Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
Do mourão de 1964 ao mourão de 2017
23/09/2017
Do mourão de 1964 ao mourão de 2017

Já se foram 53 anos desde que surgiu na história brasileira um general chamado Mourão. Tanto tempo decorrido aparece um outro general também Mourão. O primeiro era Olímpio, o segundo, o de agora, é Antônio. Entre o tempo desses dois generais que até poderão ser parentes, houve transformações imensas. Mudou o mundo, mudou o Brasil. O general Olympio em março de 64 iniciou a marcha de Minas ao Rio desencadeando o golpe, e surpreendendo até os principais conspiradores e supostos líderes.

Já tinha alguma fama decorrente do fato de que o oficial que era integralista, quando ainda capitão teve o seu nome associado em setembro de 1937 ao Plano Cohen, uma fraude, que teria sido por ele elaborada e apontada como prova da conspiração do comunismo internacional para dominar o Brasil. O Plano Cohen foi um dos pretextos encontrados por Getúlio para anunciar o Estado Novo, a sua ditadura que juntou nos cárceres comunistas e integralistas, representantes das duas antípodas vertentes ideológicas polarizando o mundo daquele tempo. Mourão sempre negou a autoria, segundo ele atribuída a uma maquinação do poderoso general Góes Monteiro.

Gerardo de Melo Mourão, nome não se sabe porque nunca incluído ao lado dos mais destacados ícones da nossa intelectualidade, era parente do general Mourão e o considerava um idealista, todavia turbulento, tal como os habitantes do País dos Mourões, título de um dos livros de Gerardo, onde traça a saga do numeroso clã com origens Ceará-piauienses, todos belicosos e sempre controversamente destemidos.

No livro Memorias: A Verdade de um Revolucionário, o general Mourão que fez a ¨revolução¨ e depois por aqueles aos quais abriu as portas ao poder foi marginalizado, tornou público o conceito que formou sobre personagens e fatos do regime que ajudou a criar: Sobre o primeiro presidente do regime autoritário - ¨A morte, para Castelo Branco, foi verdadeiramente um ato de clemência de Deus que, parece, queria evitar-lhe os sofrimentos morais que, inevitavelmente, lhe trariam os fatos que se seguiriam a seu governo, como consequência da sua absurda legislação. Herança maldita que vai perdurar ainda por muitos anos e que rebaixou o Brasil ao nível de uma cubata africana¨.

Sobre o general Costa e Silva, segundo presidente do ciclo militar: ¨Já disse e repito. Se eu conhecesse o general Costa e Silva como hoje, o teria expulsado do Quartel General. Possuía uma qualidade única, que era ao que tudo indica, a de inimigo da ditadura. Mas sua sesquipedal ignorância não lhe permitia discriminar o regime democrático de um outro qualquer, de direita por exemplo. Entreguei os destinos do país a um homem de nenhuma cultura de maus hábitos, além do defeito de ser mentiroso e pouco austero¨. Por afirmações assim, tão explícitas, tão claras e incômodas compreende-se que um dia o general Mourão tenha dito: ¨Em matéria política eu sou uma vaca fardada¨.

O Mourão de hoje quebrou o silêncio das casernas. Essa mudez sobre política do cidadão que veste farda é imposição constitucional, visando exatamente evitar que a corporação armada se sobreponha ao poder civil, desmantele as instituições e atropele a convivência democrática. Faz tempo que os militares na ativa obedecem rigorosamente à prescrição constitucional. Eles juraram cumprir os seus deveres militares, entre os quais está o estrito respeito às leis.

O preceito constitucional que se aplica aos militares, estende-se também ao Chefe Supremo das Forças Armadas que é o Presidente da República, e com muitos outros deveres bem explicitados, definindo crimes que atentem contra a Constituição, e especialmente contra, entre outros: a probidade na administração, o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação.

Um militar vive apertado dentro do que lhe permite o salário encolhido, acompanha bem perto o drama social, político e moral, que atormenta o dia a dia do brasileiro. Será que ele se sentirá satisfeito prestando continência a um Chefe que descumpre a Constituição, afronta os Poderes, investe contra instituições como o Ministério Público e a Polícia Federal, tenta manipular as Forças Armadas para com elas produzir ações midiáticas, e tem em torno de si uma quadrilha?

