Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
A confraria do peculato e as digitais que ficaram
17/06/2017
A confraria do peculato e as digitais que ficaram

O aglomerado multipartidário e pluralista, cujas cabeças principais estão hoje instaladas no Palácio do Planalto, (à exceção daquelas já postas na cadeia), a nossa tão conhecida Confraria do Peculato, não largará o osso assim tão facilmente. Resiste, continuará resistindo, e enquanto isso as instituições, afrontadas, entram em processo de dissolução.

Para garantir a impunidade a um dos seus principais líderes, o senador Aécio Neves, doublê de gangster, a Mesa do Senado fez firulas, até finalmente cumprir a decisão do STF.

Com sua irmã enfiada no cubículo de uma penitenciária, um primo, seu “pombo correio” da propina, e um assessor, também presos, ele trata de exibir-se da forma mais cínica, ao lado da cúpula tucana, tomando decisões sobre a permanência do PSDB na base corroída do governo Temer. O resultado da votação do TSE foi exaltado nas redes sociais por um único defensor, e que defensor : Romero Jucá.

Ele chamou de bandido o empresário Joesley Batista, que até merece o adjetivo, mas o bandido foi recebido pelo Presidente Temer com honras de amigo dileto, para tratarem de coisas que só bandidos realmente tratam. Eram almas gêmeas, confabulando, altas horas, a tramar contra a República, nas dependências de um dos seus maiores símbolos, o vilipendiado Palácio do Jaburú. A Confraria do Peculato faz o jogo bruto do poder sem escrúpulos, sem pudor.

Como o Brasil todo não faz parte da FIESP, aquela entidade mafiosa- empresarial, que reúne os maiores caloteiros e sonegadores da República, é possível, ainda, ter-se alguma esperança de que esta crise seja superada sem maiores traumas do que os já existentes, e, finalmente, a Confraria do Peculato vá encontrar-se, toda ela, tomando banho de sol nos pátios de uma penitenciária, ou, como passageiros de primeira classe, viajando rumo aos charmosos destinos onde já os esperariam seus iates, seus apartamentos de alto luxo, suas gordas contas ainda preservadas, e muito bem escondidas. Apesar das digitais deixadas nos sacos de dinheiro recebidos.

DO REGIME DAS BAIONETAS À REPÚBLICA DO PÉ DE CABRA

Ditaduras, o Brasil já viveu, e superou todas. Curtas, ou apenas ensaiadas, logo após trocarmos a forma de governo mandando um fatigado Imperador para o exílio, e ajudando a desmontar, do cavalo fogoso, um marechal um tanto lerdo, contraditoriamente monarquista, para fazê-lo sentar no trono, transformado em primeira poltrona da República por ele inaugurada.

A República, tão ansiada por uma elite intelectual, maçônica e militar, chegou inteiramente ignorada pela enorme massa de analfabetos que era o substrato inerme da Nação: o povo. Dela, se apropriaram os oligarcas de sempre, aqueles, a quem Raimundo Faoro tão bem caracterizou no seu livro Os Donos do Poder, que é um guia para melhor interpretar o Brasil.

Não se entendiam, porém, e tanto o Marechal Deodoro, e o seu sucessor forçado, o vice Floriano, a quem acrescentaram o “de ferro” ao seu título de Marechal, cedo conspurcaram a ideia de República, recorrendo às baionetas. Queriam ser autocratas. Deodoro fechou o Congresso, demérito que o Imperador Pedro II em mais de 50 anos de reinado não juntou à sua biografia. Floriano, literalmente “cortou cabeças” usando, para isso, o afiado sabre do coronel Moreira Cezar, que se tornou inservível nas caatingas de Canudos, onde ele mesmo foi o decapitado.

Os recursos esporádicos às baionetas foram corriqueiros durante os 41 anos da Velha República, derrubada, tanto pelas baionetas, como pelos facões dos cavalarianos gaúchos. Se fez, assim, a Revolução de 1930, instalando a “República dos Tenentes”, com Getúlio no poder, indo de uma quase ditadura, à ditadura total, até exaurir-se em 1945.

Em 1964 baionetas voltaram à cena, acionadas pelos generais e abençoadas pelas rezas e terços das marchas com “Deus e pela Família”. Eram os “coxinhas” da época. Todavia, com eles também havia povo, grave sintoma, que foi desprezado então, da mesma forma equivocada como acabou minimizado agora, quando generalizaram de uma forma simplória ou desatenta a todos os que lotavam as ruas.

