero da esperança perdida. Fez deles cidadãos.

 Milton  Coelho  estava longe de nascer, quando, naquele agosto de 1939, tropas nazistas e comunistas, Hitler e Stalin,  de mãos dadas, se uniram para a devastação da Polonia, que, vencida, tornou-se a presa repartida entre os dois abutres.

Milton era quase criança,  quando, em fevereiro de 1956, no 20º Congresso do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviética, o novo tzar de todas  as “rússias , o camarada Nikita Kruschev,  revelou, num longo  discurso de cinco horas aos camaradas  soviéticos, e aos camaradas internacionalistas ali presentes, a dimensão dos horrendos crimes cometidos pelo camarada já morto, e com amaldiçoada memória, Joseph Stalin, “ o guia genial dos povos “, transformado de um dia para a noite no real carniceiro que sempre fora.

Milton Coelho tinha plena consciência de que  a peste do fascismo está na essência das ditaduras, porque todas possuem o mesmo DNA do culto à violência, e

à desumanização.

O fascismo prega o ódio, renega a solidariedade entre povos e países, e as ditaduras, sejam elas vermelhas, amarelas, brancas ou pretas, são os instrumentos dessa aversão maligna.

Ao contrário do que poderia ser alguma forma de desilusão, Milton Coelho construiu, no corpo e na alma, a sua fortaleza rara da convicção na solidariedade humana.

Há uns dez anos, um jornalista amigo foi convidado por Milton para ir à sua casa, onde ele queria lhe apresentar uns textos e umas ideias que andava a burilar.

Chegou então por volta de um fim de tarde de inverno já começando a escurecer. Bateu à porta, chamou, bateu palmas. Passado algum tempo, sentiu que aproximava-se alguém para abrir a porta. Era Milton. E o amigo que chegava lhe disse:

  Já ia embora, pensei que não havia ninguém em casa, porque estava escuro.

E Milton explicou: minha mulher e meus filhos estão chegando, então eles acendem a luz. Para mim, qual a diferença ?

Quarenta e oito anos depois de lhe terem retirado a venda apertada aos olhos, e constatar que perdera a visão, Milton, para quem não é agnóstico alcança a plenitude da luz.

E dessa luz, ninguém conseguirá privá-lo.

Seriam os seus soturnos torturadores, instrumentos da bestialidade que apossou-se de alguns integrantes do próprio Estado, também merecedores da mesma luz, que abençoa, homenageia e clarifica ?

Naquele janeiro terrificante e quase fatídico de 2023, quando a horda  bandida da linha de frente golpista, destruía os três maiores símbolos da República e do Estado Democrático, muitos, que conheciam a história do cidadão brasileiro cego por uma ditadura ,  na iminência do naufrágio da  nossa civilização,  teriam se perguntado: Quantos Milton Coelho haverá desta vez ?

 

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OS LIXEIROS (GARIS ) SÃO HUMANOS TRATADOS COMO SE FOSSEM LIXO

Sobre os Garis tratados com desumanidades, chegaram opniões diversas, na maior parte concordando que é uma calamidade.

 

 A propósito do artigo  com  o nome acima, publicado na semana passada, recebi diversas manifestações,  umas indignadas com a jornada desumana a que são submetidos os garís; outras,  apontando culpados diversos que, segundo afirmam, não cumprem suas responsabilidades especificas.  Só uma delas  alertava para na hipótese de haver uma modernização ou automação maior dos serviços, fossem perdidas muitas oportunidades de emprego.

Na impossibilidade de publicar todos os textos recebidos, escolhi um da jornalista Clara Angélica Porto Caskey, que me pareceu até sintetizar a diversidade encontrada nos demais. Considerando ainda que por viver entre Aracaju e Nova Iorque, Clara Angélica teria uma visão mais apuradamente cosmopolita sobre  a nossa subdesenvolvida defasagem no que concerne à coleta , tratamento e reciclagem do lixo nosso de cada dia.

O texto:

Isso é impressionante. Lixeiros em NY têm salário alto, e um sindicato muito forte, que lhes garante todos os direitos do grande serviço que prestam. São considerados “bons partidos”, pelo bom salário, excelentes planos de saúde e odontológico, planos de pensão e muitos benefícios. Recompensa-se bem aqueles que limpam o lixo humano. Vejo com pesar e vergonha, a situação dos nossos lixeiros. Vez em quando, sem São João ou Natal, dou um mimo para eles “tomarem uma cervejinha depois do trabalho”. Sinto-me culpada. Interessante como a gente que tem uma situação de vida melhor, se sente culpada diante da miséria. Eu me sinto. Quando criança, eu e minha irmã levávamos para dentro de casa menininhas sujas da rua, dávamos banho, cuidávamos dos cabelos, eu sempre aparava ou cortava mesmo, e elas saiam alimentadas, limpas, bem vestidinhas, calçadas, e ainda com um trocadinho para levar. Só tínhamos permissão para fazer isso com meninas, por motivos óbvios. Algumas se tornavam nossas freguesas e já apareciam de vez em quando. Não é fácil conviver com desigualdade social gritante. Plantei árvores na calçada de casa (inclusive os ipês que ganhei de você) e a sombra é boa. Garis usam a calçada para almoçar e descansar. Sempre mando água fresca e geladinha para eles. Para retribuir pela sombra e água, eles limpam meu canteiro.