A realidade social política e econômica do Brasil mudou profundamente desde quando o General Mourão mandou ligar os motores dos seus obsoletos blindados para iniciar uma jornada perigosa, que depôs um presidente, impôs um regime de força mantido com grau variado de autoritarismo ao longo de 21 anos. O outro general Mourão que agora fala, sabe perfeitamente, por ser um oficial de Estado Maior, que um golpe nos moldes em que aquele, talvez parente iniciou, é absolutamente impossível, por incapacidade operacional para fazê-lo, e pela ausência total de uma base social para viabilizá-lo.

Existe uma ¨generalíssima¨ poderosa que pode exercer em tempo real seu ¨comando¨ sobre dezenas de milhões de brasileiros. Ela se chama Rede Social. Por meio dela através de celulares, tablets, note-books a juventude juntou-se para gritar ¨Fora Temer¨ no Rock in Rio, e viu-se aquele espetáculo impressionante da multidão erguendo os braços e exigindo a saída do Presidente que tem agora 3% de aceitação.

Esse horizonte ilimitado de comunicação que reduz o mundo a uma aldeia como previu há 40 anos Mac Luhan, tem a capacidade de impedir ditaduras e por abaixo autoridades ungidas pelo voto, mas que desonram os mandatos. Essa é a grande revolução dos tempos atuais, que poupa gasolina de tanques, evita desastres institucionais e aperfeiçoa a democracia.

O JACARÉ-CURITUBA UM PROJETO AMEAÇADO

Gosta, o ex- governador Albano Franco, de lembrar do projeto Jacaré-Curituba, sempre ressaltando que a ideia foi gestada no seu governo e levada ao presidente Fernando Henrique. Havia um conflito social em ebulição, e repetiam-se as chamadas ¨ocupações¨. Na área mais improdutiva do semiárido sergipano, o latifúndio era apontado como intransponível obstáculo ao desenvolvimento. E realmente era. Feita a reforma agrária de forma um tanto atabalhoada, entregou-se a cada agricultor um lote de sequeiro que não dá sequer para assegurar-lhe uma precária subsistência.

Nem todos os assentados tinham experiência em lidar com o campo. Já se antevia o fracasso daquele modelo, e o próprio MST, atribuía o insucesso ao fato de os seus assentados estarem excluídos dos benefícios da água. Quase em sigilo, o líder do MST em Sergipe João Daniel conversava com Albano. Frei Enoque já tinha com Albano relações de amizade. E então lá se foram conversar com o presidente FHC. Deu problema para o Frei entrar no Planalto, por causa das suas alpercatas. Vencido o protocolo, o Frei fez o sermão palaciano dirigido à sensibilidade do presidente, que ansiava por reencontrar-se com a boa vontade dos movimentos sociais. Nascia o primeiro projeto de irrigação destinado exclusivamente a assentados da reforma agrária.

O modelo mais adequado teria sido um mix de agricultura familiar com a empresarial. O Jacaré- Curituba, não é um fracasso embora deixe larga margem de possibilidades não aproveitadas. Hoje, é um projeto que poderá ser sufocado a curto prazo, deixando cerca de 400 famílias ao desamparo. A nossa emperrada e retrógrada tecno-burocracia-patrimonialista retardou a execução da obra. O projeto sempre na orfandade de quem por ele se responsabilizasse, atravessou vários governos.

Começou a funcionar precariamente com Déda, e Jackson ficou a tentar uma sintonia com os órgãos federais. Diante de muitas indefinições e ausência de atitudes, Jackson, enquanto pôde, pagava a conta de luz, que não é pequena. Finalmente, anunciou-se que a CODEVASF assumiria a responsabilidade, depois atribuída ao INCRA, que deveria dar o aval de livre e desimpedido ao problemático projeto. Quando, Paulo Viana, depois Said Shoucair dirigiam a CODEVASF, encontravam em Brasília algum recurso para evitar o corte de energia.