Não se diga que Ditaduras podem ser virtuosas. A virtude some quando o poder se exacerba. À sombra de Getúlio prosperaram negociatas. Mas ele nunca recebeu à noite, às escondidas, empresários “bandidos”. Os seus mais ferrenhos detratores, como Lacerda, e Afonso Arinos, reconheceram, depois, que o ditador não usou o poder para ficar rico.

Castelo Branco, é verdade, não deixou patrimônio, mas dividiu o poder com o representante de Washington, o embaixador Lincoln Gordon, e o Brasil foi repartido nas fatias que desejaram as corporações americanas.

Costa e Silva, jogador compulsivo, comandando o II Exército em São Paulo, tinha suas dividas de jogo não honradas, sempre cobertas pela “generosidade” da mãe de Paulo Maluf, assídua companheira de tavolagem. Data, daí, o surgimento e a ascensão do homem, que, condenado, continua livre, e ocupando cadeira cativa na Câmara Federal.

Costa e Silva morreu presidente, sua família, pelo que se sabe, recebeu modesta herança, apesar do espalhafato da esposa, Dona Iolanda, que gostava de joias caras, e de receber presentes, e se fez fotografar com todo o ministério reunido à sua volta, como se fosse a princesa consorte, da avacalhada República.

Geisel, austero presbiteriano, um dos poucos presidentes que tiveram um projeto de Brasil, enfrentou resistências externas, e um golpe tramado pelo seu Ministro do Exército. Saindo da presidência, tornou-se executivo da NORQUISA, grupo privado petroquímico, que colocou sua sorte nas mãos do poderoso ex-presidente da República, e ex- dirigente da estratégica PETROBRAS.

Seu irmão, o general Orlando, Ministro do Exército de Garrastazú Médici, desconvidado por Geisel para continuar, ficou morando no Palácio Duque de Caxias, privativo dos ministros do exército em exercício, como se fosse um príncipe, sustentado pelos súditos. Figueiredo, desde quando na chefia do SNI morava na Granja do Torto, mantinha seus mimados cavalos nas baias que para eles mandara construir, e os alimentava com aveia, cenoura, cevada, tudo incluído nas contas da mordomia palaciana. Afora isso, não se constatam deslizes de natureza pecuniária no comportamento dos presidentes impostos pelas baionetas, aliás, acionadas por militares cujos soldos se tornaram menores, exatamente naquele regime batizado nos quartéis.

A nossa democracia desvirtuada pela Confraria do Peculato, corre o sério risco de ser deformada ainda mais pelo desespero dos seus velhos e viciados integrantes. Nos salvamos de ditaduras impostas pelas baionetas, corremos, hoje, sério risco de um atropelo institucional, provocado pelos que empunham pés de cabra.

* Pé de Cabra, instrumento rudimentar, usado para forçar cofres, portas ou janelas.

O PARTO DE UMA “CIDADE INTELIGENTE” (I)

O engenheiro Jorge Santana chega à Secretaria do Desenvolvimento anunciando sua meta: alcançar o objetivo do prefeito Edvaldo, que pretende fazer de Aracaju, uma “Cidade Inteligente”.

As cidades surgiram como frutos essenciais da inteligência humana. Com elas, intensificou-se o processo civilizatório, o caminho para a superação da barbárie. Os primeiros aglomerados humanos, recurso de proteção contra as intempéries, e de segurança maior em relação às feras, e à ferocidade dos humanos adversários, foram surgindo ao longo dos rios, na Babilônia, na China, e nas suas primitivas construções de pedra, ficaram os testemunhos milenares do conhecimento dos números, das proporções, da primitiva engenharia de materiais e logística, do desenho, até da astronomia. Enfim, as cidades resultaram da ação vigorosa dos braços unidos à criatividade de cérebros que pensavam, criavam, projetavam e dirigiam.

A cidade em evolução é o próprio cerne da abrangência do conhecimento, não por acaso nelas surgiram às primeiras universidades, e delas irradiava-se a universalização do saber.

Mas as cidades resultantes do saber descuraram-se da inteligência quando se fizeram caóticas, desordenadas, imundas, pestilentas. A grande peste do século XIV é o resultado, da convivência do homem com os excrementos por perto, do lixo rodeando, e dos ratos por todo lado.
O Decameron de Boccaccio é, exatamente, a crônica primorosa da fuga de dez jovens da cidade pestilenta, em direção ao campo saudável, isso, ainda no final da Idade Média.