 

 

 

 

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PODERIA EM NOSSOS DIAS TER UM PREFEITO 91 % DE ACEITAÇÃO ?

Um prefeito que vai se reeleger sem precisar sair de casa. 

 

Quando as exigências da população se tornam cada vez mais diversificadas e intensas, a avaliação dos gestores públicos  não costuma alcançar altos níveis, ou revelar, pelo menos,  alguma generosidade.

Hoje, entre  anotações de  bom, ótimo ou razoável, quem somar  e alcançar os 30 % já deveria considerar-se extremamente satisfeito.

Há um caso de  exceção à regra, e fica às margens do São Francisco, mas, no lado alagoano, paradoxalmente em frente ao problemático, e bote problemático nisso, Canindé de São Francisco.

Em Piranhas, cuja sede bem tratada , até charmosa, e recebendo a cada dia mais turistas e mais investimentos,  se faz, na pratica, a melhor  demonstração  de sucesso administrativo.

O jovem prefeito Tiago Torres  Freitas, vem de uma família que deu notável contribuição para que o município fosse retirado da lista desenxabida dos que acumulavam carências não resolvidas. Havia, por exemplo,  um povoado, por sinal o maior de todos, o Piaú, onde a mortalidade infantil principalmente, alcançava cifras alarmantes.

O hoje deputado estadual Inácio Loiola,  constatou que tudo decorria da péssima qualidade da água ali consumida. Na metade do primeiro ano do mandato  de Prefeito o problema já estava resolvido, e no povoado com água tratada,  as cifras sobre média de vida, foram constantemente subindo.

Tiago, o atual prefeito, está no ultimo ano de mandato, é candidato à reeleição , surfa uma onda de aprovação popular que  chega aos 91 %. Felizmente, para que o cenário democrático não seja tisnado, há uma candidata que exerce o papel cívico de lhe fazer oposição, embora reconhecendo que não terá nenhuma chance de vencer.

Tiago é administrador de empresas, e resolveu seguir a tradição da família, tornando-se candidato. Eleito, adotou um rigoroso critério de escolha dos seus secretários .

Privilegiou o diálogo com a população , a responsabilidade com os recursos públicos, ele mesmo leva um estilo de vida austero, dedicado à família e à responsabilidade com o cargo.

Bem articulado , levou projetos ao governador, à Brasília, canalizou emendas parlamentares. Com isso , multiplicaram-se as obras e também os empregos. Os investimentos privados cresceram com o bom exemplo da Prefeitura,  e Piranhas já disputa os primeiros lugares entre os principais polos turísticos de Alagoas. Tem uma excelente rede  hoteleira, uma qualificada gastronomia, e  clima de festa permanente no centro histórico da cidade, agora com melhor mobilidade,   depois da construção de uma nova avenida de acesso.

As escolas funcionam bem, e a saúde da mesma forma. Tiago valoriza a cultura,   cria espaço para as tradições e artistas locais.

O prefeito  tem 34 anos, e já afirmam pelas Alagoas, que ele, passando dos 35, já estará legal e eleitoralmente qualificado para uma disputa majoritária.

 

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BELIVALDO, O CAFEZINHO E A ACADEMIA

Belivaldo, faz do cafezinho também uma academia.

 

Desde que deixou o governo, e isso já faz quase um ano e meio, Belivado dividiu a vida entre Aracaju e Simão Dias.

Em Aracaju faz o que mais gosta, vai aos shoppings, restaurantes dos bairros, cinema. Ia  duas vezes por semana à sede do partido que chefiava, o PSD, e lá reuniam-se muitos amigos, mas, eram quase todos políticos.  Sem compromissos agora com o partido, e tendo resolvido atender o convite de Yandra para tornar-se  vice, diante da afirmação da jovem parlamentar  que  fazia uma homenagem à sua vida pública,  e ainda mais o apelo para ter na sua chapa um político com muita experiencia.

Dando apenas sequencia ao que fazia em menor escala quando governador, e agora com tempo sobrando, Belivaldo, transitando por locais públicos, em variados pontos da cidade, tem tido uma oportunidade para testar a  popularidade. Esta semana, em  um café com amigos no Rio Mar, levantou-se , (alguns contaram mais de trinta vezes) para cumprimentar pessoas que dele se aproximavam, sem contar as que lhe  faziam  simpáticos acenos, passando ao lado.

Depois, fez blague: agora, só tomando café, eu já dispenso a academia.

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