Se, não chegar dinheiro para evitar o corte de energia, e aparecer algum órgão para assumir a gestão do Jacaré-Curituba, a qualquer momento os aspersores ficarão sem água e no verão que se aproxima toda a plantação estará seca e perdida.

Mais desemprego e mais fome de mãos dadas e a caminho.

OS DOIS MEMORIALISTAS

O governador Jackson Barreto convidou o memorialista e escritor Murilo Mellins para um almoço. Jackson menino, era carteiro, Murilo, funcionário graduado dos Correios, e ali ficaram amigos. Murilo guarda na memória a vida de Aracaju nos últimos 70 anos, e muito escreve e faz palestras sobre o que conhece e tem prazer imenso em contar. Jackson, memória privilegiada para guardar nomes de pessoas, é também bom fisionomista. O almoço, foi frugal, a conversa alongada.

Jackson foi testemunha e participante de episódios da história brasileira, como parlamentar, militante social, ou por simples curiosidade. Uma delas que revelou durante o almoço. Morava no Rio, já era postalista dos Correios. No dia 1º de abril de 1964 passava pela Cinelândia, quando viu manifestações, e a chegada de tropas. Na frente do Clube Militar ocorreram tiros, um estudante estava ferido. Aproximou-se, já o socorriam , tinha uma bala na perna, e logo o reconheceu, era sergipano, João Luiz, filho do Promotor de Justiça Marques Guimarães, eloquente porta voz da direita sergipana.

No retorno para casa o espetáculo selvagem da UNE destruída pelo fogo, que extremados acenderam. JB falou sobre as dificuldades da sua família o esforço de sua mãe professora, e do pai, dono de bodega, para criar a prole numerosa. Contou, em voz contida e olhos marejados as caminhadas sofridas que fez, da casa na rua de Estancia atravessando o areal da Avenida Pedro Calazans, subindo e descendo ladeira até o cemitério São Benedito. Fez três vezes esse martírio, carregando caixõezinhos brancos dos irmãos crianças: João Augusto, João Luiz e Maria Sílvia.

Murilo e Jackson rememoravam músicas que ficaram como lembranças de campanhas eleitorais, Jackson de memória recitou a letra de uma delas, ouvida num programa eleitoral na Rádio Mayrink Veiga do Rio, durante a acirrada campanha presidencial entre o ¨homem da vassoura¨ Jânio Quadros, e o ¨marechal da espada de ouro¨ Teixeira Lott. Vale reproduzi-la: ¨Guarde a Vassoura palhaço. Ninguém você mais engana. Da pobreza franciscana você passou a ricaço. Sua casa é que tá suja, guarde a vassoura palhaço. Você era da cachaça, hoje banca o granfino. Malandrão e vivaldino só com os gringos se abraça¨. Eu que sou nacionalista estou vendo seu fracasso. Dá o fora vigarista, guarde a vassoura palhaço¨.

Jânio venceu e logo confirmou tudo o que a letra da musica dele dizia ,e de forma tão grosseira.

DA TV SERGIPE À GRÉCIA PASSANDO POR JOZAILTO E OS ¨CARCARÁS¨

Informamos, aqui, que a venda da TV Sergipe fora decidida pelos acionistas majoritários Lourdes Franco, Ricardo Barreto Franco e Leonor Barreto Franco. Sendo minoritário, Albano Franco que não queria vender, teve de conformar-se. O ex-governador esclareceu que ele detém 50% das ações. Dessa forma poderia ter impedido a venda, caso viesse a se contrapor ao desejo revelado principalmente pelo filho Ricardo, que não demonstra interesse na área de comunicação.

Concordou, para não causar um possível descontentamento na família. Por gestos assim é que o jornalista e blogueiro Jozailto Lima que, também sendo poeta, mais embeleza os textos, costuma dizer que aprendeu a conjugar o verbo transigir com Albano Franco, e até o conjugou muito há alguns dias, quase como o recitar de um salmo, ao ouvir impropérios de gente do entorno do SINTESE e da deputada Ana Lúcia indignada com ele por ter reproduzido no seu muito acessado blog um comentário aqui feito, sob o título: Do facão de Gualberto ao punhal de Ana Lúcia. E a deputada Ana Lúcia e o SINTESE ainda ficam indignados quando são feitas alusões ou metáforas envolvendo os caracarás, aquelas aves predadoras.