Em tempos de capitalismo ambiental, é urgente refazer o modus vivendi urbano, e essa tarefa é exatamente aquilo que All Gore qualifica como um “imperativo moral”, que transcende o modelo das economias, que ultrapassa as ideologias tradicionais, e vai muito mais longe, em direção ao que significa a salvação desta nave-terra de tantos desatinos, onde os que nela estão confinados produzem a sua própria devastação.

Fazer a cidade inteligente pressupõe, portanto, pensamento multidisciplinar, ousadia criativa, vontade transformadora, o que significa um encontro com a modernidade. Quando cidades europeias já produzem, em energias renováveis, cinquenta por cento do que consomem reciclam tudo o que fabricam, limpam os seus rios, reusam a água, fazem do lixo e do esgoto insumos produtivos, criam 15 m² de verde para cada habitante, chegamos, aqui, à desenxabida constatação de que andamos decênios atrás da sintonia com o pensamento efetivamente civilizatório.

Fazer de Aracaju uma cidade inteligente, é desafio ao qual se lança o prefeito Edvaldo Nogueira, uma ousadia que não se concretizará, pelo menos para um inicio, se não houver a participação intensa dos aracajuanos, e da capacidade de interagir com quem há muito já saiu na frente. É tema para que a sociedade nela se envolva, ultrapassando a mixórdia da política miudinha e rasteira.

É tema do qual trataremos a partir de agora.

OS MILHARAIS DA ESPERANÇA

Finda a estiagem que tostou a terra durante seis anos consecutivos, os ondulados campos sergipanos estão cobertos pelo verde dos milharais. Renovam-se, assim, esperanças quase desfeitas. O milho é o grande sucesso alcançado pela combinação proveitosa entre o agronegócio e a agricultura familiar.

Sergipe, com exíguo território, proporcionalmente situa-se entre os maiores produtores de milho do país. Caso o clima permaneça tão favorável, lembra o atento agrônomo Zé Dias, chegaríamos a um milhão de toneladas, se forem somadas à cifra estimada de quase 700 mil, aquela parte utilizada para silagem. Precisamos, de agora em diante, dar prioridade às práticas ambientais, nisso, estão juntos e interessados o Governo do Estado e a EMBRAPA, com a ideia de fazer a rotatividade do plantio de milho com a soja.

UM PASSEIO PELA ORLA

Semana passada havia, na Orla da Atalaia, um translúcido luar em céu claro, por onde transitavam esporádicas nuvens trazendo uma prateada garoa, que o vento fazia esvoaçar. Clima perfeito, nesses nossos imperceptíveis outonos, antecipando invernos apenas mornos. Um passeio pela Orla era convite para retemperar o gosto desta cidade, que tanto precisa reforçar sua declinante autoestima.

Em torno dos lagos quase refulgentes, casais se entrelaçavam, ou caminhavam, e havia ainda solitários caminhando, ou aceleradamente atléticos. Com aquele luar pairando, havia o espaço da poesia para quem sabe fazê-la, ou senti-la.

Baixando ao terreno raso do dia a dia pragmático, o que concretamente se podia ali, também constatar, teria sido o aspecto construtivo que ainda persiste, felizmente, no nosso ambiente político. A Orla é, como se sabe, uma das excelentes realizações de João Alves, marco referencial de Aracaju, ponto mais frequentado pelos aracajuanos e turistas. A Orla continuou sendo carinhosamente cuidada por Déda, permanece cuidada por Edvaldo. Jackson faz ginásticas financeiras para obter recursos e refazer a Orlinha, integrando-a, em qualidade, à Orla. O deputado tão prestigiado, André Moura, associado hoje, a esse espírito da sergipanidade, além das picuinhas provincianas, certamente indicará o caminho possível até os almejados recursos.

SIRÍS PATOLA ONDE HAVIA PILOMBETAS E PIRANHAS

Siris patola são os grandes, azul-escurecidos, que fazem da proximidade dos mangues o seu habitat preferencial. Se alguém dissesse, 30 anos atrás, que seriam pescados siris tão especiais, tão arraigadamente marítimos, nas águas do Velho Chico, onde abundavam pilombetas, piranhas e bambás, seria logo identificado como louco, ou idiotizado vidente, construtor de fantasias absurdas.

A rapidez da degradação do rio é tanta que os siris patola já chegam até junto às comportas da usina de Xingó, agora deixando escorrer das turbinas que ainda restam funcionando, aquele fio d água equivocadamente tomado logo que apareceu, como sinal de que os reservatórios estariam outra vez cheios, e deles vertia a água transbordante. Nada disso, o rio permanece em agonia, e suas águas refluem subjugadas pela força das grandes marés. Parece que estamos mesmo nos capítulos finais da novela trágica do Velho Chico.