Voltando a Albano, ele fez ainda outro esclarecimento: o pai do seu sobrinho Walter, cujo casamento com uma grega foi assistir na ilha de Kios, no mar Egeu, não é seu irmão Osvaldo mas sim, Marcos. Ele foi, mas não era padrinho, e o avião monomotor que fretou para retornar, com Zé Franco da ilha a Atenas custou não 4 mil dólares, mas na verdade mil euros.

O CÂNCER SENDO POLITIZADO

O senador Eduardo Amorim é um permanente defensor da idéia de um Hospital do Câncer para Sergipe. Médico que cuida da dor, daquelas piores na fase terminal, ele conhece de perto o sofrimento dos pacientes da doença devastadora. Conseguiu uma emenda de bancada para a construção do hospital e desde então dele fez a sua plataforma política. Politizou-se o que seria pura responsabilidade, e assim criou-se a controvérsia.

O hospital começou a ser projeto no período em que o governador Marcelo Déda iniciava seus trajeto final contra a doença que o venceu. Havia um clima emocional. Mas entre a vontade e a execução existem obstáculos, também reflexões sobre a necessidade de um novo hospital ou a utilização do Hospital de Urgência, que é bem estruturado para nele instalar uma ala exclusivamente para o tratamento oncológico, Finalmente Jackson anunciou o começo da obra.

Depois da terraplenagem da área, no início da construção a coisa emperrou, porque a empresa vencedora da concorrência desistiu após alegar um atraso de pagamento. Na verdade não tinha capacidade financeira para enfrentar eventualidades sempre recorrentes em obras públicas. A emenda é uma ajuda considerável mas não cobrirá os custos de construção e instalação. Com sérias dificuldades financeiras, assumir o ônus de um hospital de grande porte e dotado de equipamentos de primeira linha, é algo desejável, todavia, diante da realidade um risco a correr, consumindo recursos sem alcançar objetivos.

Os técnicos asseguram que uma ala especifica para oncologia instalada ao lado do Hospital de Urgência João Alves, seria algo na medida das nossas possibilidades, até porque o Secretário da Saúde Almeida Lima já anuncia a conclusão do ¨bunker¨ para tratamento com radiação, que estará instalado nos próximos meses após os testes finais de segurança que serão efetuados. A Secretaria da Saúde já recebeu mais tomógrafos que irão garantir outro tratamento essencial ao câncer e a proximidade desses equipamentos e do conjunto hospitalar seria uma vantagem logística capaz de reduzir custos.

Geralmente quando se dá um passo além das pernas pode repetir-se o que acontece agora em Canindé do São Francisco onde um hospital desproporcional para o tamanho do município foi construído mas não há como colocá-lo em operação.

A realidade contradiz todo o otimismo que vá além da racionalidade.

EM POLÍTICA EXISTEM TRAIDORES?

Em política e nas relações afetivas não existem traições. Na política há novas alternativas, horizontes alargados, alianças desfeitas ou renovadas, e até convicções que mudam. Parodiando Raul Seixas melhor do que a esclerose de ideias permanentes ou convicções rançosas é a ¨metamorfose ambulante¨. Nas relações afetivas valem quase as mesmas regras, sendo que, no caso, entra um novo componente que é a ebulição permanente da sensualidade.

Nos últimos meses o senador Valadares tem colocado em segundo plano problemas importantes nos quais sempre se envolveu, como agora o projeto de transposição das águas da bacia do Tocantins para o São Francisco, solução definitiva para o rio e o nordeste. Trocou tudo isso pela guerrinha miúda contra Belivaldo, até pouco um dos seus mais próximos amigos e aliado sempre a toda prova. Não cansa de chamar Belivaldo de traidor. Traidor de quem ?

Traiu a confiança do eleitor, dos sergipanos? Traiu valores morais? Traiu o respeito que o detentor de mandato popular deve ter ao povo, ao dinheiro público?

Em política aquele que se considera traído e revoltado, deixa escapar um certo sentimento de egocentrismo, que o faz imaginar-se como um sol, espécie de centro do universo em torno do qual todos os astros inferiores giram.

A inteligência, habilidade e capacidade política do senador não deveriam estar sendo assim desgastadas nessa fixação em questiúnculas, que a ninguém mais interessam.

OS LEILÕES E AS ¨NOSSAS ¨ RESERVAS¨

Desde que começaram esses leilões de campos petrolíferos, ocorreram reações fortes de alguns setores movidos por um sentimento de nacionalismo e defendendo a PETROBRAS. Houve tempo, que já vai um tanto distante, quando se justificou o monopólio estatal do petróleo, tantas eram as jogadas mafiosas dos grupos petrolíferos, com suas matrizes centradas em poucos países e seus tentáculos espalhando-se pelo mundo. Não tínhamos tecnologias próprias, não tínhamos know-how, e era preciso obter conhecimento através da prática e criar um tecnologia nacional. Hoje temos essa tecnologia, e em águas profundas somos detentores da mais avançada. Essa tecnologia deve ser auferida no seu exato valor de mercado, e nisso a PETROBRAS se fortalecerá.

A exploração de campos petrolíferos não se faz sem grossos investimentos e a PETROBRAS hoje, depois de assaltada, enfraquecida não dispõe de recursos financeiros para ousar tornar-se única operadora. Vai haver leilão de áreas e já surgem as fortes reações, até liminares da justiça proibindo os certames. O petróleo não deixou de ser estratégico, mas a cada dia vai distanciando-se da posição de ser a energia única e insubstituível, enquanto avançam as energias renováveis. Com a condenação ambiental dos combustíveis fósseis, em vinte anos o mercado petrolífero já deverá ter sofrido uma forte inflexão, e por isso se faz urgente explorar logo as jazidas existentes.

No próximo leilão, 287 blocos serão ofertados. Em Sergipe serão seis de alta capacidade produtiva, localizados no mar, e 46 em terra, poços já instalados e produzindo há muito tempo. Podem despertar interesse entre pequenas e médias empresas, mas há obstáculos. Quanto aos do mar serão os mais disputados. É bom que isso aconteça, porque quando iniciados os trabalhos de prospecção se sentirá, de imediato, um efeito na nossa economia. Aos poucos voltaremos aos tempos em que o petróleo acelerava o nosso desenvolvimento.

MENOS ÁGUA NO VELHO CHICO

Chega cada dia menos água ao baixo São Francisco. O nível de Sobradinho continua baixando e a tendência será um limite ainda maior da vazão, Se dezembro chegar sem chuvas consideráveis, uma nova diminuição poderá interromper o funcionamento da única turbina ainda operando a hidrelétrica de Xingó, onde cinco estão paradas, três delas há mais de dois anos. Mas já surgem projeções da meteorologia para o próximo verão indicando que as chuvas virão com força em Minas e Bahia. Todavia, para a normalização do curso do definhante rio, seriam necessários segundo os técnicos, pelo menos cinco anos de chuvas acima da média, das cabeceiras até Sobradinho.

Há quem faça previsões sinistras sobre o futuro do Velho Chico, antevendo um cenário surreal do mangue crescendo sobre as margens encolhidas de um pequeno rio salgado, desde a foz até a barragem do Xingó. Ai poderiam surgir caranguejos. Siris já começam a ser pescados.

Nesse outubro a DESO vai concluir a instalação das quatro bombas flutuantes, com capacidade conjunta de quatro metros cúbicos por segundo, o necessário para manter Aracaju e o sistema Petrobras, com garantia de abastecimento. As bombas foram cedidas ao estado pelo governador Geraldo Alckimin, atendendo uma solicitação do governo de Sergipe.

Segundo o engenheiro Aílton Rocha especialista em recursos hídricos, com o fim das chuvas em Sergipe e Alagoas, o rio deverá diminuir ainda mais seu fluxo no trecho final, onde os afluentes, rios intermitentes estão agora cheios, e ampliam em cerca de cem metros cúbicos a vazão final. Em resumo: a situação só tende a piorar.