DE TRUMP A TEMER E CERTAS SEMELHANÇAS

Donald Trump e Michel Temer são recordistas absolutos na geração de escândalos. Trump herdou um país em crescimento, Temer assumiu no auge de uma recessão, agravada pela insegurança política. Temer e Trump são velhos, física e mentalmente, e atormentados pelo medo da velhice, dai, a esperança depositada na jovialidade sedutora das suas esposas, e o descuido com o arejamento das mentes.

Chegando tardios ao poder maior em seus países, levaram, um para o Jaburu, outro para a Casa Branca, os mesmos e renitentes hábitos do cachimbo que faz a boca torta. Os escândalos surgem a cada semana, os dois, concentram-se na agonia da própria salvação. Os Estados Unidos e o Brasil exibem assustadoras cifras. Aqui, estão morrendo assassinadas mais de 50 mil pessoas a cada ano. Lá, morrem de overdose também mais de 50 mil.

BELIVALDO E SIMÃO DIAS QUERENDO MAIS FÁBRICAS

Simão Dias tem hoje um parque fabril, pequeno é verdade, mas que gera empregos em razoável quantidade, e dá ao município a característica de quase não ter desempregados, condição também construída pela agricultura, com destaque especial para o milho. Havia, em Simão Dias, a Metal Plástico, que fornecia equipamentos para redes elétricas e sistemas automotores.

A fábrica entrou em recuperação judicial depois de definhar, reduzindo vagas, que antes eram de quase 300 empregos, e chegaram a apenas 30, quando as portas fecharam. A Metal Plástico ocupava um galpão da CODISE, parou, mas quer permanecer nele, alegando que irá se reerguer, e recorreu à Justiça. Enquanto isso, uma outra empresa similar de porte bem maior, a TAF, quer ocupar o galpão e imediatamente começar a produzir, e gerar empregos, abrindo vagas para os que foram desempregados pela Metal. A TAF tem fábrica em Santa Catarina, que se voltaria apenas para a exportação, enquanto a unidade de Simão Dias se concentraria no mercado interno.

O Vice Governador e Chefe da Casa Civil, Belivaldo Chagas, preside o Conselho Administrativo da CODISE, e entrou de cabeça no problema para encontrar uma solução rápida, que acelere a vinda da TAF e assegure a Metal Plástico, um outro galpão menor, para quando houver a recuperação e a empresa voltar a produzir. Tudo indica que o imbróglio será superado.

UMA META ALCANÇADA E UM ANÚNCIO RETARDADO

O engenheiro Carlos Melo, presidente da DESO, assegura que uma grande parte das obras de ampliação do sistema de escoamento e tratamento de esgotos de Aracaju ficará concluída este ano. Seria então chegado o momento para o governador Jackson Barreto fazer o esperado anúncio de que a fedentina em vários locais da cidade irá finalmente desaparecer.

Mas há uma justificada preocupação em fazer este anúncio, até que sejam solucionados outros graves problemas, que não dependem somente do governo. São os esgotos clandestinos que despejam nos riachos que cortam a cidade, entre eles o pestilento Tramanday, que atormenta a 13 de Julho. Prédios, entre eles edifícios de alto luxo, estão com seus sistemas próprios de tratamento paralisados, e fazem o despejo direto na rede, outros, nem têm esses sistemas. Há casas comerciais, restaurantes, até supermercados, fazendo descargas clandestinas de puríssima merda. Algo inacreditável, de tão absurdo.

Por isso, se faz necessária uma parceria que está sendo construída entre o Governo, a Prefeitura de Aracaju, e na qual o Ministério Público, que já vem agindo, será peça essencial. Os protagonistas mais importantes seriam, sem duvidas, os síndicos dos edifícios, as empresas. Sem isso, não se terá uma cidade limpa, ambientalmente correta.

O PRIMEIRO PEDAL DO ALTO SERTÃO

A iniciativa era inicialmente despretensiosa. Imaginava-se fazer um simples passeio ciclístico, um circuito pelo Cânion de Xingó. Com pouco tempo a ideia correu pelo mundo através do site da Xingó – FM, replicado em postagens inúmeras.

Assim, quase 800 ciclistas vindos de todo o país participam da pedalada que começa em Canindé do São Francisco nesse domingo, às oito horas, saindo do Ginásio de esportes Carlos Magalhães. A partir de agora o evento que deverá ser repetido nos próximos anos, se torna, além de esportivo, também um marco para o turismo na região do Lago de Xingó.

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