UMA VISÃO DA POLÍTICA

O livro do desembargador Pascoal Nabuco, 'Uma Visão da Politica em Sergipe' está na livraria e é bem vendido, isso, depois do sucesso que foi o lançamento, que começou as 19:30, e às 22 h Pascoal ainda estava autografando. O livro não é biográfico, embora existam trechos onde o autor se torna protagonista. A cena política sergipana é contextualizada por Pascoal numa análise sociológica que deslinda vícios e virtudes dos políticos na transição da Casa Grande do engenho para uma industrialização que já favorecia o trabalhismo populista.

Anos depois a ascensão de Déda ao poder, segundo Pascoal o único fora da órbita do sistema oligárquico dominante, mas que não ousou fazer rupturas, e governou buscando uma convivência respeitosa com as elites tradicionais. Na TV Aperipê o militante cultural e comunicador Pascoalzinho, entrevistou o homônimo e parente Pascoal que falou sobre o livro e coisas da atualidade debatidas com jornalistas, entre eles Euler Ferreira.

UM GENERAL ARMADO DE SENSATEZ

Nesses tempos que ficarão na história como um dos mais vergonhosos que viveu o Brasil, espanta e decepciona acompanhar os rumos da nossa desencaminhada política. Fala-se sobre irrelevâncias sempre, sobre o essencial quase nunca.

Parece que atravessamos um malsinado tempo, onde os homens se apequenam e tentam compensar a perda com o acúmulo de vaidades, um tempo onde há uma espantosa perda de valores, tanto que se aceita cinicamente o que é repulsivo e nojento, desde que a Bolsa de Valores exiba cifras miraculosamente desgarradas da realidade entristecedora de empresas fechando as portas, empresários adiando investimentos, enquanto os bandidos pés-rapados criam um poder paralelo, e outros, palacianos, guardam até com displicência 51 milhões de reais, como se fossem restos desprezíveis de um gigantesco butim. País tão novo, tão promissor, tão ainda inexplorado, repleto de potencialidades, porque nos tornamos decadentes?

Perguntaram certa vez a Gilberto Amado, qual o país que ele escolheria para nascer se lhe fosse dado esse direito. E ele respondeu: “Em qualquer um, desde que num tempo de decadência. Arguto, o sergipano vislumbrava na pasmaceira da decrepitude de uma época, o instante ideal para o renascer, o reconstruir, o refazer e o inventar”. E isso era exatamente o que ele bem sabia fazer.

Semana passada, algum notívago que invade a noite talvez para ampliar o entusiasmante tempo do existir, se viu surpreendido com o aparecimento no Programa do Bial de um condutor de tropas, o general Vilas Boas. O que diria aquele general comandante do Exército brasileiro, depois do que falara um subordinado, o general Mourão, colocando o sentimento castrense na ordem do dia das preocupações da mediocridade política.

Logo se viu que o homem fardado era um guerreiro da sensatez. Claro, um homem lúcido, um militar-cidadão que tão bem conhece o Brasil, um guardião da integridade da Amazônia brasileira, como área de preservação e fonte de riqueza sustentável, que recentemente deparou-se com um decreto ignominioso, até prenúncio de uma desnacionalização daquela área, um militar que vive do seu soldo suado e honradamente recebido, não poderá estar conformado, mais ainda com os geddeis e seus milhões ¨guardados¨. Mas o general Vilas Boas sabe que além dessa preocupação que é imediata, existe uma outra maior que é de não deixar que a revolta supere a sensatez, e nisso, ele se revela o homem providencial.

Na complexidade do momento que vivemos, nesse cenário de decadência, a palavra escrupulosamente medida do general Vilas Boas, e a autoridade moral que ele revela possuir, poderão ser uma alternativa virtuosa, que suprimiria o uso agora démodé dos tanques e baionetas golpistas. Poderia ter chegado o momento em que o general Vilas Boas e seus colegas chefes militares, se veriam obrigados, pelas circunstancias, a propor à Nação, às nossas instituições uma reflexão sobre a necessidade de renuncia do presidente Temer, sem rompimento do rito constitucional, nem abalos institucionais.

Depois, o Supremo que tantas vezes tem ocupado vácuos do Legislativo e quase escancaradamente legislado, poderia declarar inelegíveis todos os candidatos que respondam a crime de natureza penal, reduziria o numero de partidos para apenas seis, determinaria um financiamento público razoável para as eleições, reduziria também o numero de deputados, senadores e vereadores, acabaria as coligações, e também a eleição proporcional. Poderia também estabelecer um prazo de dois anos para que todos os órgãos públicos reduzissem pela metade o numero de servidores comissionados e eliminassem todas as mordomias, começando pelo próprio STF, que tem número excessivo de terceirizados e algumas mordomias.

Assim, estaria feita a reforma política, e se daria uma contribuição efetiva para o equilíbrio fiscal. Mas tudo isso é pura utopia, um descarrilamento de imaginação. Ainda bem que o general Vilas Boas é real, existe, e pensa.

AS LOUCURAS DA PAIXÃO

O ex-deputado Ismael Silva, um engenheiro que já foi candidato a Prefeito de Aracaju, recebeu do seu marketing o apelido de Negão de Coragem. Quase vence a eleição debaixo das criticas até de companheiros do PT, que o condenavam por ter recebido o apoio da senadora Maria do Carmo, derrotada no primeiro turno. O PT rachou, Marcelo Déda e Zé Eduardo distribuíram um manifesto condenando a aliança. Ismael no segundo turno enfrentou João Augusto Gama, que tinha o solitário apoio de Jackson Barreto e venceu a eleição.

Agora, Ismael Silva faz um teste para demonstrar se é mesmo um Negão de Coragem, dessa vez enfrentando o desafio de revelar-se poeta. Lança nesse 27 de novembro o seu livro de estreia, com o título que tanto pode ser meloso como instigante: 'Amor e Paixão'. Será na Livraria Escariz a partir das dezessete horas.

UMA QUESTÃO DE ORÇAMENTOS

Desde que ficou assentado que ao Executivo caberia cobrir as despesas previdenciárias dos outros poderes, e mais do Ministério Público e Tribunal de Contas, os cofres do governo nunca mais tiveram um período de folga, por menor que fosse. Por isso, está sendo negociado por Jackson e Belivaldo um acordo com os demais poderes para que assumam pelo menos 15% por cento das despesas. Existe até agora um clima de bom entendimento.

Técnicos da fazenda e o Secretário do Planejamento Rosnan, calculariam que, se chegarem a bom termo as negociações, o Executivo conseguiria reduzir no próximo ano as suas despesas, com economia aproximada de uns quinze milhões de reais. É pouco, mas para quem está com a corda no pescoço seria algum ar aliviando o sufoco imenso.

NA PREFEITURA DE ARACAJU UMA PARCELA DO MEIO BILHÃO

O deputado André Moura anuncia ao mundo, aos dois pulmões, que liberou para Sergipe quase meio bilhão de reais. É boa noticia para Sergipe, ao mesmo tempo, a revelação do estilo de um governo federal retrógrado e repleto de vícios, inclusive o de não ser republicano. Temer forma em torno de si um núcleo dos que ainda estão fora da cadeia mas já sendo investigados, concentra o poder e distribui dinheiro de acordo com as conveniências politico-partidárias, em sintonia com o esforço aético que faz para derrotar, mais uma vez na Câmara, a segunda denuncia já enviada pelo Supremo Tribunal Federal.

Nesse clima conturbado, André, em relação a Sergipe, desempenha um papel positivo, porque tem buscado recursos de uma forma não discriminatória, e nisso fica um passo à frente do mesquinho e rançoso governo ao qual serve.

Para a Prefeitura de Aracaju virão agora 73 milhões de reais. É uma parte daquela emenda de mais de cem milhões articulada pelo senador Valadares. Na ocasião ele esperava que Valadares Filho vencesse a eleição se tornasse prefeito com a segurança antecipada de um ¨colchão¨ financeiro para enfrentar a séria crise que esperava encontrar na Prefeitura.

O prefeito Edvaldo agiu com habilidade política, recebeu a grana fundamental, e convidou André Moura para a solenidade festiva do anuncio. Com esse dinheiro Edvaldo já tem projetos prontos para agir em bairros como o Lamarão, Soledade, Japaõzinho, onde será recoberto o canal pestilento que gera doenças e até epidemias.

Vai aplicar o dinheiro também na Zona de Expansão sul da cidade, e com isso acredita que fará uma estrutura urbana mais humanizada nas áreas onde a pobreza é cruelmente revelada. Há mais recursos via Caixa Econômica já negociados com o presidente Gilberto Ochi que viveu em Aracaju e tem muita sensibilidade em relação aos nossos pleitos. Nisso, existe também a mão poderosa de André Moura na qual se agarram agora os agoniados prefeitos de todos os nossos 75 municípios.

Há recursos para Aracaju que não foram utilizados, coisa de mais de cem milhões. Edvaldo os localizou, e já tem em projetos específicos para a mobilidade urbana. Com isso e mais a bolada de muitos dólares negociada com o BIRD, acredita que ao final do seu mandato Aracaju será efetivamente a anunciada capital da qualidade de vida.

SOLUÇÕES INTELIGENTES NA UNIT

A UNIT tem anunciado soluções inteligentes para o mundo empresarial e seus executivos. São os cursos corporativos estruturados de acordo com as necessidades de cada tipo de empresa. O reitor Jouberto Uchoa tem uma soma considerável de projetos inovadores para a sua universidade que ele se empenha em manter na vanguarda do caminho em sintonia com a modernidade.

WALTER, UMA VEZ DEPUTADO E OUTRA VEZ QUERENDO

O empresário Walter Franco que comanda o Grupo Atalaia de Comunicação, nunca ficou afastado da política, mas, só uma vez exerceu mandato, eleito em 1982 deputado estadual. Foi por sinal o mais votado. Walter publica agora um pequeno volume onde condensou os discursos que proferiu durante o seu mandato.

Na introdução que faz ao livro, uma frase que denota, sem duvidas, a intenção de voltar a ter participação exercendo um mandato: “Essa não é uma proposta de encerramento de jornada. Pelo contrário, é a primeira prestação de contas publica que fazemos das nossas atividades. Pretendemos continuar a luta pelo desenvolvimento, pelo futuro de Sergipe, combatendo, elogiando e construindo. Afinal, deve haver em cada um de nós a consciência da responsabilidade para com o futuro”.

Falou e disse...

DOIS PASPALHOS NA GUERRILHA DO RIO

Para atender determinação do presidente em busca de reverter a rejeição popular as Forças Armadas são chamadas a combater bandidos nas favelas cariocas, sem que se tenha para isso elaborado um plano conjunto e abrangente, visando cuidar com responsabilidade do problema, hoje, assunto grave, afeto à segurança nacional. Foram anunciados resultados imediatos, que evidentemente não aconteceram. O anuncio foi feito pelo próprio Temer na visita marqueteira que fez ao Rio, quando se iniciava a primeira operação.

Mais de um mês depois, quando se intensificam os tiroteios, e a guerrilha dos facínoras se alastra pelos morros, e incendeia veículos por toda a cidade, tudo se revela da mesma forma que antes, e ate mais grave ainda. Outra vez lá se vão os soldados preparados para a guerra. A chegada deles foi coisa assim um tanto bizarra. Marchavam pesadamente armados em posição de combate, enquanto os moradores da comunidade passam indiferentes ao lado e algumas vezes até cortavam a fila organizada dos combatentes.

No meio de tudo a divergência revelada por dois senhores que mais parecem paspalhos, aturdidos com o peso da responsabilidade que lhes desabou sobre os ombros. Um deles, o abúlico e atrapalhado governador Pezão, o outro, o emproado e bem falante ministro da defesa Raul Jungman, que parece agora ter incorporado à sua postura a sombra marcial de algum general prussiano. Mas é só isso, nada mais. E a guerrilha continua.

 

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